Estórias de
Pescador...
O Professor José Antônio
Sartori pertenceu à ABL – Academia Botucatuense de Letras. Membro Efetivo foi
dinâmico vice-presidente, estando à frente de grandes eventos da ABL. O livro
do “Jubileu de Prata da ABL – 1973-1998)” foi coordenado por ele. Professor de
Ciências premiado como Cientista do Ano, teve seu livro de Ciências em
coautoria com o Prof. Marques como campeão nacional de vendas. Colaborador da
revista PEABIRU, tem artigos importantes sobre a história botucatuense. O artigo "Três Mentiras Verdadeiras" foi publicado no "ALMANAQUE CULTURAL DE BOTUCATU/2000", com ilustrações feitas em 1972 pelo prof. Vinicio Aloise.
Três Mentiras Verdadeiras
Sábado.
Dia
de verão, ensolarado, muito quente, estafante.
O
silêncio da mata é quebrado pelo murmurinho das águas do rio em
corredeira. Logo acima, troncos de árvores
abatidas pelo vento, mergulhados, represam o rio formando um remanso - um poço.
À
margem e à sombra das árvores do mato, sobre bancos de areia límpida, nos
instalamos para pescar lambaris, piavas,
mandiuvas, etc. A água turva e o rio
pré-anunciavam boa pescaria.
Não
foi fácil chegar a esse lugar. A trilha
dos pescadores, outrora bem batida, apresentava um verdadeiro emaranhado de
enroscos: ramagens recém brotadas, galhos de agarra-compadre, cipós pendentes, ofereciam obstáculos à nossa
passagem em diversos lugares. As pontas
das varas, a mochila, o chapéu e até nossa camisa, nos espinhos se
prendiam. Além disso, as fortes chuvas
caídas em fevereiro, acumularam no meio do mato, águas estagnadas em buracos,
verdadeiros criadouros de pernilongos. Certamente ao entardecer, iríamos sentir na
pele a presença deles.
Pescar
onde? Na corredeira? No poço?
Depois
de bater vara aqui e ali resolvemos cevar o poço com quirera de milho, pão
amanhecido e esfarelado. Logo, alguns lambaris foram fisgados tanto na
corredeira como no poço, onde meu filho esperava pelas piavas.
O
tempo mudou. Trovões rolavam no
horizonte ao longe. O céu escureceu
indicando chuva iminente. Mas, não
choveu. O céu silenciou. O vento também não apareceu. Que mormaço!
Os
peixes começaram a pular fora d’água.
Ficaram alvoroçados. Seguidamente
eram fisgados. A ceva valeu. Estavam comendo.
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Num
dado momento, um puxão forte. A vara
vergou bastante. Parecia um peixe
grande.
Que
surpresa! Um belo tambiú ( lambari do rabo amarelo)
bem grande preso pela metade do corpo.
Mostrei a meu filho. Precisava de
uma testemunha ocular. O anzol se
enroscou na linha formando um laço que apertou a barriga e a nadadeira dorsal
do peixe. Saiu fora d’água na horizontal
como se estivesse nadando no ar.
Mais
tarde, chegaram dois rapazes na margem oposta do rio, à nossa frente. Foram benvindos. Sempre há lugar para mais um, desde que se
faça mudo e guarde silêncio.
Como
de costume, quando conversava com meus botões, ao lançar o anzol iscado no rio,
fui surpreendido por um vulto negro que cruzou o espaço a minha frente;
atingido, raspou-se no anzol, esticou energicamente a linha, perdeu penas e
quase cai n’água. Graças a velocidade
com que vinha e perícia, a ave, talvez algum anu-preto, alçou vôo novamente e foi embora!
Ora
que coisa inacreditável! Acabara de
fisgar um pássaro e na presença de alguns pescadores
.
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Continuei
a pescar com vara telescópica de nailon e linha bem comprida para pegar os
peixes na corredeira. Por várias vezes,
saí de um enrosco no meio do rio até que o anzol se prendeu muito bem, talvez
num galho mais resistente mergulhado n’água.
Tentei alcançar a linha e puxar para abrir o anzol. Não conseguindo isso forcejei pelo cabo da
vara. Nesse instante, a ponta da vara
saltou para dentro do rio.
Como
poderia ter acontecido com um material importado? Um presente de minha filha e que muito
estimava. Chorei reclamações.
Mas
o que fazer? Eu sabia que a ponta da
vara estava presa à linha, esticada pela correnteza, perdida.
Desisti
de recuperar. Agora tinha uma vara
incompleta e inútil.
Usei
outra e voltei a pescar. Após algumas
lançadas de anzol na água, acidentalmente pesquei uma linha, e nela ainda se
achava presa a ponta de minha vara de nailon.
Que sorte! Jamais pensei que isso
poderia acontecer. E tudo aos olhos de
meus companheiros.
A
pescaria foi ótima. Pegamos muitos
peixes. Mais de 50, em média, cada um.
A
tarde agonizava depressa e um chuvisco transmudara-se em grossos pingos, em
chuva forte, que nos acompanhou até chegarmos ao automóvel, todos molhados.
Rapidamente
partimos deixando para trás o Rio
Alambari na Fazenda do senhor Mané Teixeira.
6 comentários:
Quem teve a oportunidade de conviver com o professor Sartori sabe de sua importância para a cultura botucatuense. Como vice-presidente da ABL - Academia Botucatuense de Letras, soube imprimir um ritmo positivo nos eventos e nas publicações da Academia.
Colaborou com a revista PEABIRU, escrevendo artigos referentes à história da cidade e a importância de seus vultos mais importantes. Retratou com perfeição a Festa do Divino Espírito Sanbto de Anhembi, com ilustrações do professor Vinicio Aloise.
Antonina Mendonça (Facebook):
Tio Zé,homem simples, honesto e inteligente. Grande orgulho!
Djanira Genovez (Facebook):
Meu querido professor de Ciências...Bela lembrança.Obrigada...
Carlos Teixeira Pinto (Facebook):
Eh! Armando , quantas lembranças você nos traz . Abraço amigo .
Maíra Sartori Bemfica (Neta)
Meu orgulho e minha saudade eterna!!!
Grande exemplo na minha vida e na minha educação!!
Muito amor e carinho!!
Meu Prof. de Ciências, no Industrial em 1969, excelente professor.
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