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O PENSAMENTO
CONSERVADOR DA DIREITA
NOS ANOS 70 !
No mesmo ano do lançamento do livro "A JUVENTUDE: PARTICIPAÇÃO OU OMISSÃO", 1970, destacamos algumas das manifestações:
"Ao jovem amigo Armando M. Delmanto cumprimento cordialmente,
agradeço a remessa de "A Juventude: participação ou omissão" e
formulo meus melhores votos para o prosseguimento de sua carreira de jornalista
e de escritor preocupado com os problemas dos jovens de nosso país. Lucas
Nogueira Garcez — Ex-Governador do Estado de São Paulo e Presidente do
Diretório Regional da Arena. S.P. 22/08/70".
Lucas Nogueira Garcez — Ex-Governador do Estado de São Paulo
“A Juventude: participação ou omissão”: Com 118 páginas, o livro traz os
principais artigos publicados na coluna diária “A Juventude”, no prestigioso
jornal da Capital, “Diário Comércio & Indústria”. Foi durante o ano de 1969
essa experiência jornalística de escrever diariamente temas do dia a dia,
reivindicações dos jovens, busca de espaço político, análise dos grandes
acontecimentos políticos do mundo, etc. Ao publicar os principais artigos
escritos, sempre se busca os temas referenciais, ou seja, busca-se colocar a
atividade jornalística como uma formadora de opiniões, uma delineadora de
rumos, uma crítica construtiva a favor do aperfeiçoamento da cidadania... Com o
livro “A Juventude: participação ou omissão”, foi assim. Nos dizeres escritos
na contracapa, todo o perfil do livro: “A juventude, hoje e urgentemente, tem
que se compenetrar de que é a equação e a solução de toda uma problemática.
Somente a juventude pode, sem o niilismo da esquerda e a inércia da direita,
realizar a missão de soerguimento moral e estrutural da Nação Brasileira, até
agora preterido pela ausência e inconsequência da própria juventude...”AD.
Na
apresentação do livro, o Prof. Francisco Carlos Sodero, professor de português
do Colégio Dante Alighieri, escreveu: “O jovem Armando Moraes Delmanto reúne,
em livro, uma série de artigos publicados na imprensa paulistana, através do
“Diário Comércio & Indústria”. Todos eles pertencem à sequência “A
Juventude”, o que já de início revela suas tendências, suas preocupações, sua
problemática. Desarvorada, em grande parte, no mundo todo; guiada por falsos
líderes, repetidores de “slogans” insignificativos, a juventude de nossos dias
revoluteia pelas praças públicas, à procura de algo que lhe sacie a sede e a
fome de verdade e de substância. Suas mais generosas energias, desperdiçam-nas
em passeatas reivindicatórias de ninharias, de nugas anódinas. Armando Moraes
Delmanto, desde 1963, fundando o “Tribuna do Estudante”, em Botucatu,
vislumbrava a necessidade de uma orientação sadia, no sentido de
democraticamente satisfatória, para os jovens de sua geração, e, desde essa
oportunidade, não esmoreceu. Pelo contrário, ano a ano vem desenvolvendo suas
atividades no sentido de procurar a solução dos problemas da juventude, sem o
que não haveria base para a estruturação de um pensamento...”
E no prefácio,
escrito pelo jornalista Paulo Zingg, Presidente da API - Associação Paulista de
Imprensa, o retrato da mensagem jovem do livro:
“Neste livro, coletânea de
artigos escritos em jornais, Armando Moraes Delmanto apresenta o seu depoimento
de jovem sobre a juventude. Autêntico, vivido, real, sincero e brasileiro. Não
é um alienado, adotando teorias que não encontram guarida nos seus países de
origem, nem aceitando valores estranhos para a solução de nossos problemas.
Porta-voz de uma geração, homem do interior com vivência política,
universitário, Delmanto é, acima de tudo, um revolucionário capaz de mudar de
atitude em face dos problemas, como diria Alberto Tôrres, para equacionar os
desafios nacionais nas grandes linhas da modernização, da revolução tecnológica
e da indispensável democratização da sociedade. E de apontar à juventude os
grandes rumos, de desfraldar as grandes bandeiras e de rasgar os grandes
horizontes...”
