agosto 05, 2016

HOMENS QUE FIZERAM BOTUCATU - 2ª parte

HOMENS QUE FIZERAM BOTUCATU
2ª parte

“Para mim, uma cidade sem passado, sem lembrança concreta dos seus antepassados, sem as impressões digitais de sua história, me confrange...” PAULO FRANCIS





Tudo começou com o jornal “FOLHA DE BOTUCATU”, em sua 2ª fase, que a partir de 1988 iniciou uma série de publicações buscando resgatar a memória de Botucatu, através do registro dos grandes vultos do passado e do presente, verdadeira COLETÂNEA DAS GERAÇÕES BOTUCATUENSES publicada no livro“MEMÓRIAS DE BOTUCATU”, edição de 1990:

Cardoso de Almeida, Petrarca Bacchi, Virgínio Lunardi, Raphael Augusto de Moura Campos, Paschoal Ferrari, Dante Delmanto, Cantídio de Moura Campos, Albina Varoli Botti, Sebastião de Almeida Pinto, José Melhado de Campos, Hernâni Donato, Jair Conti, José Pedretti Neto, Francisco Marins, Raymundo Marcolino da Luz Cintra, Vicente Marchetti Zioni, Aécio de Souza Salvador, Irmão Felipe, Ignácio de Loyola Vieira Novelli, Antonio Gabriel Marão, Trajano Pupo, Antonio Pires de Campos, Camilo Fernandes Dinucci e Frei Afonso Maria Lorenzon.


HOMENS QUE FIZERAM BOTUCATU – 1ª PARTE






A relação que estamos publicando foi feita para as edições da“FOLHA DE BOTUCATU”, nos anos de 1988/89 e publicada no“Memórias de Botucatu” (1990). A relação não esgota o assunto. Faltam grandes nomes. A verdade é que grandes botucatuenses estão a merecer um estudo e uma divulgação de suas vidas para as gerações futuras. Mas a ideia original não era esgotar o assunto, mas, sim, despertá-lo. Esse trabalho é para ser feito por muitas pessoas, muitas mãos precisam realizar um trabalho conjunto de resgate da memória botucatuense. Esse trabalho precisa da participação de muitos. De outros jornais. De Entidades Culturais. De outros pesquisadores. Esse importante acervo da história de Botucatu está na “Trilogia das Memórias de Botucatu”.

Agora, a 2ª parte dos HOMENS QUE FIZERAM BOTUCATU, artigos publicados também na imprensa local e no livro "Memórias de Botucatu 2":

Progresso Garcia, Emílio Peduti, José Amaro Faraldo, Antonio Herminio Delevedove, Vicente Moscogliato, Aldo Martin, Arnaldo Moreira Reis, Sidraco Menegon, Luiz Gonzaga Prado, Ângelo Martin, Sebastião da Rocha Lima, Alcides de Almeida Ferrari e Francisco Guedelha.



