março 21, 2016

O Senador Moraes Barros e Botucatu no Túnel do Tempo.../ Registro Histórico.

O Senador Moraes Barros e Botucatu no Túnel do Tempo...


“Alguém deve rever, escrever e assinar os autos do passado antes que o tempo passe tudo a raso.”
                                                          Cora Coralina

É com muito orgulho que tenho procurado resgatar e registrar a ligação do Senador Manoel de Moraes Barros com a história de Botucatu. A rua MORAES BARROS, no centro da cidade, mostra a deferência que Botucatu teve com esse respeitável político de Piracicaba. 

Aliás, os nomes de ilustres piracicabanos fazem parte da construção da cidadania em Botucatu, entre tantos, cabe o registro de Dona Isabel de Arruda (benemérita da Misericórdia Botucatuense), do Conde de Serra Negra (o maior produtor de café do Brasil na Monarquia e no Império, tinha fazendas em Botucatu, além da Fazenda Lageado, de seu irmão, Dr. João Batista da Rocha Conceição) e mais recentemente, Alceu Maynard de Araújo, que se orgulhava de se considerar um “botucudo” mesmo tendo nascido em Piracicaba. Veio ainda criança para Botucatu e aqui estruturou sua vida formando-se na Escola Normal e depois ganhando o mundo como intelectual de destaque que abriu as portas da APL – Academia Paulista de Letras aos botucatuenses.

SENADOR MORAES BARROS

"Nascido em Itu (SP), em 1º de maio de 1836, e falecido no Rio de Janeiro, em 20 de dezembro de 1902, Manoel de Moraes Barros, irmão de Prudente de Moraes, foi advogado e político.

Bacharelado em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade de Direito de São Paulo, em 1857, foi logo nomeado promotor público da Constituição (que era o nome, na época, de Piracicaba; a cidadevoltaria a ser Piracicaba em 1877, por iniciativa de Prudente), onde fixou residência. Foi, também, nessa cidade, juiz municipal e de órfãos, de 1862 a 1864, quando, com a ascenção do Gabinete de Zacharias de Goes, foi demitido.

Iniciou sua carreira política em 1870, no Partido Liberal, sendo um dos primeiros a aplaudir o manifesto republicano de 3 de dezembro de 1870, enviando ao jornal A República, junto com Bento Barreto do Amaral Gurgel, Benício Dutra, Jaime Pinto de Almeida e outros, uma amnifestação de aplauso, que era uma verdadeira profissão de fé republicana. Em 1873, participou da Conveção de Itu (realizada a 18 de abril, na residência de Carlos Vasconcelos de Almeida Prado), já que, ao lado de Bento Barreto do Amaral Gurgel, ele era um dos líderes republicanos de Piracicaba; além disso, fez parte dos vários congressos republicanos, sempre como delegado, ou representante dos clubes republicanos locais, como acontecera a reunião de Itu.

Nessa ocasião já era maçom e pertencia ao quadro da Loja "Beneficência Iutana", de Itu (SP), fundada em 29 de abril de 1873; também foi fundador da Loja "Piracicaba", em 1875, juntamente com seu irmão Prudente de Moraes e outros trinta e três maçons; esta loja foi uma das onze da Província de São Paulo a fazer parte do Grande Oriente Unido, de Saldanha Marinho.

Em 1884, Manoel foi eleito deputado provincial para o biênio 84/85; depois, foi vereador à Câmara Municipal de Piracicaba, sendo, no seu primeiro ano de mandato (1888), presidente da casa.
Ao ser proclamada a República, foi, no dia 16 de novembro, nomeado delegado de polícia da cidade. Foi deputado à Constituinte nacional e relator do orçamento da Justiça, na Câmara dos Deputados, em 1891 e 1892; de 1892 a 1893 foi membro da comissão de orçamento e seu presidente.

Reeleito, em 1893, deputado federal, foi presidente da primeira câmara legislativa da União, após a Constituinte. Senador, em 1895, na vaga deixada por seu irmão Prudente de Moraes, ao assumir a 
presidência da República, ele ocupou o cargo até falecer, em 1902.

