outubro 16, 2015

DR.COSTA LEITE: 1º MÉDICO DE BOTUCATU E BENEMÉRITO FUNDADOR DA MISERICÓRDIA BOTUCATUENSE!

DR.COSTA LEITE: 1º MÉDICO DE BOTUCATU E BENEMÉRITO FUNDADOR DA MISERICÓRDIA BOTUCATUENSE!

Dr. Costa Leite
"Almanack de Botucatu - 1920"



DIA DO MÉDICO - 18 DE OUTUBRO

Em homenagem ao DIA DO MÉDICO, nada mais justo que homenagearmos o 1º Médico de Botucatu e Fundador de nosso primeiro hospital: a MISERICÓRDIA BOTUCATUENSE!

Misericórdia Botucatuense, fundada em 1893, completou em 1993 - para júbilo geral! -, seu 1º. Centenário. Um século. Uma vida de bons e inestimáveis serviços prestados a Botucatu.
Entre os botucatuenses que colaboraram desde o início, destacamos a presença e liderança do médico Antônio José da Costa Leite.  Baiano de nascimento, formou-se médico em Salvador e veio ajudar na construção do Estado do Bandeirantismo, tornando-se botucatuense de coração. A influência do Dr. Costa Leite na cidade de Botucatu foi marcante. Como único médico da cidade e de toda uma grande região, Costa Leite gozava de efetivo prestígio. Botucatu era considerada "Boca do Sertão" e a rota dos tropeiros que rasgavam o solo paulista em direção a Mato Grosso e ao norte do Paraná. Àquela época, o médico diplomado exercia verdadeiro fascínio e admiração junto à população. Tratado com especial deferência, era tido como alguém possuidor de poderes especiais, quase como um representante dos deuses, dos quais receberia poderes mágicos...

 Antes da entrada do novo século, a pequena Botucatu já possuía o seu primeiro médico. E haveria de ser ele a liderar amplo movimento para a construção de nosso primeiro hospital: a Misericórdia Botucatuense.



 Na história das instituições filantrópicas, ao menos em suas origens e primeiros tempos, duas características são sentidas: a presença constante de crises financeiras e a obtenção de melhorias tecnológicas graças ao prestígio e relacionamento desses profissionais da medicina, verdadeiros sacerdotes da saúde, junto às suas comunidades.

 Assim ocorreu com a nossa Misericórdia. O Dr. Costa Leite obtém junto à matriarca Dona Isabel Franco de Arruda, rica proprietária que para aqui veio, nascida na Vila da Constituição (Piracicaba), a expressiva doação de dez contos de réis.

Dez contos de réis!

Com esse primeiro capital, o Dr. Costa Leite lançou-se à luta. Antônio Ferreira da Silva Veiga Russo e Domingos Soares de Barros doaram ao novo empreendimento parte de suas propriedades, para a localização e construção das obras. Domingos Soares de Barros além dessas terras, doou propriedades na cidade como primeira fonte de renda da Misericórdia.

 O prestígio do Dr. Costa Leite estava viabilizando o hospital. Na galeria dos colaboradores iniciais, vemos os nomes de Antônio Joaquim Cardoso de Almeida (fundador do clã que tantos benefícios trouxe para Botucatu) português de nascimento e que chegou a exercer a vereança em nossa cidade, Floriano Simões, Monsenhor Paschoal Ferrari (idealizador de nossa Diocese), Raphael de Moura Campos, Antônio Cardoso do Amaral (ou Antônio Cardoso Almeida), José Cardoso de Almeida (Jucá), Armindo Cardoso de Almeida, Amando do Amaral Barros, João Morato Conceição, Brazil Gomes Pinheiro Machado, José Paes de Almeida, João Rodrigo de Souza Aranha, Antônio Amaral César, Luiz Ayres de Almeida Freitas, Raphael Nigro, Henrique Reis, João Morethzorn, Joaquim Benedito da Costa, Alberto Pereira, Luiz Augusto Tavares, Cândido Cyríaco Martins, Caetano Caldeira, Napoleão de Barros, Samuel Levy, Joaquim Francisco de Paula Eduardo, José A.       Camargo, Manoel Pinto Costa, José Moraes Costa, Francisco da Rocha Campos Bicudo, Manoel Theodoro de Aguiar, Fernando José Teixeira Guimarães, José Elias Marins, Francisco Antunes de Almeida, José Cláudio Pereira, Júlio C. Oliveira e José Pires de Almeida Moura.