REPOUSO DO GUERREIRO


O guerreiro repousou. Deixa o retrato de toda uma vida e os filhos e netos bem formados a carregarem com orgulho por todos os cantos a sua venerável imagem.
Progresso foi um lutador a vida inteira. Autodidata brilhou na música, nas letras e na política que era a sua grande paixão.
Fotógrafo de profissão, era um artista que registrou gerações e gerações de botucatuenses. Antes da máquina tecnológica quando a foto ainda recebia o indispensável acabamento artesanal. Essa profissão, Progresso aprendeu ainda menino com o pioneiro da fotografia em Botucatu, o Mestre João Pinto da Rocha Moço animado, aprendeu música e com seu saxofone animou inesquecíveis bailes em nossa cidade, chegando a fazer um cruzeiro marítimo como integrante da orquestra do navio.
Entusiasta do esporte amador, Progresso Garcia militou de forma positiva na Comissão Central de Esportes – CCE, na Liga Botucatuense de Futebol e na Associação Atlética Botucatuense – AAB.
O futebol e o atletismo receberam o apoio vibrante de Progresso. Companheiro de Antonio Delmanto, Nenê Stefanini, Aldo Martin, Aldo Stefanini, Roberto Policaro, Bruno Fabrizzi, Alfredo Tortorella e Ciro Leão na Diretoria Executiva da AAB, por 2 decênios, Progresso deixou registrada a sua passagem pelo esporte através de anos de dedicação.
Nas Letras e no civismo, Progresso era fanático por Botucatu, a sua cidade querida. Fanatismo no bom sentido. Autor de conhecidas poesias cívicas, tinha a "verve" criativa e apaixonada...Pertenceu à Diretoria do prestigioso Clube 24 de Maio.
Na política, fez parte da brilhante equipe de idealistas que após a Ditadura Getulista participou de forma vencedora do processo de democratização da vida política de Botucatu. No ano de 1947, elegeu-se Vereador pela UDN - União Democrática Nacional, então comandada por Antonio Delmanto, como parte de urna equipe que formou a maior bancada de vereadores da Câmara Municipal em uma época em que a vereança era sem remuneração, movida a idealismo. Desse grupo pioneiro, surgiram líderes que, como ele, tiveram destaque na vida política botucatuense. A UDN era conhecida por ser um partido de elite, no entanto, em Botucatu, não o era; era o partido mais popular e representativo dos mais variados segmentos sociais. Os companheiros de Progresso Garcia na primeira luta democrática de Botucatu, após a ditadura, foram: Antonio Delmanto (médico), Rafael de Moura Campos (advogado), José da Silva Coelho (comerciário 'e estudante de direito), José Carlos Fortes (gráfico e representante da comunidade negra), Aldo (Martin (contador) Daniel Silva (comerciante), Lourenço Ferrari (pecuarista), Laurindo Izidoro Jaqueta (comerciante), Abílio Dorini (contador).
Na política, Progresso mostrou competência e vocação. Orador brilhante e perspicaz, sabia transmitir com simplicidade as ideias e apresentava as críticas com humor e ironia. Por mais de 25 anos exerceu a vereança conseguindo - fato raro ! - ser por três vezes eleito Presidente de nossa Câmara Municipal. Eleito vice-prefeito de Botucatu, exerceu interinamente e bem a Prefeitura. Sua atuação política foi efetiva em toda a nossa região. Progresso percorreu todos os caminhos e participou de todas as lutas de seu tempo. Nunca se omitiu.
Tive o privilégio de exercer, por 6 anos, a vereança ao seu lado. Lado a lado, literalmente. Sentava ao seu lado, e feliz coincidência, batalhamos lado a lado esses anos todos. Tinha admiração e respeito por Progresso Garcia. Foi um aprendizado, sem dúvida. Ao seu lado aprendi a fazer política em lições de idealismo e amor a Botucatu, vindas de um grande Mestre.
Após a extinção dos partidos políticos pela Revolução de 64, Progresso Garcia foi um dos fundadores do MDB, o "mandabrasa", o partido da oposição. Carregou o partido (a sede era em sua casa), viabilizou o partido e fez do MDB um partido vencedor. Com a fundação do PMDB, executou idêntico papel. Era um gigante no ideal o fisicamente pequeno Progresso Garcia.
Magoado com a ingratidão dos falsos amigos, machucado pelo oportunismo dos usurpadores das mais belas bandeiras partidárias e revoltado com os traidores do voto popular. Progresso Garcia vivia amuado nos últimos tempos, mas já fazia projetos para a virada política de Botucatu nas eleições municipais de 1992. Em verdade, desse bravo guerreiro, com certeza, só ficará a vida vivida com amor, idealismo e muita, muita bravura.
O guerreiro repousou. Dele ficará o retrato do entusiasmo e do idealismo. Soube semear e destacar-se na comunidade à qual serviu com dedicação.
No último dia de fevereiro ele repousou. Todos nós perdemos um pouco de vida. Botucatu ficou mais pobre com a sua inesperada partida.
O guerreiro repousou.
PROGRESSO GARCIA
Saudades.
ARMANDO DELMANTO
(J.B. - 11.03.92)

