janeiro 31, 2016

Gerações da Cidadania Botucatuense: Homens que Fizeram Botucatu !!!


HOMENS QUE FIZERAM BOTUCATU

“Para mim, uma cidade sem passado, sem lembrança concreta dos seus antepassados, sem as impressões digitais de sua história, me confrange...” PAULO FRANCIS


Tudo começou com o jornal “FOLHA DE BOTUCATU”, em sua 2ª fase, que a partir de 1988 iniciou uma série de publicações buscando resgatar a memória de Botucatu, através do registro dos grandes vultos do passado e do presente, verdadeira COLETÂNEA DAS GERAÇÕES BOTUCATUENSES publicada no livro“MEMÓRIAS DE BOTUCATU”, edição de 1990:

Cardoso de Almeida, Petrarca Bacchi, Virgínio Lunardi, Raphael Augusto de Moura Campos, Paschoal Ferrari, Dante Delmanto, Cantídio de Moura Campos, Albina Varoli Botti, Sebastião de Almeida Pinto, José Melhado de Campos, Hernâni Donato, Jair Conti, José Pedretti Neto, Francisco Marins, Raymundo Marcolino da Luz Cintra, Vicente Marchetti Zioni, Aécio de Souza Salvador, Irmão Felipe, Ignácio de Loyola Vieira Novelli, Antonio Gabriel Marão, Trajano Pupo, Antonio Pires de Campos, Camilo Fernandes Dinucci e Frei Afonso Maria Lorenzon.

A relação que estamos publicando foi feita para as edições da“FOLHA DE BOTUCATU”, nos anos de 1988/89 e publicada no“Memórias de Botucatu” (1990). A relação não esgota o assunto. Faltam grandes nomes. A verdade é que grandes botucatuenses estão a merecer um estudo e uma divulgação de suas vidas para as gerações futuras. Mas a ideia original não era esgotar o assunto, mas, sim, despertá-lo. Esse trabalho é para ser feito por muitas pessoas, muitas mãos precisam realizar um trabalho conjunto de resgate da memória botucatuense. Esse trabalho precisa da participação de muitos. De outros jornais. De Entidades Culturais. De outros pesquisadores. Esse importante acervo da história de Botucatu está na “Trilogia das Memórias de Botucatu”:


DR.JOSÉ CARDOSO DE ALMEIDA:
As crônicas antigas do cerimonial conta-nos da piedade e unção do povo de Deus destas bandas comandadas por Monsenhor Ferrari, zeloso sacerdote da época.
Os atos religiosos que marcavam o calendário santo tinham toda a grandeza e a pompa da literatura de então. As várias cerimônias da Semana Santa contavam sempre com a presença fiel das autoridades enfarpeladas em seus trajes a rigor.
A grande procissão de Corpus Christi saia, regularmente, ao meio-dia, num longo trajeto. O pálio do Santíssimo, carregado pelas autoridades, tinha sempre ao seu lado um ilustre botucatuense vindo, onde quer que estivesse, para o ato religioso. Com respeito humano, na pública confissão de fé religiosa, fazia a guarda do Santíssimo Sacramento e após, segurando uma das astes do pálio, percorria as ruas vermelhas e esburacadas em demanda da Matriz.
Esse era o então político Dr. José (Juca) Cardoso de Almeida.
Foi então que Botucatu cresceu.
O Dr. Cardoso de Almeida demorava-se entre os seus por alguns dias. Visitava a Misericórdia Botucatuense do Dr. Costa Leite e o Santuário do Convento Franciscano de Lourdes de que se fizera grande benfeitor.
Na roda de amigos ouvia justos anseios dos políticos locais. Seu apoio era inestimável. Graças a ele e aos seus trabalhos como Deputado Federal, tivemos nós, botucatuenses, a instalação da Escola Normal Oficial, do Bispado Diocesano, o Serviço de Águas e Esgoto, a Energia Elétrica e a construção do Santuário de Lourdes de que foi o grande benfeitor. Muito trabalhou para que Botucatu se classificasse entre outras, como um grande núcleo educacional do interior.
Pertencente ao antigo Partido Republicano Paulista (PRP), foi membro ativo dos governos estadual e federal. Foi Secretário da Justiça (Governo Campos Sales), Chefe de Polícia (Governo Bernardino de Campos), Secretário do Interior e Justiça (Governo Jorge Tibiriça), Secretário da Fazenda e Interino da Agricultura (Governo Rodrigues Alves), Secretário da Fazenda (Governo Altino Arantes), Presidente do Banco do Brasil (Governo Epitácio Pessoa). Foi ainda representante do Estado de São Paulo, como Deputado Federal e mais tarde, líder da maioria no Governo de Washington Luiz e três vezes relator da Receita e líder da maioria na Câmara Federal.
Sua intensa atividade política fê-lo autor de muitas leis, entre elas: a que criou a Polícia de Carreira; a que deu vitaliciedade aos Escrivães; a que reorganizou a Força Pública do Estado de São Paulo; a que criou a Caixa Beneficente para Oficiais da Corporação; a que criou o Instituto Disciplinar. Graças ao seu dinamismo, houve em seu tempo, por sua autoria, a reorganização do Ensino Primário. Foi ele que instituiu a Exposição Nacional de 1908; que proibiu as acumulações de cargos remunerados; que concedeu privilégio aos assalariados rurais; que reduziu as taxas de capatazias na Alfândega de Santos; que ofereceu garantias à Estrada de Ferro Sorocabana (EFS) para o prolongamento de linha Salto Grande a Tibiriça; que fundou as Caixas Econômicas Estaduais; que instituiu os impostos de Comércio e das Casas de Diversões; que criou os Bancos Populares; a Lei de Instalação da Bolsa do Café; Lei de defesa do café no período cruciante contraído com a União um empréstimo de 150 mil contos – do qual adveio vultoso lucro para o Estado e a Fazenda Nacional.
Com a vitória da Revolução de 1930, ele foi exilado e morreu, um ano depois, a 6 de outubro de 1931, em Paris.
O Dr. Cardoso de Almeida foi o maior botucatuense de todos os tempos. (F.B. 25/02/1989).

PETRARCA BACCHI – O MATARAZZO DE BOTUCATU:
A presença de Petrarca Bacchi na história de Botucatu representa a participação dos pioneiros da industrialização – os italianos – na formação de nosso município com destaque perante todo o Estado de São Paulo, no início do século XX.
O 1º Ciclo Industrial de Botucatu teve como seu maior expoente, o Sr. Petrarca Bacchi, iniciando-se no último decênio do século retrasado (1890) e vindo até a crise econômica de 1929/30, que arruinou, em todo o Brasil, muitas industrias e estragou muitas cidades. Hernâni Donato, em seu “Achegas para a História de Botucatu”, retrata bem a atuação dos imigrantes no processo de industrialização de Botucatu No “Achegas”, os nomes dos pioneiros imigrantes que se encarregaram de abrir, no início do século, o caminho: Petrarca Bacchi, Virgínio Lunardi, Aleixo Varoli, Atílio Losi, Pedro Delmanto, Pedro Stefanini, Antonio Michelucci, Adeodato Faconti, João Pescatori, Felipe di Santis, Serafim Blasi, Eugênio Monteferrante, Ângelo Milanesi, João Spencieri e Palleóge Guimarães.
A importância do 1º Ciclo Industrial de Botucatu é medida pela grandiosa presença do complexo industrial de Petrarca Bacchi. Em outra realidade sócio-econômica a nível nacional e de uma Botucatu ainda provinciana, as Idustrias Bacchi abrangiam: cerveja, fábrica de gelo, sabão, serraria, máquina de beneficiar café e cereais, massas alimentícias, fiação de algodão e fábrica de chapéus. O número de empregados chegou a 400. Para completar a visão do quadro de então e da “visão” daquele dinâmico e ousado imigrante, basta dizer que construiu uma Usina Hidroelétrica para “alimentar” as suas industrias, chegando a fornecer eletricidade à cidade de Botucatu. Da mesma forma que a Matarazzo e a Votorantim, Petrarca Bacchi procurava ser auto suficiente em energia elétrica, o que mostrava que era um empresário moderno e avançado para a sua época. Dizem os “arquivos vivos” de Botucatu que o Conde Matarazzo quando em viagem pelo interior inspecionando suas unidades fabris, parava em Botucatu para reencontrar seus compatriotas. Esse reencontro sempre acontecia sob os auspícios do nosso grande “comandante” de então, o ilustre Petrarca Bacchi.
A 1º de março de 1940, falecia em São Paulo o Sr. Petrarca Bacchi, onde se encontrava em tratamento no Sanatório “Esperança”, consternando toda a cidade de Botucatu. Na ocasião, nas colunas do “Correio de Botucatu”, o Sr. Deodoro Pinheiro dava o seu relato: “A o chegar aí, de madrugada, quando o automóvel que me conduzia da gare fronteou o conjunto das Industrias Bacchi, confrangeou-se-me o coração, meu pensamento evovou a figura amiga e dinâmica de Petrarca Bacchi, o vigoroso bandeirante da grande indústria botucatuense. Bacchi deixou um vácuo impreenchível. Viveu décadas voltado ao afã de construir a prosperidade de minha terra natal. Os lucros que seu trabalho inteligentemente coordenado ia verificando, não os estagnava em um banco ou no “pé-de-meia”, aplicava-o sempre sucessivamente no incremento de novas e promissoras industrias até culminar a invejável altitude que hoje ostentam as suas dinâmicas realizações acumuladas com pertinácia e visão esclarecida. Era o Matarazzo de Botucatu”.
Também por ocasião dessa grande perda, a “Folha de Botucatu”, de 1º de março de 1940, então sob a batuta de Pedro Quiaradia, relatava o infausto acontecimento através de movimentação ocorrida na cidade, as manifestações de pesar vindas de São Paulo, de todo o interior, e das famílias botucatuenses, culminando com a missa de corpo presente, realizada na Catedral por S. Exa.Revdma. Dom Frei Maria de Sant’Anna, então Bispo Diocesano. Os dados biográficos compilados por Pedretti Neto, na ocasião, dão bem um retrato de Petrarca Bacchi”:
“Dados Biográficos:
Petrarca Bacchi nasceu em Brescello, província de Reggio Emília/Itália, em 13 de Novembro de 1817. Era filho de Domingos Bacchi e de d. Maria Sommi Bacchi.
Em 1896, sob as ordens do general Baratieri fez a campanha da Abíssinia. Em 1898, veio para o Brasil passando a residir na cidade de Sorocaba. Nesse mesmo ano transferiu-se para Botucatu.
Em 1901 contraiu núpcias com d. Maria Petry, já falecida. Desse consórcio teve os seguintes filhos: Domingos Bacchi, casado com d. Onelia Dromani; Sidraco, casado com d.Teodomira Pampado; Hermínio, casado com d. Ida Milanesi; dr. Jacob, casado com d. Maria Dromani; dr.Américo e Anita. Em segunda núpcias, casou-se com d. Elvira Grazini e deste casamento são suas filhas as menores Mariana e Marina.
Osr. Petrarca Bacchi iniciou suas industrias com um moinho de fubá no local denominado hoje de Salgueiro, isto é, no começo da rua Amando de Barros; transferiu-se depois para o moinho do Russo, hoje de propriedade do sr. Adriano Ribeiro. Em 1909, localizou-se na Avenida Floriano Peixoto, primeiramente com uma máquina de arroz. É esta a modesta origem do grande parque industrial. Da máquina de arroz o sr. Petrarca Bacchi instala um pastifício, depois serraria, máquina de algodão, a Usina Hidroelétrica e, finalmente, uma fábrica de chapéus. Cerca de 400 operários trabalham nas industrias Bacchi.
As origens da Família Bacchi remontam-se à Idade Média. De estirpe nobre, originária de Modena, os antepassados do sr. Petrarca Bacchi foram exclusivamente homens de armas. Vários deles participaram da Batalha de Beoca, contra os mouros, no dia de Santo André. No ano de 1022 passaram a pertencer a Ordem dos Cavaleiros, instituída pelo rei Roberto, o Devoto. Foram defensores da fé cristã e as duas maçãs cruzadas, do brasão heráldico, são da Batalha de Beoca.
O sr. Petrarca Bacchi naturalizou-se brasileiro.”

