novembro 17, 2011

Que mentira, que lorota boa...


Desde o início nos propusemos a fazer deste blog um FORUM CULTURAL, onde a intelligentzia brasileira pudesse levantar os seus problemas, realizar os grandes debates, caminhar em busca das informações para convertê-los em alguma coisa maior que meros fatos e transformá-los em idéias que os explicassem...

Na atual crise financeira, a solução são os “Governos Técnicos”!!!

Essa mentira já é muito velha, até o velho Marx pisoteou e tripudiou sobre ela: Que mentira, que lorota boa... Que mentira, que lorota boa...

Antes, porém, é preciso estabelecer algumas premissas. Vamos lá:

1- A disputa entre Capitalismo e Comunismo/Socialismo, acabou;
2- Agora só temos o Capitalismo, o resto é conversa mole;
3- Ficando “dono da economia mundial”, o Capitalismo regrediu aos seus primórdios, ao seu primitivismo. Ele está doente;
4- No mundo todo há movimentos da sociedade civil, quer através dos Indignados quer através de movimentos como o “Ocupe-Wall Street”;
5- Resumindo: O Capitalismo precisa ser reciclado, diminuindo o espaço para o capital especulativo e dando maior apoio ao capital produtivo;
6- Esse “banho de cidadania”, humanizando o CAPITAL e lhe dando o necessário equilíbrio entre a gana dos especuladores e as necessidades da sociedade civil é que será a solução da atual crise mundial;

7-
Convocando as inteligências de Harvard, Stanford, Oxford e Cambridge, p.ex., novas relações poderiam ser estruturadas para a sustentação econômica dos Governos e atendendo as necessidades mínimas da sociedade civil;
8-
E a solução terá que ser POLÍTICA! É através da política que encontraremos o norte para a nossa caminhada. Se os políticos atuais não estão captando a mensagem, busquemos outros políticos. Mas a solução terá que vir pela política!
9-
Os “Servidores do Sistema”, quer estejam na iniciativa privada ou na governamental, são frutos que amadureceram sob esta realidade decadente e superada. Eles não foram e não são a solução. Burocratas da economia são incapazes de captar a dose certa para curar o mal e de fazer o corte cirúrgico para extirpar a parte gangrenada.
10-
A solução está na sociedade organizada, exercendo a sua cidadania e traçando o caminho cívico que adaptará o nosso sistema econômico à Nova Realidade Mundial, que com a Revolução da Informação, transformou o Planeta Terra, realmente, em uma ALDEIA GLOBAL!!!

Mudança Civilizatória! – Transição histórica de Era!

E quando se diz que o CAPITALISMO está doente, aparece a sua SIMBOLOGIA, que é o FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL e as moedas predominantes: o EURO e o Dólar. E a Grécia e a Itália são os primeiros países a receberem o REMÉDIO ERRADO, que são os GOVERNOS TÉCNICOS!

Felipe González

Já demos destaque à opinião do ex-primeiro-ministro espanhol, Felipe González, de que o problema é mais grave, estamos vivendo uma MUDANÇA CIVILIZATÓRIA!
Sobre a crise que vive a União Européia, ele diz que a Europa não está conseguindo lidar com a mudança vivida pelo mundo, uma mudança civilizatória. É uma crise econômica, mas também de novas partilhas do poder, de novas fronteiras do desenvolvimento e do subdesenvolvimento. E conclui: se não adaptamos aos novos tempos o nosso modelo, que é muito bom, a irrelevância vai continuar. E o ruim é que a UE perde relevância para os cidadãos; se perde para eles, como é que vai mantê-la para os outros? O que me angustia é que a Europa não está consciente de que estamos em uma transição histórica de Era; em uma situação de emergência que não é aquela que vivemos no dia a dia, mas de mudança civilizatória, de modelo.

O pensamento muito atual de Karl Marx

Apenas para situar esse assunto no tempo, vamos buscar e apresentar, na íntegra, da “Tribuna da Imprensa”, uma aula de cultura política e econômica, no artigo de Marcello Musto, que o comentarista Mario Assis “descobriu" no “Carta Capital Internacional”, colocando o pensamento de Karl Marx sobre o tema (Governos Técnicos):



“Grécia, Itália e os sagazes sarcasmos de Marx sobre os “governos técnicos”.

