fevereiro 19, 2017

O SONHO NÃO ACABOU: livro histórico do jornalismo jovem de Botucatu!

O SONHO NÃO ACABOU
Com o lançamento do jornal “VANGUARDA” – O JORNAL JOVEM PARA A NOVA BOTUCATU – começávamos a lançar a base que iria fechar seu ciclo em 1976... Inspirados no jornal “O PASQUIM”, fizemos um jornalismo ousado e moderno. 











 Era feito por uma equipe inesquecível de colaboradores que tiveram seus nomes gravados no livro “O SONHO NÃO ACABOU”, lançado em 1988, como forma de registrar essa grande empreitada jornalística a favor da mudança política em nossa cidade. Na ocasião, com destaque, o lançamento do jornal "FOLHA DE BOTUCATU", em sua 2ª fase.

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O lançamento da "Folha de Botucatu", em sua 2ª. Fase, mobilizou a opinião pública botucatuense. E fato interessante e muito comum no interior: logo surgiram outras "FOLHAS"... Assim, tivemos circulando na região, em época diversas, além da "Folha de Botucatu", a "Folha de Notícias", a "Folha Regional", a "Folha da Estrada" e a "Folha Serrana". 

O prefácio foi do saudoso escritor botucatuense, Francisco Marins e o jornal teve como padrinho o também saudoso escritor botucatuense, Hernâni Donato.
O prefácio do escritor Francisco Marins é uma preciosidade. A Noite de Autógrafos foi um acontecimento cultural, realizada na LIVRARIA PAPIRUS, mostra a presença participativa de seus primeiros colaboradores e convidados:


REGISTRO HISTÓRICO:

O lançamento do livro "O Sonho Não Acabou", coletânea de artigos publicados no jornal "Vanguarda de Botucatu", contou com a presença do Dr. Francisco Marins que fez o prefácio do livro, abaixo transcrito. O ilustre escritor botucatuense foi Membro Efetivo da Academia Paulista de Letras, tendo ocupado por duas vezes a sua presidência sendo, ao depois, seu Presidente Emérito. Ele e o saudoso escritor Hernâni Donato são Patronos da Academia Botucatuense de Letras.