Essa a homenagem que a “Folha de Botucatu” procura trazer a esse grande construtor do progresso e do desenvolvimento de Botucatu.
Petrarca Bacchi representa para nós, que estamos vivenciando o dinamismo de nosso 3º Ciclo Industrial, a certeza de que existe um passado na história de Botucatu tão grande quanto o presente e que é preciso preservá-lo, trazendo às novas gerações o exemplo de nossos grandes vultos do passado como a mostrar que para a construção de um povo e de uma Nação é indispensável homens de fibra e de idealismo como Petrarca Bacchi e os pioneiros da industrialização em Botucatu. (F.B. 21/08/1989)

VIRGÍNIO LUNARDI:
Nascido em 1870, em S. Pellegrino, na província de Modena/Itália, Virgínio Lunardi tinha, como os modeneses, o espírito prático aliado a idéias modernas e uma têmpera para o trabalho que propiciaram a que tenha sabido levar e construir a sua vida com uma nota otimista e repleta de bons sentimentos, cortesia e espírito empreendedor.
Ainda no século retrasado aportou em Botucatu, em 1887, onde já estava instalada expressiva colônia agrícola dos italianos. De início, dedicou-se ao comércio onde, pouco a pouco, foi formando clientela e assegurando conceituado renome em Botucatu e região pela presteza, dinamismo e competência com que tocava seus interesses. No ano de 1911, trouxe da Itália seu irmão Mansueto Lunardi e, ambos, imprimiram à empresa solidamente plantada um desenvolvimento grandioso. Estudaram as condições mercadológicas da época e optaram por uma atuação diversificada, não só quanto à gama de produtos industrializados, como também ampliando as suas atividades nos campos industrial, do comércio e agrícola. Não apenas foi um pioneiro de nossas industrias, mas soube atuar no comércio e no setor agrícola. O comércio de produtos comestíveis, de cereais no atacado e no varejo e o pioneirismo na revenda de automóveis e na comercialização de seus produtos; moderna fábrica de bolachas e conceituado pastifício deram à Virgínio Lunardi & Irmão, destaque e prestígio em todo o interior do Estado de São Paulo.
Constituiam a empresa LUNARDI, as seguintes unidades: Grande e moderno Pastifício; Fábrica de Bolachas; Máquinas para o benefício de café, arroz e algodão; comercializando cereais; Representante da Standard Oil Co. of Brazil (Posto de Serviço para automóveis e carga de acumuladores); Agência Chevrolet (caminhões, automóveis, peças, acessórios, acumuladores e oficina mecânica); Seção Agrícola )Fazendas Boa Vista, Indianópolis, Santa Luzia e São Bento); Imobiliária; Acionistas da S/A Industrial Botucatuense – SAIB (madeiras) e Sócios das firmas Lunardi & Cia; Lunardi & Pescatori e Cortume Vitória.
Virgínio Lunardi foi um líder de sua geração. Presidiu por dezenas de anos a Società Italaiana Di Beneficienza. Era benquisto e respeitado por todos. Sabia comandar e era orador brilhante. Deixou a sua marca positiva.
Prematuramente falecido, Virgínio Lunardi deixou seu nome gravado indelevelmente nas páginas da história botucatuense, legando a seus sucessores o seu exemplo de tenacidade invulgar.
Com sua ausência, assumiu o comando de todo o complexo Lunardi, seu irmão Mansueto Lunardi, outra expressão de destaque em nosso 1º Ciclo Industrial, que soube ampliar e consolidar os negócios da empresa, Ao seu lado, os filhos de Virgínio Lunardi: Oswaldo, Luciano e Aristides. Todos souberam levar a bom termo os ideais desse valoroso imigrante italiano.
A cidade de Botucatu prestou sua homenagem àquele que trouxe progresso e desenvolvimento para a cidade e, especificamente, à Vila dos Lavradores. Podendo optar pela localização de seu comércio e de suas industrias, Virgínio Lunardi sempre optoi, claramente, por prestigiar o “Bairro da Estação”, transformando-o na “cidade alta”. A homenagem do Poder Público, em sua primeira etapa, constituiu-se na denominação da principal praça da Vila dos Lavradores, de Praça Cavalheiro Virgínio Lunardi, feliz iniciativa do então vereador Antônio Delmanto, que encontrou apoio unânime dos senhores vereadores e prefeito municipal.
ººJuntamente com Petrarca Bacchi, Virgínio Lunardi representa o destaque maior de nosso 1º Ciclo Industrial (1890- 1929/30), onde o pioneirismo dos imigrantes forjou uma fase de desenvolvimento invulgar para Botucatu, projetando-a como polo irradiador de cultura e educação e centro industrial de reconhecida liderança em todo o Estado de São Paulo.
A “Folha de Botucatu” presta justa homenagem àquele que soube ter compromisso como seu tempo e soube fazer desse compromisso um fato positivo e exemplar. Cavalheiro Virgínio Lunardi!” (F.B. 18/09/1989).

RAPHAEL AUGUSTO DE MOURA CAMPOS:
Foi um dos vultos mais proeminentes de nosso passado histórico.
Nascido na antiga freguesia da Santíssima Trindade de Pirapora – hoje, Tietê – em 18 de outubro de 1841, era filho de João de Moura Campos e de Ana Cândida de Souza. Trazia desde o berço uma genealogia gloriosa que bem servira a Pátria desde os históricos capitães-mores das capitanias del Rey às províncias do antigo Império.
Herdou ainda no berço os traços de fidalguia nobre, transparência nos costumes, fidelidade à Deus, à Pátria e à Família. Fez-se junto à terra-mãe, constituindo-se membro destacado da fidalguia rural. Destacou-se como latifundiário agricultor. Ao seu redor cresceram os escravos num ambiente de liberdade e de justiça, a ponto de serem já remidos muitos de seus servos, quando surgiu a Lei Áurea. Por isso, muitos de seu antigos escravos, já libertos, adotaram o sobrenome de Moura Campos. Gratidão ao antigo e querido senhor das terras.
O Cel. Raphael de Moura Campos desde jovem radicou-se em Botucatu, fazendo destas paragens seu segundo berço ao qual jurou, como cavalheiro, fidelidade.
Como tal, participou de todos os eventos que deram a Botucatu, nos primórdios tempos, fôros de cidade, ponto de convergência geográfica numa área territorial tão grande. Fotografias históricas evidenciam seu vulto fidalgo, cavalhereisco e nobre, como participante dos acontecimentos que marcaram data nesta cidade. Trabalhou e participou ativamente quando da instalação da Diocese de Botucatu e posse subsequente de seu primeiro Bispo. Foi membro ativo da Comissão que instalou na cidade a Misericórdia Botucatuense e assim, sucessivamente, inclusive para a instalação da Escola Normal Oficial que no passado tanto valorizou a cidade, como polo educacional de primeira grandeza. Soube transmitir às gerações sucessivas o traço marcante de sua personalidade. Casado com Ana deArruda Lima, deixou desse consórcio os filhos botucatuenses, Major Antonio de Moura Campos, vereador e prefeito a seu tempo; engenheiro Raphael de Moura Campos Filho; Dr. Cantídio de Moura Campos, primeiro médico botucatuense, Catedrático e Diretor da Faculdade de Medicina de São Paulo e Secretário da Educação e Saúde do Estado de São Paulo; Salomé de Campos Jaquaribe, esposa do dr. João Nogueira Jaquaribe, advogado e historiador; Ana Candida de Campos, esposa do dr. Antonio Vieira, juiz de direito. Foram seus netos: Major Leônidas do Amaral Vieira; professora Eulalina de Amaral Tôrres, esposa do dr. Mário Rodrigues Tôrres; professora Iracema do Amaral Pupo, esposa do prof. Gastão Pupo; e professora Luiz Amaral Pires, esposa de Clovis de Avellar Pires.
Fazem parte da sua descendência, os saudosos advogados botucatuenses, dr. Raphael de Moura Campos e dr. Rubens Rodrigues Tôrres; a professora Cecília Tôrres Delmanto, esposa do dr. Dante Delmanto; o dr. Agostinho Rodrigues Tôrres; o professor Raphael Augusto de Moura Campos Avellar Pires entre outros que honram o passado brilhante do ilustre varão. (F.B. 19/07/1989).

MONSENHOR PASCHOAL FERRARI:
Muito deve Botucatu a Monsenhor Paschoal Ferrari, não só nos planos religiosos como também no desenvolvimento da cidade. Foi ele um sacerdote invulgar que aliou à sua missão sacerdotal muito do desbravador de larga visão e de grande alcance para o futuro da cidade. Nasceu em Corfino-Massa Carrara/Itália, em 3 de abril de 1853. Em 1879, recém ordenado padre, veio para o Brasil. Trazia-o o ideal de um apostolado ativo, tal como o faziam os primeiros missionários em terras coloniais. Havia muito a organizar, servir, catequizar. Foi inicialmente vigário em Sorocaba, Bom Sucesso e Tapeva. Desta paróquia permutou com o padre João Rodrigues Lopes e veio para Botucatu assumindo o vigariato da Matriz, em 6 de maio de 1886. Aqui encontrou-se no seu verdadeiro meio ambiente, pois a colônia italiana da época era bastante numerosa. Frequentou as principais famílias, das quais se tornou conselheiro. Seu primeiro passo foi organizar as associações religiosas que se faziam então o esteio da vida paroquial assegurando a vida espiritual e consolidando a economia eclesial. Logo após preocupou-se com a construção da matriz no alto da cidade. O templo iniciou-se em 1887. E, 1892 foi benzida a Capela Mor e, em 1893, a obra estava inteiramente terminada.
Em 1905, padre Ferrari retornou à Europa, desta vez para visitar Roma e o Santo Padre, prosseguindo em visita ao Santo Sepulcro, em Jerusalém.
Padre Ferrari foi o principal mentor da criação da Diocese de Botucatu. Naquele tempo estudava-se o desmembramento da Diocese de São Paulo em outras tantas Dioceses. Merecendo por suas excepcionais virtudes a confiança de D. Duarte Leopoldo e Silva, Bispo de São Paulo, fez prevalecer suas inteligentes e oportunas ponderações do que resultou, num esforço conjunto e anos depois, a criação da Diocese de Botucatu, em 1908, que teve por primeiro Bispo, D. Lúcio Antunes de Souza.
Para a instalação do Bispado, concorreu Padre Ferrari com a doação de sua própria residência que passou a ser a sede do Bispado. Esse prédio foi infelizmente há pouco demolido. Assim como, para a fixação da Ordem Terceira Franciscana na cidade, doou padre Ferrari uma de suas propriedades.
Em 4 de junho de 1907, agraciou-o, D. Duarte Leopoldo e Silva, com a nomeação de Camareiro Secreto, cujo título lhe foi entregue na ocasião.
Em 25 de maio de 1908, foi agraciado por S.S. Pio X, com o título de Monsenhor, fato que sensibilizou por demais a população de Botucatu, que lhe prestou grandes e festivas homenagens.
Com a posse do primeiro Bispo, D, Lúcio Antunes de Souza, foi nomeado, em 1910, Vigário Geral e, em 1914, tornou-se Visitador Diocesano e Diretor da Oração.
Monsenhor Ferrari foi um dos fundadores da Misericórdia Botucatuense.
A ele deve Botucatu um tributo imenso de gratidão pois foi o incentivador da cultura, da educação, da politização do povo que sempre o distinguiu pelos seus méritos de povo altamente educado.
Monsenhor Ferrari faleceu em 21 de abril de 1922, estando sepultado no jazigo da Família Ferrari, um belo monumento já em ruínas.
Seria dever da nossa população procurar transladar os seus despojos para a cripta da Catedral, eis que Mondenhor Ferrari foi a pedra angular de nosso Bispado. (F.B. 17/09/1989).

