junho 30, 2011

CASA DE SAÚDE SUL PAULISTA – 1928

EMPREENDEDORISMO DOS “ORIUNDI” NA SAÚDE!



No inicio dos anos 20, a então poderosa colônia italiana em Botucatu atingia o auge de sua prosperidade. Era mais unida e o sentimento da origem comum ainda era forte. A colônia italiana tinha a sua escola, a sua banda musical, o seu jornal, o seu clube social, o seu teatro, os seus estabelecimentos comerciais, as suas fábricas e até a sua loja maçônica. Longe deles qualquer sentimento divisionista, ao contrário, o que havia era uma natural aglutinação de pessoas com a mesma origem, os mesmos costumes, a mesma paixão pelas coisas...

Como ocorrera, com muito sucesso, na capital, onde a colônia italiana erguera o imponente Hospital Umberto Primo, em 1904, ampliando-o sucessivamente, o exemplo passou a ser seguido pelos núcleos mais expressivos dos imigrantes italianos nas cidades do interior do estado.

E Botucatu estava situada no limite de onde chegara a Estrada de Ferro Sorocabana, em 1889 e dali partindo para a conquista do interior, “plantando” cidades com o progresso que as suas paralelas levavam: Lençóis Paulista, Bauru, Assis, Ourinhos e Presidente Prudente se destacando entre tantas outras...

Na segunda metade dos anos 20, Pedro Delmanto (Pietro Del Manto) já tinha completado seu ciclo produtivo de calçados: com fazenda de gado, curtume, fábrica de calçados (máquinário importado da Alemanha) e loja de comércio, sendo que exportava calçados para a França e a Alemanha. Era um imigrante empreendedor de sucesso. Mas tinha um grande sonho: um hospital para atender a forte colônia italiana de Botucatu e dirigido por seu filho primogênito, Aleixo, que se formara em Medicina pela Real Universidade de Parma, na Itália. Assim, inaugurou a Casa de Saúde Sul Paulista, em 1928, trazendo como seu Diretor Clínico, o Professor Titular de Cirurgia Clínica da Real Universidade de Nápoles, Dr. Ludovico Tarsia que tivera que se exilar no Brasil por problemas políticos na Itália.

Histórico completo da CASA DE SAÚDE SUL PAULISTA/leia aqui

Inaugurada com toda a pompa, com banda de música, a presença de autoridades e comparecimento expressivo da população num verdadeiro congraçamento dos imigrantes com os botucatuenses e, suprema honra, com a presença do Cônsul Geral da Itália representando o Rei da Itália. Sucesso. Com a Direção do Prof. Dr. Ludovico Tarsia, compunham a Diretoria: os Drs. Aleixo Delmanto e Miguel Losso, médico italiano já integrado à colônia local.


(Foto do Museu Histórico e Pedagógico "Francisco Blasi")
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Pedro Delmanto viera de Castellabate (Província de Salerno), cidade natal da família Matarazzo. Iniciou sua vida profissional como sapateiro com o Mestre Francisco Grandino, na cidade de Sorocaba, junto a Francisco Matarazzo que também iniciara lá a construção de seu império. Seguiu, depois, acompanhando o crescimento da Sorocabana, para Botucatu, onde se estabeleceu, casou e constituiu uma grande família.

Da Itália para o Brasil/Oriundi empreendedores/leia aqui

Espelho e orgulho de todo imigrante italiano as Industrias Reunidas Francisco Matarazzo - IRFM representaram o TERCEIRO MAIOR ORÇAMENTO DO BRASIL! O então poderoso jornalista e empresário, Assis Chateaubriand vai chamar, em 1934, esse grupo industrial de “O ESTADO MATARAZZO”, lembrando que São Paulo tinha uma renda bruta de 400 mil contos e o parque industrial Matarazzo uma receita de 350 mil, acima de qualquer outra unidade federativa brasileira...O Conde Matarazzo, financeira e economicamente é o segundo Estado do Brasil...” Sim, apenas a União e o Estado de São Paulo tinham um orçamento maior do que as Indústrias Matarazzo. É registro histórico.

Hospital Matarazzo/Histórico/leia aqui

Fotos Raras do Hospital Matarazzo/veja aqui

Com essa força, foi o principal patrocinador da fundação, em 1904, do Hospital Umberto Primo. E não parou aí. A ampliação foi constante, chegando a 27.000 m2 de área construída a um quarteirão da Avenida Paulista. O crescimento do complexo hospitalar foi constante:


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• Prédio original do Hospital Umberto I (pavilhão administrativo), 1904
• Casa de Saúde Francisco Matarazzo,1915
• Capela, 1922
• Casa de Saúde Ermelino Matarazzo, 1925
• Cozinha, Lavanderia e Refeitório, 1929
• Residência das irmãs, Ambulatórios e Enfermarias, anterior a 1930
• Clínica Pediátrica Amélia de Camilis, 1935
• Pavilhão Vitório Emanuele III, 1937
• Maternidade Condessa Filomena Matarazzo, 1943
• Prédio Hospitalar (ampliação), 1974

Na década de 50, chegou a ter 500 leitos e nos anos 70 passou a ser referência na formação de profissionais, ao firmar convênio com o Inamps (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social), sendo que sua maternidade era vista como a melhor da América do Sul. Com o fim do Império Matarazzo, o hospital também entrou em crise. Já transformado em um ícone arquitetônico e por sua importância histórica foi tombado, em 1986, pelos órgãos do patrimônio.

A Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil – PREVI, comprou o prédio, em 1996, para transformá-lo num complexo turístico e hotel. Não realizou o planejado e o vendeu, neste ano de 2011, para a PUC –Pontíficia Universidade Católica que fará o aproveitamento dos prédios, colocando um Campus Universitário e um complexo cultural.

As vidas, o trabalho e o sucesso cruzaram várias vezes a amizade fraterna entre as famílias Delmanto e Matarazzo. Até nos esportes e na política haveria de ficar marcado um trabalho conjunto.

PALESTRA ITÁLIA TRI-CAMPEÃO E DEPUTADO MAIS VOTADO!

Nos anos 30, Dante Delmanto já formado na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (USP) e trabalhando no escritório do Dr. Adriano Marrey Junior – Mestre do Direito Penal e Líder do Partido Democrático – é eleito para presidir o Palestra Itália, clube da colônia italiana, sucedendo o Conde Luighi Eduardo Matarazzo. Lá, conquista o único tri-campeonato (32/33/34) do clube e constrói (com ajuda financeira do Grupo Matarazzo) o Estádio Palestra Itália com seus famosos jardins suspensos. Nas eleições constituintes de 1934 é eleito com a maior votação para Assembléia Legislativa de São Paulo, onde ficou até a implantação da Ditadura do Estado Novo, por Getúlio Vargas, em 1937. Nesse mesmo ano, abriu seu escritório de advocacia que alcançaria fama nacional. É registro Histórico.

Dante Delmanto no Palestra Itália e no Parlamento paulista/leia aqui

Obs.: Este texto é uma homenagem ao meu avô paterno, Pedro Delmanto, que nasceu no dia 29 de junho de 1870 - Dia São Pedro - em Zoppi/Castellebate/Salerno/Itália.

5 comentários:

Anônimo disse...

Olá, Delmanto.
João comentou a notícia CASA DE SAÚDE SUL PAULISTA – 1928.

Comentário:
Olá< Delmanto.
A Casa de Saúde Sul Paulista, fez com que desse uma retórica de um dos maiores conglomerados da História Paulista e Brasileira.
Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, que ainda existem as chaminés na Av. Francisco Matarazzo, em frente ao Palestra Itália. Palmeiras -
Cheguei a conhecer um dos Matarazzo que era Diretor dos Correios e Telégrafos, na Praça do Correio, por onde passavam os bondes.
Realmente me fez voltar a muito as lembranças de bons tempos.
Parabéns pela sua matéria rica em detalhes.

João Bosco

Responda e leia mais no endereço http://www.dihitt.com.br/meu_conteudo#n=casa-de-saude-sul-paulista--1928&c=1279551

Anônimo disse...

Lembro de meus pais falando da Casa de Saúde de Botucatu. Morávamos em Conchas, mas Botucatu era o caminho para as compras e para se tratar da saúde. Ele dizia que era um centro avançado da medicina e que se equiparava aos hospitais da capital. Muitos médicos atendiam alguns dias da semana na Casa de Saúde e o resto da semana em hospitais da capital. Fiquei com saudades. Bons tempos. . (ludmila.cunha@yahoo.com.br)

Anônimo disse...

Meu sogro era italiano da família Rossi. O pai dele trabalhou até se aposentar na Metalúrgica Matarazzo. Tinha todas as garantias do patrão. Tinha a Cooperativa dos Empregados onde os produtos eram mais baratos e os produtos da Matarazzo eram mais baratos ainda, além do pagamento poder ser descontado em parcelas do salário. A assistência médica era no Hospital Matarazzo para os casos mais graves, porque a fábrica tinha ambulatório. Todos eram tratados com muito respeito. O nome Matarazzo era respeitado e querido. Os que tinham descendência italiana tinham orgulho dos imigrantes. Gostavam da Itália e aprenderam a amar o Brasil. Hoje muita gente nem sabe o que representou para São Paulo o Grupo Industrial do Conde Matarazzo. Foi um grande homem. Respeitava e era respeitado. Jamais será esquecido por todos os que tem parentesco italiano, mesmo que distante como eu , pois meus pais eram descendentes de portugueses. Muito boa a lembrança do seu artigo. Gostei muito. Obrigada. (carla.bueno2011@bol.com.br)

Anônimo disse...

Bacana tudo isso de saúde. Devemos apoiar trabalhos assim. Agora como verdão fechado gostei da lembrança do tricampeonato paulista pelo alvi-verde! Tri-Campeão! O Palmeiras já brilhava naquele tempo e tinha um senhor estádio de futebol e vai voltar a brilhar. A Arena Palestra Itália vai ser o máximo e sem o gigantismo do Morumba, verdadeiro “elefantite” do futebol. Pra grande Copa do Mundo que virá, o “Parmera” vai receber como gente grande. O antigo estádio tinha os jardins suspensos, agora nós vamos ter a Arena Verdão, por cima, recebendo muito bem. Boa lembrança. Palmeiras, Palestra, Alvi-verde, Mancha Verde, Verde Tricolor (verde, branco e vermelho, tá legal?)Vitória, Felipão nos inimigos! (pinto.rodolfo28@yahoo.com.br)

Anônimo disse...

--Caro Armando, li com especial agrado o seu artigo sobre a "Casa de Saúde Sul Paulista". Feito com minúcia e verdade histórica. Já tenho seu texto impresso e aguardado nova edição do "Achegas". Certamente alguém o atualizará por mim mas uma ficha sobre o hospital do seu avô já estará arquivada e a espera. Muito obrigado e parabéns pelo seu blog. Hernâni(Hernâni Donato).

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