(Extraído do livro "A Maçonaria e o movimento republicano brasileiro", de José Castellani - Editora"

COMBATENDO O CAPITÃO TITO

“O Senador Manoel de Moraes Barros está ligado à história de Botucatu, mesmo tendo sido, junto com seu irmão, chefe político em Piracicaba. Hernâni Donato ao focalizar em seu “Achegas”, com a costumeira precisão, o período de nossa cidade dominado pelo Capitão Tito Correia de Melo, genro do benfeitor José Gomes Pinheiro, nos relata: ”Começa a era Tito Correia de Melo. Por volta de 1847 fixou-se na vila um jovem mineiro que residira em São Paulo, Rio Claro, Itu e Itapetininga onde tomou por esposa uma filha de José Gomes Pinheiro, razão da sua vinda para as terras que o sogro possuía. Todo o resto do século e os primeiros anos da centúria seguinte ressoarão com os ecos da atividade do Capitão Tito. A esse dilatado período chamou-se “era Capitão Tito”.




Pois bem, o Capitão Tito Correia de Melo e o Advogado Manoel de Moraes Barros representavam, respectivamente, Botucatu e Piracicaba, como Deputados, na Assembléia Provincial do Império. Ainda no “Achegas” do Hernâni Donato, encontramos um perfil da “era Capitão Tito”:
“Liderou com mão de ferro a política do 5º distrito, elegendo-se deputado algumas vezes, impondo vontade absoluta por todos os meios em uso na política...”

Na época, Botucatu ficara famosa pelos “métodos” do Capitão Tito. Continua o relato de Hernâni: “No “A Província de São Paulo” (“O Estado de S. Paulo”) nomes fulgurantes da política e do jornalismo como Rangel Pestana, Ezequiel Freire fulminavam o procedimento do deputado por Botucatu, apontado megalomaníaco qual Napoleão e outros “tiranos”, além de Luiz XIV que seria o exemplo mirado pelo denunciado. Ezequiel Freire assinou, no dia 18 de fevereiro, longo artigo intitulado ”De Omnibus Rebus – Piadas Parlamentares”. A certa altura, resumindo o discurso de Moraes Barros, elenca: “Lamentou s.ex. a impunidade em que até hoje tem vivido os autores dos atentados praticados pela horda contra o juiz de direito Ernesto Xavier, contra o juiz municipal Marcelino de Carvalho, contra o Dr. Barros Barreto, contra o Dr. Rocha, assassinado; contra muitos outros.

Declarou que Botucatu, por causa desses mandões, nem tem garantida a justiça, nem tem crédito rural, nem cousa nenhuma;
- que não há caixeiros que vão lá proceder cobranças, porque seriam logo colocados na alternativa de fugir ou morrer;
- que o Banco de Crédito Rural não empresta dinheiro a fazendeiros de Botucatu porque lá não existe justiça, mas arbítrio e garrucha;
- que não há advogados que aceitem o patrocínio de causas naquele fôro, de medo de serem expulsos ou assassinados, etc. etc.
Terminou o Sr, Moraes Barros denunciando a tentativa de assassinato de que foi vítima no dia 27 do corrente o atual promotor dr. Christiano Ritt, e requereu informações ao Governo.”

Após 1884, aumentou o cerco às “atividades” do Capitão Tito. O assassinato de Quinzote, em dia de eleição, foi o fato que celou o futuro do Capitão Tito. O historiador botucatuense, dr. Sebastião de Almeida Pinto, em seu livro “No Velho Botucatu” (editado no Centenário de Botucatu, em 1955), nos relata: “O velho deputado provincial, tão combatido e discutido, merece um estudo especial, que até hoje não foi feito. As opiniões a seu respeito, são as mais diversas e controvertidas (...) Para uns, Tito era um bom homem, um grande chefe. Para outros, era truculento, vingativo e perigoso...” E sobre o assassinato do Quinzote, Tião de Almeida Pinto, descrevia: “...mandou uns cabras de confiança, chefiando capangas, dar um susto nos eleitores. Espantando-os. Coisinhas de nada. Umas porretadas, umas cachuletas e, no máximo, uns tiros para o ar. Entretando, as coisas não correram tão simples assim.

O Quinzote que não era de matar com a unha, reagiu na altura. E não se intimidou com a turma. Deram uns tiros para o ar. E Quinzote continuou a avançar, seguido pelos eleitores. Nessa hora, Firmino Toreador, capanga do Capitão Tito, enraivecido, exorbitou. E fez a barbaridade. Meteu um balaço no Joaquim de Freitas. Matou o Quinzote, que era primo de Carlino de Oliveira e do Chico Padeiro. Ao que parece, Firmino e Quinzote eram velhos desafetos.