SOBRE UM JORNAL E UMA ANTOLOGIA
O estudo da história da imprensa interiorana e da participação de seus principais órgãos é indispensável ao conhecimento da evolução de nossa sociedade e da sua afirmação humana, econômica e político-social.
Infelizmente, porém, poucos municípios brasileiros guardaram, em seus arquivos, exemplares das publicações jornalísticas que compõem a sua memória local, a serviço da coletividade. São Paulo é, dentre poucos de nossos Estados, aquele que mais cogitou da importância para as futuras operações, da preservação desse enorme acervo, já relatado nos estudos de Lafayete de Toledo, Afonso de Freitas, Carlos Rizzini e Freitas Nobre e, também, quando fundou o Centro Paulista de Pesquisa e Memória da Im­prensa. A este se filiou, por largo empenho, o saudoso conterrâneo - jor­nalista Gastão Thomaz de Almeida, descendente de família botucatuense, com destacada atuação, no passado da imprensa local: Levy, Genésio e João Thomaz de Almeida.
Por ocasião da mostra - "Imprensa do Interior - 100 anos de his­tória", realizada na Biblioteca Mário de Andrade, escrevia Gastão Tho­maz de Almeida, autor da obra "Imprensa no Interior" (1983), que aquela exposição deveria merecer apoio e estímulo por parte dos estudiosos, leito­res, sociólogos, escritores e poetas, pois o jornalismo, que tivera seu pioneirismo em Sorocaba, desde 1842, mesmo com modestos e despretenciosos jornais, abria espaço para a iniciação literária e para a maior divulgação de inúmeros talentos, que certamente ficariam no anonimato.
Botucatu, neste aspecto, é também digna de estudo. Um levanta­mento da história de nossa imprensa, tarefa ainda por se realizar, rastreando a trilha já aberta pelas "Achegas" de Hernâni Donato, colocará a cidade, em posição de destaque - pela qualidade do material impresso, multiplicidade dos órgãos jornalísticos, longevidade, postura cultural, va­lor dos artigos e, também, incentivo ao comparecimento de novos traba­lhadores das letras.
Não iremos nomear quantos foram os periódicos: jornais, revistas, almanaques, que se publicaram - alguns de vida efêmera, outros mais du­radouros e dos colaboradores que, através de suas páginas, granjearam afirmação e, posteriormente, alçaram vôos mais altos, até com projeção nacional.
Vanguarda, o periódico sobre o qual nos incumbe falar, apareceu em 1970, com um programa definido e, como toda obra de moços, a alardear vanguardismo, que nascia do próprio nome e da esperança dos jovens que a criavam. Enfatizou, desde logo, o seu propósito cultural e passou a acolher e estimular crônicas, artigos, poesia e matéria literária, dando incentivo também, a autores iniciantes. Procurava interpretar o espírito de uma ge­ração e apontar caminhos. Feitura gráfica razoável para a época e até com duas cores de impressão. Textos artesanalmente trabalhados. Boa revisão. Alguns avanços de crítica político-social...
Tudo isso fez que o milagre da sobrevivência se realizasse por uma década, quando o rol de novas publicações indica vida curtíssima para a maioria dos títulos.
Armando Delmanto, idealizador e mola propulsora de Vanguarda, descendente de velho tronco de militantes da nossa imprensa e da vida política de nossa cidade como Dante, Aleixo, Antônio e Osmar, ao avaliar o desempenho daquele órgão, diz hoje, com o mesmo entusiasmo "o sonho não terminou". Com coragem e fibra, Delmanto reafirma que valeu a pe­na lutar e que, mesmo sem barretadas à política partidária, é possível ir-se à frente, embora os nomes dos órgãos jornalísticos passem a ser outros. Nós porém, lembramo-nos da sentença latina: "Ad augusta - per angusta..."
A sua idéia de reunir em livro material publicado ao longo dos anos de Vanguarda se não é original, pelo menos é incomum: uma antologia dos colaboradores mais ativos. É forma de guardar, de modo mais duradouro, o que se tornou efêmero no dia-a-dia da vida jornalística. A matéria ora coletada é díspar e sem um fio de unidade, como conseqüência das multifaces da publicação. Mas dá pra ver que alguns dos colaboradores foram originais e inovadores, ora dando vazão a anseios pessoais, ou até atirando farpas, com as críticas humanas e sociais. Outros escritores, já donos de um estilo e cultura, como sempre tivemos no jornalismo local, apenas par­ticiparam numa forma de incentivo, à novel publicação.
Para alguns o princípio, pra outros reafirmação. Juntos, porém, de­ram um testemunho válido, que esperamos seja reavivado com o apareci­mento desta antologia - a qual certamente recordará um belo momento cultural de Botucatu.
Cumprimentos ao Armando Delmanto e a cada um dos colaborado­res cujos nomes aqui não reproduzimos, mas que estão em destaque no índice do pórtico desta obra.
Percebemos, também, que o "sonho, efetivamente, não terminou" pois há o nascimento de um novo órgão - a Folha de Botucatu - carregan­do um nome que já foi legenda em nossa terra, nos tempos de mestre Pedro Chiaradia e da geração que ele, com tanta sabedoria, soube incentivar. Es­peremos que o idealismo de Vanguarda continue e permaneça!
Francisco Marins
("O Sonho não Acabou"/Agosto/1988)

Por entender que o "Vanguarda de Botucatu" representou o espírito de uma geração que soube assumir o compromisso com seu tempo é que estamos promovendo a divulgação do que foi o Vanguarda, com a reprodução de alguns artigos dos muitos colaboradores que teve.  Artigos que foram um marco, ficaram na história da imprensa botucatuense. E mostramos, abaixo, o layout da coluna social (“Acontecências”, idealizada por Olavo Pupo e que teve enorme influência na juventude botucatuense por muitos anos. No início, feita pelo Olavo e a Rita Pedrosos, foi comandada também por Claudia Pedroso, Totica Pedros e Andrea Morato e Fernando Amando de Barros) FOI OBJETO DE FORTE RESISTÊNCIA DE SETORES TRADICIONAIS DA COMUNIDADE BOTUCATUENSE POR SUGERIR UM “MEMBRO GENITAL”...rsrsrs








