ARCHIBALD JOSEPH CRONIN
Na data de hoje, quando se comemora o DIA DO ESCRITOR, busquei na minhas lembranças a série de livros – uma coleção de capa dura – do escritor escocês Archibald Joseph Cronin, ou simplesmente A.J.Cronin como era mais conhecido. Para quem estava iniciando o curso científico, a descoberta dessa coleção de livros (pertencente ao meu irmão Décio) foi uma grande descoberta.
Estudando no Colégio Arquidiocesano La Salle , de Botucatu, vivia um período de muita efervescência cultural. Tanto que o professor de português e redação, Prof. Agostinho Minicucci, ao fazer o prefácio do jornal do colégio, em 1963, cravara uma verdade que tem me acompanhado até hoje:
“E estava eu lendo Criatividade profissional, um livro novo, diferente, de Eugene Von Fange...
- Professor, eu queria um artigo para o nosso jornal – “Tribuna do Estudante...”
Para quem estava mastigando criatividade, pensando no pensamento criador, na ânsia do novo, uma apresentação seria muito prosaico.
- Delmanto...
Bem, deixe-me, de início, apresentá-lo. É o Delmanto do 1º Científico do Colégio Arquidiocesano. Um rapaz que brotou (o termo é criativo) no 2º ciclo, lendo e lendo, escrevendo às vezes e iniciando-se na arte literária. Percebe-se quando alguém começa a sentir os comichões literários que coçam mais que varíola agonizante...”
Definição perfeita. Era uma busca intensa por bons livros. A coleção de livros de Jorge Amado, José de Alencar, Machado de Assis, Graciliano Ramos, entre tantos outros, foram lidos com entusiasmo crescente. Com a descoberta de “A Cidadela”, do Cronin, a “viagem passou a correr o mundo”, visitando outros países, outras culturas. “A Cidadela” foi apenas o primeiro de toda a coleção. Estilo envolvente, claro.
Cronin não caiu no esquecimento como tantos outros escritores. Suas obras viraram filmes (“Spanish Gardem”/ "A Cidadela") e seus livros obtiveram recordes de vendagem. Era um escritor popular. “A Cidadela” foi o campeão de vendagem. Com uma vida bem alicerçada como médico, passou a se dedicar à literatura por problemas de saúde. Com o tempo, fechou seu consultório, passando a viver só para a literatura. É preciso que a atual juventude tome conhecimento de sua obra e que algum Editor reedite sua obra completa: A Cidadela, A Dama dos Cravos, Almas em Conflito, Anos de Ternura, Anos de Tormenta, As Chaves do Reino, Encontro de Amor, O Castelo do Homem sem Alma, Os Deuses Riem, Sob a Luz das Estrelas e Uma Estranha Mulher.
Na crônica de Ialmar Pio Schneider (poeta, trovador e contista) temos um perfil completo de Cronin:
Um dos escritores mais interessantes que já tive a oportunidade de ler, foi sem dúvida, o célebre médico e romancista escocês A. J. Cronin (Archibald Joseph), que nasceu a 19 de julho de 1896, em Cardross, Dumbartoshire, Escócia, filho único de Patrick Cronin e Jessie Montgomerie. Faleceu no dia 6 de janeiro de 1981, na Suíça, para onde se transferira em 1955. O primeiro dos seus livros que li foi A Cidadela, e isto há muitos anos. Trata-se da história de um médico que provocou a manifestação do Parlamento Inglês no sentido de proibir a circulação do livro, uma vez que o romance foi considerado um “tremendo libelo contra a mercantilização da Medicina”. Diga-se que encerrava passagens autobiográficas do autor e foi a consagração definitiva de sua carreira literária.
Depois vieram os livros que fui lendo ao longo do tempo e foram As Chaves do Reino, Sob a Luz das Estrelas, Noites de Vigília, Pelos Caminhos de Minha Vida, Um Erro Judiciário, etc. Mas ele escreveu mais de 20 romances.
Terminei de ler por esses dias a sua primeira obra O Castelo do Homem sem Alma ( A Família Brodie), tradução de Rachel de Queiroz, que constitui um drama vivido em um lar que poderia ser feliz, porém, cuja imposição de um pai autoritário transformou em um inferno. Quando publicou este romance, escrito em apenas 3 meses em uma granja onde foi recuperar a saúde abalada por excesso de trabalho, obteve um grande êxito na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos. Foi adaptado ao teatro e ao cinema.
“Sua obra já foi traduzida em quase todos os países, e no Brasil foi bem recebida pela crítica. O ensaísta e professor Genolino Amado, grande conhecedor de Literatura, especialmente da inglesa, a propósito de A Cidadela afirma: “... Um novo, intenso e singular novelista surgira na Inglaterra, trazendo na sua vocação criadora essa mescla de patético e de humour, de imaginação surpreendente e de observação direta da realidade cotidiana, tão marcada e típica nos escritores de sangue escocês.””
