setembro 21, 2011

O Jornalismo no interior: do Linotipo à Magia da Web/internet"

“Eu sempre acreditei que até a democratização dos meios de comunicação seria uma luta política. Acabei descobrindo que se tornou uma conquista tecnológica. Hoje, todo mundo pode ser o seu próprio Roberto Marinho...”
Fernando Morais – jornalista e escritor.

Exatamente isso, com a Revolução da Informação, tudo se tornou acessível em termos de comunicação: a telefonia celular, a internet, os blogs, o Facebook, o Orkut, o Twiter (as redes sociais), as redes internacionais de televisão e demais recursos da tecnologia audiovisual levam a todos os rincões do planeta a realidade de nosso tempo. Simples assim... Por esses poderosos meios de comunicação, as pessoas se conectam rapidamente, levando notícias, relatando online as suas expectativas e as suas esperanças. Assim, a Aldeia Global se corporifica no avanço tecnológico da comunicação via internet...

Está certo o jornalista e escritor Fernando Morais. Hoje, é possível ter o seu próprio site e o seu blog, conectando-se com cidadãos, propondo mudanças, relatando fatos, cobrando soluções, enfim, fazendo a parte cívica que lhe cabe no exercício da cidadania.

Mas nem sempre foi assim. Na minha caminhada no jornalismo, eu vivi a fase mais difícil da imprensa interiorana na cidade de Botucatu/SP. Com o jornal estudantil “Tribuna do Estudante” (1963) e com o jornal alternativo “Vanguarda de Botucatu” (1970), o processo gráfico de composição das matérias era através da tipografia, compondo letra a letra com os respectivos tipos. A destreza dos gráficos era impressionante e, pinçando os tipos, as palavras, as frases e o texto iam surgindo nas chapas que seriam, ao depois, impressas. Já com o “Jornal de Botucatu” (1980), a composição era feita em linotipo, representando um avanço tecnológico muito grande. Aos poucos, com a popularização da off-set, a feitura de jornais passou a ser mais fácil e mais rápida. Era a democratização chegando na mídia imprensa.

O jornal “Vanguarda” representou um avanço em termos de comunicação em uma cidade do interior: surgiu como uma nova proposta de se fazer jornalismo. Surgiu moderno e participante. Surgiu meio alternativo, mas absolutamente entrosado com o seu tempo e com a geração jovem que buscava caminhos e queria respostas...
Na imprensa interiorana sempre aparecem órgãos que permanecem como divisores de águas, como delineadores de mudanças desejadas... Assim foi com o jornal “Vanguarda de Botucatu”, surgido em 1970, e tendo por lema:



UM JORNAL DE VANGUARDA/ A IMPRENSA NO INTERIOR/ leia aqui

“O Jornal Jovem para a Nova Botucatu”.

Com muita ousadia, o “Vanguarda” se inspirou no também revolucionário jornal alternativo “O Pasquim”, editado no Rio de Janeiro, que trazia uma mensagem de mudança, de combate a favor da democracia e muita, muita criatividade. Um grupo de intelectuais de vanguarda, comandava esse jornal que passou a ser um “guia” para a juventude brasileira, sequiosa de participação e inconformada com o imobilismo do país durante o Regime Militar. Nessa mesma linha, surgiram os tablóides “Opinião” e “Movimento”. Esse estilo predominava: tablóide, colorido, com a primeira página sempre com uma diagramação impactante , com fotos em destaque ou ilustrações sugestivas. Era muito, muito diferente dos vetustos e tradicionais jornais da imprensa brasileira...

Já, em 1980,10 anos depois, ao transformar o “Vanguarda”(tablóide mensal) em bi-semanário, com nova denominação, “Jornal de Botucatu”, busquei inspiração no mais moderno e mais novo jornal paulista: o “Jornal da Tarde”. O título, em letras minúsculas, era uma ousadia positiva. E para acompanhar o layout, pedi para que o prof. Vinício Aloise – Mestre da ilustração – idealizasse, estilizada, a Igrejinha de Rubião Jr., com arquitetura medieval e localizada no topo do Morro de Rubião Jr. De 1980 até final dos anos 90, reinou absoluto, permanecendo até os anos 2005/6.



Em 2004, numa somatória das experiências anteriores, lançamos o “Jornal da Cuesta”, numa referência à CUESTA DE BOTUCATU, que é uma forma de relevo escarpada em um dos lados, um verdadeiro degrau, marcando o início do Planalto Ocidental Paulista. A série “A Muralha”, da Rede Globo mostrou bem esse típico relevo encontrado à partir do litoral paulista.