O "Vanguarda de Botucatu", já o dissemos, não acabou em 1980.  Ele continuou através do "Jornal de Botucatu", fundado em novembro de 1980.  O "Jornal de Botucatu" surgia como um jornal bi-semanário, sem engajamento político, mas com uma linha definida de defesa da comunidade.  Foi o primeiro jornal feito no linotipo em Botucatu à partir dos anos 70.  Até 1980, os nossos jornais eram feitos no tipo, com exceção do Vanguarda, sempre feito fora de Botucatu por problemas de perseguições políticas dos poderosos de então.  Pois bem, em 1980 , trouxemos para Botucatu a Gráfica completa do Ariosto Campiteli, de Bauru, que passou a ser sócio do jornal recém criado.  Hoje, a Revista Peabiru procura manter a mesma linha de atuação, mobilizando a nossa comunidade, convocando a "intelligentzia botucatuense", enfim, construindo a nossa cidadania. O prefácio de Hernâni Donato e seu artigo comemorando os 10 Anos do “VANGUARADA” e + os promeiros artigos da equipe jovem de colaboradores é um precioso acervo de nosso jornalismo:





"Um Voto Esperançoso...Mais Um
Rapazes: o diretor do jornal não brinca em serviço.  Chegou e mandou: Vanguarda quer inovar.  Sacuda a nossa moçada.  Dê-lhe um plá dosado para os males de Botucatu.
Bom, não tenho receituário para uso dos moços que insistem em abrir o seu caminho dinamitando a estradinha aberta pelos mais velhos.  Mas concordo em que para Botucatu, o momento, mais do que nunca, é o de balançar a roseira.  Mais do que nunca porque ela goza de privilégio único de receber, de golpe, o enriquecimento do sangue novo de milhares de universitários.  Gente de sangue quente, às vezes descontrolada exatamente por causa do sistemático "pé na tábua"em que vive, mas de cuja generosidade é possível esperar tudo.  Mesmo aquilo que é mais necessário para a cidade: giro de duzentos graus na bússola do comportamento coletivo.
Vou lhes dar 3 diagnósticos para um mal que é típico da gente serraçumana.
1º ato: Cornélio Pires, no palco do Casino, fim dos anos 30: "é difícil entender este povo.  Gosta das minhas piadas porque ri de estourar.  Mas não move as mãos, não aplaude.  É frio!".
2º ato: um humilde botucatuense que nos anos 40 chegou a campeão brasileiro de um certo esporte: "o pessoal, lá na terra, parece que tem vergonha de me cumprimentar.  É onde menos sou festejado!".
3º ato: d. Frei Henrique, anos 50, assistindo a um bem organizado desfile cívico-religioso, ali na Cel. Moura:  "Aplaudam.  Vamos aplaudir, ó povo frio.  Não sabem o trabalho que dá?".
Tradução: se a rapaziada que forma com a Vanguarda ou em torno dela - excluída toda e qualquer conotação político-partidária - tem mensagem ou acredita tê-la e quer fazer algo pela cidade, não espere compreensão, nem aproveitar fundamentos existentes. Comece da base, feche os ouvidos, abra os olhos, veja as nossas lições mais práticas da história local e geral.  E construa o legado da sua geração.  Não espere aplausos.  Haverá exceções, busca de diálogo, oferecimento de ajuda que afinal os voluntariosos estão em toda parte.
Se a bandeira da Vanguarda é fazer e renovar, não atacar ou destruir, tem um  campo largo pela frente.  E merece o apoio de quem sente que é preciso mudar a mentalidade para não ter que mudar de cidade.  Espero que Vanguarda, liberta de ganchos políticos que a limitem e imobilizem, tenha forças para resistir aqueles que vão tentar destruí-la, pela omissão; negá-la, pela tentativa do ridículo; esfriá-la, pela inércia com que gelaram tantos outros empreendimentos igualmente generosos; desviá-la pelo descrédito organizado e sistemático.  E que ajude a repor Botucatu entre as primeiras das nossas cidades.  Se ela perdeu - quem negará que ela tenha perdido lastro, infelizmente? - foi só por culpa da sua gente.  Gente que brinca com o futuro, com o voto, com as lideranças.  Estou exagerando?  Voltem a cabeça e vejam as conquistas e realizações dos últimos 10 ano.  Individualizem os seus idealizadores.  A constatação será melancólica.
Por isso - sem que isto signifique pronunciamento político ou grupal, mas apenas mais um voto de esperança, confio em Vanguarda.  Como em todo movimento de juventude.  Nós já tivemos freios demais.  Precisamos de bons aceleradores.
Toque aqui, Vanguarda !  Prá frentex, gente."