DANTE DELMANTO:
O homenageado é filho do imigrante italiano, Pedro Delmanto (Pietro Del Manto) e de Maria Varoli Delmanto, botucatuense e filha de imigrantes italianos. Teve seis irmãos: Aleixo, Antonio e Orlando, Berval, Wanda e Imaculada Conceição (Peggy). Cursou a Escola Botucatuense e formou-se na primeira turma da Escola de Comércio “Nossa Senhora de Lourdes” (La Salle), indo posteriormente para São Paulo onde se formou advogado pela tradicional Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.
No último ano do curso de direito, em concurso realizado entre todas as Faculdades de Direito para aluno que tivesse a melhor nota na matéria de Direito Internacional, ganhou bolsa de estudos, de um ano, na Faculdade de Direito Internacional de Haia, na Holanda. O curso tinha convênio com o Itamaraty, sendo que após o seu término, o diplomado poderia ter ingresso direto na carreira de diplomata.
No entanto, Dante Delmanto, que desde o início de seu curso jurídico atuava em escritório de advocacia, preferiu dedicar-se à advocacia criminal, o grande sonho de sua juventude. Na introdução de seu livro “Defesas que fiz no Júri”, o próprio Dante explica: “Em Botucatu, onde nascemos, presenciamos, na mocidade, um importante julgamento perante o Tribunal do Júri, de que participaram dois consagrados tribunos de São Paulo, os drs. Antônio Augusto Covelo e Alfredo Pujol. Ele nos impressionou profundamente e despertou grande interesse pela advocacia criminal.”
Como advogado criminal, Dante Delmanto conseguiu renome nacional. Por seu escritório passaram clientes famosos como o Dr. Júlio de Mesquita Filho, do jornal “O Estado de S. Paulo”, o Conde Francisco Matarazzo e seus filhos, os ex-governadores Adhemar Pereira de Barros e Jânio da Silva Quadros, o ex-senador Auro de Moura Andrade e inúmeros empresários e pessoas de destaque na sociedade paulista.
A Editora Saraiva, em 1978, na apresentação de seu livro, destacou: “O autor deste livro dispensa apresentação, pois é, reconhecidamente, um dos mais renomados criminalistas que o Brasil tem. Pode-se dizer, do Dr. Dante Delmanto, que ele possui a verdadeira alma do advogado criminal. É o profissional que não se descuida nem dos pontos de prova aparentemente mais insignificantes do processo; é o técnico, sempre pronto a recorrer aos seus conhecimentos de anatomia, balística, psiquiatria, toxiologia e dos mais variados ramos da ciência, para chegar ao esclarecimento do caso; é o advogado ágil e experimentado, que consegue antever as provas que poderão levar ao sucesso; é, enfim, o debatedor seguro, que, plenamente, sabedor dos pontos favoráveis e contrários da causa, usa todo seu poder de argumentação e convicção.
Somente a verdadeira vocação e a grande paixão podem conduzir o advogado a semelhante maestria. E nada afastou o Dr. Dante Delmanto do seu pendor para o Direito Penal ou conseguiu arrefecer seu amor à causa que sempre abraçou. Nem o aceno da Diplomacia, quando ainda acadêmico, recebeu bolsa de estudos da Fundação Carnegie e cursou a Faculdade de Direito Internacional de Haia, na Holanda; nem a política, ao ser eleito, ainda bem moço, o deputado estadual mais votado no Estado de São Paulo.”
Ainda com referência ao seu livro que havia saído sem prefácio, apenas com a apresentação da Editora Saraiva, ocorreu fato inédito: em julho de 1986, colegas seus na advocacia criminal fizeram prefácio coletivo como homenagem póstuma. Assim, A. Evaristo de Moraes Filho, Ariovaldo de Campos Pires, Carlos Araújo Lima, Evandro Lins e Silva, George Tavares, José Aranha, Otto Cyrilo Lechmann, Paulo Sérgio Leite Fernandes, Raimundo Pascoal Barbosa, René Ariel Dotti e Waldyr Troncoso Peres (em ordem alfabética) fizeram o seguinte prefácio:
“Defesa que fiz no Júri”, em 4ª edição, não precisa de prefácio. Dante Delmanto, um dos maiores advogados criminais brasileiros, tem no próprio nome o convite à leitura atenta. Além disso, três edições esgotadas transformaram o livro em fonte obrigatória de consulta.
Meio século no plenário do Júri é privilégio reservado a poucos. Método, energia, obstinação, cultura, paciência, qualidades raramente concentradas num só advogado, entrelaçam a personalidade do admirável tribuno, modelo de elegância e de inimitável síntese.
Dante Delmanto sempre se manteve em absoluta discrição. Humildade na grandeza, reservado, infenso a honrárias, permitiu-se só uma vez, há alguns anos, usar as vestes talares fora do recinto do Tribunal do Júri.
A Ordem dos Advogados do Brasil lhe outorgara um diploma coroando-lhe a dedicação à advocacia criminal. Delmanto recebeu o laurel no Salão Nobre da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. A seu lado, envergando também as togas, poucos irmãos partilhavam o privilégio. O auditório estav repleto, Os colegas, especialistas ou não quiseram testemunhar-lhe respeito e afeto.
Aquela homenagem foi extremamente significativa. Concretizada em pleno apogeu de um regime político felizmente ultrapassado, demonstrava o profundo amor dos criminalistas pelo tribunal do povo, cem vezes amaeaçado de extinção a cada golpe do poder contra as liberdades públicas.
O Júri resistiu. Atravessou intacto outro negro período da história do Brasil. Os criminalistas, cada um a seu modo, contribuíram valentemente para a intocabilidade da instituição. Dentro e fora do plenário fez-se ouvir sempre, sem peias, fosse qual fosse o regime político, a voz do defensor.
O ilustre colega aguardava solitário prefácio. Amigos seus, todos companheiros fiéis na difícil atividade, decidiram unir-se na apresentação. Fazem-no com entusiasmo e devotamento pelo companheiro que soube como poucos sustentar o sagrado direito ao contraditório, engrandecendo a advocacia criminal e legando aos jovens, com sua conduta, o certo exemplo a seguir.”
Dante Delmanto participou como Tenente da Revolução Constitucionalista de 1932, tendo sido indicado candidato a Deputado Estadual Constituinte, em 1933, pelo Partido Constitucionalista, sendo eleito com a maior votação de todo Estado. Na ocasião, Delmanto tinha 28 anos de idade. Teve atuação de destaque a nível estadual e, para Botucatu, conseguiu várias conquistas expressivas, como a Escola Profissional (Industrial) e a desapropriação da Fazenda Lageado, transformando-a em Instituto Brasileiro do Café – IBC (hoje, campus da UNESP).
Durante os anos de 1932/33/34,presidiu o Palestra Itália (Palmeiras), dando ao alviverde o seu único Tricampeonato Paulista e o 1º título de Campeão do Torneio “Roberto Gomes Pedrosa (Rio/São Paulo).
Em 1936, Dante Delmanto casou-se com a professora Cecília Tôrres Delmanto, filha do saudoso advogado de Botucatu, Dr. Mário Rodrigues Tôrres, líder do PRP na região. Teve três filhos: Celso, Roberto e Maria Cecília. Deixou os netos: Eduardo Dante, Luís Álvaro, Roberto Jr, Jorge, Renata, Fábio, Marcelo e Graziela.
A “Folha de Botucatu” que tem pautado a sua atuação em busca da valorização da história de Botucatu e na divulgação de seus filhos diletos registra com satisfação a homenagem que lhe foi prestada pelos poderes constituídos do município dando seu nome a uma de suas principais avenidas: Avenida Deputado Dante Delmanto. (F.B. 04/09/1989).

CANTÍDIO DE MOURA CAMPOS
O primeiro botucatuense formado em Medicina. Professor da Faculdade de Medicina da USP, onde viria a ser Diretor. Foi Vice-Reitor da USP e Reitor da UNICAMP. Secretário Estadual da Educação e da Saúde. Ajudou a criar a Universidade de São Paulo – USP. A Escola Profissional, depois denominada de Escola Industrial de Botucatu, foi criada por ele a pedido do deputado Dante Delmanto. Cantídio de Moura Campos , como Secretário da Educação e Dante Delmanto, como deputado, fizeram a “dobradinha de Botucatu” no governo de Armando de Salles Oliveira que implantou a Escolas Profissionais e fundou a USP.
A “Folha de Botucatu” tem feito reiteradas publicações referentes aos grandes vultos do passado botucatuense. Não é mera louvação. Nem é saudosismo. Com a visão posta no futuro estamos, tão somente, mostrando que os ciclos positivos de um povo, de uma comunidade, são coincidentes com a presença de seus filhos na liderança das conquistas para a cidade, trazendo o desenvolvimento e progresso.
As conquistas de Botucatu estão ligadas às épocas em que a nossa cidade contou com lideranças políticas de expressão. Assim foi com as presenças de Cardoso de Almeida e de Amando de Barros (Escola Normal, Bispado, Misericórdia, etc). Assim foi com Cantídio de Moura Campos.
Cantídio era filho do Coronel Raphael Augusto de Moura Campos, chefe político de grande prestígio em toda a região de Botucatu. Conseguiu o privilégio de ser o primeiro botucatuense formado em Medicina. O promeiro médico botucatuense. Foi um acontecimento festejado em toda a cidade. Mas, para esse Moura Campos, estava destinado um futuro brilhante.
Recém formado, Cantídio integrou-se à equipe de jovens médicos escolhidos pelo legendário Arnaldo Vieira de Carvalho para a constituição do Corpo Docente da Faculdade de Medicina. Faziam parte da equipe, os médicos Benedito Montenegro e João de Aguiar Pupo, destinados também a um lugar de destaque na história do ensino médico em São Paulo. Cantídio cresceu coma Faculdade de Medicina: começou como instrutor até chegar a Professor Catedrático e, posteriormente, Diretor da Faculdade de Medicina.
O destino, porém, reservava glória maior a esse botucatuense. No Governo Democrático de Armando de Salles Oliveira, o prof. Cantídio de Moura Campos viria a ser indicado para a Secretaria da Educação e Saúde do Estado. Era uma das maiores Pastas do Governo, eis que englobava a Educação e a Saúde.
Nessa época, Botucatu viveu um de seus períodos aúreos. Nós tínhamos deputado federal e deputado estadual. Como Deputado Federal, o Dr. Antonio Carlos de Abreu Sodré (Promotor Público e ex-vereador de Botucatu) e como Deputado Estadual, o Dr. Dante Delmanto (destacado advogado criminalista eleito com a maior votação do Estado, sendo o mais jovem deputado eleito). Para se ter uma base de como a nossa região tinha representatividade, basta citar que juntamente com Dante Delmanto era eleito, para seu primeiro cargo público, como Deputado Estadual, o jovem médico Adhemar Pereira de Barros, representando Piracicaba e São Manuel.
O chamado “trio de ouro” era a garantia de que Botucatu teria destaque perante as demais cidades do interior. Assim, veio a Escola Profissional (Industrial), a Fazenda Lageado (desapropriada), as Regionais do Estado, etc. O “trio de ouro”: Cantídio Moura Campos, Abreu Sodré e Dante Delmanto. Botucatu, graças à presença política de seus filhos na liderança regional, conseguiu passar incólume pelos difíceis anos 30.
No último 27 de setembro, o Centenário de Nascimento dp prof. Cantídio de Moura Campos foi comemorado pela Faculdade de Medicina da USP. Falecido em 1972, Cantídio de Moura Campos deixou marcada a sua passagem pelo ensino superior de São Paulo e pela Administração Pública Paulista.
No Governo de Armando de Salles Oliveira, o prof. Cantídio de Moura Campos ocupou com competência a Secretaria da Educação e Saúde. Coube-lhe a incumbência de tornar realidade o sonho do grande Estadista que foi Armando de Salles Oliveira: a criação da Universidade de São Paulo. Juntamente com Benedito Montenegro, Júlio de Mesquita Filho, Cristiano Altenfelder e Silva, Reynaldo Porchat e Teodoro Ramos, Cantídio participou de forma expressiva na criação da USP. Posteriormente, foi o primeiro Reitor da Unicamp (Universidade de Campinas).
Na homenagem que lhe foi prestada pela Faculdade de Medicina, dois professores discursaram em sua homenagem: Mário Ramos de Oliveira e Marcello de Moura Campos. O prof. Mário Ramos de Oliveira em seu discurso destacou: “...Entrou (na faculdade) como preparador em 1915, quando de volta da Europa. Tinha se formado em 1912, na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e ido para a França onde fez-se fisiologista. Na Alemanha Imperial prolongou o seu estágio; depois esteve na Inglaterra. Nos dois primeiros aprendeu as bases das ciências e, na última, encontrou o espírito das liberdades respeitáveis e o apuro de sua personalidade de gentleman. Entretanto, como preparador de fisiologia coube-lhe a princípio plasmar as normas do Departamento de Fisiologia desde ensinar os técnicos, ele próprio preparando animais, tratando deles, e fazendo funções subalternas no velho tempo da Faculdade da Rua Brigadeiro Tobias. Foi lá que, com seus companheiros de época, desenvolveu um regime de trabalho, que podemos chamar de superintegral. Era a época em que os idealistas de Arnaldo cuidavam dos alunos eles próprios, preparavam as aulas quando voltavam à noite ao laboratório para que, como agora o curso da nossa faculdade fosse o melhor. Quando em janeiro de 1919 coube-lhe a chefia do Departamento de Fisiologia, como professor catedrático, e onde durante dez anos seguidos foi incansável no seu labor, demonstrou nesse fecundo período de sua atividade professoral, o seu carinho para com esse departamento, organizado sob bases seguras uma escola de experimentação que durante muito tempo o considerou como seu mentor e guia principal. Fixou diretrizes no ensino da fisiologia aplicada, realizou interessantes experiências e, finalmente, sempre atendeu com solicitude e carinho a todos os que buscaram o seu apoio , os seus conselhos e a sua orientação na feitura de trabalhos científicos.”
Politicamente, Cantídio de Moura Campos atuou no Partido Democrático e, posteriormente, no Partido Constitucionalista (que absorveu o PD), chegando a ocupar a Secretaria da Educação e Saúde do Estado de São Paulo (1935/1937)
Profissionalmente fez toda a sua carreira na Faculdade de Medicina, onde começou como professor-instrutor e chegou a Diretor. Foi professor catedrático de Fisiologia (1919/1929) e professor catedrático de Terapêutica Clínica (1929/1959). Foi Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Vice-Reitor e o primeiro Reitor da Unicamp – Universidade de Campinas.
Botucatu une sua voz a tantos quantos estejam relembrando a trajetória brilhante desse grande botucatuense. Hoje, Botucatu tem o Hospital Psiquiátrico “Prof. Cantídio de Moura Campos”, que está comemorando 20 anos de existência. Hoje, sobretudo, Botucatu tem o exemplo desse filho dileto que soube cumprir o seu compromisso com a sua geração e soube levar a todos os cargos e a todos as funções exercidas o traço do caráter firme, do idealismo sempre constante e do patriotismo marcante dos filhos de Botucatu. (F.B. 23/10/1989).

