setembro 10, 2011

Rui Barbosa: o Estadista da República !

No momento em que o país passa por tão difícil situação política, com os valores republicanos sendo postos de lado e o exercício da política sendo praticado sem o idealismo e a retidão tão necessários, é oportuno elevar, da FRASE DA SEMANA, para texto deste post, as palavras definitivas de Rui Barbosa sobre a Pátria, a Política e os Políticos.



RUI BARBOSA: O JURISTA, O POLÍTICO, O JORNALISTA, O DIPLOMATA/ Histórico do Estadista da República!/ leia aqui

A 1ª CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA BRASILEIRA/ autoria de RUI BARBOSA/ Registro Histórico/ leia aqui

Visitei, pela primeira vez, a CASA DE RUI BARBOSA, no Rio de Janeiro, em 1965, com Décio, meu irmão mais velho. Foi um impacto poderoso que definiria o meu caminhar na cidadania para sempre. Voltei mais vezes. Levei meus filhos. E espero voltar muito em breve. Abaixo, o texto escolhido para a frase da semana “capturado” pela colaboradora Regina Claudia Brandão dos Santos:



Frase da Semana

A frase da semana, desta vez, são três parágrafos que compõem um texto de Rui Barbosa, e que foi escolhido por ser tão tocante, que poderia não haver mais grande coisa a dizer depois dele.

Credo político

Meu país conhece o meu credo político, porque o meu credo político está na minha vida inteira.

Creio na liberdade onipotente, criadora das nações robustas; creio na lei, emanação dela, o seu órgão capital, a primeira das suas necessidades; creio que, neste regímen, não há poderes soberanos, e soberano é só o direito, interpretado pelos tribunais; creio que a própria soberania popular necessita de limites, e que esses limites vêm a ser as suas Constituições, por ela mesma criadas, nas suas horas de inspiração jurídica, em garantia contra os seus impulsos de paixão desordenada; creio que a República decai, porque se deixou estragar confiando-se ao regímen da força; creio que a Federação perecerá, se continuar a não saber acatar e elevar a justiça; porque da justiça nasce a confiança, da confiança a tranqüilidade, da tranqüilidade o trabalho, do trabalho a produção, da produção o crédito, do crédito a opulência, da opulência a respeitabilidade, a duração, o vigor; creio no governo do povo pelo povo; creio, porém, que o governo do povo pelo povo tem a base da sua legitimidade na cultura da inteligência nacional pelo desenvolvimento nacional do ensino, para o qual as maiores liberalidades do tesouro constituíram sempre o mais reprodutivo emprego da riqueza pública; creio na tribuna sem fúrias e na imprensa sem restrições, porque creio no poder da razão e da verdade; creio na moderação e na tolerância, no progresso e na tradição, no respeito e na disciplina, na impotência fatal dos incompetentes e no valor insuprível das capacidades.

Rejeito as doutrinas de arbítrio; abomino as ditaduras de todo o gênero, militares ou científicas, coroadas ou populares; detesto os estados de sítio, as suspensões de garantias, as razões de Estado, as leis de salvação pública; odeio as combinações hipócritas do absolutismo dissimulado sob as formas democráticas e republicanas; oponho-me aos governos de seita, aos governos de facção, aos governos de ignorância; e, quando esta se traduz pela abolição geral das grandes instituições docentes, isto é, pela hostilidade radical à inteligência do País nos focos mais altos da sua cultura, a estúpida selvageria dessa fórmula administrativa impressiona-me como o bramir de um oceano de barbaria ameaçando as fronteiras de nossa nacionalidade.” -


Rui Barbosa/Resposta a César Zama. Discurso no Senado Federal em 13 de outubro de 1896. Obras Completas de Rui Barbosa, Vol. XXIII, 1896, tomo V, p. 37/38 -

Fonte: Fundação Casa de Rui Barbosa - www.casaruibarbosa.gov.br

7 comentários:

Delmanto disse...

A figura maior de Rui Barbosa não encontrou, até os nossos dias, alguém que lhe ombreasse. Sua vida deveria fazer parte do ensino da CIDADANIA! Fez a famosa CAMPANHA CIVILISTA em uma época em que o militarismo sufocava a Nação. Autor da 1ª. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA, em 1891, inspirou-se no Império da Lei como o modelo ideal para uma sociedade onde imperasse a liberdade, a igualdade e a fraternidade. O Governo da Lei. A impessoalidade da Lei acima dos homens.
Ficou famoso como o ÁGUIA DE HAIA, por sua brilhante atuação, representando o Brasil, na 2ª.Conferência Internacional de Paz, realizada em Haia, Holanda. Discursando em inglês e em francês, Rui mostrou às grandes potências presentes o valor de seu país e a necessidade das Organizações Internacionais respeitarem as nações mais jovens e ainda em formação. Foi o grande destaque da reunião, saudado como vibrante revelação pelos jornais ingleses e franceses.
Formado pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (USP), Rui Barbosa deixaria as mais belas páginas sobre cidadania e o Estado de Direito em sua famosa “ORAÇÃO AOS MOÇOS (1921), que preparou como Paraninfo dos formandos. Ficou histórica e virou referência nacional. Tão atual que , em 2010, fizemos de uma de suas frases o referencial para o tema tratado no livro “História da Vitória Política Paulista:1934”, que relata o idealismo dos combatentes de 1932 e a vitória paulista nas Constituintes de 1933 (Nacional) e 1934 (Estaduais):
“Eia, senhores! Mocidade viril!
Inteligência brasileira!
Nobre Nação explorada!
Brasil de ontem e de amanhã!
Daí-nos o de hoje, que nos falta...”