O posicionamento de Hernâni Donato não deixa de ser uma aula de sociologia "botucuda".  Era o quadro, sem tirar nem por, de nossa sociedade sedimentada mas com falta de perspectivas para o futuro...
No 10º aniversário do "Vanguarda de Botucatu", em 1980, mais uma vez a palavra amiga e incentivadora de Hernâni:

"Pelos Primeiros Dez Anos de o "Vanguarda"
Segundo as agências de propaganda, um jornal atinge a maioridade ao superar a marca do ano de publicação.  Este período está para o jornalismo, assim como o nada saudoso "mal de sete dias"estava para crônica da mortalidade infantil nos velhos tempos.  Mas, quando se trata de jornal interiorano, elas, as agências, exigem três anos de publicação.  Aí sim, passam as folhas caboclas a gozar do "status" de jornal a merecer conceito, às vezes até uma programação que lhe oxigene os pulmões financeiros.
Pois o jornal do Delmanto está quebrando a barreira dos dez anos.  Mesmo quantos não subscrevem a linha política que le imprimiu ou imprime ao "seu" jornal, hão de parabenizá-lo por vir respondendo ao gongo que tiranicamente o convoca para novos assaltos dessa luta sem intervalos que é o fazer imprensa.  Principalmente - isto já é um refrão mas nem por isso é menos verdade - principalmente, imprensa interiorana.
Quantos amem Botucatu e respeitem o jornalismo - uma das formas de manter dignas as comunidades - hão de fazer coro ao nosso voto: o de que, pelos decênios em fora, o Armando saiba fazer bem o seu jornal.  E seja feliz com ele e por ele".

No primeiro número do "Vanguarda", mandavamos o nosso recado:



  "Os Moços e os Fatos

Os fatos estão aí, e os moços também. Os fatos revelam que as oligarquias faliram, as oligarquias políticas, econômicas e sociais. Perderam completamente o contato com a gente, com os cidadãos, com os seres humanos que vivem neste país. E, talvez, coisa muito mais séria - porque causa do primeiro fenômeno, perderam o contato com a realidade brasileira. Velhas elites políticas, carcomidas por vícios e erros que se enraizaram no fundo da terra, de cerne enrijecido, e que não podem vislumbrar o horizonte, nem mesmo a fimbria dos resíduos dos problemas, como diria o velho mestre Bérgson.
De outro lado estão os moços. Em primeiro lugar seu número pesa na demografia brasileira. São mais de 60% de nossa população. Ainda mais, desde a era getulesca, não tiveram oportunidade de realmente se realizarem, numa política estruturalmente organizada. Ou foram levados por caminhos escusos, para a demagogia populista, ou foram marginalizados, para que os velhos pajés da carcomida demagogia eleiçoeira, utilizando-se deles, galgassem os galarins do poder.
Esta é uma hora de renovação. Não apenas de renovação de estruturas políticas, porque estas não se fazem no papel. Mas de renovação de valores humanos, colocando no lugar certo aqueles que podem dar à Nação o trabalho e a revitalização dos costumes políticos. A quem entregaremos os destinos da Nação; a quem entregaremos o comando da política e da administração da coisa pública? Aos que foram responsáveis pelo atual caos político; aos que surgiram (politiqueiros e politiquetas) nos vícios e erros do passado?
Aqui não há dúvidas: ou se confia, agora, nos moços, ou chorar-se-á lágrimas amargas de remorsos indesculpáveis".