 A primeira Ata de Fundação e Constituição do novo e benemérito empreendimento é datada de 02 de janeiro de 1893. A primeira Diretoria constituída é composta, além do comando do Dr. Costa Leite, dos Senhores Antônio César, Amando do Amaral Barros, João Rodrigo e Floriano Simões.
O Juiz de Direito, Dr. Luiz Ayres de Almeida Freitas, que por 20 anos dignificou a justiça em Botucatu, foi o primeiro Provedor da Misericórdia Botucatuense, tendo na administração o Sr. Antônio Ignácio de Oliveira.

 A oito de dezembro de 1901, a Misericórdia foi oficialmente inaugurada. Seu benemérito, Dr. Costa Leite, assim relatou: "...no dia da inauguração enfeitei muito bem o prédio, iluminei-o com gás acetileno, deixei tudo pronto e fugi. Fui para o Lageado e só voltei à noite, quando tudo estava terminado. No início tivemos que vencer grandes dificuldades. Quase tudo parou. Mas, o sempre caridoso povo de Botucatu veio em meu auxílio." (Folha de Botucatu, 14/12/1941).

 Na inauguração do Hospital, a eficiente pesquisa do Sr. Luiz Baptistão (Gazeta de Botucatu/edição No. 1.699), nos dá a exata dimensão dessa solenidade: "Enfim, no dia 8 de dezembro de 1901, no edifício do Hospital, reunidas a Diretoria, Exmas. famílias, Associações, autoridades e grande massa popular... Houve discurso do Agente Consular Italiano, do Representante da Sociedade Italiana "Pró-Pátria", do "Círculo Filo-Dramático Paulo Ferrari", do representante da Sociedade "Casa de Savoia", do representante da Loja Maçônica "Guia do Futuro" e "Sociedade de Caridade Maria Pia". O Dr. Costa Leite foi maçon e venerável.



 No artigo "CENTENÁRIO DA MAÇONARIA EM BOTUCATU" (http://blogdodelmanto.blogspot.com.br/2011/06/centenario-da-misericordia-botucatuense.html), publicado pela revista botucatuense de cultura PEABIRU, de setembro/outubro de 1998, numa iniciativa da LOJA GUIA REGENERADORA, foi cedido para publicação e divulgação a ficha cadastral do Dr. Costa Leite:





 O Hospital sempre enfrentou dificuldades financeiras. Para efeito didático, dividimos em 2 fases a história da Misericórdia Botucatuense: a 1a. Fase desde a sua fundação, em 1893, até o ano de 1937, quando houve a gravíssima ruptura entre o Corpo Clínico e a Diretoria Administrativa (com a demissão do Corpo Clínico) e, a 2a. Fase, a partir de 1937 até os nossos dias.

 1ª. FASE:
 Na principal fase, a da consolidação do empreendimento, além dos beneméritos já citados, é preciso citar a presença dos médicos que vieram prestar a sua colaboração à Misericórdia. É preciso que se destaque que durante a primeira fase e até meados da segunda fase a colaboração médica era SEM REMUNERAÇÃO, era o verdadeiro sacerdócio médico.

 Afinal, a Misericórdia era e é uma Instituição de Benemerência... À partir de meados da 2a. Fase, com as modificações do setor de saúde, com a crescente socialização da medicina e maior presença estatal na assistência médica, a Misericórdia passou a atuar como um hospital conveniado com os Institutos Federais de Previdência. No entanto, NUNCA deixou de existir o espírito que norteou a sua fundação: amparar a todos que necessitem de apoio médico, notadamente aos mais carentes.

 O primeiro médico a colaborar com o Dr. Costa Leite foi o Dr. Miguel Zacharias de Alvarenga. Ao depois, os Drs. Carvalho Barros, Vital Brasil, José Procópio Teixeira Guimarães, Aristides Franco Meireles, Vicente Vianna Júnior, Francisco Rodrigues do Lago, Jorge Vianna Bittencourt, Paschoal e Paulo Rugna, Miguel Losso, José Maria de Freitas, Moacir Corte Brilho, Jacinto Gomes, Marco Túlio de Carvalho, Antônio Gióia, Francisco Figueira de Mello, Horácio Figueiredo, Nestor Seabra, Edmundo de Oliveira e Darwin do Amaral Viegas.