ALBINA VAROLI BOTTI:
Ela ocupou, na época, o lugar de grande dama entre as muitas que ornavam a alta sociedade do tempo. Educada em colégio de freiras, foi destinada ao casamento e ao lar. Filha de Francisca e Aleixo Varoli, casou-se com Francisco Botti, aquele que viria a ser em breve o primeiro gerente do primeiro Banco de Botucatu, o Francês e Italiano para a América do Sul, depois Sudameris.
O casal sempre gozou de muita estima e grande apreço na sociedade. Além do lar adornado já de seis filhos, eram ambos dados a benemerência cujo beneficiário maior era a Misericórdia Botucatuense, ele, já agraciado com o título de Cavalheiro, fazia parte da Diretoria daquele Hospital. Ela, com outras senhoras, constituía o grupo das que chamamos hoje Damas de Caridade.
Os dois filhos mais velhos, Mário e Júlio, foram estudar na Itália. E veio a Primeira Guerra Mundial. As notícias, além de tardas e incompletas, traziam com o vagar da época, as mais trágicas reportagens. Havia no mundo inteiro, ansiedade, dor, aflições.
Albina Botti quis ter todos os seus filhos ao seu redor. Iria em demanda dos estudantes na Itália. Procurou o Consulado e a resposta negativa. Os jovens estavam na idade do serviço militar e, embora brasileiros natos, era-lhes vedado o retorno ao Brasil. De todo, impossível.
A agoniada mãe não se deixou abater, iria busca-los.
O passaporte era difícil porque as relações Brasil-Itália na época já estavam tensas. Ademais, a Alemanha tinha submarinos em todos os mares. Havia o perigo de afundamento de navios o que se verificava com frequência.
Nada a demoveu da viagem. Iria, não obstante os entraves. Urgia resgatar os dois filhos do cenário da guerra. Chegavam notícias as mais arrasadoras: colégios, palácios, escolas, cidades bombardeadas e infestadas. De gás letal. Travessia insegura, “black-out” em alto mar, nada disso a demoveu.
Deixou os demais filhos aqui, com o marido e os parentes e viajou para a Itália, em busca dos dois estudantes.
Travessia difícil, a insegurança dos mares, a precariedade do navio negro, a certeza de espiões por todo lado, as manobras inimigas, tudo ela enfrentou.
Chegou à Itália. Estada curta e inútil. Percorreu embaixadas, andejou pelos consulados. Tudo em vão. As âleis italianas eram rígidas. Estava-se em beligerância. Os estudantes maiores de dezoito anos, em idade de serviço militar não poderiam deixar o país.
Ela retornou deixando, coração lacerado, os dois filhos maiores no Continente. Retorno agoniado, incerto, sofrido.
Sua chegada a Santos, foi a família toda recebe-la no porto. Inclusive o caçulinha – Eduardo – com sete anos de idade. O menino, na volta a Botucatu, já estava febril.
Aqui chegamos todos, ele faleceu três dias depois.
A fatalidade quis que essa mãe heroína, enfrentasse os horrores da guerra na busca de dois filhos distantes para reservar-lhe na volta, a dor imensa e inesperada da perda de seu caçulinha.
A Misericórdia Botucatuense tem em seu Salão Nobre, entre os que formam a Galeria de seus Benfeitores, o retrato de Albina Varoli Botti. (F.B. 22/05/1989).

PEDRO CHIARADIA:
Com ele floriu a mais bela e rica época da imprensa botucatuense. Nobilitou a comunicação escrita fazendo dela, com a grandeza desprendida de um mestre, o porta-voz das legítimas aspirações desta Botucatu nobre na grandeza de suas origens. Fez do jornal uma tribuna e por ela filtraram-se os fatos históricos que marcaram para a cidade, os grandes acontecimentos. Apreciação severa, equilíbrio de opinião, critério nos julgamentos. Severidade para com a solércia enganosa, incentivo aberto para com os planos construtivos, defesa impertérrita das justas causas.
Viveu com o povo e para o povo botucatuense.
“D’Artagnam da pena”, como dele disse o saudoso Mascarenhas, esgrimia em todas as direções. Cavalheiro maneiroso e fidalgo em todas as contendas. Fez do jornalismo, arte e ciência. Despojado de ambições pessoais, nele entrou e saiu pobre. O que lhe endossa a nobreza de ação.
Trazia cultura europeia vasta, multiforme, bem sedimentada. Herdeiro de fina sensibilidade latina, possuía estilo próprio, inconfundível. Sutil, elegante, percucientem aligeirava em graciosos sueltos a mais profunda crítica. Ia ao âmago sem sangrar.
Seus editoriais foram acadêmicos. Sóbrio, antológico, tinha o poder admirável de análise. Discernia com profundez os mais surpreendentes e atordoantes acontecimentos e levava em sentenciosos juízos a mais serena opinião. Viveu intensamente o verdadeiro jornalismo. O jornalismo clássico que não se curva às injunções temporais.
Como Eça de Queiroz, foi no jornal que ele tanto amou, tudo: paginador, compositor, revisor, impressor, chegando mesmo à vassoura e à limpeza dos tipos, desde que o leitor visse a edição impecável, a tempo e hora. Foi um herói quixotesco fazendo da imprensa a sua fascinante Dulcinéia. Que, esquiva, fugidia, escapou-se-lhe das mãos, consumindo-lhe num grande ideal, os anos e a saúde combalida.
A fina ironia, a sátira elegante, a penosa imagem do quotidiano que ele tão bem sabia colorir compunham o suelto desenvolvo que transformava em comicidade hilariante o mais trágico do dia-a-dia.
Depois dele, nunca mais tivemos outro Petrus Petronius.
Mas sobretudo, o Mestre.
Soube rodear-se de gerações de jovens. E, com seu atilado sentido, qual minerador capaz, classificou pepitas autênticas. Percebeu os veros talentos e iniciou-os. Sobre sua mesa se acumularam bisonhos ensaios, canhestos versos, tímidos rascunhos. Leu-os todos, com a grave autoridade do julgador.
Depois selecionou. Corrigiu, aprimorou, riscou, suprimiu, tudo levando à linguagem escorreita, à manifestação clara do pensamento autêntico, à comunicação concisa, simples, pura. Perfeita.
Exigiu, brigou, magoou, enalteceu, depurou e, findando trabalhosa fase dos iniciados, abriu-lhes os reais valores, os largos umbrais de uma caminhada longa e gloriosa.
Ele forneceu às terras nacionais, num raro e único exemplo, o mais rico e belo contingente de escritores de que tanto se ufana a nossa Botucatu tradicional.
Foi Membro Honorário da ABL – Academia Botucatuense de Letras.
Pedro Chiaradia. (F.B. 13/08/1988).

SEBASTIÃO DE ALMEIDA PINTO:
Falar desse vulto inesquecível é adentrar a história de Botucatu no que ela tem de mais honroso e tradicional: sua cultura e sua educação. A vida do dr. Sebastião de Almeida Pinto é uma rica enumeração de fatos e acontecimentos entrosados na vida e na sociedade botucatuense. Ele serviu a sua cidade, com a força expressiva de seu coração e de seu caráter. Podia ter sido um grande vulto lá fora. Preferiu, contudo, as amenidades do interior, especialente a cidade que ele amou e serviu.
Botucatuense de nascimento e de coração, aprendeu desde cedo, no convívio de “seu” Sebastião e de d. Amélia o amor às coisas simples e aos mais humildes. Sem ostentação, sem galhardias, conviveu com todas as camadas desde o barraco do pobre até as reuniões festivas do 24 de Maio. Foi um observador profundo dos usos e costumes da terra, iniciando-se com ele, o folclore regional. Nele se inspirou Alceu Maynard Araújo para escrever sobre o Brasil folclórico.
Formou-se pela Escola Normal Oficial como professor normalista. Farmacêutico pela Escola de Farmácia e Odontologia de Pindamonhangaba. Médico pela Faculdade Fluminense de Medicina, hoje integrada à Universidade Federal do Rio de Janeiro. Assim munido prestou serviços em todos os quadrantes da sua querida Botucatu. Lecionou em todos os estabelecimentos de ensino da cidade. Como mestre, foi um líder e um grande amigo da juventude de seu tempo. Espírito jovial, alegre, extrovertido, participou de todos os eventos esportivo-culturais da época. No Teatro Genaro Lobo, participou das peças teatrais: Bodas de Prata, Canário da Terra, Saudades e outras. Patrono de Bibliotecas, Diretor do Tiro de Guerra.
Jornalista, cronista, humorista e brilhante “causer”, o dr. Sebastião colaborou na imprensa local, assinando belíssimos trabalhos folclóricos em jornais e revistas da terra.
Escreveu vários livros sobre a cidade e sua gente. Conhecedor genuíno do assunto, deixou-nos como verdadeiro memorial o seu “No Velho Botucatu”, editado por ocasião do Centenário da Cidade. Há outros que a iniciativa oficial relegou e que são o contributo autêntico da crônica da cidade: “No Cinquentenário da Escola Normal”; “Estórias da Santa Casa” e “Tempo de Dante e Gente de Hoje”. Urge que essas obras sejam editadas. Elas são o depoimento vivo de um legítimo conhecedor da nossa crônica. Ele viveu as épocas que reconta.
Intelectual de valor, fez parte da Associação Paulista de Imprensa. Dirigiu o jornal “Cidade de Botucatu”. Colaborou ativamente na imprensa médica da Capital. Membro da Sub-Comissão Estadual do Folclore de S. Paulo. Fundador e 1º Presidente da Secção Regional de Botucatu da Associação Paulista de Medicina. Dirigindo movimento popular, fez a campanha para a ereção do busto de Caxias, Patrono do Exército Nacional, lá em frente a Praça da Normal.
Revolucionário de 1932, integrou-se como tenente-médico ao Batalhão Universitário “Fernão Salles”, que operava no Setor Sul. Daí, o livro publicado de igual nome.
A versatilidade de seu talento, a nobreza de seus trabalhos, a grandeza de seu caráter fixam-se na sua extraordinária vida de médico. Recém formado, integrou-se ao Corpo Clínico da Misericórdia Botucatuense, especialmente dedico ao Pavilhão dos Pobres. Então, com Antonio Pires de Campos, Antonio Delmanto, Ranimiro Lotufo, o dr. Sebastião de Almeida Pinto lavrou para os anais de sua ilustre família, para a crônica desta cidade privilegiada e honrada, galeria sem fim de homens ilustres, as páginas mais ricas de devotamento, abnegação e humanitarismo.
(F.B. 29/10/1988).