Nestes 40 e tantos anos, procuramos divulgá-lo nos jornais e revistas que editamos e em nosso livro, acima citado.
É um esforço. Mas é mais: é um dever!
Principalmente quando vemos tantos malfeitos a denegrirem a cidadania e a envergonhar a Nação Brasileira!
Salve, Rui Barbosa!!!

Anônimo disse...

Delmanto, na minha opinião, Rui Barbosa é o maior dos brasileiros. É o retrato do Brasil atual, e foi escrita há tanto tempo:
“De tanto ver triunfar as nulidades;
De tanto ver crescer as injustiças;
De Tanto ver juntarem-se os poderes
Nas mãos dos maus;
De tanto ver o caráter diminuir-se
Da virtude;
O homem chega a rir-se da honra e
Envergonhar-se de ser honesto.”
Rui estava escrevendo para aquele tempo e para todos os tempos em que existir homens capazes de humilhar a Pátria, corromper os costumes e desprezar as leis.
É isso. Que falta falar?!?
(carla.bueno2011@bol.com.br)

Delmanto disse...

Carlos Lacerda tinha sempre a exata proporção dos riscos que corria por seus atos políticos. A sua carreira era cheia de obstáculos e, pelo seu estilo, conseguia aflorar a ira de seus adversários. Quando, em 1965, foi lançado candidato à Presidente da República, pela UDN, nas eleições que nunca foram realizadas (em 1966) (o Regime Militar prorrogou o mandato de Castelo Branco), Lacerda, em seu discurso, começou citando um trecho de um artigo escrito na imprensa e que era, aparentemente, a ele destinado:
“Por que haveríamos de aplaudir, por que deveríamos aceitar esse candidato à Presidência da República? Em que ele já revelou alguma vez a sua capacidade de administração e homem de governo? Toda a sua obra política aí está: é a obra de um agitador, de um revolucionário, de um demolidor, não em luta para a vitória de uma dessas grandes e nobres aspirações que iluminam a humanidade (....) Mas de um agitador, de um revolucionário, de um demolidor que consome todas as suas energias em disputas estéreis para a satisfação egoísta dos seus sonhos de incomensurável cobiça. Na imprensa, na tribuna, no governo, ele tem passado como um furacão devastador.”
...”Seus discursos são um brado de guerra, um grito de despeito, uma explosão de ódio. Nenhuma de suas produções revela a amenidade das almas boas (....) seus lábios não revessam louvores senão em divinização de sua excelsa pessoa, mas trovejam sempre nefandos impropérios contra todos os homens do seu país. A dignidade da sua raça, o brio de nosso povo, a honra de nossa pátria, tudo ele tem buscado enxovalhar, nos acessos do seu mórbido rancor.”
E Lacerda – orador inigualável! – concluía que “...está súmula do que se tem dito de mim foi escrita quando eu tinha cinco anos de idade...
Em diferentes tons, ora com ares conselheirais, ora com falsetes de ódio incontível, tem reproduzido esses conceitos pelo tempo afora, visando a minha destruição – para impedir a vitória das idéias e dos princípios que defendo e aplico. Mas, essas palavras foram escritas por um político sobre um candidato à Presidência da República ao qual nem de longe me comparo: Ruy Barbosa...
A invocação de tão ilustre precedente resume a minha longa caminhada para chegar até aqui. Foi preciso, após vinte longos anos de oposição, que o povo carioca me desse a oportunidade de governá-lo, para que ninguém mais me pudesse chamar destruidor, embora logo passasse a chamar-me ingrato porque me recuso a confundir amizade com interesse público. Pergunte-se ao povo das favelas se me chama de ingrato!
As Escrituras dizem: a verdade gera ódio. O ódio contra nós foi o preço que tivemos de pagar para servir à verdade. Mas nas mesmas Escrituras também dizem: a verdade nos libertará. Eis aqui a liberdade, que a verdade conquistou...”
Essa palavras, inicialmente partes integrantse de um discurso de um político passam a ser – a nosso ver – verdadeiras lições de civismo, de exercício amadurecido da cidadania.
É REGISTRO HISTÓRICO!

Anônimo disse...