Essa experiência foi abrangente, moderna, colorida e com uma diagramação agressiva e revolucionária, em termos gráficos.Totalmente digitalizado, era impresso nas poderosas rotativas do “Jornal da Cidade”, conceituado jornal da cidade de Bauru. A diagramação era feita pelo Edil Gomes (Gráfica e Editora Diagrama) e enviado, via internet para Bauru, ficando pronto logo em seguida, quando era mandado de volta para Botucatu.

Ao mesmo tempo, em 1997, um grupo de intelectuais botucatuenses partiu para a edição de uma revista cultural. Teria uma periodicidade bi-mensal e procuraria colocar em discussão fatos e registros históricos da cidade e região além do trabalho de sua comunidade ligado à cultura de uma forma ampla para que se pudesse construir e registrar a nossa identidade cultural, o nosso perfil como comunidade progressista e de vanguarda. Assim, recebeu a denominação de “Revista Cultural Peabiru”, numa referência ao caminho pré-colonial que ligava São Vicente até Kusko, no Peru.


Peabiru: Uma Revista Cultural!/ A “Intelligentzia brasileira”/ leia aqui

À partir de 2010, com o nosso site e, em 2011, com o Blog do Delmanto, entramos definitivamente nesse mundo virtual que transformou, efetivamente, o mundo em uma Aldeia Global.



E o Blog do Delmanto, para nós, assume aspectos especiais de comemoração, exatamente por ser online e estar amplamente conectado. E teria que ser algo diferente, um veículo para mudança e que trouxesse uma contribuição efetiva ao debate das idéias.
Com seu material postado dentro da tecnologia disponível, mas com uma edição “espartana”, com critério profissional, dedicação e idealismo, muito idealismo.

Voltado à renovação política e à construção da cidadania , este Blog terá a missão de provocar o debate, convocando a intelligentzia brasileira (emprestemos a expressão russa para definir parte da nossa comunidade intelectual) para a discussão de temas de interesse do país, sempre valorizando o cidadão, despertando valores e delineando novos rumos para a solução dos problemas que estão dormentes há muito tempo...

O Blog do Delmanto pretende ser uma bandeira de luta a favor da cultura nacional, priorizando as nossas coisas, o nosso folclore, a nossa memória histórica, e mais, descortinando o futuro com audácia cívica e muita criatividade, fazendo do presente uma vivência rica no exercício pleno da cidadania.

Com nítida noção de nossa real dimensão e sem quere abranger mais que o espaço democrático que a “Revolução da Informação” trouxe para o mundo todo, transformando em realidade concreta a “Aldeia Global”, que igualou a todos no acesso à comunicação e à realidade dos cidadãos de qualquer país e em qualquer continente.

Então, os jornais impressos deixarão de existir?!?

Claro que não!

Jornais vão sempre perdurar, mesmo neste momento de auge da reverberação virtual, por esse mundão sem dono.
Novos modelos vem surgindo, e a indústria jornalística se reinventará, numa recuperação autônoma, e usará, com grande propriedade, claro, o estado tecnológico que em anos anteriores teria beneficiado as referências livres, e se tornar a nova referência informativa.

6 comentários:

regina claudia brandão disse...

nada como papel jornal, disco de vinil, livro, ... isso tudo não pode ter fim.

é isso.

Delmanto disse...

Simples assim...
Toda a tecnologia da Web/internet vem para facilitar, para ampliar a cultura, para consolidar a educação, para o aperfeiçoamento da Cidadania!
Você está certa, Regina, o jornal, o livro, o disco são preciosidades da civilização, portadores de sabedoria e ensinamento.
A mídia virtual veio para somar, eu penso assim.
Grande abraço.
Delmanto

Anônimo disse...

Boa matéria, Delmanto. É isso mesmo. Presenciei várias vezes a feitura de jornal em minha cidade, Ribeirão Preto. Naquela época, era o linotipo. Não dá para quem não conheceu imaginar o que eram aquelas máquinas gigantescas, o jumbo quente derretido para a composição das “linhas” do texto, e a impressão com todo aquele material pesado e graxa pra todo lado...Hoje é “facinho” fazer jornal. Houve, sem dúvida nenhuma, a democratização da comunicação. E mais barato, também. Então, não é que o Fernando Morais está com a razão: hoje, qualquer um, com disposição e criatividade, pode ser o seu próprio Roberto Marinho, ou seja, pode ter o seu veículo de comunicação, virtual que seja. Acredito que essa revolução da comunicação não vá parar por aqui. Muita inovação e criatividade virão para democratizar ainda mais as comunicações e facilitar a união dos povos. É um mundo melhor que todos nós almejamos. Parabéns por seu trabalho inédito nas comparações, na adaptação do layout dos veículos mais avançados para a sua jornada jornalística no interior. É pra ler e pra guardar. (haroldo-leao@hotmail.com)

Delmanto disse...