JOSÉ MELHADO DE CAMPOS:
É uma das grandes figuras do Episcopado Nacional. Embora já Bispo Emérito, sua irradiante personalidade se faz sentir não só entre as gerações que ele formou, como por todos aqueles que hoje se lhe aproximam para saborear-lhe a palavra serena de apreciado orador e o vulto solene de respeitável sacerdote. Quarto filho de um casal de emigrantes espanhóis, nasceu em Limeira. Em 29 de novembro de 1909. Os pais: Gabriel Melhado e d. Tereza Campos. Viu transcorrer sua infância entre Limeira, Ribeirão Preto e Birigui. Fez os estudos primários nesta última, nas Escolas Reunidas e na Escola Paroquial, dirigida pelos Capuchinhos Franciscanos.
Com a vinda da família para Botucatu, em 1924, matriculou-se no antigo Ginásio Diocesano, passando-se após para o Seminário menor, regido na época pelos notáveis Padres Lazaristas. Com a centralização dos Seminários Maiores de S. Paulo, frequentou o Seminário Central do Ipiranga, na Capital.
Em 15 de agosto de 1934, ordena-se sacerdote impondo-lhe as ordens o então 2º Bispo de Botucatu – D. Carlos Duarte Costa. O ato se processa no pequenino Santuário de Nossa Senhora Aparecida, em São Manuel. Sua primeira missa celebrou-a no Santuário de Nossa Senhora de Lourdes, nesta cidade. Mais três meses frequentou ainda o Ipiranga, em S. Paulo.
Logo após ordenado, inicia sua vida pastoral. Foi vigário coadjuntor em Avaré. Paroco em Lençóis Paulista. Vigário em Piratininga, Itapetininga e Pardinho. Em 1937 é designado Reitor do Seminário de Botucatu onde se torna também Professor. Exerceu o cargo em dois períodos, por dezoito anos, intermediados por quatro anos de Vigário da Catedral.
Como Vigário da Catedral foi Diretor das Congregações Marianas; da Obra das Vocações Sacerdotais; da Legião de Maria da Diocese e dos Grupos de Botucatu. Assistente Eclesiástico do Conselho Diocesano da Sociedade S. Vicente de Paulo; Fundador e Assistente Diocesano do Apostolado da Oração.
Intelectual de grandes méritos, D. José Melhado Campos é jornalista, escritor, orador e poeta de largos recursos. Foi a seu tempo, fundador da revista vocacional “A Messe” e colaborador apreciado dos jornais católicos “O Apóstolo” e o “Monitor Diocesano” desta cidade. Sempre dedicado às letras, colaborou nos jornais de Avaré, Botucatu, Bauru, Lorena, Sorocaba e Tatuí.
Tem editados: “Crônicas de um Peregrino” (Ano Santo de 1950); “Três Cartas Pastorais”; muitas poesias esparsas pelos jornais; “Puebla em Versos”, belíssimo trabalho que em rimas facilita a compreensão da mensagem contida; “As Memórias de Juca” (autobiografia); “Memórias da Diocese de Lorena” e, no prelo, “Memórias da Diocese de Sorocaba” e “Memórias do Lar de Tatui”.
(F.B. 09/10/1989).

HERNÂNI DONATO:
O consagrado escritor botucatuense, Hernâni Donato, que escreveu os seus primeiros artigos na “Folha de Botucatu”, então dirigida pelo saudoso jornalista Pedro Chiaradia, acaba de ser eleito para a Academia de Letras do Brasil. Não há confusão: é Academia de Letras do Brasil e, não, Academia Brasileira de Letras. Na Academia de Letras do Brasil não são aceitos os chamados notáveis. Lá, os políticos não tem vez. Lá é Academia de Letras. Lá os lugares são reservados para intelectuais como nosso Hernâni Donato.
Hernâni Donato foi eleito para a Cadeira nº14, que tem como Patrono, Mário de Andrade, Hernâni Donato é Membro Efetivo da Academia Paulista de Letras e Patrono da Academia Botucatuense de Letras. Mais de uma dezena de livros publicados. Infantis: Novas Aventuras de Pedro malasartes; História dos meninos Índios; Apuros do Macaco Plum; Façanha de João Sabido e Histórias da Floresta. Juvenis: A Maravilhosa História do Presépio de Natal; a Maravilhosa História dos Presentes de Natal; Como o Homem domou o Tempo (A História do Calendário) e A Palavra escrita e sua história. Biografias: Plácido de Castro; Galileu Galilei; Vital Brasil. Romances: Filhos do Destino; Chão Bruto; Selva Trágica e o Rio do Tempo (Romance do Aleijadinho). Traduções: A Divina Comédia; Delito no Campo do Tênis. Contos: O Livro das Tradições; Contos muito humanos e Babel. Divulgação: Achegas para a História de Botucatu; Dicionário das Mitologias Afro-Americanas e Dicionário das Revoluções. Roteiro para Cinema: Chão Bruto; O Caçador de Esmeraldas, José do Patricínio e os Irmãos Leme.
A “Folha de Botucatu”, orgulhosa, apresenta ao ilustre Acadêmico Hernâni Donato, os seus mais efusivos cumprimentos.
(F.B. 09/10/1989)

JAIR CONTI:
Incontestavelmente é a professora Jair Conti, pelos seus próprios e indiscutíveis méritos, a representante maior da cultura feminina botucatuense. No entanto, vê-la na austeridade em que vive, engane aos que se valem das aparências. Tudo se transforma, em conceito e admiração, quando com ela se defrontam os que apreciam a saborosa “causense” culta, instruída, viajada, alegre e descontraída.
Assim é a professora Jair Conti, filha de Lençóis Paulista, segunda, na genealogia do casal Nazareno-Gilda Conti. Terminou seus estudos primários no Grupo Modelo da hoje Escola do 1º Grau “Dr Cardoso de Almeida”. Aqui mesmo e na antiga Escola Normal Oficial, de igual nome, diplomou-se professora normalista.
Nas fazendas Bela Vista (Itatinga) e, posteriormente, na Santana (Botucatu), exerceu por vários anos o magistério público.
Sua inteligência e a fome de saber, fê-la, mais tarde, participante, mediante concurso, da segunda turma da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, recém criada pelo saudoso estadista e então governador Armando de Salles Oliveira. Frequentou as aulas de Ciências Políticas e Sociais. Aluna das mais destacadas de Levy Strauss, Mr. Arbousse, Bastide, Mr. Luigi Galvani, Mr. Monbeg, Mr. François Perroux, Mr. Jean Meaugüe, profs. Sampaio Dória, Plínio Airosa e Tonay entre outros. Os mestres, na maioria estrangeiros, traziam para as novas gerações aquele sopro de cientificismo e racionalismo que transformaram, aos poucos, o mundo de agora. A professora Jair Conti, absorvendo-lhes a valiosa cultura humanística não se deixou contagiar. Manteve intactas suas profundas raízes cristãs, o que lhe sedimentou uma personalidade íntegra capaz, perfeita. Exemplo admirável de proficiência, de cultura e de saber.
Uma vez formada, exerceu, mediante concurso de provas, o cargo de professora secundária de Sociologia da Escola Normal “Barão de Suruí”, em Tatuí. Após alguns anos, foi comissionada para igual cargo na Escola Normal “Manoel José Chaves”, em São Manuel.
Em março de 1949, foi removida, por concurso público de títulos, pata o Instituto de Educação “Dr. Cardoso de Almeida” desta cidade. Ainda professora de Sociologia, exerceu o cargo até a aposentadoria, em março de 1964.
Ainda nesta cidade, exerceu o cargo de professora de Sociologia no Instituto Santa Marcelina. No Colégio La Salle foi Mestra de Problemas Brasileiros para o curso colegial.
Foi professora fundadora da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras desta cidade e, mais tarde, das Faculdades de Ciências Econômicas, Curso de Administração de Empresas da Instituição Toledo de Ensino (ITE), onde lecionou Sociologia.
Quando ainda professora do Instituto de Educação “Dr. Cardoso de Almeida”, chefiou várias excursões de alunos pelo Estado de São Paulo e pelo Brasil.
Foi fundadora do Taenca (Teatro Amador da Escola Normal “Dr. Cardoso de Almeida”) onde permaneceu como membro da Diretoria, até sua aposentadoria.
Incansável turista, a professora Jair Conti percorreu o mundo várias vezes, trazendo para suas conferências, palestras e aulas, a soma admirável de sua experiência, de suas observações e de sua ampla e rica cultura. Dessas viagens, através do Brasil, de sul a norte e de este a oeste, do Paraguai, Argentina e Uruguai; Europa; Israel, Galiléia e Jericó; Mar Morto, Belém, Jerusalém e todos os lugares Santos.
No recesso da família é o exemplo admirável da conselheira. Rodeada de sobrinhos que lhe seguem à risca a orientação nos estudos e na vida social, é a responsável por uma genealogia marcante onde a inteligência, o estudo, a profissionalização marcam admiravelmente todos os descendentes da família Conti.
A Profª Jair Conti, de quem recebemos valiosas e sábias lições que nos conduziram à vida prática, é sem dúvida nenhuma uma respeitável representante feminina integrada ao que há de mais nobre e sagrado em nossas tradições. (F.B. 14/04/1989).

JOSÉ PEDRETTI NETO:
Ele contradisse pelo seu valor a frase evangélica de que ninguém é profeta em sua própria terra. Viu transcorrer sua vida inteira adstrito àquele amor telúrico que o levara, às vezes, à exaltação a mais sincera e entusiasta. Aqui estudou, trabalhou, educou-se e aqui desenvolveu pela sua inteligência e pelos seus exemplos a mais bela e nobre existência de cidadão, professor, de profissional das letras.
Ao contrário da maioria, jamais abandonou o berço para conquistar lá longe os louros da vitória. Aqui se fez e devolveu à Terra-Mãe, aos cêntuplos, todas as honras que lhe coroaram o nome.
Nasceu Pedretti Neto em 12 de agosto de 1920, filho de Nello e Edith Maria Varoli Pedretti. Frequentou a antiga Escola Normal como aluno primário e secundário. Mediante provas graduou-se no nível superior.
Desde aí serviu o agora Instituto de Educação “Dr. Cardoso de Almeida”, por longos anos, como professor de Prática de Ensino. Mediante concurso foi nomeado para Chefiar a Secção de Educação do Curso de Formação de Professores Primários daquele estabelecimento, cargo que ocupou até seu falecimento.
De 1959 a 1964 exerceu a Direção do Estabelecimento, período em que mais brilho se projetou a tradicional Escola. No cinquentenário da antiga Normal, Pedretti Neto convocou e a seu convite reuniram-se numa brilhante confraternização todos os remanescentes de todas as cinquenta turmas diplomadas. Festa inesquecível, quando foram prestadas homenagens aos Mestres do Passado.
Pedretti Neto lecionou no Instituto Santa Marcelina, ocupando as cadeiras de Filosofia e Psicologia. Na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras foi professor catedrático de Metodologia do Ensino. No Colégio La Salle foi professor do curso de contabilidade, lecionando História Econômica.
A par de suas atividades didáticas, Pedretti Neto distinguiu-se como poeta, escritor, jornalista, historiador e tradutor. Herdou do pai, velho jornalista, todo o humor, o senso crítico e a “verve” latina que atraia para suas colunas o leitor interessado. Colaborou com todos os jornais da cidade e da região. Fora da cátedra, seu lugar efetivo era na redação da “Folha de Botucatu” tão bem dirigida e orientada pelo mestre Pedro Chiaradia.
Casado com a professora Laurentina Peres Pedretti, deixou três filhos que lhe seguiram as sendas do estudo e da inteligência. Sua morte inesperada e prematura, num entardecer de 4 de maio de 1968, deixou órfão e vazio, desde então, o jornalismo botucatuense.
Iniciado no jornalismo desde os quatorze anos, Pedretti Neto distinguiu-se na imprensa da capital, ocupando desde 1948, pelo espaço de vinte anos, o encargo de correspondente do “Estado de São Paulo”. Dono de cultura solidamente adquirida, Pedretti Neto mais do que ninguém era um pesquisador de nossas origens. Tinha absoluto conhecimento da língua italiana e profundo senhor da história da colônia italiana nestas terras, deixou escritos dois volumes densos e interessantíssimos à respeito.
Católico militante, com atuação evidente no laicato, foi colaborador de D. Henrique Golland Trindade, primeiro Arcebispo de Botucatu.
Entre os trabalhos deixados constam obras de valor didático, de grande alcance e atualidade.
Foi fundador do Centro Cultural de Botucatu. Grande conhecedor da obra e vida de Vital Brasil, promoveu na cidade grandes festejos por ocasião do transcurso de seu centenário. Possuia a medalha-comenda Vital Brasil.
Muitas vezes premiado pelo “O Estado”, teve muitas e valiosas colaborações publicadas, extraída de seu livro “O Clube dos 33 Contentes” e a “Tomada da Porta Pia” e muitas outras mais.
(F.B. 15/12/1988).

