fevereiro 07, 2014

Teatro de Arena 50 Anos & O Poeta do Povo!



50 ANOS DO TEATRO 
DE ARENA ! (1964 – 2014)
O grito das massas e o Poeta do Povo!



A Revolução Cultural ocorrida no Teatro Nacional, na década de 60, teve seu marco no show “OPINIÃO”, de Augusto Boal, Gianfrancesco Guarnieri e Oduvaldo Vianna Filho. E esse espetáculo revelou para o Brasil toda a criatividade musical de João do Vale.

Considerado O POETA DO POVO, esse poeta maranhense soube captar o grito das massas, transformando-o em canções fortes e impactantes.
O compositor e cantor maranhense João Batista do Vale (1933-1996), que representou o grito contido das massas contra todo o tipo de injustiça social, conforme revela a letra de “Carcará”, simbolizando a vida difícil dos sertanejos, comparando-a à ave Carcará, que tem que matar para sobreviver.



Entretanto, o ”Carcará” desta letra tinha também um outro significado, ou seja, era considerado herói, na época, porque simbolizava uma juventude que lutava contra a ditadura militar para defender o povo brasileiro.

Historicamente, em 1964, João do Vale participou do show Opinião, que foi apresentado no teatro do mesmo nome, no Rio de Janeiro, ao lado de Zé Kéti e Nara Leão, tornando-se conhecido principalmente pelo sucesso da música “Carcará”, a mais marcante do espetáculo.

A REVOLUÇÃO NO TEATRO NACIONAL

O teatro brasileiro vem desde os primórdios da colonização portuguesa. Mas só nos anos 50, começa a tomar forma a retratar a sociedade paulista com Jorge de Andrade enquanto Ariano Suassuna inova no teatro regional. Em 1948, Alfredo Mesquita funda a Escola de Arte Dramática - EAD, em São Paulo e Maria Clara Machado, em 1950, abre o Tablado, no Rio de Janeiro.

No final da década de 50 e início dos anos 60, a prioridade do então poderoso TBC - Teatro Brasileiro de Comédia para as peças e autores estrangeiros, leva os autores e atores nacionais a procurarem outro caminho vendo, no teatro, um meio válido para buscar a transformação da sociedade brasileira.



A Revolução Cultural do Teatro Brasileiro, na década de 60, a nosso ver, está marcada pela atuação teatral e política de dois grupos teatrais: o TEATRO DE ARENA, de São Paulo, sob a direção de Augusto Boal, Gianfrancesco Guarnieri e Oduvaldo Vianna Filho; e o GRUPO OPINIÃO, do Rio de Janeiro, sob a direção de Paulo Pontes , Oduvaldo Vianna Filho, Armando Costa. Na verdade, atuavam em perfeita simbiose.

Em 1965, no Rio de Janeiro aconteceu a apresentação revolucionária do "Show Opinião", com Zé Kéti, João do Vale e Nara Leão. Os autores do espetáculo, Armando Costa, Oduvaldo Vianna Filho e Paulo Pontes deixaram claro que "...é preciso restabelecer o teatro de autoria brasileira - não somente o teatro do dramaturgo brasileiro - o espetáculo do homem do teatro brasileiro. É preciso que finalmente e definitivamente nos curvemos à nossa força e à nossa originalidade".



Com direção geral de Augusto Boal e direção musical de Dorival Caymmi Filho, o espetáculo trazia a música de Zé Kéti e João do Vale em cima de ampla pesquisa na autêntica música popular brasileira.

“O espetáculo tem duas intenções principais. Uma é a do espetáculo propriamente dito, Nara, Zé Kéti e João do Vale tem a mesma opinião, quando se aliam ao povo na captação de novos sentimentos e valores necessários para a evolução social; quando mantém vivas as tradições de unidade e integração nacionais. A música popular não pode ver o público como simples consumidor de música; ele é fonte e razão da música.