“A JUVENTUDE: PARTICIPAÇÃO OU OMISSÃO” – edição de 1970:
"A Juventude: participação ou omissão”.
"Querido Armando — Obrigado.
Parabéns — Parece um sonho. Mas é uma realidade. O menino de ontem, o jovem de
hoje, o homem de amanhã! Parabéns! Continue. Gratíssimo. O Senhor o ilumine e
lhe dê coragem sempre. Seu velho amigo arcebispo. Frei Henrique Golland
Trindade. Btu. 29/09/70”.
Dom Frei Henrique Golland Trindade - Arcebispo Metropolitano de Botucatu
"Prezado Armando. Ao meu ex-aluno e hoje amigo agradeço as provas
de consideração e respeito que tem me dado enviando-me regularmente o
"Vanguarda" e agora o seu livro "A Juventude: participação ou omissão".
Como professora sinto-me plenamente realizada diante do que você está fazendo
pelos jovens, pelo Brasil e pela humanidade. Embora tenha contribuído com multo
pouco para sua formação, um ano somente, muito me envaideço de tê-lo na conta
de meus ex-alunos Que este entusiasmo jovem e sadio contagie os bons e os leve
a grandes empreendimentos para o bem da humanidade, grandeza de nossa Pátria e
orgulho de nós, os velhos, que participamos dos seus ideais. Com toda
admiração, os meus agradecimentos. Profa.Jair Conti. Btu. 21/06/70".
Profa.Jair Conti
A CAMINHO DA CAPITAL
O ano de 1965 marca o início de minha caminhada na política paulista, com minha ida para a capital. A militância, em 1966, já na ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA, com o lançamento do jornal “A Realidade”. Era o início. Ao depois, a FACULDADE DE DIREITO DO LARGO DE SÃO FRANCISCO (USP)...
A LIÇÃO DE CASA
É exatamente isso. Hoje, essa é a sensação que tenho. A lição de casa foi feita. Fiz a parte que acreditava ser a minha obrigação cívica.
Sim, o Brasil tem solução. Deixando de lado o comodismo que anestesia e enfraquece os mais positivos sonhos de cidadania, é preciso fazer a sua parte, é preciso que façamos a nossa parte.
É isso o que tenho procurado fazer durante toda a minha vida. Confesso que sem o desempenho contínuo que a cobrança paterna me teria feito... Mas tenho procurado fazê-lo. Este artigo faz parte desse esforço.
Em 1966, portanto há mais de 50 anos, é o roteiro de minha crença política que tem marcado minha caminhada nesta vida. Claro que há tanto tempo por vir e ainda cursando a universidade, o roteiro ainda não estava completo em sua indispensável pesquisa e estudo necessários. Mas é, em sua essência, o mesmo. Naquele ano, militante na Sociologia e Política, mantinha contatos políticos com Carlos Lacerda, participei do lançamento do livro “Crítica & Autocrítica”, de Carlos Lacerda, já então na dessidência revolucionária.
Tarde de Autógrafos do livro "Crítica & Autocrítica", de Carlos Lacerda, em 1966
Já cursando as faculdades de Sociologia & Política e de Direito (USP), conheci e fiquei amigo do Arruda Camargo, respeitado jornalista que fazia excelentes editoriais para os melhores jornais paulistas.
Arruda Camargo foi quem abriu as primeiras portas para mim: eu tinha coluna diária no “DCI-Diário do Comércio & Industria”, além de colunas nos semanários “Shopping News” e “City News”, da capital paulista. Dessa atuação jornalística resultou o livro "A Juventude: Participação ou Omissão", em 1970.
Com Arruda Camargo tive uma experiência que foi marcante. Ainda calouro da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (USP), fui com ele a uma reunião na casa do poeta Paulo Bomfim, quando fui apresentado por ele à “verdadeira instituição cultural” que era Aureliano Leite e para a “lenda viva”, o “Tribuno da Revolução Constitucionalista”, Ibrahim Nobre. Dá para imaginar o que isso significou para um jovem estudante “botucudo” que chegava à capital cheio de sonhos e encontrava, de uma só vez, os referenciais maiores da alma paulista?!?