Marcello Musto

Se retornasse ao debate jornalístico no mundo de hoje, analisando o caráter cíclico e estrutural das crises capitalistas, Marx poderia ser lido com particular interesse hoje na Grécia e na Itália por um motivo especial: a reaparição do “governo técnico”. Na qualidade de articulista do New York Daily Tribune, um dos diários de maior circulação de seu tempo, Marx observou os acontecimentos político-institucionais que levaram ao nascimento de um dos primeiros “governos técnicos” da história, em 1852, na Inglaterra: o gabinete Aberdeen (dezembro de 1852/janeiro de 1855).
A análise de Marx é notável por sua sagacidade e sarcasmo. Enquanto o Times celebrava o acontecimento como um sinal de ingresso “no milênio político, em uma época na qual o espírito de partido está destinado a desaparecer e no qual somente o gênio, a experiência, o trabalho e o patriotismo darão direito a acesso aos cargos públicos”, e pedia para esse governo o apoio dos “homens de todas as tendências”, porque “seus princípios exigem o consenso e o apoio universais”; enquanto os editorialistas do jornal diziam isso, Marx ridicularizava a situação inglesa no artigo “Um governo decrépito. Perspectivas do gabinete de coalizão”, publicado em janeiro de 1853.
O que o Times considerava tão moderno e bem articulado, era apresentado por Marx como uma farsa. Quando a imprensa de Londres anunciou “um ministério composto por homens novos”, Marx declarou que “o mundo ficará um tanto estupefato ao saber que a nova era da história está a ponto de ser inaugurada por cansados e decrépitos octogenários (…), burocratas que participaram de praticamente todos os governos desde o final do século passado, frequentadores assíduos de gabinetes duplamente mortos, por idade e por usura, e só mantidos vivos por artifício”.
Para além do juízo pessoal estava em questão, é claro, o de natureza política. Marx se pergunta: “quando nos promete a desaparição total das lutas entre os partidos, inclusive o desaparecimento dos próprios partidos, o que o Times quer dizer?” A interrogação é, infelizmente, de estrita atualidade no mundo de hoje, no qual o domínio do capital sobre o trabalho voltou a tornar-se tão selvagem como era em meados do século XIX.
A separação entre o “econômico” e o “político”, que diferencia o capitalismo de modos de produção que o precederam, chegou hoje ao seu ápice. A economia não só domina a política, fixando agendas e decisões, como retirou competências e atribuições que eram próprias desta, privando-a do controle democrático a tal ponto que uma mudança de governo já não altera as diretrizes da política econômica e social.
Nos últimos 30 anos, inexoravelmente, o poder de decisão foi sendo transferido da esfera política para a econômica, transformando possíveis decisões políticas em incontestáveis imperativos econômicos que, sob a máscara ideológica do “apolítico”, dissimulam, ao contrário, uma orientação claramente política e de conteúdo absolutamente reacionário. O deslocamento de uma parte da esfera política para a economia, como âmbito separável e inalterável, a passagem do poder dos parlamentos (já suficientemente esvaziados de valor representativo pelos sistemas eleitorais e majoritários e pela revisão autoritária da relação entre Poder Executivo e Poder Legislativo) para os mercados e suas instituições e oligarquias constitui, em nossa época, o maior e mais grave obstáculo interposto no caminho da democracia. As avaliações de Standard & Poor’s, os sinais vindos de Wall Street – esses enormes fetiches da sociedade contemporânea – valem muito mais do que a vontade popular.
No melhor dos casos, o poder político pode intervir na economia (as classes dominantes precisam disso, inclusive, para mitigar as destruições geradas pela anarquia do capitalismo e a violência de suas crises), mas sem que seja possível discutir as regras dessa intervenção e muito menos as opções de fundo.
Exemplos deslumbrantes disso são os acontecimentos dos últimos dias na Grécia e na Itália. Por trás da impostura da noção de um “governo técnico” – ou, como se dizia nos tempos de Marx, do “governo de todos os talentos” – esconde-se a suspensão da política (referendo e eleições estão excluídos), que deve ceder em tudo para a economia.
No artigo “Operações de governo” (abril de 1853), Marx afirmou que “o mínimo que se pode dizer do governo de coalizão (“técnico”) é que ele representa a impotência do poder (político) em um momento de transição”. Os governos já não discutem as diretrizes econômicas, mas, ao contrário, as diretrizes econômicas é que são as parteiras dos governos.
No caso da Itália, a lista de seus pontos programáticos ficou clara em uma carta (que deveria ter sido secreta) dirigida pelo Banco Central europeu ao governo Berlusconi. Para “recuperar a confiança” dos mercados, é preciso avançar pela via das “reformas estruturais” – expressão que se tornou sinônimo de dano social – ou seja, redução de salários, revisão de direitos trabalhistas em matéria de contratações e demissões, aumento da idade de aposentadoria e privatizações em grande escala.
Os novos “governos técnicos” encabeçados por homens crescidos sob o teto de algumas das principais instituições responsáveis pela crise (veja-se os currículos de Papademos e de Monti) seguirão esse caminho. Nem é preciso dizer, pelo “bem do país” e pelo “futuro das gerações vindouras”, é claro. Para o paredão com qualquer voz dissonante desse coro.
Mas se a esquerda não quer desaparecer tem que voltar a saber interpretar as verdadeiras causas da crise em curso e ter a coragem de propor e experimentar as respostas radicais exigidas para a sua superação.
Marcello Musto é professor de Ciência Política
na Universidade York, de Toronto”.