EMÍLIO PEDUTI



Hoje, a Praça do Bosque leva o seu nome, mas durante muito tempo ele percorreu cada uma das ruas que formam esse tradicional recanto de lazer dos botucatuenses, como a deixar a sua marca, a sua lembrança e o seu exemplo de cidadania. Quer como morador, em seu solar então localizado na Rua Amando de Barros, defronte à Praça. Quer como bem sucedido empresário que comandava os seus negócios de seu escritório localizado na descida da Praça, à Rua Marechal Deodoro. Quer como cidadão solidário que tinha consideração e respeito pela loja Maçônica situada na subida da Praça, à Rua Major Leônidas Cardoso. Quer como competente Prefeito. Municipal que cuidava dos interesses de Botucatu, de sua cidade natal, diretamente do Paço Municipal então localizado na antiga Rua Cesário Alvim, hoje Rua João Passos, na parte alta da Praça.
Hoje, a Praça do Bosque merecidamente leva o seu nome: há 25 anos ele falecia no comando do destino de Botucatu.
Hoje, a Praça do Bosque leva o seu nome. Lá está a sua estátua, oferta anônima de toda a população que participou com a aquisição de bônus para a sua construção, como pleito de gratidão àquele que acreditava em sua terra e em sua gente.
Homenagem merecida.
Homenagem conquistada dia-a-dia, a pouco e pouco.
Duas vezes Prefeito Municipal. Com sucesso.
Comendador Emílio Peduti.
Prefeito Pedutão.
Saudades.
ARMANDO DELMANTO
(EDITORIAL DA "FOLHA DE BOTUCATU"27/05/88)

JOSÉ AMARO FARALDO
.

"UM LÍDER QUE USOU A POLÍTICA, SEM SER POLÍTICO"

"Nasceu em Botucatu no dia 15 de janeiro de 1927, passou sua infância e adolescência na Vila Aparecida, onde residia sua família. Seu pai Antonio e sua mãe Mariangela, seus irmãos: Antonio, Carlos, Judite e Marta.
Foi telegrafista na antiga Estrada de Ferro Sorocabana. Depois foi jornalista escrevendo para vários jornais de grande circulação, como "A Época" e a "Folha de São Paulo".
Como jornalista ganhou prestígio e conseguiu muitos amigos importantes. Entre esses amigos estava o dr. Jânio da Silva Quadros, Governador do Estado de São Paulo, do qual foi valioso colaborador. Esse moço que qualifico de líder botucatuense, tinha um desejo e tudo fez para conseguir realizá-lo, ou seja: o de se criar em Botucatu uma Faculdade de Medicina, no prédio que tinha sido construído para abrigar um hospital para a cura da tuberculose em Rubião Júnior.
Trabalhando como jornalista, também estudava, cursou a Faculdade de Direito do Largo São Francisco onde veio a se formar Bacharel em direito. Voltou para Botucatu, onde passou a residir e trabalhar. Casou-se com dona Maria de Lourdes Fernandes, a 5 de setembro de 1959. Tiveram os seguintes filhos: Ana Lúcia; Maria Inez; Luiz Sérgio; Cláudia Regina; José Henrique; Solange Aparecida e Luiz André. Conversei com sua família, todos foram unânimes em elogiá-lo, seus olhos brilhavam de alegria ao narrar as qualidades e feitos do esposo e pai.
Era incansável no: trabalho e para espairecer, gostava de passeios de automóvel, pelo município de Botucatu, nos quais levava toda a familia. Viajou também em decorrência de seu trabalho.
Amava sua profissão e a exercia com galhardia e competência.
Tinha inteligência e memória fora do comum.
Recitava de cor qualquer artigo dos códigos de leis.
Advogou causas trabalhistas de ferroviários, de professores da Unesp, do Dr. Ressac - Diretor do Instituto Butantã, em razão de ter-se especializado em Legislação Trabalhista. Agora passamos a contar seus feitos para Botucatu.
Como já dissemos ele tinha o desejo de que se criasse em Botucatu uma Faculdade de Medicina, no prédio construído para ser hospital para tratamento de tuberculose, pois a doença estava sendo controlada e havia poucos casos.
Quando expunha esses planos às autoridades, alguns achavam que era impossível realizá-los. Mas uma autoridade acreditou nos planos dele, foi o Dr. Zeferino Vaz, Diretor da Faculdade Paulista de Medicina e depois o 1º Diretor da UNICAMP.
O idealista não media sacrifícios para alcançar seus objetivos, às vezes gastava dinheiro de seu bolso para esse fim.
Em certa feita trouxe às expensas, o Dr. Zeferino Vaz, de avião de São Paulo a Botucatu, para que ele fizesse uma vistoria no local e tirasse conclusões se seria realizável o plano. Deu certo, o Dr. Zeferino Vaz interessou-se, trabalhou no assunto e nossa Faculdade de Medicina foi fundada em 1958. Era Prefeito de Botucatu, na época desse acontecimento, o Sr. Emílio Peduti, que divergia dos planos desse jornalista e advogado, mas que pouco tempo antes de sua morte, chamou-o para com ele harmonizar-se. Graças ao trabalho desse jornalista e advogado, hoje temos em Rubião Junior esse grande complexo de Medicina da UNESP, que serve Botucatu e todo o Brasil. Mas não ficou por aí seus feitos, também trabalhou e conseguiu que fosse criada em Botucatu a Junta de Conciliação do Trabalho, órgão de grande utilidade e que facilitou a agilização nos Processos Trabalhistas. Com a criação da Junta, veio também a favorecer o Arcebispado, que na época atravessava dificuldades financeiras. Como a Junta necessitava de um prédio para instalar-se, esse jornalista e advogado tratou o Contrato de Aluguel do Prédio da Cúria Arquidiocesana para à Junta, que naquele local funcionou até este mês de abril de 1991, quando se mudou para o prédio da rua Major Matheus, onde funcionou o Grupo Escolar "Dom Lúcio Antunes de Souza" reformado para sua instalação, com inauguração marcada para os dias de festejos do 136º. Aniversário de Botucatu. Em sua profissão de advogado, ajudou também as pessoas carentes que precisavam de advogado e não tinham recursos para pagar os honorários. Advogava as causas deles gratuitamente. Quando um governador do Estado de São Paulo, ameaçava tirar a UNESP de Botucatu, lutou e assegurou sua permanência em nossa cidade. Sua preocupação com a UNESP nunca parou, e um fato interessante é o de que nunca foi convidado a ocupar um cargo nessa instituição pela qual tanto trabalhou. Parou de trabalhar em 13 de novembro de 1983, data em que faleceu.
Em sua tumba, lá no Cemitério "Portal das Cruzes" está escrito o seu nome: JOSÉ AMARO FARALDO.
CONCURSO LITERÁRIO "ACONTECEU EM BOTUCATU"
1º. Lugar - EDGARD DEVIDE"
(J.B. - 24/07/92). `

