abril 13, 2017

SOBRE MÉDICOS E ADVOGADOS - crônica de ROBERTO DELMANTO

SOBRE MÉDICOS E ADVOGADOS

Roberto Delmanto

Voltaire, o grande escritor francês que reabilitou Callas, injustamente condenado à morte e executado sob a acusação de ter assassinado em Toulouse, cidade maciçamente católica, o próprio filho por ter este se convertido ao protestantismo, considerava a advocacia a mais bela das profissões. Uma única outra, penso, pode com ela rivalizar-se: a medicina.

Alguns de nós tem ou tiveram o privilégio de possuir em suas famílias médicos e advogados. Eu, como criminalista, tive a sorte de, durante vinte e três anos, receber lições técnicas, morais e éticas de meu pai Dante Delmanto. O Des. Otávio Augusto de Almeida Toledo também teve como mentor seu pai, Antonio Augusto de Almeida Toledo, carinhosamente chamado de Toledinho, que pontificou na advocacia criminal uma geração após a do meu.

Ambos igualmente tivemos parentes médicos a nos dar exemplos de abnegação e humanidade. Aleixo Delmanto, irmão de meu pai, vivendo em Botucatu, no interior paulista, foi um grande clínico e radiologista. Formado na Itália, seu poder de diagnóstico era tão formidável que, às vezes, ao encontrar um conhecido na rua, só pelo olhar deste, sabia que não estava bem, pedindo que no dia seguinte fosse ao seu consultório.

Antônio Delmanto, outro irmão de meu pai, na mesma cidade foi um renomado cirurgião-geral. Esteta, ao operar o apêndice de uma jovem fazia-o com tal perfeição que precisava dar apenas um ponto. Como este, após alguns anos desaparecia, um novo médico que a examinasse não acreditava que ela já tinha sido submetida àquela cirurgia.

Otávio, a seu turno, teve como avô materno o notável clínico e cirurgião Vicente Zamitti Mammana. Sua apurada técnica fêz escola e deixou inúmeros discípulos. Como Secretário da Saúde, revelou-se excelente administrador e manteve ilibada sua reputação.

Homem de coragem, certo dia, no Corpo de Bombeiros de São Paulo, estando presente com outras autoridades e oficiais da corporação, inaugurava-se uma moderna cama elástica para salvar vítimas em prédios. No último andar do edifício, entretanto, os soldados hesitavam em saltar para experimentá-la, até que o Dr. Vicente, ele mesmo, para surpresa de todos, repentinamente saltou sob calorosos aplausos.

Médico benemérito, costumava dizer que, muitas vezes, Cristo aparecia nas enfermarias dos hospitais. Advogado há 50 anos, acredito que, em algumas ocasiões, ele também apareça em nossos Fóruns e Tribunais, a humanizar a aplicação da lei penal...

Roberto Delmanto é advogado criminal, autor dos livros Código Penal Comentado, Leis Penais Especiais Comentadas, A Antessala da Esperança, Causos Criminais e Momentos de Paraíso – memórias de um criminalista, os três primeiros pela Saraiva e os demais pela Renovar.

Artigo publicado no jornal “Carta Capital”, de abril de 2017.

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