FRANCISCO MARINS:
Ele veio da roça, e o diz com ufania, ser “um modesto caipira da Prata” (Pratânia). Quando a Prata se jungia ao nosso município. Herdeiro do rijo cerne dos Marins, conviveu com peões, agricultores, velhos caboclos que lhe ensinaram as belezas dos amanheceres nos retiros, na ordenha, nas plantações imensas do cafezal verdejante.
Ouviu atento o linguajar caboclo nas noites enluaradas e frias, ao pé do fogo. Guardou tudo por força de uma inteligência extraordinária, vivaz e lúcida.
Toda sua meninice impregnou-a da simplicidade pastoril e que lhe sedimentou o renome de que hoje goza. Absorveu os usos e costumes, amealhou lendas e tradições enriquecendo o folclore nacional.
Na mocidade estreou-se nas letras e os jornais estudantis de então começaram a revelar o historiador, o jornalista, o conferencista. Mais tarde, o polimento acadêmico conferiu-lhe as pesquisas, a investigação criteriosa sobre a cultura nacional, notadamente a vida no campo, a cultura do café, de que é hoje grande autoridade.
A seiva literária cultivada desde menino, enveredou-se para a literatura. Literatura de que é o mais difícil, o setor da Literatura infanto-juvenil. E o resultado brilhante são as duas dezenas de livros que vem despertando a juventude para o espaço maravilhoso das Terras do Rei Café.
Hoje, seu renome literário é mundial. Abrange, além da literatura infanto-juvenil, mais o romance e vários estudos brasileiros, na série “O Cotidiano da História”. Dedica apurado estudo na vida de Euclides da Cunha.
Indicado como representante do Brasil ao prêmio “Hans Christian Andersen”, possui o prêmio Carlos de Laet; Fábio Prado; Jabuti; Medalha do Mérito Literário Pen Club do Brasil.
Crente fiel da verdade de que no interior é que saem as celebridades da Literatura Nacional, agraciou nossa cidade, em aqui retornando, com a belíssima Casa da Cultura (Covívio), honra do patrimônio histórico-cultural de Botucatu. Na vida prática, homem de empresa, enriquece a indústria botucatuense com ovulto de suas industrias.
Recém chegado de umroteiro cultural pela Europa, proferiu conferências e aulas nas universidades de Lisboa, Coimbra e Madri, onde pode testar o justo conceito de grande escritor nacional, em missão cultural pelo Velho Mundo.
A cidade de Botucatu participa dessas honrarias e muito se honra por seu grande filho, Dr, Francisco Marins.
(F.B. 11/06/1988).

RAYMUNDO MARCOLINO DA LUZ CINTRA:
Na plêiade de mestres que fizeram justo renome da antiga Escola Normal Oficial de Botucatu, destaca-se a biografia de hoje, o nome do prof. Raymundo Marcolino da Luz Cintra, catedrático de latim. Já se percebe através dele as amplas e ricas normas educacionais da época que exigia o estudo do latim na formação dos professores normalistas de então.
O prof. Cintra nasceu na cidade de Itu, filho do professor Luis Manoel da Luz Cintra e de Da. Maria Cândida de Morais Cintra. Fez seus primeiros estudos com o próprio pai, educador emérito, frequentando o primeiro Grupo Escolar do Estado de S. Paulo, idealizado pelo genitor. Ainda em Itu, fez Humanidades no Colégio dos Padres Jesuítas. Frequentou o Seminário de Piapora, dirigido pelos Cônegos Premonstratenses belgas, chegando até ao quinto ano. Estudou Filosofia e Teologia natural e dogmática.
Veio para Botucatu, trazido pelo primeiro Bispo D. Lúcio Antunes de Souza. Começou a lecionar no Seminário Maior desta cidade e no Colégio Santa Marcelina. Mais tarde, aprovado em concurso público, diplomou-se em Latim, Português, Gramática Histórica e Literatura. Transferiu-se para Itapetininga onde residiu por alguns anos. Lá dirigiu os jornais “O Diário” e “A Notícia”. Foi ainda em Itapetininga, presidente do Asilo e mordomo da Santa Casa. Casou-se com a profa. Leopoldina Pinheiro da Silva.
Transferiu-se definitivamente para Botucatu, onde se fixou, formando família exemplar. Labutou pela oficialização do primeiro ginásio da Zona Sorocabana. Nele instituiu uma Banca Examinadora Federal, à qual se submetiam todos os examinandos e concursados. Esse ginásio veio a se tornar, através dos tempos, o atual La Salle.
Com a supressão do latim nos planos educacionais do Governo, passou a viajar, como funcionário inspetor da Cia de Seguros de S. Paulo, em cada cidade do Estado de S. Paulo, Minas Gerais e Paraná que visitava, frequentava a redação dos jornais neles colaborando. Com a nova reforma do ensino, voltou a lecionar latim na Escola Normal Oficial, de onde se aposentou em 1948.
Com talento e grandes pendores jornalísticos, o prof. Cintra sempre manteve colunas apreciáveis nos jornais locais. Escreveu livros didáticos: “Latim Fundamental pelos textos” e “Latim Ginasial pelos textos”, ao todo, oito volumes. Publicou um romance de grande valor histórico: “Até as pedras se encontram”, deixando vários romances inéditos à espera de publicação.
Foi ativo auxiliar de Monsenhor Melhado e de Enéias Papa, na construção do prédio do Circulo Operário de Botucatu, associação essa de que foi presidente e sócio honorário. Presidente do Tiro de Guerra de Botucatu, Centro de Ciências, Letras e Arte de Campinas. Participante laureado do Coclave Internacional de Filósofos, realizado em S. Paulo. Tinha por divisa que muito honrou: “ Nulla dies sinea linea”. Cidadão Botucatuense, membro homenageado da imprensa interiorana, recebeu da APISP medalha comemorativa de seus 50 anos de jornalismo. Membro Efetivo da Academia Botucatuense de Letras, cadeira nº 3, Amadeu Amaral. Faleceu em 1º de março de 1978.
(F.B. 13/07/1989)

VICENTE MARCHETTI ZIONI:
Ele procede de uma genealogia que passa pelos imigrantes de Camaiori/Itália, e se transfunde entre padres e madres fundadores de colégios, congregações missionárias, cuja santificação já vai a caminho de processo de canonização. Traz em si uma energia indomável entregue a estudos profundos e constantes, perdido na vasta solidão do Palácio Episcopal. Sua atividade pastoral completa uma vida inteira dedicada ao pastoreio de almas.
Nasceu em São Paulo, filho primogênito do casal José e Marieta Zioni. Fez os primeiros estudos na Capital e ordenou-se em Roma pelo idos de 11 de abril de 1936.
Uma vez regresso, iniciou-se como professor, vigário geral, reitor do Seminário Ipiranga, Diretor Administrativo da Faculdade Teológica, co-fundador do Secretariado Nacional de Defesa da Fé, e outros tantos cargos que dependessem de senso de responsabilidade, trabalho intensivo, dedicação total, tudo alicerçado num profundo zelo pastoral.
Foi por nove anos Bispo-Auxiliar de S. Paulo e o primeiro Bispo de Bauru. Distinguido pela Santa Sé, foi membro das Comissões Pró-Conciliares do Vaticano II que prepararam o decreto “Optatam Totius” e a declaração “Gravissimum Educatinis”. Delegado à Conferência Latino-Americana de Medelin. Participante e Presidente da Reunião Tomeque, na Colômbia. Representante do Brasil na inauguração da estátua de Cristo Redentor em Almada/Lisboa. Representante do Episcopado Brasileiro, quando da bênção da Rosa de Ouro, distinção preciosa do Vaticano à Basílica de Nossa Senhora Aparecida do Norte.
Fundador do Seminário N. Sra. Da Assunção, em Bauru. Restaurador do Seminário São José, em Botucatu. Desse movimento restaurador das Vocações sacerdotais em nossa Arquidiocese, já se ordenaram, graças aos seus trabalhos, cerca de trinta novos sacerdotes entre seculares e religiosos.
Sua Pastoral externa e trabalhosa, conta com seu profundo espírito de Fé, fidelidade absoluta à ortodoxia vaticana, tendo seu nome inscrito na amizade pessoal de João XXIII, de Paulo VI e do atual Papa João Paulo II, que o mantém, como expressão viva de firmeza, autoridade íntegra e inconteste, de Fé profunda, à testa de nossa Arquidiocese.
Saudamos nesta coluna, a S. Exa. Rvdma D. Vicente Marchetti Zioni, dd. Arcebispo Metropolitano, figura ínclita de sacerdote e Antistite da Igreja Católica, glória de nossos foros religiosos e orgulho de nossa cidade.
(F.B. 29/07/1988).

AÉCIO DE SOUZA SALVADOR:
É um de nossos mais conceituados e acatados mestres da música botucatuense. Pelas suas mãos passaram centenas de alunos os mais os mais dedicados, mestres também do teclado. Um exemplo: maestro e compositor Antonio Bechelli, proas. Maria de Lourdes Eichemberg Fernandes, Lúcia Villas Boas Novelli, Maria Helena Blasi Trevisani e tantos outros que formam a constelação brilhante de nossos grandes valores musicais.
Nascido em São Paulo é cidadão botucatuense pelo coração e por opção. A Câmara Municiap de Botucatu outorgou-lhe, em Sessão Solene, o título de Cidadão Botucatuense, indicação do então vereador Antonio Gabriel Marão.
Vindo para Botucatu, em 1932, aqui radicou-se, constituindo família. Casou-se com a profa. Maria Zanoto Salvador, tendo três filhas: Isis, Cleo e Cintia. Tem um neto, Roberto. O professor Aécio de Souza Salvador iniciou a sua educação musical no próprio lar, onde a mãe, exímia pianista, ensinou-lhe os primeiros rudimentos.
É formado pelo Conservatório Musical de S. Paulo e teve por mestres, entre outros, Mario de Andrade, Samuel Arcanjo dos Santos, Agostinho Cantu, Savino de Benedictis e Ernesto Melich.
Desde cedo o jovem pianista dedicou-se ao ensino particular de piano e orquestras. Foi ainda, por longo tempo, organista da Igreja de São Francisco, na Capital.
Transferindo-se para o Interior, abriu aqui uma escola de ensino do piano, onde arregimentou um sem número de alunos, muitos dos quais hoje em brilhante carreira musical. Lecionou Música em todos estabelecimentos de ensino desta cidade. Lecionou ainda em Bauru, no Colégio e Conservatório S. José e em Laranjal Paulista.
Como compositor, o prof. Aécio é possuidor de uma rica e variada bibliografia, indo desde os cantos populares, a música sacra, às peças de salão, à música de orquestra, hinos, valsas e muitas outras.
Em 1981, a Academia Botucatuense de Letras e o Centro Cultural Brasil e Itália, prestaram-lhe belíssima homenagem quando o Coral MB (Misericórdia Botucatuense), pela regência do prof. Wesley Jorge Freire executou um inteiro programa de músicas e composições suas.
O prof. Aécio de Souza Salvador, mediante concurso de provas, ingressou no magistério, sendo nomeado para Itapeva. Por concurso transferiu-se, anos depois, para Botucatu. Daqui, foi nomeado para Santos, onde se aposentou. Lá foi prof.de Canto Orfeônico do Colégio Canadá, um dos mais reputados da cidade. Por ocasião da visita do Presidente da República Italiana – Giovanni Groncchi – organizou um coral de 800 vozes que participou dos festejos da recepção, sendo muito aplaudido.
Aposentado, o prof. Aécio retornou a Botucatu, onde empresta até hoje, com eficiência e valor, a sua colaboração a todos os eventos culturais da cidade.
Dentre suas belíssimas composições, destacamos uma só, como exemplo: “A Canção do Natal”, cuja letra é de Pedretti Neto, peça essa hoje integrada ao Cancioneiro de Natal de ordem mundial. Foi executada e cantada pelo coral da “The Brinck Church Presbyterian”, de New York e em Sam Diego, na Califórnia.
O prof. Aécio é Membro Efetivo da Academia Botucatuense de Letras, onde ocupa a Cadeira nº 10 – Humberto Campos.
(F.B. 14/10/1988).

