A importância da imigração italiana em Botucatu é
conhecida. No entanto, vale destacar a atuação desses valorosos pioneiros
imigrantes na Maçonaria. Primeiramente, os
peninsulares se reuniram na Loja Guia do Futuro e, mais tarde e com o crescimento deles, partiram para
a sua própria loja maçônica : Loja Silvanno
Lemmi.
Durante
anos tiveram destaque na comunidade botucatuense, principalmente nos primeiros
anos deste nosso século. Na Loja Guia Regeneradora encontra-se primorosa bandeira estandarte da loja
italiana, assim como medalhas e ritos maçônicos (a loja italiana era
subordinada diretamente a Roma, tendo seu rito todo em italiano e dependendo de
correspondência epistolar para o recebimento de orientações, decisões e normas
diretamente da Itália). Tudo isso dificultava o normal desempenho da loja
italiana.
No primeiro decênio deste século, através de iniciativa
particular de seu Venerável Mestre Pedro Delmanto, a loja maçônica
italiana conseguiu sua sede, especialmente construída para essa finalidade. No
frontespício da Loja, ainda hoje pode-se notar a presença de
simbolismo gráfico a representar a presença maçônica. Hoje, no local,
funciona a loja comercial “A Composição”, esquina da Rua Curuzu com
Rua Monsenhor Ferrari.
Releitura da Arquitetura
Maçônica - Com o objetivo de resgatar a presença da Loja
Maçônica Italiana, a Revista Peabiru procurou ajuda
junto ao artista plástico e intelectual botucatuense, José Sebastião
Pires Mendes, para que se pudesse “visualizar” em sua originalidade.
o prédio da Loja Italiana,
construído especialmente para a finalidade de, lá, cultuar-se a
maçonaria. Com maestria, temos a reconstituição do Templo
Maçônico, com toda sua originalidade. O destaque maior, fica por
conta dos símbolos artisticamente gravados em seu
frontespício.
Nesses símbolos vê-se, com destaque,
a suástica. No entanto, destaque-se que o prédio data de
quase duas décadas antes do advento do nazismo! Da
mesma forma, destaque-se que a suástica gravada no prédio está
em sua forma original, ou seja, reta. Anos
depois, ao ser apropriada e elevada a símbolo nazista, a suástica foi
estratégicamente inclinada para, simbolicamente, representar movimento maior e
mais agressivo...Hoje, é como a suástica é mundialmente
conhecida.
Para conhecimento de todos, a Revista Peabiru solicitou
do artista a reconstituição do estilo original do prédio do Templo
Maçônico, bem como um ensinamento didático referente à suástica e
todo o simbolismo que representa:
Em um mundo tão conturbado como o que
vivemos, torna-se imperioso procurar parâmetros para que não nos percamos nesse
tão profundo emaranhado de acontecimentos.
Dir-se-ia que se faz mister criar um novo cartesianismo filosófico, do qual
possamos extrair coordenadas eficientes que nos ajudem a navegar por estes
mares, sem correr o constante risco de ver vagar sem rumo nossa tão solapada
nave.
Surgem então propostas oportunistas, sugestões de boa fé ou aventuras
quixotescas do pensamento que apelam para as mil facetas de um ecletismo tão
atuante quanto antigo. Refiro-me aos movimentos que surgem e ressurgem,
oriundos das várias crenças e religiões, dos diversos ramos do esoterismo ou
das próprias religiões convencionais.
A busca de uma razão de ser nunca foi tão urgente. Nesse contexto, não
seria em vão considerarmos alguns aspectos dessa busca, sem nos enveredarmos
pelos labirintos da metafísica ou nos domínios do dogma.
Um facho de luz nos ilumina gradativamente as trevas: o símbolo.