Com esse espírito é que João do Vale – o poeta do povo! - descreve quase sempre uma contradição; a vontade e a força de sua gente, o amor que dedicam à terra e a impossibilidade de usá-la em proveito próprio. O lamento antigo permanece, acrescido de uma extraordinária lucidez” (do histórico do show “Opinião”)

CARCARÁ

Composição: João do Vale/José Cândido

(Glória a Deus Senhor nas altura
E viva eu de amargura
Nas terra do meu senhor)

Carcará
Pega, mata e come
Carcará
Num vai morrer de fome
Carcará
Mais coragem do que homem
Carcará
Pega, mata e come
Carcará
Lá no sertão
É um bicho que avoa que nem avião
É um pássaro malvado
Tem o bico volteado que nem gavião
Carcará
Quando vê roça queimada
Sai voando, cantando,
Carcará
Vai fazer sua caçada
Carcará come inté cobra queimada
Mas quando chega o tempo da invernada
No sertão não tem mais roça queimada
Carcará mesmo assim num passa fome
Os burrego que nasce na baixada
Estribilho
Carcará é malvado, é valentão
É a águia de lá do meu sertão
Os burrego novinho num pode andá
Ele puxa no bico inté matá
Carcará
Pega, mata e come!

A REVOLUÇÃO NO TEATRO NACIONAL
O teatro brasileiro vem desde os primórdios da colonização portuguesa. Mas só nos anos 50, começa a tomar forma a retratar a sociedade paulista com Jorge de Andrade enquanto Ariano Suassuna inova no teatro regional. Em 1948, Alfredo Mesquita funda a Escola de Arte Dramática - EAD, em São Paulo e Maria Clara Machado, em 1950, abre o Tablado, no Rio de Janeiro.

No final da década de 50 e início dos anos 60, a prioridade do então poderoso TBC - Teatro Brasileiro de Comédia para as peças e autores estrangeiros, leva os autores e atores nacionais a procurarem outro caminho vendo, no teatro, um meio válido para buscar a transformação da sociedade brasileira.

A Revolução Cultural do Teatro Brasileiro, na década de 60, a nosso ver, está marcada pela atuação teatral e política de dois grupos teatrais: o TEATRO DE ARENA, de São Paulo, sob a direção de Augusto Boal, Gianfrancesco Guarnieri e Oduvaldo Vianna Filho; e o GRUPO OPINIÃO, do Rio de Janeiro, sob a direção de Paulo Pontes , Oduvaldo Vianna Filho, Armando Costa. Na verdade, atuavam em perfeita simbiose.

SHOW OPINIÃO – LIBERDADE/LIBERDADE/ MORTE E VIDA SEVERINA

Em 1965, assistimos no Rio de Janeiro a apresentação revolucionária do "Show Opinião", com Zé Kéti, João do Vale e Maria Bethânia (substituindo Nara Leão). Era a estréia da novata Maria Bethânia no teatro. A sua interpretação dramática e a força que ela impôs à personagem repercutiram por todo o país: nascia uma estrela ímpar! Os autores do espetáculo, Armando Costa, Oduvaldo Vianna Filho e Paulo Pontes deixaram claro que "...é preciso restabelecer o teatro de autoria brasileira - não somente o teatro do dramaturgo brasileiro - o espetáculo do homem do teatro brasileiro. É preciso que finalmente e definitivamente nos curvemos à nossa força e à nossa originalidade".

Com direção geral de Augusto Boal e direção musical de Dorival Caymmi Filho, o espetáculo trazia a música de Zé Kéti e João do Vale em cima de ampla pesquisa na autêntica música popular brasileira.

No mesmo ano de 1965, ainda no Rio, numa promoção do Teatro de Arena/Grupo Opinião, assistimos a apresentação de "Liberdade, Liberdade", peça de Millôr Fernandes e Flávio Rangel, era o chamado teatro de protesto, criticando o movimento militar de 1964. A peça estreou no dia 21 de abril, Dia de Tiradentes. Era emblemática. Com Paulo Autran, Tereza Rachel, Nara Leão e Oduvaldo Vianna Filho.


"Liberdade.Liberdade", reunia textos de vários autores sobre o tema-título: Sócrates, Marco Antônio, Platão, Aristóteles, Abraham Lincoln, Martin Luther King, Castro Alves, Vinicius de Moraes, Anne Frank, Danton, Winston Churchill, Cecília Meireles, Geraldo Vandré, Jesus Cristo, William Shakespeare e Carlos Drumond de Andrade.

Na sequência, ainda em 1965, mas agora em São Paulo, assistimos a peça "Morte e Vida Severina", baseada no livro do mesmo nome do poeta João Cabral de Melo Neto, retratando a vida de um retirante que desce do sertão nordestino ao litoral em busca de uma vida melhor. A peça foi montada a pedido do escritor Roberto Freire, Diretor de teatro da PUC/SP. Era o TUCA (Teatro da Universidade Católica) a marcar a sua presença pela história do teatro brasileiro. Os poemas foram musicados por Chico Buarque de Hollanda. A peça representou o Brasil no Festival de Nancy/França, onde arrebatou o maior prêmio.