Essa atuação nos jornais amenizou a frustração de não ter podido trabalhar no “Estadão”: no ano de 1967, já havia sido bem sucedido em entrevista para começar como revisor no jornal, através de seu então redator-chefe, jornalista Flávio Galvão, quando recebi pedido irrecusável de meu pai para fazer um trabalho político junto ao novo governador. MUDANÇA RADICAL no rumo de meus projetos...
MUDANÇA RADICAL
Essa mudança em meus planos e objetivos políticos, de forma radical, passando de militante contestador para ser o mais jovem membro da equipe do 1º governador eleito pela Assembléia Legislativa, Roberto Costa de Abreu Sodré.
Entre os oficiais militares, da esquerda para a direita: Chefe Manolo, Laudo Brancato, Hélio Mota Filho, Marco Antonio Castelo Branco, Armando Moraes Delmanto e Roberto Vieira Wolf.
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No ano de 1970, eu lançava, pela Edijor, o meu primeiro livro “A Juventude: participação ou omissão”. Com 118 páginas, o livro trazia os principais artigos publicados em minha coluna diária “A Juventude”, no prestigioso jornal da Capital, “Diário Comércio & Indústria”. Durante o ano de 1969, vivi essa experiência jornalística de escrever diariamente temas do dia a dia, reivindicações dos jovens, busca de espaço político, análise dos grandes acontecimentos políticos do mundo, etc.
Ao publicar os principais artigos escritos, sempre se busca os temas referenciais, ou seja, busca-se colocar a atividade jornalística como uma formadora de opiniões, uma delineadora de rumos, uma crítica construtiva a favor do aperfeiçoamento da cidadania...
Com o livro “A Juventude: participação ou omissão”, foi assim. Nos dizeres escritos na contra-capa, todo o perfil do livro:
“A juventude, hoje e urgentemente, tem que compenetrar-se de que é a equação e a solução de toda uma problemática. Somente a juventude pode, sem o niilismo da esquerda e a inércia da direita, realizar a missão de soerguimento moral e estrutural da Nação Brasileira, até agora preterido pela ausência e inconsequência da própria juventude...”AD. Na apresentação do livro, o Prof. Francisco Carlos Sodero, professor de português do Colégio Dante Alighieri, escrevia:
“O jovem Armando Moraes Delmanto reúne, em livro, uma série de artigos publicados na imprensa paulistana, através do “Diário Comércio & Indústria”. Todos eles pertencem à sequência “A Juventude”, o que já de início revela suas tendências, suas preocupações, sua problemática. Desarvorada, em grande parte, no mundo todo; guiada por falsos líderes, repetidores de “slogans” insignificativos, a juventude de nossos dias revoluteia pelas praças públicas, à procura de algo que lhe sacie a sede e a fome de verdade e de substância. Suas mais generosas energias, desperdiçam-nas em passeatas reivindicatórias de ninharias, de nugas anódinas. Armando Moraes Delmanto, desde 1963, fundando o “Tribuna do Estudante”, em Botucatu, vislumbrava a necessidade de uma orientação sadia, no sentido de democraticamente satisfatória, para os jovens de sua geração, e, desde essa oportunidade, não esmoreceu. Pelo contrário, ano a ano vem desenvolvendo suas atividades no sentido de procurar a solução dos problemas da juventude, sem o que não haveria base para a estruturação de um pensamento...”
Ao reler as palavras do saudoso Mestre e Amigo, sinto que tudo valeu a pena...
