janeiro 20, 2014

Dom João VI “redescobriu” o Brasil em 1808!

Dom João VI “redescobriu” o  Brasil em 1808!


  “Foi o único que me enganou!"
Napoleão Bonaparte, nas suas memórias escritas pouco antes de morrer no exílio da Ilha de Santa Helena, referindo-se a D. João VI, rei do Brasil e de Portugal.

A citação é destaque no livro 1808”, de Laurentino Gomes, edição Planeta, 2007. Ao procurarmos trazer o perfil definitivo de Dom João VI, esse desabafo de Napoleão Bonaparte é marcante. Hoje, praticamente integrada, a colônia portuguesa foi muito importante na formação da Nação Brasileira.

A revista PEABIRU trouxe o histórico da vinda da Família Real para o Brasil

Ao fazermos uma interpretação sociológica da vinda da família real e da corte portuguesa para o Brasil Colônia, em 22 de janeiro de 1808, não poderíamos cair na análise fácil e caricata dos apressados que estudaram esse evento sem a seriedade e sem a profundidade que ele merece. Sem graçolas e sem arroubos da análise festiva...
Aspectos individualizados, posturas ocasionais e desmembradas do contexto histórico levam qualquer interpretação a erro. O que interessa, historicamente falando, é a realidade no contexto final. É a análise imparcial dos fatos e seus resultados. A família real, sob o comando do então príncipe regente, acertou ou errou ao transferir-se para a sua principal e mais rica colônia? Foi uma decisão intempestiva e medrosa ou foi uma decisão idealizada e planejada? Foi uma fuga ou foi um recuo estratégico perante um inimigo momentaneamente mais poderoso?
Com certeza, hoje, podemos afirmar que a família real acertou ao optar, em 1807, pela vinda para o Brasil Colônia, em uma decisão madura e estratégica.
Já em 1580, quando surgiram as primeiras ameaças ao reino é que começou a crescer a hipótese da transferência da sede do reino para a América. Assim, em 1736, 1762, 1801 e 1803 a viabilidade de planos tão ousados quanto antigos foi num crescente na corte portuguesa. No livro “1808”, já citado, temos a afirmação de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, então Chefe do Tesouro: “Vossa Alteza Real tem um grande império no Brasil...Portugal não é a melhor parte da monarquia, nem a mais essencial..”






Dom João VI, de personalidade tímida e insegura, soube sempre cercar-se de bons conselheiros que o levaram a um perfil de um soberano bem-sucedido, especialmente quando se analisa as outras casas reais com seus titulares destronados, perseguidos ou mortos pela implacável força napoleônica.
A exemplificar esse perfil definitivo de Dom João VI, basta lembrarmos que na vizinha Espanha, cuja casa real aceitou todas as imposições de Napoleão, a desgraça aconteceu: o rei Carlos IV que entregara seu reino sem luta e de forma subserviente viu, em pouco tempo, a traição de Napoleão invadindo a Espanha. Desesperado, ainda tentou preparar os navios para transferir-se para as colônias espanholas na América. A destempo. Tarde demais. Napoleão obrigou a ele e a seu filho e herdeiro, Fernando, que abdicassem a favor de seu irmão, José Bonaparte. A estratégia portuguesa não pode ser imitada pela Espanha.
200 anos atrás, o Brasil praticamente não existia como país. As capitanias eram estanques e isoladas: nem comércio comum tinham. Era estratégico: o isolamento das regiões era vital para o colonialismo. No livro citado, esse quadro fica claro: “...Cada capitania tinha o seu governante, sua pequena milícia e seu pequeno tesouro; a comunicação entre elas era precária, sendo  que geralmente uma ignorava a existência da outra...” E mais: “...Mantida por três séculos isolada no atraso e na ignorância, a colônia era composta por verdadeiras ilhas escassamente habitadas, distantes e estranhas entre si.”
Quando a corte real portuguesa chegou ao Brasil, em 1808, tudo estava por ser feito. Com uma população quase analfabeta, muito pobre e rústica, o país não era atrativo para nada.