IRMÃO FELIPE:
Desde que o acolheu de braços abertos, em 1962, Botucatu rodeou-o de carinhosa estima, granjeando-lhe a definitiva opção para aqui celebrar e vivenciar sua merecida aposentadoria.
Irmão Felipe é um educador lassalista, inteiramente devotada a sua inteira e nobre existência à formação e à educação de jovens segundo os ideais de La Salle.
Nasceu Sebastião Kappaum – na Ordem Irmão Felipe Eugênio – em Palanque/município de Venâncio Aires/Rio Grande do Sul, aos vinte de janeiro de 1913, filho de Pedro José Kappaum e de Ana Wickert Kappaum. Desde seus primeiros anos foi orientado pelo espírito religioso da família, ingressando, ainda adolescente no Juvenato Lassalista de Canoa/RS, de onde partiu para o noviviado (1928), passando-se para os primeiros votos religiosos em 1929 e os votos perpétuos em 1938.
Já em 1933, iniciou-se nas atividades docentes, no Colégio N. Sra. Das Dores, em Porto Alegre/RS. Sua inteira vida de educador passou-a exercendo, segundo as regras da Ordem Lassalista, as salutares atividades de formador, orientador e mestre da juventude entregue aos cuidados lassalistas.
Exerceu sempre a influência benéfica que os tumultuados tempos modernos, parece, tendem a procurar de novo na tentativa última de arrancar a mocidade de hoje, à influência materialista deste fim de milênio.
Irmão Felipe esteve em Roma, por longos meses, para seu segundo noviciado. Na volta, ocupou em 1951, a Direção da Escola Santo Amaro do Partenon, em Porto Alegre. Foi ainda Diretor do Colégio N. Sra. Das Dores, na capital gaúcha, além de encarregado dos pensionistas e da Associação dos Ex-Alunbos do La Salle.
Prestou serviços ainda, em sua longa e exemplar vida de educador, no Rio de Janeiro. Carazinho, Caxias do Sul, Machado, quando em 1962, foi designado para Botucatu. Daqui, partiu ainda para Rondonópolis/MT, onde foi o primeiro Diretor do recém fundado ginásio.
Em 1967, voltou para Botucatu onde se encontra até hoje.
Irmão Felipe é professor de Português e Literatura, História da Civilização e História do Brasil e de Francês. É ainda professor de religião e exerce na Comunidade da Paróquia da Catedral, as funções de Ministro da Eucaristia.
Figura serena de cristão integral e cidadão perfeito, Irmão Felipe integrou-se à nossa sociedade, gozando no seio da família botucatuense de grande estima e profundo respeito.
No mês de seu natalício, a “Folha de Botucatu”, com imensa satisfação, presta-lhe reverente homenagem, desejando-lhe “Ad multos anos”.
(F.B. 26/01/1989).

IGNÁCIO DE LOYOLA VIEIRA NOVELLI:
Exatamente no ano em que completa o décimo aniversário de sua morte, a “Folha de Botucatu” que teve nele uma expressão invulgar de jornalismo e integridade, presta-lhe reverente homenagem.
Foi verdadeiro cristão integral. De cultura beneditina, desenvolveu suas atividades na esfera do ensino. Lecionou em S. Paulo e aqui em Botucatu. Sua formação humanística assegurava-lhe o domínio em todas as áreas. Lecionou Português, Latim, Grego e Francês nos estabelecimentos a que serviu na Capital e nesta cidade. Foi professor da nossa Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, quando lecionou Ciências e Letras, Introdução à Filosofia e Ciência Política.
Integrado à sociedade botucatuense, aqui consorciou-se com a profa. Maria Lucia Villas Boas, constituindo família. Desde então tornou-se, para todos, o amigo condicional, o cavalheiresco participante ativo de nossos clubes, de nossas reuniões sociais, de nossa comunidade católica para a qual sempre que chamado sempre prestou, com a prodigalidade de seus gestos e de sua palavra atraente, a sua participação extraordinária.
Homem que na sociedade deixou o traço inconfundível de fidalguia e companheirismo, que nas salas de aula compôs o perfil de mestre autêntico na capacidade rara de transmitir ensinamentos, atributo quanto mais difícil e excelso de didata que mais dom é do que propriamente profissão.
Pensador, o espírito sereno pairando sempre acima, muito acima das contigências e limitações terrenas. Ele foi antes de tudo um pensador cristão, um católico autêntico. Deixou-nos, para sua inteira identificação, três opúsculos que são verdadeiras jóias de reflexão e sublimidade: “ Não só de pão vive o homem”, conferência feita a professores católicos; “A Igreja nos primeiros tempos das Catacumbas”, belíssimo ensaio que procedeu, em muito, as bases do Concílio Vaticano II e mais: “A tarde cai, Senhor. Fica conosco”, dedicada aos vicentinos de Botucatu.
Escritor genuíno, jornalista nato, condensou em rodapés famosos de nossa imprensa sua crônica semanal. No Monitor deixou sua profissão de fé que encontrou no berço e lhe guiou a existência exemplar. Na Gazeta colheu em crônicas, a versatilidade alegre, jocosa, filtrando no rendilhado da frase, na perfeição da forma, sua riquíssima herança clássica. Todo e qualquer tema era elegante digressão, aos jardins encantados da linguagem. Falando ou escrevendo, o prof. Novelli era todo ele, um depoimento admirável de um conhecimento vasto e profundo que hoje, mais e mais, rareia.
Ele brindou aos que lhe eram afcionados com páginas antológicas de graça, de humor, estremeando seus temas graves com puerilidade graciosa das frases envolventes, cálidas e trescalantes de um sabor delicioso, de uma suave flagrância só encontradiça entre os genuínos mestres da palavra.
Elevou a natureza de seu estilo os mais comezinhos e comuns fatos do dia-a-dia, do quotidiano. Temos ainda na memória seus famosos rodapés que faziam semanalmente a delícia de seus leitores. Eram crônicas dignas das melhores bibliotecas dos eruditos.
Esteta da palavra, cultivou-a com esmero: escreveu-a com elegância, usou-a escorreita, falou-a compropriamente e fez dela o testemunho de uma vivência cristã admirável.
(F.B. 12/11/1988).

ANTONIO GABRIEL MARÃO:
Na cátedra de magistrado ou na presidência da Academia Botucatuense de Letras, na direção das Ligas Esportivas ou nas aulas de Matemática das várias escolas; na coluna do jornal ou na oratória tranquila, no Lions entre lionistas ou no lançamento da pedra fundamental do prédio da Sociedade Libanesa local, ele é o homem sereno e convincente, é o juiz humano e o professor compreensivo, é o orador agradável e caudaloso que se sente bem entre os amigos – e os tem muitos e copiosamente – e que agrada e atrai seus admiradores.
O Dr. Antonio Gabriel Marão é de Taquaritinga, onde possui raízes fundas dos ancestrais. Lá cresceu, fez os primeiros estudos e lá se casou, a seu tempo, com a profa. Lídia Menon Marão. Frequentou a Faculdade do Largo de São Francisco, em São Paulo, onde doutorou-se em Direito. Mediante concurso público promoveu-se a Juiz de Direito, hoje honrosamente aposentado.
Fez de Botucatu sua segunda terra natal. Na política foi vereador por treze anos consecutivos. Por indicação do então vereador Dr. Antônio Delmanto recebeu, por unanimidade de seus pares, o título de Cidadão Botucatuense.
O Marão tem uma legião de amigos e admiradores em todas as camadas sociais. É um benemérito. Só quem lhe frequenta a mansão belíssima, conheceu-lhe os dons de espírito e sua intensa prodigalidade. Profundamente humano, o Marão tem um proceder cavalheiresco, lhano, atencioso.
No Lions Clube de Botucatu, fez-se Governador de Distrito por quatro vezes, unanimemente reeleito, ferindo as severas regras do Lions Clube Internacional.
Ainda no mundo lionístico, é sócio-chave, detentor de um sem número de honrosas medalhas e diplomas honoríficos. É sócio fundador do Lions Clube de São Manuel., Conchas, e Avaré, por isso possui os chamados prêmios de extensão.
Conselheiro da Associação Paulista dos Municípios.
É Presidente da Comissão Central de Esportes.
É ainda Presidente de Entidades Literárias e Recreativas de Taquaritinga, Itápolis, Pereira Barreto e Botucatu.
Teve participação ativa na Revolução de 1932, o mais soberbo movimento de civismo da terra bandeirante, engradecendo as páginas históricas do Brasil.
É possuidor da Medalha Vital Brasil, do MMDC e da Assembléia Legislativa.
É Comendador pela Ordem de Santo Amaro e Grande Oficial pela Ordem Bandeirante.
É Membro Efetivo da Academia Piracicabana de Letras e Presidente Vitalício, cinco vezes reeleito, da Academia Botucatuense de Letras. Graças à sua indiscutível atividade, ao seu grande entusiasmo e empenho em vê-la firma-se sobre suas bases, a gloriosa ABL, caminha já para seu 17º ano de existência, assegurando aos seus membros absoluta estabilidade, constituindo-se para o Marão “filha dileta” que lhe propicia momentos agradabilíssimos de estudos, prazeroso lazer e o mais fraterno e cordial convívio entre amigos.
(F.B. 15/07/1988).

TRAJANO PUPO JR:
Em 14 de julho último ocorreu o transcurso do primeiro aniversário de falecimento do dr. Trajano Pupo Jr., piracicabano nato cujo coração ele entregou a Botucatu, terra em que se criou desde tenra idade.
Quando a memória dos tempos é tão falha e perecível, consolamos que vasto círculo de amigos que ele deixou não o esquecerá jamais, como um dos sólidos pilares da sociedade que aos poucos se transforma e segue.
Era formado pela Escola de Farmácia e Odontologia da Universidade de São Paulo. Contava a seu favor um riquíssimo curriculum legitimamente conquistado através de um sem número de Cursos de Especializações, adquirido nos Hospitais e Laboratórios da Capital. Foi detentor de vários títulos científicos que lhe foram atribuídos pela Sociedade Nacional de Análises Clínicas e pela Sociedade Brasileira de Patologia Clínica. Tinha diploma de frequência ao Curso de Aplicação do radio-imuno-ensaio no diagnóstico laboratorial das disfunções endócrinas em Análises Clínicas. Publicou, a seu tempo, inúmeros trabalhos científicos, gozando nos meios médico-científicos de indiscutível acatamento e respeito, foi professor de Física e Química nos colégios e escolas de Botucatu.
Foi um grande batalhador, com o Dr. Arnaldo Moreira Reis e Dr. Edmundo de Oliveira, para a criação da Faculdade de Farmácia e Odontologia em nossa cidade, Escola que funcionou por mais de três anos, nesta Botucatu, sendo suprimida em razões político-governamentais.
Prestou relevante colaboração ao Serviço Público Estadual, exercendo muitas funções no Setor de Higiene e Saúde, onde deixou o traço de seu apurado senso de vida profissional, dada sua inata propensão à Ciência e à Pesquisa.
Esse mesmo cérebro experimental, afeito aos tubos de ensaio, às lâminas e às plaquetas, às longas vigílias na espera ansiosa de uma reação química salvadora, ao resultado previsto de uma pesquisa bacteriológica, esse mesmo cérebro privilegiado, eterno namorado da Poesia, salta para a divulgação estética e eí-lo fecundo e inspirado a nos proporcionar seus poemas virgilianos, sua improvisação de castiça forma a iluminar o verso livre na cadência sincopada e cristalina da criação poética.
Da passada mocidade, das tertúlias literárias que fizeram de S. Paulo o reduto avançado no panorama nacional das letras, o acadêmico botucatuense Trajano Pupo Jr. Marcou a memória do estreito convívio de artista do porte de Vanpré, Cecília Meireles e outros mais, que com Mario de Andrade emanciparam a Arte e a Literatura no Brasil.
Conheceu o ambiente cultural da época em que Olivia Guedes Penteado reunia em sua residência os nomes nobres da Poesia e do Romance.
Dando largas à inspiração, entremesclou seus sérios estudos científicos com muitos poemas que lhe enriquecem, para a imortalidade, o título de Artista.
Na passagem do centenário de Botucatu, foi seu longo e belo poema “Princesa da Serra”, recitado pela ilustre profa. Marisa Pires de Campos, em sessão solene realizada no Cine Casino.
Deixou, entre outros, os poemas: Noiva da Colina, dedicado a Piracicaba, sua terra natal; Cidade Simpatia, dedicada à cidade de Barra Bonita; e São Manuel, dedicado à vizinha cidade de São Manuel.
Quando faleceu, deixou no prelo um livro de poesias intitulado “Haverá sempre um Amanhã”, coletânea belíssima de suas mais inspiradas e deliciosas criações.
(F.B. 15/04/1988).

