outubro 17, 2015

TIREM AS PATAS DAÍ !!! SVOBODA! - SVOBODA! = LIBERDADE! - LIBERDADE!

História recente da queda do Comunismo na Checoslováquia!

TIREM AS PATAS DAÍ !!!



SVOBODA! -  SVOBODA!
(LIBERDADE! -  LIBERDADE!)

 "As patas e os tacões indesejáveis e indesejados continuarão a conspurcar o solo livre: o checoslovaco. Sim, livre, porque ninguém mata a liberdade. Nem tanques, nem canhões, nem patas de cavalos. E um dia a mocidade desse país, espelho para o mundo, gritará com toda a força de seus pulmões:
svoboda, svoboda! (liberdade, liberdade!)."

         Em 2015, nas comemorações dos 45 anos da publicação do artigo "Tirem as Patas Daí", as emoções se renovaram como se eu estivesse escrevendo o artigo naquele momento, com todas as informações chegando e a realidade da política mundial escancarada para o mundo perplexo. Perplexo e pusilânime! As mais expressivas lideranças intelectuais num mutismo agressivo. Pouquíssimas condenações daquele massacre bárbaro.
        Iniciante no jornalismo e buscando a participação cidadã que nos leva a um posicionamento concreto, analisamos a covarde invasão da Checoslováquia pela então União Soviética, arrasando a chamada "Primavera de Praga", liderada por Alexander Dubcek.  Foi um massacre! Escrevemos com o coração, municiados pelas notícias da imprensa e pela história daquele povo que já sofrera tantas dominações, tantas invasões e, sempre, sempre mantivera a altivez e a crença na liberdade.





        No artigo "Tirem as Patas Daí", dizíamos da "chacina soviética da mocidade da Hungria, e dos operários da Alemanha Ocidental, em 1956 e 1957. Agora, o exemplo da Checoslováquia, por ser mais recente, não é menos significativo. Tirem as patas daí. Libertem esse país que deu ao mundo o exemplo da resistência a todas as formas de opressão e não se conformará, jamais, com a prepotência insaciável dos que falam em combater o imperialismo, e passeiam seus tanques de guerra pelas mesmas calçadas por onde perambulou a coragem indômita de João Huss e a genealidade universal de Kafka."
   Na republicação do artigo com os comentários de quem está há 45 anos dos fatos narrados, a curiosidade ficou aguçada...E agora!?! Qual seria a realidade da então Checoslováquia!?! Estariam cicatrizadas as feridas? Aquele povo já estaria no comando de seu próprio destino?

        É interessante esse tema. Será que o comunismo ainda é sentido ou lembrado?

        Hoje, a antiga Checoslováquia é a República Checa, desde 1993, com a Revolução de Veludo, liderada por Václav Havel e com o apoio do líder histórico Alexander Dubcek. Com o desmoronamento do império comunista da União Soviética, em 1989, os checos e os eslovacos chegaram ao consenso e realizaram a separação institucional, pacífica, criando as repúblicas Checa e aEslováquia, em 1993 (foi a segunda separação).
        Não é recente a busca de caminho próprio por esses povos eslavos. Sob os Impérios Austríaco e Austro-Húngaro (1804/1918), os eslavos e outras nações ficaram subjugados por um milênio! E vou repetir: por mil anos!!! Somente com a 1ª. Grande Guerra Mundial(1914/18), os eslavos conseguiram a libertação. Temendo outras dominações, os checos e os eslovacos, optaram pela união de forças e criaram a Checoslováquia. Isso durou até 1939, início da 2ª. Grande Guerra Mundial, quando a Eslováquia, cansada da liderança Checa, aderiu à Alemanha de Hitler, em 1939, permanecendo como república autônoma até 1945, foi a primeira separação das nações.
        Com a vitória dos aliados, voltou a união com a mesma denominação: Checoslováquia. No entanto, em 1949, os comunistas tomaram o poder, permanecendo por 40 anos no domínio daquelas nações até o ano de 1989, quando ruiu o império soviético...Ufa!!!