Na segunda metade dos anos 60, a realidade política brasileira já estava mudada. O regime militar que se instalara no Brasil em 1964 recebera, no início, apoio expresso da sociedade brasileira (marcha dos cem mil) preocupada com os desmandos e falta de rumo seguro do Governo de João Goulart. Após a fuga do presidente, toda a classe política apoiou a eleição do Marechal Castelo Branco, para Presidente do Brasil, inclusive o PSD, de Juscelino Kubischeck, que por iniciativa do ex-presidente, indicou seu primo e correligionário José Maria Alckmin para o cargo de Vice-Presidente da República do Brasil.

O que veio depois já é uma outra história. É o Golpe Militar no Governo Provisório Militar. É a linha dura se impondo. É o AI - 5 , o Ato Institucional nº05. É o obscurantismo, as trevas. A tortura, a cassação de mandatos, a perseguição aos docentes das universidades, a castração política... E o surgimento da Frente Ampla a favor da volta do país ao Estado de Direito, sob a liderança de Carlos Lacerda, Juscelino Kubischeck e João Goulart.

RODA VIVA – O BALCÃO

Duas peças marcaram esse período extremamente difícil da vida nacional: "Roda-Viva" e "O Balcão", a primeira em 1968 e, a segunda, em 1969.

A peça Roda-Viva, escrita, em 1967, por Chico Buarque de Hollanda, fez sua estréia no ano de 1968, no Rio de Janeiro. Assistimos a montagem feita em São Paulo, também em 1968, na Sala Galpão do Teatro Ruth Escobar. Com Marília Pêra, André Valli e Rodrigo Santiago. Com direção de José Celso Martinez Correa e figurinos de Flávio Império.

No decorrer do ano de 1968, o CCC - Comando de Caça aos Comunistas invadiu o teatro, espancou os artistas e depredou o cenário. No ano seguinte, a peça Roda Viva foi para Porto Alegre onde sofreu nova investida do CCC. Após o segundo ataque, deixou de ser exibida.

Foram os anos de chumbo da vida política e cultural do Brasil. A sociedade sofrera esse impacto de tão grande magnitude que nunca mais seria a mesma e determinaria as mudanças pacíficas na sociedade brasileira com o Movimento das Diretas Já! e a redemocratização do país ainda em curso.



Em 1969, a encenação apoteótica de "O Balcão", peça do dramaturgo francês Jean Genet, que esteve em São Paulo assistindo a montagem feita por Ruth Escobar, com direção do argentino Victor Garcia que com muito vanguardismo e teatralismo monta "O Balcão" em uma ousada produção remodelando radicalmente a arquitetura interna do Teatro Ruth Escobar. Uma peça alegórica, cheia de referências metateatrais, escrita em 1957. Com cenas de simulação de sexo, nu frontal, juízes e bispos sendo currados sexualmente, segundo o crítico Lourenço Cavalcanti

Os autores: Raul Cortez, Célia Helena, Claudio e Sergio Mamberti e Dionísio de Azevedo. Raul Cortez fazia o primeiro nu frontal do teatro brasileiro. A peça representou uma época de grandes transformações políticas, sociais, culturais e sexuais...Uma das atrizes foi presa acusada de ter dado abrigo a Carlos Lamarca. A luta armada começava com a Aliança Libertadora Nacional - ALN: era o começo da guerrilha no Brasil. O AI -05 imperava...

A efervescência cultural no teatro brasileiro, entre tantas manifestações de grupos teatrais por todo o país, concluiu essa década de criação e revolução cultural com o grandioso espetáculo "HAIR", em 1970. Montado no Teatro Aquarius (Zaccaro), no Bairro do Bixiga.

Esse "musical rock" marcaria definitivamente o teatro brasileiro. Após seu grande sucesso na Broadway, nos EUA, nos últimos anos dos anos 60, estreava sob grande espectativa, em 1970, em São Paulo.

A montagem do musical no Brasil requereu grandes esforços do produtor Altair Lima e do Diretor Ademar Guerra. De início, a descrença dos empresários em apostar em um espetáculo dessa magnitude e, também, o cerco da censura. O AI - 05 estava a mais de um ano em vigor...
Baseado no livro de poemas líricos de James Rado e Gerome Ragni, tinha músicas de Galt MacDermot. Produto hippie da "age of Aguarius", representava a contra-cultura e a revolução sexual dos anos 60.