(Blog Tribuna da Imprensa – 16/11/2011)



5 comentários:

Delmanto disse...

A crise mundial aí está. Mas cada país tem que começar fazendo a sua “lição de casa”. E será na somatória das Nações Mobilizadas que se conseguirá dar uma nova face econômica para o Planeta.
Não há a possibilidade de continuarmos nesta letargia política a que estamos relegados... É preciso que haja uma mobilização nacional para que as reformas necessárias – principalmente a reforma política – possibilite a que o Brasil retome a construção da democracia e alcance o desenvolvimento sustentável, moderno e positivo. E para alcançar esse objetivo é indispensável a convocação da intelligentzia brasileira.
Será que a elite brasileira, a intelligentzia brasileira está ciente de seu papel histórico e de suas responsabilidades?
E para que os apressadinhos de sempre não torçam o nariz para a simples citação da palavra elite vamos, mais uma vez, buscar o ensinamento perene de Fernando Henrique Cardoso, o sociólogo, não o presidente: de que elite é a vanguarda, é o que há de melhor na sociedade, por exemplo, o melhor do futebol foi o Pelé, o melhor líder sindical foi o Lula, o melhor jogador de basquete foi o Oscar Schmidt, o melhor empresário é o Antonio Ermírio, o melhor da Medicina é o Adib Jatene, o grande jurista foi Rui Barbosa, etc.
E é exatamente isso: convocar os melhores. A elite brasileira precisar sair do falso comodismo e ousar romper as amarras aveludadas desse comodismo que estabiliza a vida das pessoas na mediana mediocridade de uma existência sem sustos, sem riscos e sem lutas...
Para o cumprimento de nossa missão cidadã é necessário a união dos melhores da nossa sociedade, é necessário que a vanguarda pensante da elite brasileira se engaje nessa cruzada pela retomada da construção da democracia em nosso país.
E a reformulação da economia passa pelas inteligências positivas da Economia da USP, da FGV/SP e de outras universidades.
Não há a possibilidade – repetimos com ênfase! - de continuarmos nesta letargia política a que estamos relegados...
Então, é preciso mudar. E é possível a mudança. E ela virá com a intelligentzia brasileira mobilizando a nossa elite para a convocação de nossa vanguarda intelectual, de nosso núcleo pensante!
A Mudança é possível! Depende de nós!!!

Anônimo disse...

Meu caro Delmanto, você está colocando o tema certo para as “elites” brasileiras debaterem. Ainda está na lembrança de todos que durante o Regime Militar, procurou-se dar prioridade aos “técnicos” e economistas. Vimos a era de domínio do Roberto Campos (Bob Fields), de Delfim Neto e de Mário Henrique Simonsen. Todos brilhantes, mas nenhum deles soube captar a problemática como um todo. Não alcançaram o social. Com a Nova República, todos estão lembrados dos famosos Planos Cruzados I e II, do Plano Bresser e, finalmente e depois de muito “apanhar” e da “moratória” da triste época do Sarney, veio o Plano Real no governo de Itamar Franco. Um Plano que já era , de per si, a negação dos antigos, urdidos apenas nos gabinetes burocráticos do poder.
Não tem segredo. O assunto é político e precisa, é claro, das jovens e criativas inteligências dos economistas dos bons centros universitários. Mas tudo pelo enfoque da cidadania. Vamos acreditar que, apesar de Brasília e dos Deputados e Senadores fora da sintonia cívica, a sociedade irá se organizar e realizar as reformas necessárias para o desenvolvimento sustentável do Brasil.
(haroldo-leao@hotmail.com)

Anônimo disse...