“Nestes tempos em que os princípios cívicos voltam a vigorar como disciplina distinta e obrigatória em todas as escolas, desde as de nível primário às de Cursos Superiores, a “ORAÇÃO AOS MOÇOS” deveria ser lida, estudada e repetida dentro do programa escolar superior, pois que ela é sem dúvida, além do seu grande valor literário, um testemunho admirável deixado aos pósteros pelo ilustre brasileiro que dispôs sua imensa e inigualada cultura a serviço da Pátria que ele, como nenhum outro gênio da língua, soube servir e honrar.
Como peça oratória, a “ORAÇÃO AOS MOÇOS” é uma jóia literária clássica. E não o seria por menos, dada a autoria do grande sábio. É um documento talhado segundo a praxe tradicional do paraninfado acadêmico: é um longo discurso de estilo brilhante. As idéias decorrem num encadeamento harmonioso, as figuras de retórica encantam. A humildade e a simplicidade ponteiam revelando as admiráveis virtudes do autor. Os conselhos que dita são uma trilha extraordinária de amor cívico.
A “ORAÇÃO AOS MOÇOS” intercala-se na antologia universal de todos os tempos enriquecida desde Sócrates que se dirigiu também aos seus discípulos, à oração belíssima de Shakespeare que pôs em Antonio, as falas de César. Tudo em nome da grandeza da pessoa humana. “Sede viri”, dizia antigo provérbio romano.
“Sejam homens”, diz essencialmente a fala de Rui.
Obtemperar-se-ia que hoje, as diretrizes cívicas deste fim de século pedem mais objetivismo prático do que discursos brilhantes. Não importa. A “ORAÇÃO AOS MOÇOS” tem atualidade em qualquer época.
Ela traz as linhas mestras da conduta humana. E essas diretrizes, há dois mil anos vigoram. Não empalidecem. Nem envelhecem.”

(parte do artigo “ORAÇÃO AOS MOÇOS”, de agosto/1971, da cronista Elda Moscogliato, no livro “O SONHO NÃO ACABOU”(1988).

requeri disse...

venho me emocionando ultimamente. a qualquer sensação de indignação diante dos malfeitos políticos, resolvi avaliar acertadamente como emoção, porque percebi que é mais eficiente, muito mais do que a raiva, o desaforo, a revolta.
principalmente pq emocionada saio em busca, e encontro, textos como esse de rui barbosa.

é isso.

Delmanto disse...

A verdade é que Rui Barbosa era uma personalidade empolgante. No retrospecto de sua vida , agora, só aparecem as coisas boas, mas o grande orador e jurista enfrentou muita incompreensão e muito preconceito.
Vindo da Faculdade de Direito de Recife, formou-se pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Aqui em São Paulo, fazia seu primeiro discurso político, no distante ano de 1868, homenageando José Bonifácio “a encarnação mais fascinadora das idéias liberais...” Nesse mesmo ano, Rui se dedicava à campanha abolicionista e participava de debates na Loja América (pertencia à Loja Maçônica que reunia o pessoal ligado à Faculdade de Direito, juristas, advogados e universitários).
Encontrou muita resistência, mas persistiu em sua luta a favor da Abolição da Escravatura. Numa época em que era muito baixa a politização dos brasileiros, enfrentou com coragem o militarismo, lançando a Campanha Civilista.
Nos primeiros anos da República, ficou exilado por questões políticas e, mesmo do exterior, continuou a fazer seus artigos a favor da liberdade e contra os maus políticos (Cartas da Inglaterra).
Na tribuna do Senado e no púlpito dos Tribunais, Rui sempre defendeu os oprimidos e os que sofriam qualquer tipo de perseguição ou opressão.
Candidatando-se à presidência da república, encontrou resistência quase absoluta do PRP, então um partido dominado pela oligarquia rural, mesmo assim fez uma campanha memorável.
Quer dizer, militante pela abolição da escravatura, exilado político, e candidato massacrado pela oligarquia da época, Rui sempre soube superar as adversidades e gravar no granito sua trajetória de Cidadão Prestante!
Homem do seu tempo, Rui deixou para a posteridade a sua obra como jurista, político, diplomata e jornalista.
Baiano de nascimento é o mais brasileiro de todos. Considerado o ESTADISTA DA REPÚBLICA, atuou na Monarquia com a mesma postura cívica que o marcaria como o homem público que mais encarnou a imagem de um Brasil livre, independente e honrado!
Esse é o cidadão brasileiro! Esse é Rui Barbosa!

Anônimo disse...

No ano passado, 2010, comemoramos os 100 ANOS da histórica e heróica disputa eleitoral para a presidência do Brasil – a CAMPANHA CIVILISTA DE 1910 ! É uma empolgante página na história da Nação Brasileira. É exemplo cívico redivivo! Rui Barbosa lutou àquela época contra o Militarismo. Foi exilado. Manteve seus ideais. Continuou com perseverança e esperança a sua caminhada cívica. Hoje, seria o nosso grande líder contra as mazelas e a corrupção que corrói as tripas deste país! (mariceiaoliveira@yahoo.com.br)

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