        E qual seria, agora, 22 anos após, a realidade da República Checa (Ceska Republika)?

        Seria ainda lembrado o comunismo e suas atrocidades, saques e exploração daquele bravo e aguerrido povo?

        Fui ver in loco a realidade checa e saber da presença de seus heróis na memória da população. A jornalista catalã, Natalia Rodrigues, no artigo "Ao pé da letra do espírito de Praga", traçou um retrato da realidade e da pujança atual de Praga: "... o escritor checo (Ivan Klíma), nascido em Praga em 1931, observa um grupo de turistas contemplando, embevecido, o bater das horas do relógio astronômico do centro da sua amada cidade. É quase impossível ouvir uma palavra em checo na Praça da cidade velha; italianos, espanhóis, brasileiros, chineses, alemães, japoneses e russos se confundem, todos eles com sua irrenunciável câmera fotográfica através da qual pretendem imortalizar a cidade de Franz Kafka."


Acervo Delmanto

        Isso é verdade. Hoje, Praga é uma das mais visitadas cidades do Leste Europeu. É verdade que a praça da cidade velha, a chamada praça do relógio astronômico, está sempre tomada pelos turistas admirados pela força daquele povo checo que soube manter por tanto tempo e durante tantas opressões o seu orgulho de nação.


Acervo Delmanto

Mas é também verdade que essa praça tem nome...É a Praça John Huss. Ele nasceu na Hussinecz, na Boêmia(1369/1415), daí o seu nome Huss. Filho de camponeses, seguiu a vida religiosa por influência de sua mãe. Chegou a dirigir a importante Capela de Belém, em Praga. Era um pregador brilhante e idealista. Seus sermões pela reforma da Igreja Católica ficaram na história.
  Foi corajoso e pregou contra os abusos do alto clérigo e o acintoso fausto de uma Igreja Católica que cada vez mais se afastava do ensinamentos de Cristo. No ano de 1415, na cidade de Constança, foi participar do Concílio da Igreja Católica, para o qual tivera todas as garantias de segurança. Lá, foi preso. Lá, exigiram que renegasse todas as suas crenças e suas pregações e sermões a favor das reformas na Igreja. Recusando, foi queimado vivo em praça pública, entoando hino de louvor a Cristo...
        Apesar de morto, deixou um legado para a causa da Reforma Protestante que, décadas depois, viria sob a liderança de Martinho Lutero.
        Um período de guerras civis começou na Boêmia depois da morte desse reformador religioso. Seus seguidores, chamados hussitas, lutaram contra os católicos de 1419 até 1436, quando os dois lados chegaram a um acordo.
        Os checos homenagearam John Huss, dando seu nome para a principal praça da cidade.
        Da mesma forma, souberam homenagear Franz Kafka. Esse mestre inconfundível da ficção universal que foi um dos maiores escritores da língua alemã (escrevia em alemão) do século XX. Era filho de judeus. A família judia de classe média, morava em Praga onde nasceu(1883/1924), à época sob o domínio do Império Austro-Húngaro.