Bob Fields e Delfim Neto e...submissão total ao FMI. Velhos tempos. Uma vergonha! E no governo do Lula o Delfim voltou a dar as cartas, não e à toa que PSOL diz que o governo do PT é um Governo da Direita! É a mais pura verdade. Cadê o socialismo? Demoraram tanto a chegar no poder e não resistiram ao cheiro da brilhantina...rsrsrs(pinto.rodolfo28@yahoo.com.br)

Anônimo disse...

Sabe, Armando, eu concordo com esse ponto de vista. Veja o que está ocorrendo na Inglaterra e nos Estados Unidos. Os Indignados Londrinos e os do movimento anti-Wall Street estão sendo tratados como mero agitadores. E não é essa a realidade. Já estão sendo organizados apoios pelos grandes sindicatos americanos. Esse não é um problema “sem causa”, é social, é da própria sociedade que está saindo o grito de alerta! Alguma coisa precisa ser feita e com urgência. Esses dois países vivem em plena democracia, então não haveria razão para essas manifestações. Onde não havia democracia se entende, mas na Inglaterra e nos Estados Unidos, é claro que o problema não é tão simples. As grandes potências insistem em dar tratamento errado a movimentos sociais e com causas justas. Afinal a sociedade tem o direito de querer um novo enfoque financeiro para coibir o ganho exagerado dos Bancos e das Corretoras de Valores em detrimento do bem estar e de melhorias para a população. Acho que é urgente o entendimento desses movimentos. O presidente Obama já declarou que é preciso “controlar” a “ditadura financeira de Wall Street”. Vamos apoiar os movimentos sociais. Aqui é a luta contra a corrupção. É uma vergonha!
(carla.bueno2011@bol.com.br)

Delmanto disse...

Interessante trazer as análises críticas de Karl Marx para a problemática atual. Os textos de Marx foram compilados pelo professor e sociólogo, Marcello Musto, da Universidade de York/Canadá. No artigo “Operações de Governo” (de 1853!), Marx afirmou “que o mínimo que se pode dizer do governo de coalizão (“técnico”) é que ele representa a impotência do poder (político) em um momento de transição”. Os governos já não discutem as diretrizes econômicas, mas, ao contrário, as diretrizes econômicas é que são as parteiras dos governos.

Nem se tivesse sido escrito nesta semana, um articulista político teria captado com tanta perfeição a nossa realidade. E na Comunidade Européia NÃO se discute variáveis diretrizes econômicas para os países parceiros, MAS, ao contrário, usa-se o mesmo “modelito” do FMI (o mesmo modelo usado pelo FMI para o Brasil, durante o Regime Militar). Vamos ao texto do professor Marcello Musto, com as críticas pontuais de Marx:
“Para “recuperar a confiança” dos mercados, é preciso avançar pela via das “reformas estruturais” – expressão que se tornou sinônimo de dano social – ou seja, redução de salários, revisão de direitos trabalhistas em matéria de contratações e demissões, aumento da idade de aposentadoria e privatizações em grande escala”
E concluindo, vimos que , realmente, as diretrizes econômicas (da União Européia) é que estão PARINDO os novos “governos técnicos” da Grécia e da Itália!

REFORMAS ESTRUTURAIS = DANOS SOCIAIS
Perfeito. A definição não poderia ser melhor: para as chamadas “reformas estruturais” (ou seja, o enquadramento do Estado, com o enxugamento de sua estrutura de serviços e benefícios para a sociedade) outro nome caberia perfeitamente: DANOS SOCIAIS!
RESUMINDO: é preciso que se atentem para esse rumo errado e para esses remédios que não curaram e sim “aleijaram” os doentes, cujas recuperações deveriam ser a longo prazo e de resultados pífios!
O CAPITALISMO ESTÁ DOENTE e é preciso criatividade. Vamos convocar as jovens inteligências dos melhores centros universitários. É PRECISO COM URGÊNCIA encontrar-se novos caminhos para a APRIMORAÇÃO DO CAPITALISMO adaptando-o a essa MUDANÇA CIVILIZATÓRIA! A Essa Mudança de ERA!

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