Hoje, neste artigo, vamos apresentar apenas alguns artigos de colaboradores que marcaram o jornal e algumas de suas principais e criativas capas.  O Alcides Nogueira, já o dissemos, começou a publicar seus trabalhos no Vanguarda e foi um dos destaques da juventude que acompanhou o jornal.  O Nando Cury, a Cláudia e o Olavo Pupo, também.
Havia no Vanguarda, desde o  número, a coluna Acontecências (nome bolado pelo Olavo Pupo) e que trazia os principais eventos jovens da cidade.  No início, era feita por um grupo, tendo à frente o Olavo, depois continuou com a Rita Pedroso, depois dela as suas irmãs Cláudia e Totica e, nos últimos anos, pela Andréia Morato e pelo Fernando Amando de Barros.  A primeira publicação das Acontecências, saiu assim:

  Acontecências nº 1

"Orpheu Nogueira Pinto (Alcides Nogueira) batalhando sua nova peça ainda sem título.
O livro de Armando Delmanto está para sair - aguardem.
Zé Mané em estreito contato com Gilberto Gil, que está musicando alguma coisa bem nossa.
Estréia a nova peça de Leilah Assumpção: Jorginho Machão.
Tico Marques escultor e pintor botucatuense no elenco do Crito Nu.
Neuza Moisés charmisíssima em suas rápidas temporadas.
Fátima Bestetti contratando manecos para uma revista nova de São Paulo.
Piu não se contém de saudades da terra, por isso sempre aqui.
Esperados: Gigi Carnier e Fernando Gurgel.
Você viu o cometa Aquarius?
Badaladíssimo o novo disco dos Mutantes!  A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado.
José Roberto Morato prefere Anhembi para suas temporadas.
Olavo Pupo é vidrado em música sertaneja (não espalhem).
Maga Nepomuceno elegantíssima de botas de cano alto compradas na Prata.
Meire num animado fim-de-semana numa fazenda de Pardinho.
Pedro Bala em Itatinga parecendo personagem de bang-bang.
A bossa é chapéu de palha tipo panamá, cá entre nós em Bofete tem lindos.
Mara Pires Correa confessou-se tão gamada pelas alpargatas do trote da Filosofia que nunca mais deixará de usá-las.
O Recanto do Ypê sempre quente-quente-quente.  Tataio Balarim acontecendo com a turma da pesada.
Nilze Aranha sempre feliz desfilando de carro novo.
Mas bom mesmo é rede para balançar ou sonhar.
Os boys fazendeiros continuam fascinando as turistas.
Minha amiga Lourdinha confeccionando mil colares para a Feira do Artesanato que funcionará na Bosque aos domingos.
Talvez para breve a Missa da Juventude aguardamos notícias TLC.
As disnatias botucatuenses estão maravilhosas na nova geração basta ver o Castelinho.
De Bauru circulando Mirian Tebet veio trazer abraços.
De Campinas Reinaldo Boneco.
Totica Cesar Pedroso telefonando para pedir música e Viva o Som.
Lúcia Lacerda escrevendo contos para uma revista.
Micisa Pardini atarefadíssima com o elegante Chá do Coração.
Existe também o bazer do Coração com artesanatos De Luxe cooperem.
O pessoal da Madureza anda em festas com tantas aprovações.
O Balcão continua atraindo multidões, aliás a melhor peça do ano.
Os boys da terra fervendo em Barra Bonita.
Surgem convites para futuras festas esperamos.
XPTO sacudindo a moçada, música quente - Super Star.
E a boite do CAPS, virá? " 