No prefácio escrito pelo jornalista Paulo Zingg, Presidente da API - Associação Paulista de Imprensa, essa sensação boa fica reforçada:
“Neste livro, coletânea de artigos escritos em jornais, Armando Moraes Delmanto apresenta o seu depoimento de jovem sobre a juventude. Autêntico, vivido, real, sincero e brasileiro. Não é um alienado, adotando teorias que não encontram guarida nos seus países de origem, nem aceitando valores estranhos para a solução de nossos problemas. Porta-voz de uma geração, homem do interior com vivência política, universitário, Delmanto é, acima de tudo, um revolucionário capaz de mudar de atitude em face dos problemas, como diria Alberto Tôrres, para equacionar os desafios nacionais nas grandes linhas da modernização, da revolução tecnológica e da indispensável democratização da sociedade. E de apontar à juventude os grandes rumos, de desfraldar as grandes bandeiras e de rasgar os grandes horizontes...”
No apoiamento dessa idéia, a palavra do consagrado e saudoso jornalista Arruda Camargo é digna de registro:
“...Há mais ou menos um mês tivemos a grata surpresa de ver seu primeiro livro: A juventude: participação ou omissão. A clareza com que expõe suas idéias e a objetividade dos assuntos fez com que o livro tivesse enorme aceitação, inclusive sendo adotado pelos professores de Educação Moral e Cívica como indispensável para a complementação das aulas de civismo.
Se não bastasse isso tudo, o Delmanto, não conformado com o que está conseguindo ( a verdade é que o Brasil necessita que a sua juventude seja ousada e impaciente quando está em jogo o destino do Brasil), lançou a idéia da criação da Secretaria da Juventude do Estado de São Paulo. E não ficou na idéia: juntamente com um grupo de colegas universitários fez todo o planejamento da Secretaria da Juventude e é impressionante o grande e patriótico papel que essa Secretaria representará...”
(transcrito dos jornais “Shopping News” e “City News”, de 26/10/1970)
Pois bem, sem querer ser “o pai da criança” mas apenas com a satisfação de que foi trilhado o bom caminho e o que se buscou, aquilo pelo qual se lutou, não foi em vão...
Hoje, praticamente 30 anos depois, foi criada, efetivamente criada a tão sonhada Secretaria da Juventude.
A Assembléia Legislativa de São Paulo aprovou, em 29/09/99, a criação dessa Secretaria.
Com espaço conseguido e já firmado em países como França, Espanha e Portugal, a juventude tem sabido apresentar as suas reivindicações e encontrar o seu caminho. Hoje, com a colaboração das ONG’s, os jovens poderão estruturar a nova Secretaria da melhor maneira possível. Mesmo que em um primeiro momento haja um certo paternalismo no direcionamento da mesma, com o tempo - isso será inevitável! - os jovens saberão assumir, com garra e determinação, a condução desse importante instrumento para o exercício da cidadania.
Há que se registrar a oportuna iniciativa do Governador Mário Covas. É importante que o governante saiba auscultar as vozes da sociedade...
No caderno Zap!, do jornal “O Estado de São Paulo”, de 17/09/99, em reportagem assinada por Patrícia Villalba, com o título de “Jovens de SP terão secretaria só para eles”, ela enfoca toda a espectativa que surgiu em torno dessa boa iniciativa governamental. Destaca em seu texto que “...Idéia e promessa de campanha do Governador Mário Covas, a nova Secretaria deverá promover a articulação entre Estado e sociedade civil para a implementação de políticas públicas de desenvolvimento dos jovens paulistas. No Brasil, só existe experiência semelhante nas cidades de Palmas (TO) e Goiânia (GO), que criaram, cada uma, sua Secretaria Municipal de Juventude.. O projeto inicial do governador é bem enxuto e não esclarece bem quais serão as ações do futuro órgão. Por um lado, isso pode ser positivo porque dá margem a contribuições...”
RESUMINDO: Hoje, não temos conhecimento se essa Secretária ainda existe. Na verdade, teve uma participação nula na vida polític e institucional de São Paulo. É pena...
Nessa releitura de nosso primeiro livro, gostaríamos de enfocar dois temas que foram abordados à época e que, agora, pode-se melhor compreender: a criação da Secretaria da Juventude, no Estado de São Paulo e a Invasão da Checoslovaquia pelos Soviéticos.