Era a história de uma "tribo", os "hippies da age of Aguarius", politicamente ativos, com seus cabelos longos e roupas típicas e despojadas a lutar por suas vidas, seus amores e pela liberdade sexual que estava chegando. Com a rebelião da "tribo", eles se posicionavam contra o recrutamento para a Guerra do Vietnã e contra o conservadorismo de seus pais e da sociedade americana.

Com grande elenco, revelou inúmeros atores: Armando Bogus, Sônia Braga, Maria Helena, Altair Lima, Laerte Morrone, Aracy Balabanian, Bibi Vogel e, na sequência de novas montagens, Antonio Fagundes, Nuno Leal Maia, Ney Latorraca, Denis Carvalho, Buza Ferraz e Wolf Maia.

OS ANOS 60 NÃO TERMINARAM...

7 comentários:

Delmanto disse...

O show “OPINIÃO” é o grande marco do Teatro Nacional que está completando em 2014, Os seus 50 ANOS!
A partir daí a “alma nacional” passou a se mostrar e a dar voz as aspirações populares. E o Grupo Opinião e Teatro de Arena estavam na “vanguarda” desse movimento.
Depois com “LIBERDADE, LIBERDADE!”, atingiu o seu ápice com a interpretação magistral de Paulo Autram.
E nesse movimento que passou a mobilizar o país, encontrou nas músicas engajadas de João do Vale – O Poeta do Povo! – a “ligação direta” com o povo brasileiro, carente de uma comunicação que realmente mostrasse os seus problemas e as suas aspirações. João do Vale, ao lado de Zé Kéti e Nara Leão, exerceram bem esse importante papel de interlocutores com o sofrido povo brasileiro.
E João do Vale, o poeta maranhense, com a música “Carcará”, deu força ao sofrido povo nordestino em sua luta contra a exclusão social.
Posteriormente, Maria Bethânia substituiu Nara Leão no show “Opinião” e se consagrou com a interpretação de Carcará. A partir daí, todo o Brasil passou a conhecer e a admirar a maior interprete nacional.
É REGISTRO HISTÓRICO!

Anônimo disse...

Boa lembrança, Delmanto. O Brasil está precisando de muitos “Grupos Opinião” e muitos “Teatros de Arena”! É preciso mobilizar o povo brasileiro e, principalmente, a nossa juventude que está completamente alienada e desinteressada dos problemas nacionais. A UNE que no passado representou a linha de frente da luta popular por reformas e contra as injustiças sociais está, há anos, atrelada ao governo federal, vivendo de verbas públicas sempre sob o comando do atrasado PCdoB, só ficam “mamando nas gordas tetas” do governo e deixaram de representar os jovens brasileiros.
Mas é preciso reagir! É preciso mudar!
O PT e o PSDB tiveram muitos anos para apresentarem um modelo de desenvolvimento para o Brasil. E, por 20 anos, aplicaram uma política econômica NEO-LIBERAL que deixaria qualquer partido de direita com a certeza de que as suas bandeiras foram “roubadas” por essa “falsa esquerda” que, chegando ao PODER, passaram a ter o mesmo procedimento político e econômico dos antigos governos
E ainda nos legaram o MENSALÃO e os escândalos que o precederam como a COMPRA DE VOTOS PARA A REELEIÇÃO e o MESALINHO (PSDB) de Minas Gerais.
Chega!
Queremos Partidos Políticos LIMPOS!
Carcará!
Pega mata e come!!!
(carlosantoniomascarenhas@yahoo.com.br)

Anônimo disse...

Beth Muniz (Dihitt):
Lido, votado e indicado.
Compartilhado no G+.
Te sigo aqui e no seu blog.
Um abraço.

Anônimo disse...

Ana Maria Nogueira Pinto Quintanilha Facebook):
João do Vale, Gianfrancesco Guarnieri, Oduvaldo Vianna Filho, são ícones de toda uma geração. Eu, ainda bem garota, cheguei a testemunhar o ideal destes guerreiros.

Anônimo disse...

Joana Sant'Iago( Facebook):
revi um filme... obrigada Armando Moraes Delmanto

Anônimo disse...

Jo Sant'Iago (Facebook):
O tempo passa e nem percebemos..

Anônimo disse...

Olá, Delmanto.

Ródrio comentou a notícia Teatro de Arena 50 Anos & O Poeta do Povo!.

Comentário:
Maravilha, Delmanto - muito bom. Abração

Responda e leia mais no endereço http://www.dihitt.com/meu_conteudo#n=teatro-de-arena-50-anos-o-poeta-do-povo&c=1715372

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