Segundo relato do Dr. Olívio Stersa (Memórias da Misericórdia Botucatuense - 1988), temos a presença de médicos italianos atuando na Misericórdia: "...Entre os italianos que também freqüentavam o nosocômio, podemos citar os doutores Maggiore, Thadei, Antônio Gioia, os irmãos Paschoal e Paulo Rugna e Miguel Losso."

Em 1948, com a chegada do novo Bispo Diocesano, Dom Henrique Golland Trindade, aconteceu o "encontro histórico" entre o grande chefe maçon e o chefe da Igreja Católica:



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O FAMOSO TEATRO ESPÉRIA

 O Sr. Luiz Baptistão, que foi Provedor da Misericórdia, realizou importante pesquisa relativa à história desse hospital beneficente. Recentemente, através da "GAZETA DE BOTUCATU", de 12/03/93, trouxe ao conhecimento da comunidade botucatuense que "...os valorosos homens públicos, no correr dos tempos, antes já haviam pensado com que recursos financeiros contaria a Misericórdia para se manter em funcionamento, com as despesas de funcionários, cozinha, medicamentos, rouparia, limpeza, tudo enfim. Ocorreu-lhes, pois, a idéia, de ao mesmo tempo em que construiriam o hospital, erigiriam um teatro destinado a proporcionar alegrias e divertimento ao povo em geral, mediante pagamento de uma taxa por sessão de espetáculo, com função permanente, em proveito das finanças do hospital."




visita do Maestro Villa-Lobos a Botucatu, no Teatro Espéria.

 Essa é a origem do Teatro Santa Cruz , em terreno de propriedade do hospital, ao depois Cine Espéria e sede da Sociedade Italiana de Beneficência, que o comprou da Misericórdia. A sua construção teve também projeto do Arquiteto Francisco B. Soler e a Comissão que administrou a construção do teatro era constituída do Dr. Antônio José da Costa Leite (Presidência), Armindo Cardoso de Almeida e Amando de Barros.

  No ano de 1954, um incêndio destruiu o teatro. Não foi reconstruído. A bela arquitetura de sua fachada ficou registrada nas fotos da época... Mas nessa pesquisa, o Sr. Luiz Baptistão nos dá, também, uma sinalização da situação e mando político da época, visto a reunião da Diretoria da Misericórdia ter ocorrido, sob a presidência do "...incansável Dr. Antônio José da Costa Leite, no Salão de Leitura do "Gabinete Literário e Recreativo de Botucatu"(o mesmo prédio que sedia a Rádio Emissora de Botucatu S.A., na Rua Marechal Deodoro, 320 - antiga e linda sede do Partido Cardosista)."

 Realmente, a personalidade do Dr. Costa Leite era marcante. A par de seu desempenho como médico, era ele verdadeira locomotiva de nossa sociedade. Amante do teatro, além do empreendimento acima, participava ativamente de grupos teatrais amadores da cidade e patrocinava a vinda de companhias de fora. No esporte, foi responsável pela introdução da prática do tênis de campo em Botucatu. Liderando destacadas personalidades de nossa sociedade, Costa Leite introduziu a prática desse esporte entre nós. As quadras então existentes situavam-se próximas das atuais quadras do BTC, ao lado do Centro Cultural e da Prefeitura Municipal.


INTRODUZIU O TÊNIS DE CAMPO


Pioneiros do Tênis em Botucatu: Da esquerda: DeoclesianoPontes, Ester Portela Pontes, (?), Antônio José da Costa Leite, Augusto Viana Junior, Virgínia Neves Costa Leite, (?), Aníbal Costa Leite. ("Achegas", Hernâni Donato, 1985)

Mesmo local das atuais quadras do BTC. Os primeiros tenistas. Aníbal Costa Leite é o quarto a partir da esquerda. ("Achegas", Hernâni Donato, 1985)