Secretaria da Juventude
No artigo “Juventude em Marcha”, de junho/70, trazíamos o posicionamento a favor da criação da Secretaria da Juventude. Era preciso mais espaço para os jovens, era preciso buscar novos caminhos:
“A juventude brasileira, já o dissemos, necessita de grandes objetivos. Necessita e consegue dar, para esses objetivos maiores, uma colaboração de transcendental importância. Em todas as épocas, bandeiras foram levantadas. Mistificações e utopias moveram, motivaram e dominaram, por longos anos, seguidas gerações de jovens intrépidos e idealistas...
“...com a colaboração de amigos universitários, fizemos todo um planejamento com o objetivo de conseguir a criação da Secretaria da Juventude, para o Estado de São Paulo. O estudo é intenso e faz parte, como capítulo, de nosso próximo livro: “A Escalada do Poder”,já no prelo.
A luta para a criação da Secretaria da Juventude não será fácil, pois será a criação de uma Secretaria que irá desacomodar velhos e carcomidos privilégios, será uma Secretaria que despertará e motivará a maioria da população do Estado de São Paulo. Caberá à Secretaria da Juventude, ao lado de uma firme e objetiva orientação da juventude dentro do princípio da brasilidade, promover Maratonas Culturais e Olimpíadas Esportivas nos níveis infantil, juvenil e universitário...”
“E concluíamos o artigo, carregado de esperanças:
“...Acreditamos que esse é o caminho certo para que possamos, realmente, canalizar o potencial da juventude brasileira em seu próprio proveito e em proveito de um país tropical chamado Brasil. Acreditamos que haverá a colaboração de nossas autoridades e que, no máximo até 1971, possamos ter, a todo vapor, funcionando a Secretaria da Juventude do Estado de São Paulo”.
Invasão da Checoslovaquia
Com um tema bem diverso, já a nível internacional, gostaríamos de abordar o artigo escrito em 1969, incluído no livro “A Juventude: participação ou omissão”, com o título “Tirem as Patas Daí” :
“Para meditar-se, o exemplo da juventude heróica, e, já agora, legendária, da Checoslovaquia... Quando um dia, abrirmos as páginas da História, leremos a respeito das virtudes das matronas romanas; dos desprendimento dos espartanos; da audácia dos argonautas portugueses; da intrepidez dos astronautas, conquistadores do céus. Leremos, também, as páginas épicas dos moços checoslovacos, reagindo contra o tacão das botas soviéticas, contra os tanques marcados com a foice e o martelo dos invasores indesejados. Lição para meditar-se.
Curioso vermos alguns jovens, sobretudo estudantes brasileiros, defendendo a ocupação daquele país, pelas tropas soviéticas. Curioso, porque, falando em liberdade dos cidadãos, em autodeterminação dos povos aceitam a tese do Cremlin da soberania limitada: calculem só se alguma superpotência limitasse a determinação de nosso País. A gritaria que sairia pelas ruas de nossa cidade, liderada pelos adeptos de Moscou, contra a ingerência em nossa soberania. No entanto, os soviéticos podem manter tanques nas ruas das cidades Checoslovacas!Bendita a juventude de Praga, de Brno, de toda a Boemia e da Moravia, que não se intimidou com os canhões dos tanques vermelhos. Deram uma lição de coragem, de ombridade, de intimorata intrepidez a todos aqueles que vendilhões da própria liberdade, aceitando a foice e o martelo estrangeiros, querem, igualmente, convencer a juventude sadia, estudiosa, laboriosa, de nossa Pátria, a lutar pela submissão às ordens emanadas de terras estrangeiras.
Triste engano d’alma ledo e cego! A mocidade que estuda, que trabalha sabe, desde há muito, qual o valor da falsidade, da deslavada mentira das doutrinas marxistas. Sabe que ela só se impõe pelo poder dos tanques.
Ainda está na memória de todos a chacina soviética da mocidade da Hungria, e dos operários da Alemanha Oriental, em 1956 e 1957. Agora, o exemplo da Checoslovaquia, por ser mais recente, não é menos significativo.