É um retrato da Botucatu no início dos anos setenta.  Dá para se ter uma idéia do cenário real de nossa juventude naqueles tempos...  No livro "O Sonho Não Acabou", reproduzimos vários artigos de vários colaboradores.  Agora, apenas reproduziremos os artigos do Alcides Nogueira, do Nando Cury, do Olavo Pupo e do Hélio Donato.  Cada um na sua linha, com seu estilo, mas esses artigos, com certeza, ajudam a que se tenha desenhado o perfil dos nossos jovens de então:

"Idealismo Poético
Olavo de Figueiredo Pupo

O idealismo tem que ser poético.  Pedimos ordem e o progresso mas também o amor e a fraternidade.
Que os tratores partam para a Amazônia mas partam sorrindo e passem cantando.
Tudo é bonito - um caminhão que busina: Fé Fé não precisa ter letreiro no parachoque.
Não mais é preciso sair de Botucatu para poder crescer pois agora a cidade cresce  e quem permanece cresce junto.
O plá está aqui mesmo - música sertaneja - chapéu de palha e saber falar CARÇA ARMOÇO.
Ser caboclo é estar por dentro e viver a natureza.
Temos nossos poetas nossa poesia nossa música nosso teatro nossos loucos nossas loucuras.  Alguma coisa no Ar.
Se alguma coisa de novo acontecer terá que ser no Brasil mas não em São Paulo ou Rio mas nas cidades Onipresentes.
Os baianos tem seu movimento nós temos que concretizar o nosso.
O negócio é deixar de lado a sofisticação e fazer alguma coisa.
  ( Vanguarda nº 1, abril/70 )

"O Poster Divino
Alcides Nogueira Pinto

Fotografei todo mundo em branco e preto.  Fotografei todo mundo e todo mundo vai comprar as fotografias.  AVE DINASTIAS BOTUCATUENSES.
O cometa de Aquarius passou sobre a cidade.  Fomos para a serra vê-lo.
O Olavo viu o cometa descer transformar-se num carro alegórico e desfilar desde o Cemitério até o Pontilhão com TodoMundo da cidade atrás dele todas as Gentes todas as peças da cidade.
Eu via a estátua do Pedutãoãoãoão passar O BUSTO do Caxias a Santana Derrubada e o Doutor Costa Leite sair da Misericórdia.
Mais atrás vinha o pessoal do Tênis o pessoal do 24 o pessoal da Churrascaria os De Colores a negada do Caps a turminha do BHC e os que fazem footing na Rua Amando.
É muito bonito ver os colóquios amorosos nos carros ao lado do Nelli depois das oito da noite. BOTUCATU ESTÁ CRESCENDO.
Aqui abunda felicidade.
Aonde foi parar o programa do Miguel onde eu pedia a música da janis Joplin Ball and Chain e eles não tinham onde eles tocavam Caetano toda hora  e a gente berrava que Roberto Carlos era várzea.
Roberto Carlos era várzea.
Roberto Carlos é tão várzea!!!
Eu fotografei Todo Mundo e tudo isso e fiz posters.  Vou vender os posters e vocês vão comprar.
Ainda existia a cejotacê que acabou não sei porque e ficou sem ver você.
O Zé Mané vai de vermelho atrás do cometa de Aquarius.
A estátua do Pedutão é tropicália.  Botucatu é tropicália.
Vi.
Vi e fotografei.
No Princípio era o Verbo.
No meio a fotografia a Fotografia a FOTOgrafia.
No final as damas e senhores de 115 anos vão arrastar mantos e viver de estrelas.  Vai haver festa nos salões tradicionais e rouge nos rostos anormais.
E vou virar Sapo se isso não acontecer.
Em Rubião há uma tôrre e há um campo de aterrisagem de naves estrangeiras.  Invasoras.
Somos filhos da serra e filhos dos deuses e os Deuses eram Astrounatas.
Eu fotografei os deuses. Os Deuses e não consegui fazer os posters.
(Vanguarda de Botucatu nº 2, maio/70)

"Botucatu - Anos 60
...E o Sonho Não Acabou,
Apenas Adormeceu!
Nando Cury (Luiz Fernando Cury)

