“Foi o único que me enganou!"
Napoleão Bonaparte, nas suas memórias escritas pouco antes de morrer no exílio da Ilha de Santa Helena, referindo-se a D. João VI, rei do Brasil e de Portugal.
Napoleão Bonaparte, nas suas memórias escritas pouco antes de morrer no exílio da Ilha de Santa Helena, referindo-se a D. João VI, rei do Brasil e de Portugal.
A citação é destaque no livro “1808” , de Laurentino Gomes, edição Planeta, 2007. Ao procurarmos trazer o perfil definitivo de Dom João VI, esse desabafo de Napoleão Bonaparte é marcante. Hoje, praticamente integrada, a colônia portuguesa foi muito importante na formação da Nação Brasileira. 
A revista PEABIRU trouxe o histórico da vinda da Família Real para o Brasil
Ao fazermos uma interpretação sociológica da vinda da família real e da corte portuguesa para o Brasil Colônia, em 22 de janeiro de 1808, não poderíamos cair na análise fácil e caricata dos apressados que estudaram esse evento sem a seriedade e sem a profundidade que ele merece. Sem graçolas e sem arroubos da análise festiva...
Aspectos individualizados, posturas ocasionais e desmembradas do contexto histórico levam qualquer interpretação a erro. O que interessa, historicamente falando, é a realidade no contexto final. É a análise imparcial dos fatos e seus resultados. A família real, sob o comando do então príncipe regente, acertou ou errou ao transferir-se para a sua principal e mais rica colônia? Foi uma decisão intempestiva e medrosa ou foi uma decisão idealizada e planejada? Foi uma fuga ou foi um recuo estratégico perante um inimigo momentaneamente mais poderoso?
Com certeza, hoje, podemos afirmar que a família real acertou ao optar, em 1807, pela vinda para o Brasil Colônia, em uma decisão madura e estratégica.
Já em 1580, quando surgiram as primeiras ameaças ao reino é que começou a crescer a hipótese da transferência da sede do reino para a América. Assim, em 1736, 1762, 1801 e 1803  a  viabilidade de planos tão ousados quanto antigos foi num crescente na corte portuguesa. No livro “1808” , já citado, temos a afirmação de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, então Chefe do Tesouro: “Vossa Alteza Real tem um grande império no Brasil...Portugal não é a melhor parte da monarquia, nem a mais essencial..”
 
Dom João VI, de personalidade tímida e insegura, soube sempre cercar-se de bons conselheiros que o levaram a um perfil de um soberano bem-sucedido, especialmente quando se analisa as outras casas reais com seus titulares destronados, perseguidos ou mortos pela implacável força napoleônica.
A exemplificar esse perfil definitivo de Dom João VI, basta lembrarmos que na vizinha Espanha, cuja casa real aceitou todas as imposições de Napoleão, a desgraça aconteceu: o rei Carlos IV que entregara seu reino sem luta e de forma subserviente viu, em pouco tempo, a traição de Napoleão invadindo a Espanha. Desesperado, ainda tentou preparar os navios para transferir-se para as colônias espanholas na América. A destempo. Tarde demais. Napoleão obrigou a ele e a seu filho e herdeiro, Fernando, que abdicassem a favor de seu irmão, José Bonaparte. A estratégia portuguesa não pode ser imitada pela Espanha.
Há 200 anos atrás, o Brasil praticamente não existia como país. As capitanias eram estanques e isoladas: nem comércio comum tinham. Era estratégico: o isolamento das regiões era vital para o colonialismo. No livro citado, esse quadro fica claro: “...Cada capitania tinha o seu governante, sua pequena milícia e seu pequeno tesouro; a comunicação entre elas era precária, sendo  que geralmente uma ignorava a existência da outra...” E mais: “...Mantida por três séculos isolada no atraso e na ignorância, a colônia era composta por verdadeiras ilhas escassamente habitadas, distantes e estranhas entre si.”
Quando a corte real portuguesa chegou ao Brasil, em 1808, tudo estava por ser feito. Com uma população quase analfabeta, muito pobre e rústica, o país não era atrativo para nada.
Já em sua chegada, em Salvador, criou a primeira escola de ensino superior do Brasil: a Faculdade de Medicina, na Bahia. Em 1811, foi criada a primeira fábrica de ferro, em Minas Gerais.  Em
 
Faculdade de Medicina da Bahia
A verdade é que o plano de mudança da sede do Império de Portugal não se limitava à formação de um país, mas, também, a afirmar essa soberania portuguesa no mundo, especialmente perante os adversários europeus, procurando punir e conquistar seus territórios na América: ainda em 1808, forças portuguesas invadiram a Guiana Francesa, que se rendeu sem resistência. Era uma espécie de “troco” à invasão francesa de Portugal... O mesmo ocorreria com a chamada Banda Oriental do Rio da Prata (Uruguai), que foi invadida em represália à postura da Espanha. É Registro Histórico!
 