ANTONIO HERMINIO DELEVEDOVE



JUSTA HOMENAGEM

Faleceu um cidadão prestante.
Faleceu o Vice-Prefeito Municipal de Botucatu.
ANTONIO HERMINIO DELEVEDOVE, o Antoninho amigo e colega de trabalho.
De origem humilde, Antoninho cresceu como ser humano e como profissional.
Batalhou firrne e duro, mas venceu. Era um vencedor.
Quando comecei a advogar em Botucatu, o fiz em seu escritório. Foi a porta aberta que encontrei quando para aqui voltei em 1976.
Foi assim. _Eu não conhecia o Antoninho pessoalmente. Esse foi o nosso primeiro contato profissional. O início de uma longa amizade...
Posteriormente, no final dos anos 70 e início dos anos 80, quando assumi a Vice-Presidência da CAIC - Companhia Agrícola Imobiliária e Colonizadora, tinha como atividade executiva a gestão dos Departamentos de Auditoria e Jurídico. O Antoninho atendeu ao nosso convite e assumiu a Chefia do Departamento de Auditoria sendo que, posteriormente, veio a assumir a Chefia do Departamento Jurídico. Dispensável destacar que em ambas funções teve exemplar desempenho. Era típico dele. O Antoninho era preocupado até com as minúcias na busca da perfeição. Era probo e dignificante de qualquer equipe de trabalho. Foi a sua primeira experiência na administração pública.
Já de volta a Botucatu, em 1980, ambos optamos juntamente com alguns amigos, pelo recém criado PMDB e ingressamos no Partido pelas mãos de Progresso Garcia, à época dirigente máximo do Partido em Botucatu.
Após a grande vitória do PMDB (1982) no Estado e em Botucatu, estava firme a ideia da contratação do Antoninho para um minucioso levantamento da situação econômico-financeira do município para que servisse como um divisor de águas entre a antiga força político-partidária e a nova postura política do PMDB.
Nisso o Antoninho era Mestre: serviço técnico de auditoria, o que já fizera com absoluto sucesso na CAIC.
Mesmo não tendo sido convidado para o trabalho, Antoninho continuou crescendo profissionalmente. Advogado tributarista grangeou prestígio em Botucatu e região, chegando a lecionar nas Faculdades de Direito de Bauru e São Carlos. Por duas vezes, presidiu a Secção local da OAB. Em sua gestão, graças ao bom relacionamento com o dinâmico Presidente da OAB/SP, Dr. Antonio Claudio Mariz de Oliveira, conseguiu o sinal verde para a construção da "CASA DO ADVOGADO", cujas obras vão a ritmo acelerado nos altos do Centro Cultural.
Nas eleições de 1988 veio somar à candidatura de Joel Spadaro à Prefeitura Municipal, o seu prestígio popular e a sua capacidade de trabalho e seriedade administrativa. O prestígio popular vinha desde a época em que jogava futebol na Botucatuense. A capacidade de trabalho e a seriedade administrativa como frutos de uma vida de trabalho e muita luta.
Temos a certeza de que a gratidão e a amizade de todos propiciarão a que seu nome fique registrado de forma exemplar para os seus concidadãos. E nada mais justo que se dê à casa que será o ponto de encontro de todos os advogados botucatuenses o nome de CASA DO ADVOGADO "DR. ANTONIO HERMINIO DELEVEDOVE".
Esse era o cidadão ANTONIO HERMÍNIO DELEVEDOVE.
Esse era o cidadão prestante. Esse era o Vice-Prefeito Municipal de Botucatu.
ARMANDO DELMANTO
(J.B. - 29/11/39).