Tirem as patas daí. Libertem esse país que deu ao mundo o exemplo da resistência a todas as formas de opressão e não se conformará, jamais, com a prepotência insaciável dos que falam em combater o imperialismo, e passeiam seus tanques de guerra pelas mesmas calçadas por onde perambulou a coragem indômita de João Huss e a genealidade universal de Kafka.
Nós nos recordaremos da mocidade de Praga e das cidades e das aldeias checoslovacas. Como um exemplo para aqueles que sabem dar valor aos valores tradicionais de sua Pátria, de sua gente, de sua terra.
As patas e os tacões indesejáveis e indesejados continuarão a conspurcar o solo livre: O Checoslovaco. Sim, livre, porque ninguém mata a liberdade. Nem tanques, nem canhões, nem patas de cavalos. E um dia a mocidade desse país, espelho para o mundo, gritará com toda a força de seus pulmões: svoboda, svoboda (liberdade, liberdade).” A conceituada revista Veja, de 26/08/98, sob o título “Crime tardio”, apresenta interessante matéria referente a atuação da mocidade de Praga e de seu líder Alexender Dubcek :
“A hipótese encerra uma amarga ironia: Alexander Dubcek, o líder da Primavera de Praga, sobreviveu ao totalitarismo soviético e à ocupação da Checoslováquia em 1968, mas foi assassinado por agentes secretos russos em 1992, quando o comunismo já havia sido varrido da Europa. Um livro recém-editado em Praga, Tragédia no Quilômetro 88, do advogado Liboslav Leksa, afirma que o acidente de carro que matou Dubcek foi planejado para impedir seu depoimento sobre os crimes da KGB, marcado para dias depois em Moscou. Entre os indícios estão o sumiço do veículo e do dossiê contra a polícia secreta soviética que Dubcek levava numa maleta. O lançamento do livro coincidiu com os trinta anos, quinta-feira passada, da invasão de Praga por 4.600 tanques e 165.000 soldadosdo Pacto de Varsóvia, a defunta aliança militar do bloco soviético.
Era o fim da Primavera de Praga, o período de oito meses em que Dubcek, então secretário-geral do Partido Comunista da Checoslováquia, levou à frente o projeto de um “socialismo com face humana”. Em clima de entusiasmo e de efervescência cultural, a população experimentou liberdade de imprensa e de expressão, um ensaio de liberalização econômica e abertura democrática, apesar da persistência do regime de partido único. Tal era o apoio popular à abertura que os militares soviéticos tinham ordens de evitar ao máximo reagir às provocações dos manifestantes. Mesmo assim, uma centena de pessoas morreu em choques com os invasores.
Preso e levado para a União Soviética, Dubcek foi condenado ao ostracismo. Viveu como guarda florestal até a Revolução de Veludo, de 1989, quando os comunistas foram pacificamente apeados do poder. Ao lado de Vaclav Havel, hoje presidente da República Checa (a Eslováquia se tornou um país independente), Dubcek voltou à ativa e se elegeu presidente do Parlamento. A sobrevida política foi abreviada pelo acidente. Deixou o legado de uma experiência ancorada no mesmo anseio que derrubou o Muro de Berlim.”
30 anos depois...
O nosso artigo, escrito em 1969 estava certo... O chamado jornalismo informativo e formativo. A busca constante da efetiva prestação de serviços à comunidade. Às vezes, tem-se êxito. Outras vezes, não...
O importante é o trabalho sério na busca da construção da cidadania. E nessa busca, o papel da juventude continua de magna importância.
Valeu a experiência de batalhar por mais espaço para a juventude. Valeu cada artigo escrito. Valeu o livro primeiro...
Registro Histórico - O livro “A Juventude: participação ou omissão”, trouxe uma novidade para a época: a utilização da Bandeira Nacional, estilizada, para a divulgação publicitária ligada a temas cívicos. A autora da capa do livro, a artista plástica Ida Gardini, inovava, em 1970, com uma mensagem alegre, jovem e carregada de brasilidade...
(revista Peabiru, janeiro/fevereiro de 2000, nº 18)
Registro Histórico (2010):
SVOBODA! SVOBODA!