Dom João VI iniciou a transformação!

em sua chegada, em Salvador, criou a primeira escola de ensino superior do Brasil: a Faculdade de Medicina, na Bahia. Em 1811, foi criada a primeira fábrica de ferro, em Minas Gerais. Em 1814, era criada a Real Fábrica de São João de Ipanema (siderúrgica), em Iperó/Sorocaba/SP. Dom João criou outras escolas de “..técnicas agrícolas, um laboratório de estudos e análises químicas e a Academia Real Militar, cujas funções incluíam o ensino de Engenharia Civil e Mineração. Estabeleceu ainda o Supremo Conselho Militar e de Justiça, a Intendência Geral de Polícia da Corte (mistura de Prefeitura com secretaria de segurança pública), o Erário Régio, o Conselho da Fazenda e o Corpo da Guarda Real. Mais tarde, seriam criadas a Biblioteca Nacional, o Museu Nacional, o Jardim Botânico e o Real Teatro São João...” “...As transformações teriam seu ponto culminante em 16 de dezembro de 1815.    Nesse dia, véspera da comemoração do aniversário de 81 anos da rainha Maria I, D. João elevou o Brasil à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves e promoveu o Rio de Janeiro a sede oficial da Coroa.”( da obra citada).


Faculdade de Medicina da Bahia

A verdade é que o plano de mudança da sede do Império de Portugal não se limitava à formação de um país, mas, também, a afirmar essa soberania portuguesa no mundo, especialmente perante os adversários europeus, procurando punir e conquistar seus territórios na América: ainda em 1808, forças portuguesas invadiram a Guiana Francesa, que se rendeu sem resistência. Era uma espécie de “troco” à invasão francesa de Portugal... O mesmo ocorreria com a chamada Banda Oriental do Rio da Prata (Uruguai), que foi invadida em represália à postura da Espanha. É Registro Histórico!



O historiador português Antônio Ventura, professor da Universidade de Lisboa, definiu com maestria a importância da vinda da família real para o Brasil: “A transferência da corte, afinal, terminou sendo mais importante para o Brasil do que para Portugal. É o seu momento fundador. De 1808 a 1822, o Brasil é o centro da monarquia. E são assim criadas as condições para a independência do país. Costumo dizer aos meus alunos que, em 1822, fazer a independência do Brasil era colher um fruto maduro.” (caderno +mais-nº817/Folha de São Paulo, de 25/11/2007).
O historiador mineiro José Murilo de Carvalho (autor do livro “Dom Pedro 2º - Ser ou Não Ser”, Cia das Letras), professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, destaca que a unidade territorial é a responsável pelo Brasil de hojeCarvalho afirma que “...O príncipe dom João podia ter decidido ficar em Portugal. Nesse caso, o Brasil com certeza não existiria. A colônia se fragmentaria. Como se fragmentou a parte espanhola da América. Teríamos, em vez do Brasil de hoje, cinco ou seis países distintos. É positiva a recuperação das imagens de dom João 6º e de Carlota Joaquina e seu resgate em relação às abordagens caricatas do tipo exibido no filme de Carla Camurati ( “Carlota Joaquina – Princesa do Brazil”, 1995). Sobre a Independência, o importante é discutir como ela se deu. A grande diferença em relação à América Espanhola foi a manutenção da unidade da colônia portuguesa e a monarquia. Daí veio o Brasil de hoje. Se para o bem ou para o mal, é Guimarães Rosa quem decide: “Pãos ou pães, questão de opiniães.”(caderno +mais-nº 817/Folha de São Paulo).
Brasil, com sua unidade territorial é a grande herança da vinda da família real portuguesa para a América.

Descoberto em 1500 - com certeza -, o Brasil foi REDESCOBERTO em 1808 ! (AMD)

5 comentários:
Delmanto disse...