Mas o pacificador e benemérito da Misericórdia Botucatuense teria que comparecer mais uma vez para garantir a estabilidade do Hospital. O risco de uma paralização era eminente. Pela "FOLHA DE BOTUCATU", de 17/03/37, a notícia de que o Dr. Costa Leite, mesmo com idade e já afastado do exercício da profissão, assumia a direção clínica do Hospital: "MISERICÓRDIA BOTUCATUENSE"
Acaba de assumir a direção da Misericórdia Botucatuense o Dr. Costa Leite, o venerando facultativo a quem se deve a existência desse modelar estabelecimento de caridade em nossa cidade. Tendo agora como operador o Dr. Cyro de Oliveira Guimarães de quem fazemos referências em outra parte, está a Misericórdia Botucatuense perfeitamente aparelhada para continuar a sua rota sem tropeços, fazendo o bem e minorando os sofrimentos daqueles que necessitarem dos recursos médicos".
No final de sua 1a. Fase, a Misericórdia conseguia atravessar esse sério obstáculo pelas mãos seguras do Dr. Costa Leite.

A 2a. Fase começou em 1937, com Emílio Peduti no comando administrativo da entidade e com a convocação do Dr. Antônio Delmanto para o corpo clínico. Emílio Peduti, bem sucedido capitalista, teve por incumbência a gestão administrativa e a grave crise financeira que abalou a instituição. A Antônio Delmanto, com a colaboração inicial de pouquíssimos colegas (com especial destaque para a presença sempre firme do Dr. Antônio Pires de Campos), coube a função de reestruturar o Corpo Clínico, diante do afastamento ocorrido de toda a equipe médica que atuava no hospital.



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O HISTÓRICO DA MISERICÓRDIA

 A história da Misericórdia Botucatuense sem um perfil de seus principais protagonistas ficaria incompleta. E mais: a história desse benemérito Hospital sem o concurso da pena mágica de nosso historiador emérito, Dr. Sebastião de Almeida Pinto, o Mestre Tião, ficaria com certeza, incompleta. O Dr. Sebastião, antes de se dedicar a "contar" as histórias das coisas e da alma de Botucatu,exerceu como um sacerdócio a medicina, principalmente na Casa fundada por Costa Leite. Como seu colega Antônio Delmanto, Sebastião de Almeida Pinto cursou Farmácia antes de cursar Medicina, comum em outros tempos em uma visão de complementação na formação profissional.

 Como historiador e como partícipe da história médica em nosso primeiro Hospital, Tião Pinto nos traz, em suas histórias, o cenário real de como foi a construção dessa Entidade de Beneficência. Hoje, olhando o majestoso prédio e utilizando os excelentes serviços prestados, fica difícil dar a exata dimensão para o usuário-paciente, para o simples cidadão observador e até para o médico do atual Corpo Clínico, como tudo surgiu. A Misericórdia Botucatuense, é bom que se diga!, não tem dono. NÃO TEM DONO!

 Ela pertence a Botucatu que, através de uma sociedade civil beneficente, realiza serviços de medicina, principalmente objetivando ao atendimento dos mais carentes de recursos
.
 Tanto é assim que, se dissolvida, os bens remanescentes serão destinados a uma ou mais entidades sociais legalmente estabelecidas no município e com a mesma finalidade de atender prioritariamente a população mais carente.


MISERICÓRDIA: RETORNO ÀS ORIGENS!

REPETINDO:  "A Misericórdia Botucatuense, é bom que se diga!, não tem dono. NÃO TEM DONO!
 Ela pertence a Botucatu que, através de uma sociedade civil  beneficente, realiza serviços de medicina, principalmente objetivando ao atendimento dos mais carentes de recursos".

Assim, como à partir do 2º decênio deste século, a MISERICÓRDIA BOTUCATUENSE passou a ser administrada pela UNIMEDPlano de Saúde – deixou de atender à população de um modo geral, descumprindo sua finalidade.Passou a ser o HOSPITAL UNIMED (LEIA a Misericórdia não existe mais...faz parte da história: http://blogdodelmanto.blogspot.com.br/2015/01/a-misericordia-botucatuense-nao-existe.html)  Assim, NADA justifica o recebimento, por parte dos Administradores da Sociedade Mantenedora da antiga Misericórdia. Pois, realmente, NADA justifica que o alto RENDIMENTO auferido pelo arrendamento do hospital para a UNIMED, seja destinado apenas para a própria sociedade.