Outras opiniões de escritores brasileiros sobre a obra de Cronin: “É extraordinário que certa crítica, que tanto se comoveu com o superficial teosofismo de Charles Morgan em Fountain, persista em desconhecer o poeta e pensador destes dois romances admiráveis (As Chaves do Reino e Três Amores). Destes dois romances verdadeiramente singulares, pela sua força de vida e pelo seu significado de espírito na massa da produção intelectual hodierna, tão desprovida do senso da profundidade, como só o entendem os que sabem que Deus existe...” - Tasso da Silveira (in o Diário, B. Horizonte)
“O autor de As Chaves do Reino é o mesmo de A Cidadela, A . J. Cronin. E este seu novo romance não é menos interessante do que o outro. Nem podia ser: Cronin tem o gênio do romance. Quero dizer, o segredo de surpreender a vida nos seus momentos mais dramáticos de expressão. O segredo de condensar toda uma situação psicológica num gesto, numa atitude, numa palavra, às vezes num silêncio. De ir além da superfície sem mistério nenhum dos homens e das coisas como são ordinariamente vistas. E ir a essas profundidades sem torturas de análise, sem usar escafandro, sem ele mesmo fazer-se antes um personagem de aventura para o leitor.” - Olívio Montenegro ( in Diário de Pernambuco, Recife)
“Cronin é inegavelmente um grande romancista, Católico, nos seus livros passa o sopro suave da caridade cristã, que ressalta ao contraste da sua ausência. Quem não leu A Cidadela e Noites de Vigília, e não sentiu esse espírito de caridade? – Mas o escritor é um realista, no bom sentido. Faz seus romances sobre a vida. As Chaves do Reino é um grande livro.” – Padre Negromonte ( in O Diário, B. Horizonte)
O que me atrai neste autor é sua maneira magistral de organizar a trama de seus romances, e ainda toda a experiência adquirida no exercício da Medicina que imprime em suas páginas um sentido humanitário.”
Depois vieram os livros que fui lendo ao longo do tempo e foram As Chaves do Reino, Sob a Luz das Estrelas, Noites de Vigília, Pelos Caminhos de Minha Vida, Um Erro Judiciário, etc. Mas ele escreveu mais de 20 romances.
Terminei de ler por esses dias a sua primeira obra O Castelo do Homem sem Alma ( A Família Brodie), tradução de Rachel de Queiroz, que constitui um drama vivido em um lar que poderia ser feliz, porém, cuja imposição de um pai autoritário transformou em um inferno. Quando publicou este romance, escrito em apenas 3 meses em uma granja onde foi recuperar a saúde abalada por excesso de trabalho, obteve um grande êxito na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos. Foi adaptado ao teatro e ao cinema.
“Sua obra já foi traduzida em quase todos os países, e no Brasil foi bem recebida pela crítica. O ensaísta e professor Genolino Amado, grande conhecedor de Literatura, especialmente da inglesa, a propósito de A Cidadela afirma: “... Um novo, intenso e singular novelista surgira na Inglaterra, trazendo na sua vocação criadora essa mescla de patético e de humour, de imaginação surpreendente e de observação direta da realidade cotidiana, tão marcada e típica nos escritores de sangue escocês.””
Outras opiniões de escritores brasileiros sobre a obra de Cronin: “É extraordinário que certa crítica, que tanto se comoveu com o superficial teosofismo de Charles Morgan em Fountain, persista em desconhecer o poeta e pensador destes dois romances admiráveis (As Chaves do Reino e Três Amores). Destes dois romances verdadeiramente singulares, pela sua força de vida e pelo seu significado de espírito na massa da produção intelectual hodierna, tão desprovida do senso da profundidade, como só o entendem os que sabem que Deus existe...” - Tasso da Silveira (in o Diário, B. Horizonte)
“O autor de As Chaves do Reino é o mesmo de A Cidadela, A . J. Cronin. E este seu novo romance não é menos interessante do que o outro. Nem podia ser: Cronin tem o gênio do romance. Quero dizer, o segredo de surpreender a vida nos seus momentos mais dramáticos de expressão. O segredo de condensar toda uma situação psicológica num gesto, numa atitude, numa palavra, às vezes num silêncio. De ir além da superfície sem mistério nenhum dos homens e das coisas como são ordinariamente vistas. E ir a essas profundidades sem torturas de análise, sem usar escafandro, sem ele mesmo fazer-se antes um personagem de aventura para o leitor.” - Olívio Montenegro ( in Diário de Pernambuco, Recife)
“Cronin é inegavelmente um grande romancista, Católico, nos seus livros passa o sopro suave da caridade cristã, que ressalta ao contraste da sua ausência. Quem não leu A Cidadela e Noites de Vigília, e não sentiu esse espírito de caridade? – Mas o escritor é um realista, no bom sentido. Faz seus romances sobre a vida. As Chaves do Reino é um grande livro.” – Padre Negromonte ( in O Diário, B. Horizonte)
O que me atrai neste autor é sua maneira magistral de organizar a trama de seus romances, e ainda toda a experiência adquirida no exercício da Medicina que imprime em suas páginas um sentido humanitário.”