"As patas e os tacões indesejáveis e indesejados continuarão a conspurcar o solo livre: o checoslovaco. Sim, livre, porque ninguém mata a liberdade. Nem tanques, nem canhões, nem patas de cavalos. E um dia a mocidade desse país, espelho para o mundo, gritará com toda a força de seus pulmões: svoboda, svoboda! (liberdade, liberdade!)."
Em 2010, nas comemorações dos 40 anos da publicação do artigo "Tirem as Patas Daí", as emoções se renovaram como se eu estivesse escrevendo o artigo naquele momento, com todas as informações chegando e a realidade da política mundial escancarada para o mundo perplexo. Perplexo e pusilânime! As mais expressivas lideranças intelectuais num mutismo agressivo. Pouquíssimas condenações daquele massacre bárbaro.
Iniciante no jornalismo e buscando a participação cidadã que nos leva a um posicionamento concreto, analisamos a covarde invasão da Checoslováquia pela então União Soviética, arrasando a chamada "Primavera de Praga", liderada por Alexander Dubcek. Foi um massacre! Escrevemos com o coração, municiados pelas notícias da imprensa e pela história daquele povo que já sofrera tantas dominações, tantas invasões e, sempre, sempre mantivera a altivez e a crença na liberdade.
No artigo "Tirem as Patas Daí", dizíamos da "chacina soviética da mocidade da Hungria, e dos operários da Alemanha Ocidental, em 1956 e 1957. Agora, o exemplo da Checoslováquia, por ser mais recente, não é menos significativo. Tirem as patas daí. Libertem esse país que deu ao mundo o exemplo da resistência a todas as formas de opressão e não se conformará, jamais, com a prepotência insaciável dos que falam em combater o imperialismo, e passeiam seus tanques de guerra pelas mesmas calçadas por onde perambulou a coragem indômita de João Huss e a genealidade universal de Kafka."
Na republicação do artigo com os comentários de quem está há 40 anos dos fatos narrados, a curiosidade ficou aguçada...E agora!?! Qual seria a realidade da então Checoslováquia!?! Estariam cicatrizadas as feridas? Aquele povo já estaria no comando de seu próprio destino?
É interessante esse tema. Será que o comunismo ainda é sentido ou lembrado?
Hoje, a antiga Checoslováquia é a República Checa, desde 1993, com a Revolução de Veludo, liderada por Václav Havel e com o apoio do líder histórico Alexander Dubcek. Com o desmoronamento do império comunista da União Soviética, em 1989, os checos e os eslovacos chegaram ao consenso e realizaram a separação institucional, pacífica, criando as repúblicas Checa e a Eslováquia, em 1993 (foi a segunda separação).
Não é recente a busca de caminho próprio por esses povos eslavos. Sob os Impérios Austríaco e Austro-Húngaro (1804/1918), os eslavos e outras nações ficaram subjugados por um milênio! E vou repetir: por mil anos!!! Somente com a 1ª. Grande Guerra Mundial(1914/18), os eslavos conseguiram a libertação. Temendo outras dominações, os checos e os eslovacos, optaram pela união de forças e criaram a Checoslováquia. Isso durou até 1939, início da 2ª. Grande Guerra Mundial, quando a Eslováquia, cansada da liderança Checa, aderiu à Alemanha de Hitler, em 1939, permanecendo como república autônoma até 1945,foi a primeira separação das nações.
Com a vitória dos aliados, voltou a união com a mesma denominação: Checoslováquia. No entanto, em 1949, os comunistas tomaram o poder, permanecendo por 40 anos no domínio daquelas nações até o ano de 1989, quando ruiu o império soviético...Ufa!!!
E qual seria, agora, 17 anos após, a realidade da República Checa (Ceska Republika)?
Seria ainda lembrado o comunismo e suas atrocidades, saques e exploração daquele bravo e aguerrido povo?
