fevereiro 05, 2013

O CAIPIRA
- por Roberto Delmanto -

Este Blog já publicou poesias, artigos políticos, crônicas , mensagens e biografias. Tudo o que seja de interesse geral, é publicado. Hoje, publicamos artigo de Roberto Delmanto, advogado criminalista (formado em 1966 pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco – USP), jurista, autor de festejados livros jurídicos como os “Código Penal Comentado” e “Leis Penais Especiais Comentadas”, além de livros não-jurídicos como “Causos Criminais” e “Momentos de Paraíso”. Roberto é meu primo, filho de meu tio Dante Delmanto. E é meu amigo, somos quase da mesma idade e tivemos uma interação positiva em nossa infância e adolescência, em Botucatu e em São Paulo.
 ROBERTO DELMANTO

Esperamos que ele se torne um colaborador fixo, assim como o foi Arthur Virgílio Neto, durante o seu “exílio” em Portugal. Este Blog, já o dissemos, pretende ser um Fórum Cultural e Político. Colaborações são bem vindas e enriquecem o nosso acervo, além de serem excelentes leituras. Roberto Delmanto recebeu o título de Advogado Criminal do ano 2003 e foi homenageado em sessão solene da Câmara dos Deputados Federais por sua atuação em defesa de presos políticos nas décadas de 60 e 70. Faz parte da Academia Brasileira de Direito Criminal.
São sempre pitorescos os “causos” acontecidos nos tribunais. O de hoje, “O CAIPIRA”, é muito bom:
O CAIPIRA
Esta estória foi contada pelo conceituado jornalista e cronista Percival de Souza. Tentarei reproduzi-la para preservar sua memória.
Na importante comarca do interior paulista, havia um promotor famoso pelas suas atuações no júri. Grande orador, de voz sonora, vasta cultura e muito aguerrido, era considerado imbatível, embora não gozasse da simpatia da população, que o considerava arrogante. Os réus por ele acusados já se consideravam de antemão condenados; e os advogados da região, via de regra, se sentiam intimidados pela sua presença em plenário. 
Por esse motivo, o rico industrial da cidade, ao ser pronunciado por homicídio qualificado, achou melhor contratar um criminalista da capital que fosse renomado, a fim de enfrentá-lo. O escolhido foi meu pai Dante, que assumiu sua defesa.
No dia do julgamento, o salão do Fórum estava lotado, com todas as cadeiras ocupadas e os corredores tomados por pessoas em pé. O júri foi memorável, um debate de titãs, no qual, pela primeira vez, o promotor foi derrotado.
Alguns meses depois, na outra sessão periódica do júri, marcado o primeiro julgamento, o promotor preparou-se com afinco maior do que o habitual, disposto a reconquistar o antigo prestígio.
Iniciados os debates, o membro do “parquet” mostrava-se mais brilhante e combativo do que nunca, enquanto o causídico da cidade que defendia o réu aparentava estar constrangido.
Foi quando, repentinamente, no auge da fala do promotor, um “caipira” que, em pé, assistia o julgamento, gritou com seu inconfundível sotaque: “Péra aí, que eu vou chamá o Dante...”. E, rapidamente, sumiu pela porta lateral...
As gargalhadas, espontâneas, eclodiram no plenário. O promotor, aturdido, ficou desconcertado, literalmente “perdendo o rumo” de sua acusação. O defensor, por sua vez, entusiasmou-se, fazendo uma grande defesa. E, pela segunda vez na comarca, o promotor acabou vencido.
O júri entrou para a história da cidade, mas, até hoje, não se sabe se o ocorrido deveu-se a uma encenação adrede preparada pelo defensor local ou se foi um ato espontâneo, digno da conhecida malícia e irreverência dos nossos “caipiras”...

6 comentários:

Anônimo disse...

Sou fã de temas como o de “causo” acontecido no interior paulista. E tive a oportunidade de ler “Defesas que fiz no Júri”, de autoria do pai do Roberto Delmanto, o grande tribuno Dante Delmanto, onde ele relatou suas principais atuações no tribunal do júri.
Muito boa essa iniciativa, Delmanto. Nós, que militamos na Justiça, somos às vezes mal interpretados. É importante mostrar que a Justiça é composta de seres humanos, sujeitos a erros e acertos...
São verdadeiros retratos reais da vida.
Muito bom.
(carlosantoniomascarenhas@yahoo.com.br)

Anônimo disse...

As crônicas de um advogado criminalista mostram o seu lado humano e observador. E trazem, sempre, “retratos da vida” em estórias pitorescas. Legal. Gostei.
(mariceiaoliveira@yahoo.com.br)

Anônimo disse...

Ana Maria Nogueira Pinto Quintanilha( Facebook): Armandinho, parabéns pela publicação! Seu primo foi muito feliz em seu relato. Conheci seu tio só de nome. Papai falava muito dele. Uma curiosidade: o Percival de Souza, se não me engano, é daqui de Cafelândia. Um abraço!

Anônimo disse...

Edson Rodrio (Facebook): Parabéns - show

Anônimo disse...

Ana Maria Tancler Stipp (Facebook): Como sempre, impecável, até compartilhei. Bjs querido

Anônimo disse...

Antonina Mendonça (Facebook): Parabéns!

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