VICENTE MOSCOGLIATO


CENTENÁRIO DE UMA VIDA

No último sábado comemorou-se o centenário de nascimento do Professor Vicente Moscogliato. A Academia Botucatuense de Letras prestou a sua homenagem a esse cidadão prestante que vivenciou o crescimento de Botucatu, participou do crescimento de Botucatu e, de certo modo, teve sua vida entrelaçada, diria até confundida com a história da própria cidade.
Jovem, ainda, Vicente Moscogliato aportou em Botucatu vindo de São Paulo, quando seu pai passou a integrar o quadro funcional da fábrica de calçados Delmanto. Àquela época, 1889, Botucatu vivenciava e se enriquecia com a presença dos imigrantes italianos que aqui vieram reconstruir suas vidas ao mesmo tempo em que construíram um país. ..
A colônia italiana em Botucatu era grande. Na música, nas artes, na política, principalmente na indústria, os valores imigrantes colocavam a força de seus dotes europeus e a magia de seus sonhos e de suas esperanças. Na fábrica de calçados Delmanto não era diferente. Conforme crescia e se ampliava, o "capo" Pedro Delmanto mandava buscar os patrícios para ampliação da equipe. Assim vieram Pedro Tortorela, Pedro Grande, o Venditto e a família Moscogliato, com o menino Vicente a iniciar-se no ofício de "figaro" e a dar os primeiros passos na música...
A época, era Sub-Consul em Botucatu o industrial Aleixo Varoli, que juntamente com seu irmão Xisto Varoli fabricava finíssimos licores e bebidas em Botucatu. Desse importante tronco da colônia italiana, várias famílias entre outras se formaram: "os Botti, os Delmanto, os Pedretti, os Tílio e os Moscogliato.
Francisco Botti, primeiro Gerente do primeiro Banco de Botucatu ( o Francês e Italiano), veio a ser o fundador, juntamente com João Mellão de São Manoel, do tradicional Banco Brasul. Nesse clima de progresso e desenvolvimento é que o jovem Vicente Moscogliato cresceu. Já com 9 anos de idade, Vicente era iniciado no ofício de barbeiro que requeria habilidade e persistência. Na mesma época recebia os primeiros ensinamentos musicais com o primeiro violino que ganhou de seu pai.
Do crescimento do jovem â formação do cidadão e à constituição do chefe de família prestimoso, Vicente cresceu com a cidade e, com ela, estruturou seu caráter e a sua personalidade. Do casamento com Ida Varoli, construiu uma família unida e solidária nas tradições e nos valores morais.
Do sucesso de seu salão de cabelereiro às aulas de música aos iniciantes e a participação nos conjuntos clássicos e orquestras populares, o Professor Moscogliato desempenhava-se com o mesmo brilho quer interpretando os clássicos até as músicas mais significativas da colônia italiana e as composições nacionais mais expressivas. Era um músico com sólida formação, fruto da dedicação e da persistência.
Na orquestra do Casino, no Clube 24 de Maio, em seu Salão ou nas aulas de música o Professor Moscogliato era sempre o mesmo: humilde, discreto, cidadão exemplar. Estimado pela sociedade botucatuense tinha livre trânsito nas mais variadas correntes políticas que respeitavam a sua postura integra e coerente.
Participou como músico, de todos os grandes acontecimentos da cidade de Botucatu. Foi um cidadão participante. Foi um cidadão prestante. Com sua discrição, encaminhou muitos jovens nos estudos e na profissão de barbeiro e aos vocacionados, propiciou o aprendizado na música.
Suspeito para falar de alguém a quem sou ligado por laços de parentesco não posso deixar de fazê-lo quando o homenageado assume proporções a caracterizar como falta a omissão e, como alienação e pusilanimidade, o silêncio.
Foi na casa, no solar do Professor Moscogliato que a Academia fez a sua primeira reunião informal e é onde tem se reunido por estes anos todos, inclusive no último sábado. Na ocasião, sob a presidência do Dr; Antonio Gabriel Marão, a Academia se reuniu para a comemoração do Centenário de Nascimento de VICENTE MOSCOGLIATO. Na mesma ocasião, sua filha, a Acadêmica Elda Moscogliato, Secretária da Academia, foi saudada por seu aniversário ocorrido no último dia 17.
É com esse material e com esses exemplos que se forja o caráter de uma geração. É disso que o Brasil precisa. São exemplos como esse que ajudarão os jovens botucatuenses a construírem um futuro mais humano e melhor.
ARMANDO DELMANTO
(J.B. - 26/02/92).