Fui ver in loco a realidade checa e saber da presença de seus heróis na memória da população. A jornalista catalã, Natalia Rodrigues, no artigo "Ao pé da letra do espírito de Praga", traçou um retrato da realidade e da pujança atual de Praga: "... o escritor checo (Ivan Klíma), nascido em Praga em 1931, observa um grupo de turistas contemplando, embevecido, o bater das horas do relógio astronômico do centro da sua amada cidade. É quase impossível ouvir uma palavra em checo na Praça da cidade velha; italianos, espanhóis, brasileiros, chineses, alemães, japoneses e russos se confundem, todos eles com sua irrenunciável câmara fotográfica através da qual pretendem imortalizar a cidade de Franz Kafka."
Isso é verdade. Hoje, Praga é uma das mais visitadas cidades do Leste Europeu. É verdade que a praça da cidade velha, a chamada praça do relógio astronômico, está sempre tomada pelos turistas admirados pela força daquele povo checo que soube manter por tanto tempo e durante tantas opressões o seu orgulho de nação.
Mas é também verdade que essa praça tem nome...É a Praça John Huss. Ele nasceu na Hussinecz, na Boêmia(1369/1415), daí o seu nome Huss. Filho de camponeses, seguiu a vida religiosa por influência de sua mãe. Chegou a dirigir a importante Capela de Belém, em Praga. Era um pregador brilhante e idealista. Seus sermões pela reforma da Igreja Católica ficaram na história.
Foi corajoso e pregou contra os abusos do alto clérigo e o acintoso fausto de uma Igreja Católica que cada vez mais se afastava do ensinamentos de Cristo. No ano de 1415, na cidade de Constança, foi participar do Concílio da Igreja Católica, para o qual tivera todas as garantias de segurança. Lá, foi preso. Lá, exigiram que renegasse todas as suas crenças e suas pregações e sermões a favor das reformas na Igreja. Recusando, foi queimado vivo em praça pública, entoando hino de louvor a Cristo...
Apesar de morto, deixou um legado para a causa da Reforma Protestante que, décadas depois, viria sob a liderança de Martinho Lutero.
Um período de guerras civis começou na Boêmia depois da morte desse reformador religioso. Seus seguidores, chamados hussitas,lutaram contra os católicos de 1419 até 1436, quando os dois lados chegaram a um acordo.
Os checos homenagearam John Huss, dando seu nome para a principal praça da cidade.
Da mesma forma, souberam homenagear Franz Kafka. Esse mestre inconfundível da ficção universal que foi um dos maiores escritores da língua alemã (escrevia em alemão) do século XX. Era filho de judeus. A família judia de classe média, morava em Praga onde nasceu(1883/1924), à época sob o domínio do Império Austro-Húngaro.
Na literatura ocidental, Kafka conseguiu lugar de destaque. Suas principais obras A Metamorfose, O Processo, O Castelo e a Colônia Penal retratam os dramas individuais, marcados por um estilo desapegado, imparcial, detalhista, abrangendo os temas da alienação e perseguição.
Formou-se advogado e chegou a exercer a profissão no ramo securitário. Morreu solteiro, mas viveu grandes e incompreendidos amores. Mesmo tendo publicado algumas obras, morreu quase desconhecido, tuberculoso, em 1924.
Hoje a obra sobre Franz Kafka é já de maior dimensão do que o trabalho próprio do autor, indo de estudos literários sérios até as análises psicológicas sobre Kafka... Suas principais obras dão o perfil do que se conhece por "literatura moderna", definindo o século XX como o século kafkaniano.
Os checos souberam homenagear também Franz Kafka. Deram seu nome a uma importante praça, no antigo bairro judeu de Praga e, nesse mesmo bairro, erigiram uma estátua modernista de Kafka. E, às margens do rio Moldava, está localizado o Kafka Museum, perto da famosa Ponte Carlos.
Com certeza os checos não se esqueceram de seus dominadores e nem das atrocidades dos comunistas, mas com absoluta certeza, cultuam com orgulho a sua história de um povo livre (Sim, livre! Porque ninguém mata a liberdade. Nem tanques, nem canhões, nem patas de cavalos. E um dia a mocidade desse país, espelho para o mundo, gritará com toda a força de seus pulmões: svoboda, svoboda (liberdade, liberdade)” e de seus heróis, especialmente John Huss e Franz Kafka. (AMD)
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