Sempre me recordo que meu pai, médico, comentava que a Misericórdia não era uma Santa Casa, mas com certeza, era uma Casa Santa! Principalmente em seus primórdios, quando não havia a assistência médica organizada por parte do Governo Federal, funcionando os serviços de saúde pela mobilização da própria comunidade que contava com entidades filantrópicas, geralmente maçônicas. O Centenário da Misericórdia teve seu registro completo no livro "Memórias de Botucatu 2", publicado em 1993:
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Histórico Completo da Misericórdia Botucatuense/leia aqui
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Pois bem, a Misericórdia Botucatuense foi fundada em 1893, passando a funcionar em 1901, graças ao médico baiano, Dr Antonio José da Costa Leite, que teve a brilhante iniciativa. Como único médico da cidade e da região, acompanhando o avanço das paralelas poderosas da Estrada de Ferro Sorocabana e contando com o apoio financeiro e a doação de terras de fazendeiros e ricos proprietários da cidade.
1ª. FASE DO HOSPITAL:
O Dr Costa Leite obtém da matriarca Da. Isabel Franco de Arruda, rica proprietária vinda de Piracicaba, a doação 10 contos de réis. Dez contos de reis! Os fazendeiros Antonio Ferreira da Silva Veiga Russo e Domingos Soares de Barros doaram parte de suas propriedades para o hospital. Sendo que o Domingão (como era conhecido) doou propriedades como primeira fonte de renda da Misericórdia.
Com firme apoio da comunidade foi eleita a primeira Diretoria: Dr Costa Leite, Antonio Cesar, Amando do Amaral Barros, João Rodrigo e Floriano Simões. Como Provedor, o Juiz de Direito, Dr Luiz Ayres de Almeida Freitas. A planta do hospital foi de autoria do arquiteto Francisco B. Soler (espanhol).
Interessante o registro da presença, por dois anos, do médico e depois cientista famoso, Dr. Vital Brasil. Pertenceu ao quadro clínico da Misericórdiae, como secretário, elaborou algumas Atas. Com a existência de muitas fazendas, portanto de muitas matas e animais peçonhentos (cobras e escorpiões), começou a pesquisar e estudar o soro-antiofídico. Em, 1897, seguiu para a capital para atuar no recém fundado Instituto Butantã, onde se consagrou para a ciência.
2ª. FASE DO HOSPITAL:
Em 1937, grave crise abalou o funcionamento da Misericórdia. O Corpo Clínico se afastou por desentendimento com a Administração. Após breve período sem prestar serviços, fechado, o hospital reabriu em uma iniciativa da Comissão de Diretores da Administração da Entidade Mantenedora. Foram convidados os srs. Emílio Peduti e o Dr Antônio Delmanto. O primeiro, empresário e capitalista bem sucedido e, o segundo, médico botucatuense com especialização na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, com estágio com o Dr Benedito Montenegro, considerado o melhor cirurgião da época e, posteriormente,Diretor da Faculdade de Medicina da USP.
Delmanto e Peduti em solenidade do Hospital
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As instalações da Misericórdia eram modestas. Era preciso ampliar. Moderno aparelho de Raio X, caríssimo à época e impossível de ser comprado com recurso próprio, foi uma oferta do Comendador Antonio Pereira Ignácio, fundador da Votorantim (avô do empresário Antonio Ermírio de Moraes). O industrial Antonio de Souza Noschese, doou a sala e todos os aparelhos de Ortopedia, a viúva do ex-prefeito Tonico de Barros doou toda a ala de ginecologia com vários quartos e equipamentos, que passou a ser a ala Maternidade “Nhazinha de Barros”. Enfim, com a mobilização do corpo clínico obteve-se as doações necessárias para o pleno funcionamento do hospital.Em 1993, a grande comemoração do CENTENÁRIO DA MISERICÓRDIA BOTUCATUENSE. Uma vida onde a benemerência supriu, por décadas, a ausência do Estado no importante setor de prestação de serviços de saúde. Hoje, o hospital está consolidado, mesmo enfrentando as dificuldades que todos os hospitais do Brasil ainda enfrentam.
O registro do histórico do Centenário da Misericórdia Botucatuense precisa ser divulgado como forma de se preservar a história e deixar exemplos da participação positiva e vitoriosa da comunidade organizada.
O Prof. Arlindo Machado, da Escola de Comunicações e Artes da USP, sobre a importância dos registros históricos e dos livros de história, nos lembra que “...a biblioteca da Sorbonne, tida como a maior da Europacontava com um acervo, no seu início, de 1.228 livros.Hoje, as maiores bibliotecas do mundo abrigam cada uma por volta de dez milhões de volumes. E destaca a importância de registros, como o que estamos fazendo, dos fatos históricos:”...Bancos de Dados inteligentes deverão substituir os inexpressivos fichários atuais, novos softwares ajudarão na tarefa de localizar, selecionar e compreender a informação...deverão condenar ao esquecimento as antigas livrarias e remodelar o conceito de biblioteca...”
Esse é o futuro. É perfeitamente possível digitalizar coleções inteiras de jornais antigos. É viável, através de softwares específicos, catalogar toda uma biblioteca. Bancos de Dados podem preservar toda a Memória Histórica das cidades.
Repetimos: esse é o futuro! E estamos trazendo o registro importante de parte da construção histórica de uma cidade do interior do Estado de São Paulo, com a construção, pela força da comunidade organizada, de seu Hospital Benemérito.
Comentários quando da postagem do Centenário da Misericórdia:
a rica história da cidade de santos é intimamente ligada à santa casa. não aquela que existe hj, na entrada da cidade.
santos e são vicente, cidades vizinhas, grudadas, dividiam tarefas, e uniram-se ainda mais por conta da santa casa que fora estabelecida em santos, por um gruppo de jesuítas, por volta de 1543. santos recebeu esse nome por causa da santa casa que servia às duas cidades. os habitantes de são vicente viajavam horas para serem atendidos na santa casa de misericórdia de todos os santos, que ficava no extremo oposto, da cidade vizinha instalada no outro extremo oposto em relação a são vicente, ou seja, na entrada do estuário, onde um trapixe servia de porto.
abreviar para "santos" ficou mais econômico. em lugar de dizer: vou à santa casa de misericórdia de todos os santos. ficava mais simples dizer: vou a santa casa de santos.
as santas sasas existem desde 1498. dona leonor, viúva de dom joão II, rei de portugal, determinou a fundação da santa casa de misericórdia de lisboa. daí, cada canto do planeta que portugal conquistava, era obrigado a receber uma santa casa. elas, as santas casas, eram as organizações mais fortes e emblemáticas da colonização portuguesa.
adoro essas histórias.
é isso.
(mariceiaoliveira@yahoo.com.br)
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