janeiro 10, 2016

A QUEDA DE ÍCARO - uma reflexão.

“A queda de Ícaro”






O famoso quadro de Ícaro é a história dos riscos assumidos pela vontade de ultrapassar os limites...
“Ícaro não é, porém, apenas o jovem irrefletido. Ele representa também a figura do sonhador, o herói da liberdade.
Ele fascina e inspira-nos porque deu origem e nunca deixou de alimentar um dos nossos mais antigos sonhos: o de voar. A história da conquista do céu começa com ele. Os sonhos de Ícaro tiveram dignos continuadores com os desenhos de Da Vinci, as descobertas de Montgolfier e a conquista espacial.

No célebre quadro do pintor flamengo Brueghel “A queda de Ícaro” (imagem acima), Ícaro cai no mar enquanto os camponeses prosseguem a sua labuta diária. Significa isto que o espírito de aventura é frequentemente motivo de incompreensão e de grande solidão. Mesmo assim, sempre é necessário, alguém como Ícaro, para abrir o caminho”.

Como um de seus últimos pronunciamentos, vamos buscar o desabafo do editopr e escritor Carlos Lacerda em seu livro “A Casa de Meu Avô”, livro onde se autobiografou e onde deixa o seu sentimento de tristeza e impotência frente aos fatos, frente a vida. Logo, Lacerda viria a falecer. Com certeza – a nosso ver! – faleceu de DESENCANTO CÍVICO! O grande guerreiro, cassado, afastado da vida política foi morrendo a pouco e pouco:

“Da raça de Ícaro dificilmente sobra alguém. Sempre chega a hora em que as asas que pretensiosamente nos damos derretem-se ao sol. E caímos de qualquer altura. Recentemente publicou-se um livro que analisa, ampliando e explicando cada pormenor, o quadro de Brueghel que está no museu de Bruxelas. “A QUEDA DE ÍCARO”. Esse quadro por si só vale a viagem à Bélgica. O mais extraordinário ali, a par da pintura, que engloba tantos símbolos e propõe tantos enigmas, é que Ícaro cai no mar mas nada se pertuba em redor.

Do homem que partiu à conquista do espaço, do bicho da terra fascinado pela amplidão vê-se ainda uma perna. Afora essa perna patética que sobrou da sua derrota, a superfície das águas permanece inalterada. Nada flutua do seu corpo, nem do espírito sobre as águas.

Continua o lavrador a sua labuta, o navio a sua rota, a ilha permanece cercada de água por todos os lados, para não deixar de ser uma ilha, os carneiros continuam acarneirados sob o gesto imemorial do pastor que guarda a sua submissão. O céu não dá mostras de cólera nem de indulgência – o céu a que Ícaro pretendeu alçar-se não conhece o perdão.

Nada, nada se altera. A intolerável pretensão, o desafio à mediocridade e ao conformismo, que mereceram castigo tamanho, recebeu o merecido. A vingança das potestades que ele desafiou está consumada. A queda de Ícaro é a seca advertência a toda rebeldia, a imposição do conformismo. A consagração da mediocridade como regra de bem viver. Tudo em redor vai bem. Ícaro já desapareceu nas águas. Ninguém se dá conta, naquela paz excessiva e suspeita de que um dia essas águas crescerão sobre o mundo, a ilha, o pastor, as ovelhas, os símbolos, as alusões afinal decifradas nesse quadro que tem a força de uma profecia. Depressa todos se conformam, procuram esquecer o episódio...”

Que melhor arremate para esta reportagem sobre sua vida?

É ele, de corpo inteiro, escancarando-nos sua alma, na conclusão de sua vida.
..
Mas – está dito no depoimento que é o conteúdo do livro -, se tivesse de fazer tudo de novo, faria exatamente como fez, mesmo porque, no fundo, ele sabia que a placidez retratada por Breueghel não é a mesma que se seguiu à sua queda. Pelo menos, tenho a certeza de que todo seu desencanto com o resultado da sua luta não o terá impedido de perguntar-se, como tantas vezes tenho feito, qual teria sido o destino político do Brasil se ele não tivesse travado seu combate?!?

E para encerrar, as palavras finais do próprio Carlos Lacerda:

“O que fiz foi parte infinitamente pequena do que nasci disposto e talvez capaz de fazer.”

É REGISTRO HISTÓRICO.

3 comentários:

Delmanto disse...

É para pensar nesse início de ano...

Anônimo disse...

Manfredo Costa Neto (Facebook):
Tinha - me esquecido da história. Maravilhosa lembrança e comentários.

Anônimo disse...

Carmem Lúcia da Silva (Facebook):
Suas reflexões são pontuais. Adoro acompanhá-las... Obrigada!

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