Levando-se em conta que todas as relações sociais são feitas através dos
símbolos, é notório que eles constituem uma das camadas mais importantes da
realidade social. Gurvitch diz que eles são ao mesmo
tempo, produtos e produtores dessa realidade. São produtos, porque foram
criados pelos homens para se comunicarem entre si, e são produtores porque
através deles os homens se comunicam e se realizam. Apresentam dois
aspectos, isto é, de conteúdo e de instrumento. O conteúdo é sempre uma
mensagem convencional, como por exemplo a estátua de Joana D’Arc,
cujo conteúdo é a lembrança da resistência francesa contra os invasores
estrangeiros. Como instrumento, o símbolo estabelece um contacto íntimo
entre o emissor e o receptor.
Tomando o mesmo exemplo, vemos que a estátua transmite às gerações que se
sucedem iguais sentimentos de patriotismo e de coragem, inerentes ao povo
francês.
Através dos tempos os símbolos sempre trouxeram à baila um acontecimento esquecido, reavivaram sentimentos, e estabeleceram pontes entre uma civilização e outra, como a retomar um diálogo interrompido. Pela interpretação dos símbolos da escrita cuneiforme, Rawlison estabeleceu bases para a elucidação dos enigmas das civilizações mesopotâmicas. Usando a analogia, Champolion reuniu os quebra-cabeças dos caracteres gregos e egípcios e contou-nos, pela decifração da pedra de Roseta, a história perdida do Egito.
Os símbolos sempre foram uma liguagem universal natural e formam, a despeito de sua convencionalidade, o mais primitivo sistema de comunicação. As idéias milenares sobre a origem do Universo estão cheias de pontos comuns exteriorizados nos diversos símbolos. A suástica, por exemplo, presente nas mais diversas culturas da antiguidade, como a indiana, a chinesa, a marajoara e a tolteca, representa em sua origem o movimento perpétuo das coisas, que cria e destroe. Um segmento de reta horizontal simboliza o repouso, a quietude, a ausência, a estática e a tese. Um traço vertical que o corta, faz nascer a cruz, símbolo de criação, da expansão do Universo, da pluralidade, do positivo e do fértil. É o símbolo da vida, que ao se deslocar ao redor de seu ponto central, significa multiplicidade. Acrescido de segmentos em suas extremidades, indica a direção desse giro, para a direita ou para a esquerda. Por isso a suástica se chama também cruz gamada, isto é, formada pela letra gama do alfabeto grego. Deve-se atentar para a direção do movimento: a mão direita sempre foi considerada o símbolo do trabalho, e por isso a direção para a direita lembra operosidade, multiplicidade, antítese e dinâmica. Não foi com outra intenção que Hitler escolheu esse símbolo para seu domínio, significando assim uma reação em cadeia de sua política totalitária. Se invertermos as hastes para a esquerda, temos o movimento em sentido contrário, rumo ao caos. O famigerado emblema nazista acabou sendo identificado com a destruição e o mal, porque traiu o verdadeiro sentido do símbolo, que é altamente positivo.
Com a mesma profunda significação temos o círculo, símbolo do infinito, encontrado na tradição antiga como uma serpente que morde a sua cauda. É a continuidade das coisas, como dizia Lavoisier, em que nada se cria, nada se perde, mas tudo se transforma. É o moto-contínuo, animado pelas forças invisíveis da Natureza. E na analogia dos contrários, que estabelece a tese, a antítese e a síntese, encontramos a harmonia e o equilíbrio. Do centro à periferia partem raios que se movem num vórtice dinâmico, como na teoria da expansão do Universo, como se fosse um grande coração pulsando de amor.
E chegamos ao máximo significado da cruz de Cristo, sobre cujos madeiros superpostos se imola o Filho de Deus, para a vida dos mortais, tornando-os imortais. É a rosa mística do amor que desabrocha do sofrimento. O lótus que emerge do lodo, a paz que vence a guerra. É o grande Hércules que perpassa o misterioso portal entre as colunas de Gilbratar. É o vencedor que culmina na exaltação suprema do trabalho e do sacrifício, a apoteose de uma humanidade a caminho de Deus.
E quedamo-nos na certeza de que, sejam quais forem as adversidades deste novo tempo, se tivermos fé, não seremos aniquilados. E a realidade social que vivemos poderá ser outra, se nos comunicarmos sob a égide desse símbolo. José Sebastião Pires Mendes.”
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