ALDO MARTIN



BAIXA NO "FRONT"

Todo cidadão que tem como ofício as letras, às vezes se pergunta, se questiona se vale a pena escrever e colocar para fora os sentimentos e mandar mensagens e comentar os fatos...Será que vale a pena? Mas de imediato e em auto- defesa contrapõe outras perguntas: vale a pena viver? vale a pena amar? vale a pena sonhar???
Sim, vale a pena. Sempre vale a pena. Tudo o que se faz, vale a pena. Pois não estamos aqui para isso? Para viver, viver e viver? Como passageiros dessa vida, acredito, devemos fazer o que achamos que devemos fazer, sempre dentro do respeito ao direito dos outros: direito que começa onde, -exatamente, termina ou se limita o nosso. São as leis da convivência. É a lei da vida.
Então vale a pena escrevinhar em uma cidade do interior as coisas e os sentimentos que estão a nos dizer alguma coisa. Deixar que as palavras surjam, se combinem e se casem...
As nossas crônicas no JB, através desta trincheira democrática que nos foi cedida pela Direção do Jornal, vem sendo uma presença constante desde 1986. Estamos no número mágico, eis que há exatos 7 anos mandamos o nosso RECADO URGENTE à população botucatuense. Longe de pretencioso o título revela a visão que temos da importância da COMUNICAÇÃO, da ponte que o escritor, o cronista e jornalista estabelecem com a população: a mágica de você escrever sobre determinado assunto e chegar alguém e dizer: "Puxa, você disse o que eu queria dizer. Parece que houve telepatia." Essa simbiose, para nós que escrevemos, é milagrosa: pois renova e alimenta a inspiração e a criatividade.
O que é importante que se escreva??? '
Tudo é importante. Tudo o que interfere, modifica e cria na sociedade, tem a sua importância. Se não direta, indiretamente. De tudo se tira uma mensagem, um exemplo. E de tudo e em tudo o que vemos é a grandiosidade do universo e a insignificância de nossa presença e de nossa passagem por este mundo. O que vemos é que a futilidade, o comodismo e a arrogância de nós todos é um nada perante o Juízo Final e que em nosso encontro com ELE, as contas serão apresentadas e os acertos feitos. Meditação para todos e especialmente para os que ocupam postos de mando... Tudo é passageiro...E a riqueza, a prepotência e o poder tão efêmeros...
Essas lembranças nos vem quando perdemos um ente singular entre seus pares: ALDO MARTIN. Companheiro de tantas caminhadas. Reto. Integro. Deixou atuação modelar em todas as áreas e segmentos da sociedade em que atuou e aos quais prestou a sua sempre coerente, competente e séria colaboração.
Cidadão prestante exemplar. Pai de família amoroso. Amigo certo de todas as horas. Profissional, esportista e cidadão que se destacou entre seus pares. Em sua despedida, no último sábado, foi coberto pela bandeira do BTC - Botucatu Tênis Clube, onde, por anos e anos, prestou a sua colaboração desinteressada. Mas poderia ter sido a Bandeira da AAB - Associação Atlética Botucatuense, ou a Bandeira de algum segmento profissional, ou a Bandeira dos militantes politicos de algum partido de saudosa memória ou, SIMPLESMENTE, a Bandeira da Vida, a Bandeira da Raça Humana, a Bandeira dos Justos... .
Com certeza, a homenagem levada a ALDO MARTIN pela Diretoria do Botucatu Tênis Clube, representou a homenagem que esse cidadão prestante merecia.
Essa homenagem levou um pouco de cada um de nós.
Botucatu se empobreceu com essa perda.
Que a semente brote e frutifique.
Todos perdemos um pouco...de vida.
Houve baixa no "front".
No "front" da vida...
ARMANDO DELMANTO
(J.B. - 19/02/92). .