URGENTE: desde que a antiga MISERICÓRDIA BOTUCATUENSE deixou de cumprir sua finalidade social, para a qual foi constituída uma sociedade civil para administrá-la,nada mais certo que o imóvel e seu patrimônio seja DEVOLVIDO  ao POVO DE BOTUCATU!

COMO FAZER: assim como o TAENCA deixou de cumprir sua finalidade estatutária e teve seu TEATRO devolvido à Prefeitura de Botucatu, da mesma forma, a MISERICÓRDIA BOTUCATUENSE, através da Ação do Ministério Público Estadual, DEVE ter seu HOSPITAL e todo seu patrimônio DESTINADO à Prefeitura Municipal de Botucatu para que passe a pertencer ao PATRIMÔNIO PÚBLICO DO POVO DE BOTUCATU e sendo administrado pelo Setor de Saúde (Secretária Municipal da Saúde) que atende o SUS em nossa cidade, ou seja, a grande maioria da população NÃO privilegiada com um Plano de Saúde.

Não é tarefa fácil e nem agradável. MAS não podemos admitir, em Botucatu, que uma sociedade civil beneficente, criada para administrar a Misericórdia Botucatuense com o objetivo ÚNICO de prestar serviços de saúde à população mais carente PASSE, como agora, a auferir e administrar APENAS os rendimentos advindos do arrendamento do Hospital para a UNIMED e mais os rendimentos de seus outros imóveis.

REPETINDO:

“A Misericórdia Botucatuense, é bom que se diga!, não tem dono. NÃO TEM DONO!
 Ela pertence a Botucatu que, através de uma sociedade civil  beneficente, realiza serviços de medicina, principalmente objetivando ao atendimento dos mais carentes de recursos.”


A crônica do Dr. Sebastião de Almeida Pinto sobre o Dr. Costa Leite marca a passagem brilhante deste cidadão prestante junto à comunidade botucatuense:

"COSTA LEITE, O MAIOR

Sebastião A. Pinto



 A antiga rua da Misericórdia, chama-se rua Dr. Costa Leite. Na ajardinada praça dona Izabel, há um busto do Dr. Costa Leite. O pavilhão de homens da Misericórdia Botucatuense chama-se "Dr. Costa Leite". E este nome encima o prédio do grupo escolar noturno, mantido pela Municipalidade.
 Quem era este cidadão tão homenageado? No "Almanak de Botucatu", editado em 1.919 pelo jornalista Augusto de Magalhães, às páginas 178 e 179, está escrito: "Dr. Antônio José da Costa Leite. Um dos vultos mais proeminentes de Botucatu. Há mais de trinta anos que residenesta cidade. É o médico da pobreza, o benfeitor, o humanitário que não se  cansa de levar aos que sofrem o bálsamo que suaviza.
Quantos dos casebres ou dos leitos hospitalares, lhe não coroam sentidamente, com bênçãos, a transparência de seu coração piedoso!
 O Dr. Costa Leite tem o nome preso à Misericórdia Botucatuense. Foi ele quem se manifestou primeiro por essa fundação de caridade, entregando-se de corpo e alma para que ela ganhasse vulto e se erguesse dos alicerces, como braços estendidos à multidão dos deserdados. Não se pontuam nisso os feitos de todos os matizes por ele disseminados. O que fez, aí estão...
 Dr. Costa Leite é natural da Bahia, por cuja Faculdade de Medicina se formou no tempo do Império. Fez seu curso com raro brilhantismo, assinalado com muitas distinções. "O povo botucatuense rende-lhe a maior estima que é dado a um profissional desta natureza alcançar. E é-lhe justa e merecedora!".
 Isso foi escrito em 1.919. Agora, em 1971, posso dizer mais coisas sobre o médico e homem, que, sendo um agnóstico, praticava o BEM pelo BEM, sem esperar recompensas do mundo ou do céu.
Nasceu na cidade de Salvador, em 19-4-1860.
 Formado em medicina, transferiu-se para o Estado de São Paulo. Em 1886, o jovem baiano começou a clinicar na pequenina Botucatu. Durante mais de sessenta anos, exerceu o seu abençoado mister. Faleceu em 15-6-1.953, aos noventa e três anos de idade, sendo sepultado na necrópole local. Dorme o sono eterno na cidade que tanto amou e bem serviu.
 Sempre ouvi falar e depois constatei pessoalmente, que da medicina o Dr. Costa Leite fez um sacerdócio. Foi um justo, de mão aberta. Pai da pobreza. Por isso, morreu pobre. Dizia ele, já na Misericórdia (que fundara e servira dedicadamente) que ele era o indigente número um daquela casa de solidariedade humana. O único bem imóvel que possuiu, a casa de morada, foi-lhe dada pelo povo, por subscrição popular.
 Curando, lenindo, amparando financeiramente até, os desprotegidos da fortuna, Costa Leite se tornou figura lendária na vasta zona, onde ele foi, por muitos anos, o único médico a fazer clínica médico-cirúrgica. Naqueles velhos tempos, naquela rudeza do sertão, que começava a ser devastado, para melhor servir e cuidar dos sofredores, grandes e pequenos, principalmente os mais humildes, fundou a MISERICÓRDIA BOTUCATUENSE, o primeiro hospital da zona.
  Foi em 1.893 que Costa Leite lançou os fundamentos daquela, que não sendo Santa Casa, é uma Casa Santa. Em 8 de dezembro de 1901, ohospital foi inaugurado graças ao apoio decidido que recebeu de dona Izabel Franco de Arruda, Antônio Ferreira da Silva Veiga Russo, Domingos Soares de Barras, Floriano Simões e outros bons colaboradores, numa demonstração de ecumenismo.
 Dr. Costa Leite foi cidadão emérito. Em vida ainda, recebeu a medalha "HONRA AO MÉRITO", somente concedida aos grandes benfeitores da Humanidade. E fez júz à distinção. Quando moço, espírito sociável, dirigia grupos de AMADORES teatrais, animava os esportes, era diretor de sociedades recreativas. Maçon graduado, foi venerável da Loja "Guia do Futuro".
 Pouco militou em política. E esta só lhe trouxe aborrecimentos e dissabores. Mas, firme no seu apostolado ele sempre ficou acima das mesquinharias do mundo. Do seu casamento com dona Cândida Costa Leite, baiana como ele, nasceram os filhos: Dr. Aníbal, cirurgião dentista; Dr. Orlando, advogado; Carlos César; Elvira (laia), que foi casada com Carlos Veiga Russo. Todos são falecidos. Nenhumdescendente do Dr. Costa Leite reside em Botucatu.
 Um dos seus netos, Carlos Leite César, é o presidente da Bolsa do Café, em Santos."
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Dr. Antônio Delmanto que exerceu a Diretoria Clínica da Misericórdia Botucatuense, de 1937 a 1952, quando teve a oportunidade de abrigar o Dr. Costa Leite como morador do Hospital prestou este depoimento:




“Tivemos o ensejo de conviver com o saudoso Dr. Costa Leite, fundador de nossa Misericórdia e, conhecendo-o bem, pudemos admirá-lo mais ainda: homem bom, com sólida cultura médica, dedicado, grande amigo e benfeitor de Botucatu.

 Foi na sua época um grande médico. Depois de encerrar sua profissão, comparecia sempre ao seu Hospital, a Santa Casa, a sua Santa Casa, a Casa que ele fundou e onde viveu seus últimos anos, morrendo pobre, muito pobre."

 O 1o.Centenário é sempre motivo de orgulho e comemoração para qualquer instituição pública ou privada.

É uma vitória. De todos os envolvidos.
E o futuro ?

 A cidade de Botucatu tem convicção de que será novamente vencedora
.
Que se multipliquem os futuros Costa Leites. E mais importante: que existam os futuros Costa Leites...

Que do mercantilismo primitivo e selvagem que grassa em todo mundo, haja um pequeno espaço - pequeno que seja ! -, para o sonho e o sacerdócio médico.

 Que se multipliquem os bons filhos e os cidadãos prestantes.

Que seja glorioso e benemérito o futuro do “projeto social” MISERICÓRDIA BOTUCATUENSE!