Acervo Delmanto

        Na literatura ocidental, Kafka conseguiu lugar de destaque. Suas principais obras A Metamorfose, O Processo, O Castelo e a Colônia Penal retratam os dramas individuais, marcados por um estilo desapegado, imparcial, detalhista, abrangendo os temas da alienação e perseguição.
  Formou-se advogado e chegou a exercer a profissão no ramo securitário. Morreu solteiro, mas viveu grandes e incompreendidos amores. Mesmo tendo publicado algumas obras, morreu quase desconhecido, tuberculoso, em 1924.
        Hoje a obra sobre Franz Kafka é já de maior dimensão do que o trabalho próprio do autor, indo de estudos literários sérios até as análises psicológicas sobre Kafka... Suas principais obras dão o perfil do que se conhece por "literatura moderna", definindo o século XX como o século kafkaniano.
        Os checos souberam homenagear também Franz Kafka. Deram seu nome a uma importante praça, no antigo bairro judeu de Praga e, nesse mesmo bairro, erigiram uma estátua modernista de Kafka. E, às margens do rio Moldava, está localizado o Kafka Museum, perto da famosa Ponte Carlos.
        Com certeza os checos não se esqueceram de seus dominadores e nem das atrocidades dos comunistas, mas com absoluta certeza, cultuam com orgulho a sua história de um povo livre (Sim, livre! Porque ninguém mata a liberdade. Nem tanques, nem canhões, nem patas de cavalos. E um dia a mocidade desse país, espelho para o mundo, gritará com toda a força de seus pulmões: svoboda, svoboda (liberdade, liberdade)" e de seus heróis, especialmente John Huss eFranz Kafka. (AMD)



Invasão da Checoslováquia: "Tirem as Patas Daí"!


Com um tema bem diverso, já a nível internacional, gostaríamos de abordar o artigo escrito em 1969, incluído no livro "A Juventude: participação ou omissão", com o título
"Tirem as Patas Daí" :

"Para meditar-se, o exemplo da juventude heróica, e, já agora, legendária, da Checoslovaquia...Quando um dia, abrirmos as páginas da História, leremos a respeito das virtudes das matronas romanas; dos desprendimento dos espartanos; da audácia dos argonautas portugueses; da intrepidez dos astronautas, conquistadores do céus. Leremos, também, as páginas épicas dos moços checoslovacos, reagindo contra o tacão das botas soviéticas, contra os tanques marcados com a foice e o martelo dos invasores indesejados. Lição para meditar-se.

Curioso vermos alguns jovens, sobretudo estudantes brasileiros, defendendo a ocupação daquele país, pelas tropas soviéticas. Curioso, porque, falando em liberdade dos cidadãos, em autodeterminação dos povos aceitam a tese do Cremlin da soberania limitada: calculem só se alguma superpotência limitasse a determinação de nosso País. A gritaria que sairia pelas ruas de nossa cidade, liderada pelos adeptos deMoscou, contra a ingerência em nossa soberania. No entanto, os soviéticos podem manter tanques nas ruas das cidades Checoslovacas!

Bendita a juventude de Praga, de Brno, de toda a Boemia e da Moravia, que não se intimidou com os canhões dos tanques vermelhos. Deram uma lição de coragem, de ombridade, de intimorata intrepidez a todos aqueles que vendilhões da própria liberdade, aceitando a foice e o martelo estrangeiros, querem, igualmente, convencer a juventude sadia, estudiosa, laboriosa, de nossa Pátria, a lutar pela submissão às ordens emanadas de terras estrangeiras.

Triste engano d´alma ledo e cego! A mocidade que estuda, que trabalha sabe, desde há muito, qual o valor da falsidade, da deslavada mentira das doutrinas marxistas. Sabe que ela só se impõe pelo poder dos tanques.

Ainda está na memória de todos a chacina soviética da mocidade da Hungria, e dos operários daAlemanha Oriental, em 1956 e 1957. Agora, o exemplo da Checoslovaquia, por ser mais recente, não é menos significativo.

Tirem as patas daí. Libertem esse país que deu ao mundo o exemplo da resistência a todas as formas de opressão e não se conformará, jamais, com a prepotência insaciável dos que falam em combater o imperialismo, e passeiam seus tanques de guerra pelas mesmas calçadas por onde perambulou a coragem indômita de João Huss e a genealidade universal de Kafka.

Nós nos recordaremos da mocidade de Praga e das cidades e das aldeias checoslovacas. Como um exemplo para aqueles que sabem dar valor aos valores tradicionais de sua Pátria, de sua gente, de sua terra.