Salve, Leão. Falou o que é certo. Li, no Observatório da Imprensa o Alberto Dinez reclamando que um universitário, no 4º ano de jornalismo, não sabia qual a função de um linotipista, você acredita?
Era um profissional fundamental para aquela fase da produção de jornais. E também o impressor...
E tudo mudou da água pro vinho. A facildade é gigantesca e isso só pode somar para a democratização da notícia e do jornalismo.
Vamos torcer para que tudo continue nessa somatória positiva dessa tecnologia da nova mídia virtual. Grande abraço,
Delmanto

Delmanto disse...

Mas nem tudo são flores no jornalismo no interior, especialmente se você faz oposição aos ocupantes temporários do poder público (prefeitura municipal). Botucatu é uma cidade de porte médio, mas dos anos 60 aos anos 80, os jornais eram feitos no tipo. E a maioria das cidades, do mesmo porte, já tinham a sua linotipo.
Pois bem, o “Vanguarda” no seu início era feito na Gráfica Amaral e conseguia sair em duas cores: preto e vermelho e azul e laranja. Mas devido às perseguições políticas , ele teve que mudar 3 a 4 vezes de gráfica.Era um jornal agressivo, panfletário e fazia oposição “como gente grande”...rsrsrs Como eu trabalhava durante a semana em São Paulo, não foi difícil descobrir boas gráficas. Então, o “Vanguarda” era o jornal com a melhor apresentação gráfica, porque era feito em boas gráficas linotipadoras.
Havendo pressão dos Prefeitos em cima da gráfica, não sei se oferecendo vantagens, ou dando serviços, só sei que eles paravam de imprimir o jornal e geralmente acabavam dando os motivos. No final de 1974, eu já estava imprimindo o “Vanguarda” numa gráfica pequena, mas muito boa, no Belenzinho. E, de repente, o dono me deixou na mão e nem deu satisfação. Tudo bem, mudei de gráfica, novamente.
Aí é que vem a história.
Anos depois, creio que em 1984, quando eu voltava de uma viagem e desci no aeroporto de Congonhas, peguei um táxi. E tive esse diálogo:
“Oh, Delmanto, não tá lembrado de mim? Sou o Clodoaldo, dono da gráfica lá no Belenzinho...(...)”Clodoaldo, você me largou na mão, heim?”
Aconteceu o seguinte, o prefeito da época (1974) o procurou, lhe ofereceu dinheiro e um emprego na Staroup, em Botucatu, que era uma das maiores fábricas de jeans. Ele muito esperto, vendeu a gráfica e com o dinheiro da venda mais o dinheiro do “acerto”, foi para o interior trabalhar na fábrica. Depois, não agüentou viver longe da capital e voltou e foi ser motorista de praça... Que coincidência, heim? Mas você vê, no interior tem muito disso: perseguição política. Mas como há males que vem para o bem, por ter que trocar tanto de gráficas, acabei numa gráfica pequena, mas muito boa em Bauru. O dono, que era o linotipista, Ariosto Campitelli, após imprimir o “Vanguarda” por um bom tempo, aceitou fazer sociedade e trazer todo o maquinário pesado para Botucatu e trouxe também o impressor, o Dalvo Davanço. Eu havia resolvido transformar o “Vanguarda”, jornal político, num jornal apolítico, mas com uma linha forte de defesa dos interesses da comunidade. Foi uma mudança difícil, com aquele maquinário todo, Tivemos que abrir uma parede para colocar principalmente a impressora. Os dois mudaram com as famílias para Botucatu e lançamos, em outubro de 1980, o “JORNAL DE BOTUCATU”, um bi-semanário, com a melhor impressão da cidade e que passou a ser até o final dos anos 90, o melhor jornal da cidade. Jornalzão bacana, bonitão, muito bem feito.Tinha a linha de defesa da sociedade.
Essa é uma boa história. É registro histórico!

Anônimo disse...

E tem os famosos “jornais chapa branca” que surgem e se mantém por longos anos grudados nas “gordas tetas” das Prefeituras Municipais. Alguns, depois de tanto tempo, até conseguem caminhar com as próprias pernas. Mas são, invariavelmente, jornais sem “curriculum vitae”, ou melhor, a “fotografia” deles mostra muito bem o “rabo preso”.
Mas é como diria aquele outro da TV: “Faz parte”... Só esperamos que a coisa mude com o tempo. E as comunidades possam ter veículos informativos com a independência necessária para valorizar o papel da imprensa na construção da cidadania. Tamos de olho!!!
(jair.castro66@yahoo.com.br)

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