Beatles e sua ideologia
Reunião de toda a família
Tardes dançantes com Q Suco
Cristaleira, porta-chapéus, o cuco
Dia de aniversário
Empinar papagaio
Namoro nas matinês
O curso de inglês
A paquera no Bosque
Gibi, pé de moleque
O jogo de botão
Lageado e Rubião
O time de futebol
Ver o por do sol
Conjunto de música e festival
Escolas de Samba, blocos de carnaval
As excursões e os pic-nics
Cabra-cega e o jogo de bétis
Carrinho de rolemã
Dia de Reis - romã
Andar de bicicleta
A vida de atleta
A beira da piscina
Gumex e brilhantina
A missa de domingo
O rancho no Rio Bonito
A praça do Correio
O lanche no recreio
"Soldado e Ladrão"
Festa de São João
Chicletes de bola
O uniforme da escola
A fé e a procissão
A primeira televisão
Um antigo perfume
Içá e vagalume
Longas férias afinal
Divertimentos no quintal
A presença dos avós
A engraçada mudança de voz...
A cidade era grande aos nossos olhos, mas a amizade era maior.
As paixões vinham e se sucediam de modo rápido e inesperado.
A saudade se fazia doída e a ansiedade curtida ansiosamente.
A esperança era ainda otimista e o futuro muito sonhado e aguardado.
Entre as verdades dessa infanto-adolescência a maior delas é que éramos todos infantis e adolescentes de verdade.
E as coisas, as pessoas, os fatos, os lugares que fizeram aquela época, continuaram e permanecem aí latentes para influenciar, influir, talvez numa revisão geral de sentimentos.  E mais, pedem urgentemente por uma visão crítica, para julgar e selecionar o que realmente é válido experimentar, curtir e viver hoje, no final dos anos 70."

"Crônica à Cidade Amada
Hélio Donato

A GUISA DE APRESENTAÇÃO, MUITO PRAZER....
Oi turma, ói nóis aqui!
Puxa amizade, você não sabe como estamos contente em vir aqui para a Vanguarda, escrever estas "maltraçadas" linhas.
Como é bacana fazer parte desta equipe capitaneada pelo amigo Armandinho, rapaz culto e de valor, de muitos méritos, entre os quais, dos mais apreciáveis, dar a Botucatu este jornal que é o fino do jornal, moderno, jovem, bem a altura de uma cidade universitária.
Rapaz bondoso esse que nos concede uma coluna para escrevermos, bem ao nosso estilo, sobre a cidade amada.
Esse "ao nosso estilo", é muito importante e digno de registro ao amigo leitor, posto que escrevemos o que sentimos, na hora em que sentimos, sem nenhuma preocupação literária (qué-qué-isso, minha gente...) por vezes deixando escapar alguns errinhos de português pelos quais, desde já, antecipadamente previno: quem me der a honra da atenção, que me aceite assim, né Armandinho e aqueles-outros, ciosos dos escritos imaculados, que procurem os grandes clássicos grandes gramáticos que andam sendo procurados pelo caboclo Mamado.
Pois é do alto desta colina, digo coluna, que vamos falar sobre as coisas de nossa Botucatu, das gentes, das acontecências, dos seus bons ares e das suas escolas.
E como hoje é dia de festa (para mim, é claro) e ao ensejo que se nos depara agradecemos aos prezados leitores vanguardistas que nos apoiam e também ao moço Armandinho e aos que forem do contra, previnimos "se alguém tiver algo a declarar, que o faça agora ou cale para sempre".  Falei?
Nada mais havendo a se tratar, damos por encerrada a presente e primeira crônica, que depois de lida e achada conforme, vai por mim assinada juntando a ela a promessa para uma nova apresentação, no próximo número, aqui mesmo, e quando o Moacir quiser, né?
Tchau!"
(Vanguarda de Botucatu nº 19, agosto/72)



2 comentários:

Luiz Carlos Casemiro disse...

muito bom.

Claudinha disse...

Tudo tão Botucatu! Nosso cerne continua igual,tão longe e tão perto. Gostaria de voltar a morar em Botucatu !

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