As patas e os tacões indesejáveis e indesejados continuarão a conspurcar o solo livre: O Checoslovaco. Sim, livre, porque ninguém mata a liberdade. Nem tanques, nem canhões, nem patas de cavalos. E um dia a mocidade desse país, espelho para o mundo, gritará com toda a força de seus pulmões: svoboda, svoboda (liberdade, liberdade)."


A conceituada revista Veja, de 26/08/98, sob o título "Crime tardio", apresenta interessante matéria referente a atuação da mocidade de Praga e de seu líder Alexender Dubcek :

"A hipótese encerra uma amarga ironia: Alexander Dubcek, o líder da Primavera de Praga, sobreviveu ao totalitarismo soviético e à ocupação da Checoslováquia em 1968, mas foi assassinado por agentes secretos russos em 1992, quando o comunismo já havia sido varrido da Europa. Um livro recém-editado em Praga, Tragédia no Quilômetro 88, do advogado Liboslav Leksa, afirma que o acidente de carro que matou Dubcek foi planejado para impedir seu depoimento sobre os crimes daKGB, marcado para dias depois em Moscou. Entre os indícios estão o sumiço do veículo e do dossiê contra a polícia secreta soviética que Dubcek levava numa maleta. O lançamento do livro coincidiu com os trinta anos, quinta-feira passada, da invasão de Praga por 4.600 tanques e 165.000 soldados doPacto de Varsóvia, a defunta aliança militar do bloco soviético.

Era o fim da Primavera de Praga, o período de oito meses em que Dubcek, então secretário-geral doPartido Comunista da Checoslováquia, levou à frente o projeto de um "socialismo com face humana". Em clima de entusiasmo e de efervescência cultural, a população experimentou liberdade de imprensa e de expressão, um ensaio de liberalização econômica e abertura democrática, apesar da persistência do regime de partido único. Tal era o apoio popular à abertura que os militares soviéticos tinham ordens de evitar ao máximo reagir às provocações dos manifestantes. Mesmo assim, uma centena de pessoas morreu em choques com os invasores.

Preso e levado para a União Soviética, Dubcek foi condenado ao ostracismo. Viveu como guarda florestal até a Revolução de Veludo, de 1989, quando os comunistas foram pacificamente apeados do poder. Ao lado de Vaclav Havel, hoje presidente da República Checa (a Eslováquia se tornou um país independente), Dubcek voltou à ativa e se elegeu presidente do Parlamento. A sobrevida política foi abreviada pelo acidente. Deixou o legado de uma experiência ancorada no mesmo anseio quederrubou o Muro de Berlim."



(Do Livro "A Juventude Participação ou Omissão" Edijor - 1970)

2 comentários:

Delmanto disse...

Tirem as patas daí!
Esse artigo sobre a invasão da então Checoslováquia foi escrito em 1969. Fui ver in loco, 45 anos depois como estava a realidade daquele povo corajoso e que não se conformará, jamais, com a prepotência insaciável dos que falam em combater o imperialismo, e passeiam seus tanques de guerra pelas mesmas calçadas por onde perambulou a coragem indômita de João Huss e a genealidade universal de Kafka."
Vale a leitura do post no Blog. É Registro Histórico!

Anônimo disse...

Hoje, tudo está mudado mesmo. Praga é uma das mais belas cidades européias. Manteve toda a sua beleza do passado e tem, no presente, a admiração dos visitantes que se encantam com sua história encontrada em cada quarteirão, em cada estátua ou em seus prédios de época. A “Ponte Carlos” é o ponto alto das visitas. Até uma estátua de “São Jorge” deixam os turistas maravilhados. O povo checo soube superar suas adversidades. Como o destino preferido do Leste Europeu, Praga mantém um ritmo de vida que nos mostra como será grande essa Nova Europa formada pelas nações que compõem a União Européia. Muito boa essa viagem histórica, Delmanto. Obrigado.
carlosantoniomascarenhas@yahoo.com.br

Postar um comentário