O INESQUECÍVEL
ARNALDO MOREIRA REIS
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Conheci-o há muito tempo, na década de 60, em uma das salas do Centro Cultural. Dr. Arnaldo Moreira Reis, que era então Presidente da entidade, estava lutando, sobremaneira, para a construção e término da sede própria do sodalício. Durante os anos seguintes, fizemo-nos grandes amigos. Pouco a pouco, pude juntar as peças que formavam o caráter e a vida daquele a quem posso chamar o meu melhor amigo. Nasceu em Recife (PE) a 3 de janeiro de 1896. Casado com a Sra. Orminda Lisboa de Carvalho Moreira Reis (já falecida) deixa as filhas Margarida – professora primária, e Marilia - funcionária pública. Sua infância passou-a no Engenho Piranga da sua família, estudou Física, Química e História Natural no Ginásio Carneiro Leão. Diplomou-se em Ciências Médico-Cirúrgicas, defendendo tese para o doutorado a 15 de dezembro de 1919 sobre Higiene do Solo Urbano, a qual teve grande repercussão pelo ineditismo. Bom homem, sua cabeça estava cheia de sabedoria, parte dela sabedoria médica, porque era médico (não apenas médico, senão também humanista e intelectual).
Mudara-se para Botucatu em março de 1928, jovem médico formado pela faculdade de Medicina da Bahia, uma das mais tradicionais do país, depois de ter combatido, como inspetor do Saneamento e Profilaxia, a peste bubônica no interior nordestino. Premiado por dedicação ao serviço pelo Decreto 13.538 devido ao êxito da profilaxia rural. Nunca foi ambicioso. Contava ganhar a vida servindo apenas as famílias de ferroviários da antiga Estrada de Ferro Sorocabana, fator progressista da cidade. Nunca pensou em fazer medicina socializada. Pudessem ou não pagar-lhe, o seu serviço era sempre o mesmo.
Servia uma comunidade vasta e logo percebeu que não podia deixar de atender os doentes e moribundos das fazendas e povoações afastadas. Assim é que sua clínica se espalhou, visitando-a até em lombo de burro. Para ele, os doentes eram como se fossem seus filhos. Nada de palavras melífluas ou gestos educados à cabeçeira dos doentes, mas uma bondade irradiante pela qual os que o cercavam se sentiam influenciados. Ao examinar um doente, dir-se-ía que os seus dedos estavam percorrendo, de uma a urna, as cordas de um instrumento. Tinha as mãos de um artística exímio e um coração de criança. O sentimento de amor ao próximo e a grande alma que possuía contribuíam tanto quanto os remédios para a cura de seus clientes. Cada novo caso era para ele uma nova aventura no terreno dos valores humanos.
Jornalista, colaborou com vários jornais do Recife, no Diário da Sorocabana, como colunista sanitário, no Diário Nacional, e na Folha de Botucatu ao lado de Pedro Chiaradia. Dedicou-se especialmente à Filologia,' Medicina Social, Crônicas literárias e políticas, especialmente na revista ilustração Nossa Estrada.
Depois da profissão e da família, era o Centro Cultural de Botucatu o que mais amava. Os livros preenchiam sua vida. A eles dedicou-se durante toda a sua longa existência. Desenvolveu a Biblioteca da entidade ao lado de Sebastião da Rocha Lima, dando à Botucatu um patrimônio cultural de elevada importância. Pesquisador tenaz, rebuscador de arquivos, dedicou-se ao estudo histórico dos Sumérios e da expansão da cultura desse povo, especialmente no terreno linguístico. Este pendor pela Filologia aproximou-o de Frei Fidélis tornando-se amigo particular do grande historiador. Membro destacado da Academia Botucatuense de Letras, foi um de seus fundadores e 2o. Vice-Presidente, ocupando a cadeira nº. 12 cujo patrono é João Guimarães Rosa.
Perde a intelectualidade botucatuense um grande valor que amou e serviu Botucatu como se sua terra fosse. Meu bom médico e meu estimado amigo, adeus, boa viagem!
OLAVO PINHEIRO GODOY
(J.B. - 13/06/87).