9 comentários:
A leitura dos livros do Cronin foi uma experiência muito boa. Médico humanitário, competente, descrevia com conhecimento. Era envolvente e nos dava uma visão do que era a vida no Reino Unido.
Nessa fase de estudos, o 2º grau, existe uma lacuna pedagógica na indicação de bons livros. Nem sempre a indicação oficial é a ideal. Procurando bons livros, no Centro Cultural de Botucatu, lembro-me que li a coleção (Literatura) de Silvio Romero: excelente escritor, professor emérito de literatura mas que era, para um estudante iniciante, muito ”pesado”. Ou seja: na busca por mais conhecimento, às vezes, vamos para obras que “ainda” não estão ao nosso alcance o seu pleno conhecimento...
O Cronin encantou e povoou a minha adolescência. Ele e mais os nossos escritores consagrados alimentaram aquele secundarista ávido por cultura e bons livros.
Hoje, no Dia do escritor, nada melhor do que lembrar desse grande escritor escocês que precisa ser resgatado para a juventude brasileira.
Está certa a abordagem, Delmanto. Sinto essa mesma falta de maiores opções para fazer indicações de leitura para os meus alunos. O escritor A.J.Cronin que conheço e gosto de seus romances seria, sem dúvida alguma, uma indicação positiva para que o jovem passe a gostar de ler livros. É um escritor que escreve de forma clara, que envolve o leitor e que o deixa encantado com o realismo de suas discrições. Muito boa e justa essa homenagem! (luisroberto-souza@yahoo.com.br)
O Reino Unido é o assunto da semana com o nascimento do Príncipe George!. E no dia do escritor, nada mais justo que homenagearmos esse grande escritor escocês! Acertou na mosca, Já li A Cidadela, excelente! (carla.bueno2011@bol.com.br)
O que eu mais gosto nos romances de Cronin é que ele mostra que o bem é possível e que vale a pena ser honesto e ter bons princípios. Sempre com uma postura idealista e enfrentando as adversidades da vida com coragem, persistência e muita, muita esperança. Homenagem mais que merecida. (ludmila.cunha@yahoo.com.br)
Que mundo tão eterno essa gente nos propicia...
Delmanto, que seria de nossas vidas sem os escritores, que nos levam a
viagens mil? Lembro quando li Vidas Secas, Caétes, São Bernanrdo, Memórias do Cárcere, Infância, Angústia, etc e tal, todos do Graciliano. Me
traz uma lembrança boa da década de 80,quando tive acesso, na biblioteca da empresa que eu trabalhava.
Que mundo se estendeu à minha frente, a partir dali. Da cachorra Baleia,
e tantos personagens que passaram a povoar minha mente.
Fernão Capelo Gaivota, etc.
Marina Colasanti, Martha Medeiros. Nossa, que mundo interessante eu descobri lendo Arthur da Távola: Me vi te vendo, Alguém
já não fui, Ser Jovem. Feliz Ano Velho, do Marcelo Rubens Paiva.
José Mauro de Vasconcelos: Rosinha Minha Canôa, Confissões de Frei Abóbora, Meu pé de Laranja Lima.
Erico Veríssimo, Machado de Assis (Memórias Póstumas de Brás Cubas).
Jorge Amado:( Teresa Batista Cansada de Guerra,etc e tal).
Tantas coisas guardei comigo, até hoje. Fugindo um pouquinho, Clarice
Lispector, tantas e tantas viagens de cara enterrada nas páginas repletas de emoções.
Sua postagem foi mesmo uma Catarse, parei tudo para falar dessa gente tão especial em nossas vidas.
Um grande dia-Janio (Janio Ferreira Costa/Dihitt)
Antonio De Oliveira Moruzzi Nossa...provado está...como nossa memória é curta... eu havia esquecido não só de A.J.Cronin , como também ... da fantástica descoberta de suas obras...”A Cidadela”, Anos de Ternura”, “As Chaves do Reino” e tantas outras que me deixavam lendo, nas madrugadas adentro.. obrigando Dona Zoè ..ir até meu quarto... acordada que era pelas minhas risadas ou choros... arrancando o livro das minhas mãos ... apagando as luzes... para que eu finalmente dormisse ...quanta saudade ...obrigado caro e querido Armando por aclarar minha memória!!! Vou compartilhar.
Carmem Lúcia da Silva (Facebook): Parabéns, querido escritor!
Joana Sant'Iago (Facebook): quando vinha de ferias a São Paulo, minha tia sempre me deixava ler um livro do Cronin rsrs.Muito legal vc me fazer lembrar disso. Obrigada
Ilza Maria Nicoletti Souza (Facebook): Li todos e alguns mais de uma vez .Por isso herdei a coleção do meu pai .Parabéns para vc também !!!
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