ANTONIO PIRES DE CAMPOS:
Ele foi profundamente humano. E um grande humanista. O que o distinguiu na estima e consideração do imenso mundo amigo que ele desertou. Pode-se ser humano, bom, apenas. Ou humanista, sábio, isolado, fechado em seu egocentrismo. Mas ele foi ambas as coisas, sem ferir a discrição do dia-a-dia.
Sempre que solicitado, distinguiu-se na elegância oratória que o destacava pela sua imensa cultura.
Na grande fauna humana – e principalmente entre seus pares de ofício, foi um exemplar raro de eficiência, sabedoria e atualização científica, tão sábio quanto bom.
Era humano no exato sentido da palavra. Temente a Deus e fiel ao juramento médico. Mais que isso: fiel à sua profunda convicção de homem medularmente bom. De índole e de formação. Do consultório ao plantão infantil que ele mesmo criou e vivificou na Santa Casa, para atendimento à pobreza. Ali ele deixou seu último exemplo. Ali, durante mais de trinta anos ele trabalhou até seu último dia. Laborou no mundo infantil. Tudo, dedicado à infância. A fama de sua eficiência centrifugou uma vasta região deste e dos estados sulinos. Nenhum bebê de berço ou criança manhosa da primeira infância escapou de suas mãos macias e de seus ouvidos apurados. Conscencioso e estudioso. Suas observações consubstanciara-se em teses de grande alcance. E a Medalha “Imperatriz Leopoldina” foi-lhe concedida por seu amor à causa infantil brasileira.
Exaltado e citado nos grandes certames internacionais e brasileiros, ele deixou nome na Pediatria Brasileira.
Humanista e bibliófilo. Rodeou-se de livros. Sua imensa biblioteca que podemos gostosamente manusear – ocupa várias das maiores dependências da residência que por tanto tempo ocupou na Marechal Deodoro. Para as horas de estudo e de recolhimento, dizia-nos ele, a de lá de cima. Para sossego tranquilo das madrugadas calmas de pesquisas. Manejou o idioma pátrio como poucos. Por longos anos fez crítica literária como mestre.
Admirado como conferencista, nenhum tema lhe foi adverso. Nos áureos tempos em que a Cúria Diocesana era um cenáculo, fez conferências brilhantes.
Poeta dos mais admirados, colaborou nos jornais locais, no tempo em que a nossa imprensa trazia três idiomas à leitura diária: português, francês e inglês, sem contar ainda com o italiano. Pertenceu aos melhores círculos literários onde lideravam Levy Thomaz de Almeida, João Thomaz de Almeida e Pedro Chiaradia. Colaborou no jornalismo carioca, enquanto estudava Medicina no Rio de Janeiro.
Serviu a Revolução Constitucionalista de 1932 como voluntário botucatuense. Não de versos, jornalismo ou oratória. Mas de armas em punho. Serviu no Setor Sul, sob o comando do general Taborda.
Coube-lhe na Academia Botucatuense de Letras a primeira brilhante conferência. Ocupava a Cadeira nº 10 – Humberto de Campos.
Naquela noite que já se faz memória, ele recordou com elegância de um sábio, a saudade de um herói e o entusiasmo de um grande, as glórias e as misérias da maior Epopéia Paulista deste século.
(F.B. 05/06/1989).

CAMILO FERNADES DINUCCI:
Uma das evocações mais gratas para os que lhe conheceram a simplicidade da vida, a lhaneza de trato e a integridade de caráter aliados a um severo senso de trabalho e honestidade profissional a toda a prova.
Assim se impõe a todos os contemporâneos a figura admirável do Dr. Camilo Fernandes Dinucci.
Quando, de certa feita, ele propôs aos meios políticos locais ser o candidato único para o pleito municipal que se avizinhava, a elementaridade ambiente não lhe captou os propósitos e rejeitou-lhe a proposta.
Desgostoso com a recusa e desiludido coma incompreensão, ele se retirou da Política. Botucatu perdeu assim, a oportunidade única de ter um Prefeito à altura de seu tradicionalismo histórico. Perdeu mais: a herança de um grande filho, profissional brilhante e um político íntegro, de visão privilegiada. Uma vez eleito, ele despenderia sua fortuna pessoal num Plano Diretor que teria transformado Botucatu pacata e antiga numa cidade superdesenvolvida e modernizada para o século XXI.
Essa foi a maior oportunidade que Botucatu perdeu.
O Dr. Camilo Fernandes Dinucci foi um dos mais avançados espíritos que Botucatu gerou. Filho de Adolpho Dinucci e de dona Luciana Fernandes Dinucci. Sua esposa, profa. Leontina Dinucci.
Fez o curso primário em Botucatu e na Capital completou os estudos secundários. Formado em segundo lugar pela Escola Politécnica de S. Paulo, coube-lhe por prêmio estágio de dois anos na Prefeitura da Metrópole, período em que pôs à prova sua competência de grande estudioso dos problemas da Capital. Botucatu tem a honra de contar com seus relevantes serviços em todas as áreas da administração pública. Participação notável foi a sua na construção do Hospital para Tuberculoso, em Rubião Júnior, transformado depois em perfeito para a Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu, mais tarde tornada Faculdade de Medicina – UNESP.
Na área educacional foi ele o construtor dos prédios do D. Lúcio Antunes de Souza, José Gomes Pinheiro, Raphael de Moura campos, tendo feito a reforma do Grupo Escolar Cardoso de Almeida.
Construiu o Hospital da Sorocabana. Adquiriu e doou à Creche Criança Feliz a casa própria, dotando-a das reformas condizentes. Adquiriu e doou um terreno para a Igreja N. Sra. de Fátima.
De todas essas benemerências, o povo botucatuense saberá, através dos poderes constituídos, tributar-lhe o agradecimento e a memória. O Dr, Camilo Fernandes Dinucci é pessoa lembrada com carinho e saudade por todos seus amigos.
Soldado em 1932, recebeu com grande honra, em Sessão Solene na Câmara Municipal, a Medalha de Combatente da Revolução de 1932.
Pelos seus grandes feitos, seu nome brilhará no Panteon dos Grandes Homens que viveram e fizeram Botucatu.
(F.B. 12/11/1989).

FREI AFONSO MARIA LORENZON:
Nasceu no Bairro do Traviú, município de Jundiaí, aos 20 de janeiro de 1923, filho de Angelo Lorenzon e de Maria Soldeira Lorenzon. Neto de imigrantes italianos que deixaram a alta Itália nos idos de 1893, estabelecendo-se na região de Campinas, trabalhando em fazenda de café. Depois de 9 anos, estabeleceu-se no atual Bairro do Traviú onde, depois de alguns anos, encetaram experiências no trabalho com uvas, à semelhança da Itália, cuja produção perdura até hoje.
Foi batizado aos 18 de fevereiro de 1923 recebendo o nome de Eriberto José Lorenzon. Interessante que foi batizado por frade capuchinho que, ao almoçar na casa dos pais de Frei Afonso, disse que o menino que acabara de ser batizado seria um bom frade. Os frades capuchinhos de São Paulo atendiam espiritualmente o Bairro todos os meses, durante três dias. Lá exerciam um maravilhoso apostolado. Os frades eram, na sua maioria, oriundos da mesma região dos velhos italianos.
Ez os estudos primários, 3 anos, na escola rural do bairro. Aos 22 de janeiro de 1932, entrou para o seminário Seráfico São Fidelis, em Piracicaba, onde fez ainda dois anos de primário e o preparatório. De 1935 a 1939, fez os cinco anos de ginásio. Em 1940, o primeiro ano de filosofia.
Em janeiro de 1941, precisamente no dia 9, vestiu o hábito capuchinho em Taubaté, onde, junto com sua classe, fez o ano de noviciado, sendo seu mestre Frei Salvador de Cavêdine. Fez a primeira profissão aos 20 de janeiro de 1942. Em Mococa, onde a ordem tinha o Seminário de Filosofia, fez mais dois anos de filosofia. Como o convento de São Paulo, que era o convento de teologia, era pequeno para conter todos os teólogos daquele ano, a turma de Frei Afonso foi fazer o primeiro ano de Teologia no Convento de Piracicaba, em 1944, tendo como mestres Frei Fidelis, Frei Tiago, e Frei Alberto. Fez sua profissão perpétua aos 21 de janeiro de 1945. Os outros três anos de Teologia fê-los em São Paulo, no Convento da Imaculada Conceição.
Em Piracicaba recebeu a Tonsura das mãos de Dom Paulo, Bispo de Campinas, por ocasião do Congresso Eucarístico. No dia seguinte, das mãos de Dom Frei Luiz Maria de Sant’Anna, recebeu as duas primeiras ordens menores, a Ostinário e Acolitado e do Leitorado. Em São Paulo, recebeu outras duas: a do Exorcistado e Acolitado, das mãos de Dom Carlos Vasconcelos Mota, Arcebispo de São Paulo. Em 1946, setembro, recebeu o Subdiaconato no seminário central do Ipiranga, das mãos de Dom Luiz Gonzaga Peluso, Bispo de Lorena. Em março de 1947, recebeu o Diaconato das mãos de Dom Jorge Marcos de Oliveira, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro. Foi ordenado sacerdote aos 22 de junho de 1947, na Igreja Imaculada Conceição, em São Paulo, sendo ordenante o Bispo de Santos, Dom Idílio José Soares. Cantou sua primeira missa em sua terra natal, aos 24 de junho de 1947. Terminou seus estudos em novembro de 1947, sendo aprovado para ouvir confissões na mesma data.
Em janeiro de 1948, foi nomeado Vigário Coadjutor da Paróquia do Embaré, pertencente aos frades capuchinhos. Lá ficou três anos. Depois foi feito pregador de missões populares, residindo em Taubaté por 6 meses, em Piracicaba por 6 meses. Em 1952, foi designado para morar em Botucatu, continuando como missionário. Em fevereiro de 1956, foi feito vigário de Junqueirópolis, onde ficou por dois anos. Em janeiro de 1958, foi transferido para São Paulo, com cargo de Visitador da Ordem Franciscana Secular em todo o Estado. Cargo que ocupou por dois anos. Em janeiro de 1960, foi feito vigário do Embaré, em Santos, onde ficou por três anos. Em janeiro de 1963, foi indicado Vigário da cidade de Penápolis, onde permaneceu até fevereiro de 1969, quando foi designado para Mococacomo Vigário de Iraiquara, onde permaneceu apenas três meses. Em junho de 1969, foi transferido para Piracicaba onde permaneceu até 1981, como coadjutor da Paróquia do Coração de Jesus, coordenador do movimento jovem. Dia da Verdade, capelão de várias capelas da roça.
Em 1981 foi transferido para Botucatu, onde reside até hoje, com o cargo de superior, menos no intervalo de janeiro de 1984 a junho de 1985, quando Frei Oscar assumiu o superiorado. Tendo falecido Frei Oscar, Frei Afonso que era vice, foi confirmado no cargo superior até a presente data.
Contribue com a Paz Espiritual do povo botucatuense.
(F.B. 09/10/1989).

NOTA DO BLOG:
TODAS AS CRÔNICAS ESTÃO COM AS RESPECTIVAS DATAS E POR SEU VALOR HISTÓRICO, NÃO FORAM ATUALIZADAS,

6 comentários:

Delmanto disse...

Parece que foi ontem... Mas já se vão 25 anos...Parte do livro “Memórias de Botucatu”, publicado em 1990, na verdade, pode ser considerado um pequeno livro digital: “HOMENS QUE FIZERAM BOTUCATU”! Trabalho artesanal de pesquisa e de composição. São crônicas dando o perfil e retratando a época. É material precioso. É REGISTRO HISTÓRICO. Valeu!

Anônimo disse...


Ilza Maria Nicoletti Souza (Facebook):
Armando Moraes Delmanto ainda vou acabar de ler seu post no blog , mas de antemão , posso comentar pois já li outras vezes e toda vez que leio me depertam três semtimentos : fico maravilhada com a maneira como você escreve , fico orgulhosissima de ser bisneta de Virginio Lunardi e fico emocionadissima com a maneira como descreve o Nono Pedro ! Ninguém nunca conseguirá descrevê-lo assim como você o fêz ,exatamente como ele era ! Não me canso de agradecê-lo por isso Um abração

Anônimo disse...

Ilza Maria Nicoletti Souza (Facebook):
Uma cutucadinha na memória ...
Há anos atrás meu pai chegou com seu livro e me disse mais ou menos assim :
-Trouxe este livro prá vc . É muito bom !!! Leia e guarde para mostrar para os meninos . Foi o filho do Dr Antoninho que escreveu
Foi o que eu fiz .
Realmente , é muito bom saber sobre nossos antepassados
Muito obrigada !
PARABÉNS !!

Delmanto disse...

Ilza Maria Nicoletti Souza Quel legal, Ilza Maria. Muito legal. Salve o "seu" Ivo Nicoletti! Valeu Obrigado. Grande abraço!

Anônimo disse...

Maria De Lourdes Losi (Facebook):
Mais uma vez, parabéns!

Anônimo disse...

Leandro Mioni (Facebook):
Armando Moraes Delmanto o monstro da história botucatuense

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