O historiador português Antônio Ventura, professor da Universidade de Lisboa, definiu com maestria a importância da vinda da família real para o Brasil: “A transferência da corte, afinal, terminou sendo mais importante para o Brasil do que para Portugal. É o seu momento fundador. De 1808  a  1822, o Brasil é o centro da monarquia. E são assim criadas as condições para a independência do país. Costumo dizer aos meus alunos que, em 1822, fazer a independência do Brasil era colher um fruto maduro.” (caderno +mais-nº817/Folha de São Paulo, de 25/11/2007).
O historiador mineiro José Murilo de Carvalho (autor do livro “Dom Pedro 2º - Ser ou Não Ser”, Cia das Letras), professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, destaca que a unidade territorial é a responsável pelo Brasil de hoje.  Carvalho afirma que “...O príncipe dom João podia ter decidido ficar em Portugal. Nesse  caso, o Brasil com certeza não existiria. A colônia se fragmentaria. Como se fragmentou a parte espanhola da América. Teríamos, em vez do Brasil de hoje, cinco ou seis países distintos. É positiva a recuperação das imagens de dom João 6º e de Carlota Joaquina e seu resgate em relação às abordagens caricatas do tipo exibido no filme de Carla Camurati ( “Carlota Joaquina – Princesa do Brazil”, 1995). Sobre a Independência, o importante é discutir como ela se deu. A grande diferença em relação à América Espanhola foi a manutenção da unidade da colônia portuguesa e a monarquia. Daí veio o Brasil de hoje. Se para o bem ou para o mal, é Guimarães Rosa quem decide: “Pãos ou pães, questão de opiniães.”(caderno +mais-nº 817/Folha de São Paulo). 
Brasil, com sua unidade territorial é a grande herança da vinda da família real portuguesa para a América. 
Descoberto em 1500 - com certeza -, o Brasil foi REDESCOBERTO em 1808 ! (AMD)
5 comentários:
Delmanto disse...
Já havíamos feito trabalhos sobre as imigrações Belga, Japonesa e Italiana, estava faltando a que formou, estruturou e definiu a nossa nacionalidade: a portuguesa!
O destino do Brasil estava ligado a Portugal. O nosso descobrimento, em 1500. A nossa Redescoberta, em 1808! 
Sim, REDESCOBERTA, pois o Brasil passou a ter outro destino após a vinda de Dom João VI e de toda a Corte Portuguesa para o nosso país. De Colônia, passamos a ser sede do Reino Português. Todo o progresso daí advindo ( Faculdade de Medicina, Biblioteca Nacional, os portos abertos, os costumes europeus, a Fábrica de Ferro, etc.) moldou uma Nação Especial: unida, mesma língua, território continental, objetivos definidos que levariam à implantação do Império Brasileiro com Dom Pedro I.
E todos sabemos, pois é da nossa história, que D. Pedro I teve que abdicar do trono brasileiro a favor de seu filho D. Pedro II, pois o trono de Portugal, destinado à sua filha, futura rainha D. Maria II, havia sido usurpado por seu irmão D. Miguel. E foi tão carinhoso e determinado o apoio que recebeu da população portuguesa ao desembarcar no Porto, em 1832, que D. Pedro I (D. Pedro IV, em Portugal), deixou expresso que, o seu coração, após a sua morte, ficaria encerrado em uma urna de prata, na Igreja da Lapa, na cidade do Porto.
Isso nos dá a verdadeira dimensão dos laços afetivos e cívicos entre Portugal e o Brasil. É Registro Histórico!
Anônimo disse...
É a EDUCAÇÃO como alavanca para a construção de uma Nação! No dia  18 de fevereiro, portanto poucos dias após a chegado de D. João a Bahia, foi criada a ESCOLA DE CIRURGIA DA BAHIA, proposta pelo médico José Correa Picanço que era cirurgião-mór do Reino e que ficou encarregado da formação do corpo docente da Faculdade de Medicina. E, no dia 2 de abril de 1808, estabeleceu uma CADEIRA DE ANATOMIA (núcleo da futura Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro) no HOSPITAL MILITAR DA CORTE DO RIO DE JANEIRO.
Com o estabelecimento de cursos de ensino superior que eram, até então, proibidos na Colônia, os cursos de medicina e cirurgia estabelecidos na Bahia e no Rio de Janeiro foram os primeiros a existirem no país. A criação dessas escolas integrou o processo de institucionalização da medicina no Brasil, iniciado com a vinda da família real. Ao longo do período colonial, o cuidado com a saúde foi uma atribuição partilhada por diversos agentes de cura, como cirurgiões, físicos, sangradores, barbeiros, parteiras e seus aprendizes. A prática da medicina ficava também a cargo da assistência prestada nas enfermarias jesuíticas, nos hospitais da Misericórdia e hospitais militares que, na maioria das vezes, eram a única fonte de assistência médica e fornecimento de medicamentos

Delmanto, esse primeiro curso superior no Brasil, recebeu, em 1832, o nome de Faculdade de Medicina da Bahia. Foi instalada onde era o COLÉGIO DOS JESUÍTAS, no TERREIRO DE JESUS, que havia sido fundado em 1553 e que foi a primeira instituição a ministrar curso de nível superior, no caso, a formação de sacerdotes. Em 1808, funcionava no local o HOSPITAL REAL MILITAR DA BAHIA, que foi adaptado para abrigar o ensino da Medicina.
É empolgante o registro da chegada da Família Real e da Corte Portuguesa ao Brasil: de Colônia a sede do reino de Portugal!
Anônimo disse...
Jo Sant'Iago (facebook): Um pouco de histório do nosso Brasil...
Jo Sant'Iago (facebook): Um pouco de histório do nosso Brasil...
Anônimo disse...
Regina Marques da Costa (Facebook): Com certeza, hoje, podemos afirmar que a família real acertou ao optar, em 1807, pela vinda para o Brasil Colônia, em uma decisão madura e estratégica (do texto do blog).
Anônimo disse...
Regina Marques da Costa (Facebook): Com certeza, hoje, podemos afirmar que a família real acertou ao optar, em 1807, pela vinda para o Brasil Colônia, em uma decisão madura e estratégica (do texto do blog).
Anônimo disse...
Djanira Genovez (Facebook): E agora, como fica a nossa História???











 
 
Um comentário:
MALANDRAMENTE
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