Houve pânico. Os eleitores debandaram. Tito ganhou a eleição. Mas não adiantou. Parece que o sangue de Quinzote trouxe azar tremendo. O velho chefe, desde a morte do rapaz, entrou numa decadência sem fim. E acabou, como dizem, obscuramente. Num ostracismo completo. Velho. Cego. Desprestigiado. Derrocado em toda a linha. E tinha sido um grande lutador. Coisas do Mundo.”

O então prestigiado jornal “O CORREIO PAULISTANO”, de 20/12/1952, em matéria comemorativa do cinquentenário de falecimento do Senador Manoel de Moraes Barros, destacava:
“Dois episódios servem para definir a personalidade do senador Moraes Barros: como republicano à Assembléia da Província, moveu da tribuna uma campanha sem tréguas contra o mandonismo do seu colega Tito Correa de Melo, chefe político de Botucatu, obrigando o mandachuva a renunciar o mandato...” 



(do livro "Memórias de Botucatu", de 1990, de Armando Moraes Delmanto).

É Registro Histórico!


NO TÚNEL DO TEMPO FAMILIAR



Sou descendente, pelo lado materno, de tradicionais troncos paulistas da família Moraes Barros. Sendo meu ascendente o Senador Manoel de Moraes Barros, irmão de Prudente José de Moraes Barros – 1º presidente civil do Brasil, ambos maçons e republicanos, sendo o Senador Manoel de Moraes Barros avô de meu avô materno, Manoel de Camargo Moraes.

Na minha infância ia todo ano de férias para São Pedro e Piracicaba. Quando ia com meu avô “Caturra” (Manoel  de Camargo Moraes), apelidado por meu pai porque era muito teimoso... Piracicaba era então uma grande cidade e muito calma ainda... Tinha o bonde, a Esalq, e o maravilhoso Mirante, com seu restaurante servindo o “pintado no espeto”, pescado ali no rio...

A penúltima vez que estive em Piracicaba, junto com os professores Francisco Carlos Sodero e Jair de Moraes Neves, de origem piracicabana, em 1968, almoçamos no Restaurante Mirante. Inesquecível.

Em 2006, portanto mais de 35 anos após a última visita, lá estava eu de novo... Com a Beth e o Marcelo fomos em busca de registros familiares. Almoçamos no Mirante e comemos o “pintado na brasa”, só que os peixes, nessa época, vinham do Mato Grosso, a poluição do Rio Piracicaba já era uma realidade. E tivemos sorte. Pouco tempo depois foi fechado o famoso restaurante do Mirante. Depois de um tempo, consta que foi reaberto.

Pois bem, além do almoço, fizemos a nossa peregrinação: fomos ao “MUSEU HISTÓRICO E PEDAGÓGICO PRUDENTE DE MORAES”, localizado na antiga residência do Primeiro Presidente Civil do Brasil, com rico acervo museugráfico e museológico contemplando a vida pública do ilustre homenageado, além da História de Piracicaba. Na ocasião, obtive da coordenadora, a informação preciosa de que familiares dos Moraes Barros vieram, no início da colonização, da cidade de Braga/Portugal.

Após visita ao Museu, em 2006, fomos ao Cemitério visitar o túmulo de meus avós (Manoel de Camargo Moraes e Isaura Telles de Moraes) e conhecer os túmulos de Prudente e Manoel de Moraes Barros. É imponente, verdadeiro mausoléu a perpetuar a história desses ilustres brasileiros!


Restaurante Mirante - Piracicaba/2006
Marcelo, Beth e Armando.

Mirante rio Piracicaba

Museu Histórico e Pedagógico PRUDENTE DE MORAES.
Repara na minha testa e na do busto...

Mausoléu de Manoel de Moraes Barros

Mausoléu de Manoel de Moraes Barros /Marcelo

Mausoléu de Manoel de Moraes Barros/Armando.


Mausoléu de Prudente de Moraes/Marcelo




Um comentário:

Delmanto disse...

Recebi de meu “primo” Manfredo Costa Neto, livro que traz todo o histórico da família de PRUDENTE DE MORAES com todas as suas ramificações. O livro “ROSINA e família” é de autoria de sua irmã Maria de Lourdes Moraes Costa (Ude). Botucatu conhece bem a trajetória de MANFREDO ANTONIO COSTA que fundou a Cia de Força e Luz de Botucatu e, posteriormente, a CPFL, em Campinas. Em 1934, Manfredo Costa elegeu-se Deputado Estadual Constituinte, por Campinas.

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