(do livro "Memórias de Botucatu 2", de Armando M. Delmanto, 1993)

9 comentários:

Anônimo disse...

requeri disse...
o seu texto possibilita históricas lembranças.
a rica história da cidade de santos é intimamente ligada à santa casa. não aquela que existe hj, na entrada da cidade.
santos e são vicente, cidades vizinhas, grudadas, dividiam tarefas, e uniram-se ainda mais por conta da santa casa que fora estabelecida em santos, por um gruppo de jesuítas, por volta de 1543. santos recebeu esse nome por causa da santa casa que servia às duas cidades. os habitantes de são vicente viajavam horas para serem atendidos na santa casa de misericórdia de todos os santos, que ficava no extremo oposto, da cidade vizinha instalada no outro extremo oposto em relação a são vicente, ou seja, na entrada do estuário, onde um trapiche servia de porto.
abreviar para "santos" ficou mais econômico. em lugar de dizer: vou à santa casa de misericórdia de todos os santos. ficava mais simples dizer: vou a santa casa de santos.

as santas sasas existem desde 1498. dona leonor, viúva de dom joão II, rei de portugal, determinou a fundação da santa casa de misericórdia de lisboa. daí, cada canto do planeta que portugal conquistava, era obrigado a receber uma santa casa. elas, as santas casas, eram as organizações mais fortes e emblemáticas da colonização portuguesa.

adoro essas histórias.

é isso.

Anônimo disse...

Na cidade de Jaú foi a mesma coisa. A comunidade se uniu e construíram a Santa Casa, mantida por uma Entidade Filantrópica. Não havia assistência pública para a saúde era o salve-se quem puder. Foi a época da conquista desse imenso país. Em cada cidade, pelo menos no Estado de São Paulo, havia uma Santa Casa. Hoje, com todo o dinheiro arrecado pelo Governo Federal os hospitais mantidos pelas Santas Casas passam verdadeiro terror financeiro. O dinheiro do SUS é uma humilhação e está fazendo com que inúmeros hospitais fechem suas portas. É urgente uma nova política para a Saúde. É preciso que o SUS pague um valor justo pelos serviços prestados e que pague sem atraso. Ninguém está pedindo favores governamentais, mas apenas o que é devido pelos serviços prestados ao próprio Governo Federal. O valor de uma consulta ou de uma operação cesareana paga pelo SUS é uma vergonha! E o Congresso Nacional só trabalha alguns dias da semana e só pensa em tirar vantagens... (jair.castro66@yahoo.com.br)

Delmanto disse...

Esse relato de Requeri sobre Santos e a sua Santa Casa é uma aula de história. São as raízes da civilização portuguesa que viabilizaram a colonização da Terra Brasilis. O valor das Santas Casas foi de fundamental importância para a saúde das populações carentes das cidades que se formaram nos primórdios da Nação. Da mesma forma, o relato de Jair sobre a cidade de Jaú. Com certeza, por todo o Brasil, vamos encontrar depoimentos que enaltecem o papel dessas Casas de Benemerência. O Governo Federal precisa voltar a atenção para uma justa remuneração pelos serviços prestados pelas Santas Casas. O SUS precisa pagar em dia e dar o justo valor dos procedimentos médicos prestados. É compensador sentir que tema tão importante encontra a atenção de tantos brasileiros. O Brasil tem futuro. E o passado glorioso de nossas Santas Casas de Misericórdia é um orgulho de toda a Nação Brasileira.

Anônimo disse...

Sonia Mereu (FACEBOOK):
Tínhamos uma Escola Dr . Costa Leite ,aonde é hoje o Colégio Objetivo

Armando Moraes Delmanto (RESPOSTA): Verdade, Sonia. É o progresso descompromissado "engolindo" o passado e a história.

Anônimo disse...

Luiza Rodrigues (Facebook):
Obrigada Armando. Não sabia quem era, assim como ainda desconheço muitas figuras ilustres que deram nome às ruas da cidade.

Anônimo disse...

Marilia Cintra (Facebook):
Parabéns Botucatu!!!!!

Anônimo disse...

Marisa Cintra de Melo (Facebook):
Gostei dessa história.Não conhecia.

Anônimo disse...

Maria Oliveira (Facebook):
Adoro conhecer histórias de sobre pessoas ilustres que trabalharam em prol da nossa cidade!!

Anônimo disse...

Marlene Caminhoto (Facebook):
Parabéns, querido amigo Armando Moraes Delmanto! Você sempre enaltecendo as figuras de destaque em nossa cidade! Louvável sua preservação da história! Abraços

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