Já havíamos feito trabalhos sobre as imigrações Belga, Japonesa e Italiana, estava faltando a que formou, estruturou e definiu a nossa nacionalidade: a portuguesa!
O destino do Brasil estava ligado a Portugal. O nosso descobrimento, em 1500. A nossa Redescoberta, em 1808!
Sim, REDESCOBERTA, pois o Brasil passou a ter outro destino após a vinda de Dom João VI e de toda a Corte Portuguesa para o nosso país. De Colônia, passamos a ser sede do Reino Português. Todo o progresso daí advindo ( Faculdade de Medicina, Biblioteca Nacional, os portos abertos, os costumes europeus, a Fábrica de Ferro, etc.) moldou uma Nação Especial: unida, mesma língua, território continental, objetivos definidos que levariam à implantação do Império Brasileiro com Dom Pedro I.
E todos sabemos, pois é da nossa história, que D. Pedro I teve que abdicar do trono brasileiro a favor de seu filho D. Pedro II, pois o trono de Portugal, destinado à sua filha, futura rainha D. Maria II, havia sido usurpado por seu irmão D. Miguel. E foi tão carinhoso e determinado o apoio que recebeu da população portuguesa ao desembarcar no Porto, em 1832, que D. Pedro I (D. Pedro IV, em Portugal), deixou expresso que, o seu coração, após a sua morte, ficaria encerrado em uma urna de prata, na Igreja da Lapa, na cidade do Porto.
Isso nos dá a verdadeira dimensão dos laços afetivos e cívicos entre Portugal e o Brasil. É Registro Histórico!

Anônimo disse...
É a EDUCAÇÃO como alavanca para a construção de uma Nação! No dia  18 de fevereiro, portanto poucos dias após a chegado de D. João a Bahia, foi criada a ESCOLA DE CIRURGIA DA BAHIA, proposta pelo médico José Correa Picanço que era cirurgião-mór do Reino e que ficou encarregado da formação do corpo docente da Faculdade de Medicina. E, no dia 2 de abril de 1808, estabeleceu uma CADEIRA DE ANATOMIA (núcleo da futura Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro) no HOSPITAL MILITAR DA CORTE DO RIO DE JANEIRO.
Com o estabelecimento de cursos de ensino superior que eram, até então, proibidos na Colônia, os cursos de medicina e cirurgia estabelecidos na Bahia e no Rio de Janeiro foram os primeiros a existirem no país. A criação dessas escolas integrou o processo de institucionalização da medicina no Brasil, iniciado com a vinda da família real. Ao longo do período colonial, o cuidado com a saúde foi uma atribuição partilhada por diversos agentes de cura, como cirurgiões, físicos, sangradores, barbeiros, parteiras e seus aprendizes. A prática da medicina ficava também a cargo da assistência prestada nas enfermarias jesuíticas, nos hospitais da Misericórdia e hospitais militares que, na maioria das vezes, eram a única fonte de assistência médica e fornecimento de medicamentos


Anônimo disse...
Delmanto, esse primeiro curso superior no Brasil, recebeu, em 1832, o nome de Faculdade de Medicina da Bahia. Foi instalada onde era o COLÉGIO DOS JESUÍTAS, no TERREIRO DE JESUS, que havia sido fundado em 1553 e que foi a primeira instituição a ministrar curso de nível superior, no caso, a formação de sacerdotes. Em 1808, funcionava no local o HOSPITAL REAL MILITAR DA BAHIA, que foi adaptado para abrigar o ensino da Medicina.
É empolgante o registro da chegada da Família Real e da Corte Portuguesa ao Brasil: de Colônia a sede do reino de Portugal!

Anônimo disse...
Jo Sant'Iago (facebook): Um pouco de histório do nosso Brasil...

Anônimo disse...
Regina Marques da Costa (Facebook): Com certeza, hoje, podemos afirmar que a família real acertou ao optar, em 1807, pela vinda para o Brasil Colônia, em uma decisão madura e estratégica (do texto do blog).

Anônimo disse...

Djanira Genovez (Facebook): E agora, como fica a nossa História???

Um comentário:

Anônimo disse...

MALANDRAMENTE

Postar um comentário