SIDRACO MENEGON



MIL VIDAS...

Longe de nós a comparação com Tiradentes. Longe de nós o domínio da verdade. Longe de nós a prepotência dos poderosos...
Mas a partida de nosso Diretor, em plena batalha, faz com que nos posicionemos cada vez mais na defesa dos ideais defendidos por ele no combate leal ao domínio de um partido que comanda a cidade de Botucatu.
Nosso Diretor respondia a cerca de 23 processos, baseados na Lei de Imprensa, movidos pelos ocupantes temporários do Poder e pelos que exercem o mando do PMDB local.
Heroicarnente, Sidraco Menegon respondia perante a justiça pelo fato de ter ousado denunciar as mazelas, as delações, as perseguições e os desmandos dos que ocupam o Poder com prazo certo e dos que se utilizam do partido do governo para realizarem as suas ambições mesquínhas e medíocres.
A perseguição que sofreu Sidraco Menegon através de 23 processos faz com que a sua partida seja o ínício de nova e valorosa batalha contra os poderosos. Ao invés de sucumbir, a oposição se multiplicará. Partiu o comandante principal, outros comandantes surgirão para cumprir a sua tarefa e transpor os obstáculos.
Enganam-se os que pensam que a luta terminou e que seu ritmo diminuirá. Pelo contrário. Os brios foram ofendidos e o ideal permanece o mesmo.
O Prefeito será o mesmo até o final do ano.
O Presidente do PMDB local continuará mandando até o final do ano.
Até o final do ano, Botucatu elegerá um novo Prefeito e novos Vereadores.
No início do próximo ano, Botucatu irá através de seu novo Prefeito e novos Vereadores, até o Exmo. Governador do Estado DIZER que a cidade não mais suporta os fisiológicos, que comandam o partido do governo.
Botucatu irá dizer, em nome de sua população, que quer conviver com o Govemo do Estado em um clima de colaboração e alto nível, sem perseguições políticas, sem delações covardes e sem fisiologismo barato.
Botucatu irá dizer que é uma cidade de alto nível e que se orgulha de seus filhos, entre eles, com destaque, de Sidraco Menegon.
O nosso Diretor partiu. Com ele se encerra uma fase do jornalismo cívico na cidade de Botucatu.
O nosso Diretor partiu, mas deixou uma tarefa: CONTINUAR A LUTA.
Partiu o batalhador, mas como Tiradentes iremos repetir e fazer acontecer o "MIL VIDAS EU TIVESSE, MIL VIDAS EU DARIA".
A luta continua. O JB. estará a postos para a vitória final.
(EDITORIAL DO JORNAL DE BOTUCATU - 29/04/92).


LUIZ GONZAGA PRADO



UM AMIGO

Muito mais amigo do meu pai que meu. Muito mais de outra época que desta. Muito mais militante em sua época que agora, adoentado e idoso. Mas, um amigo na acepção da palavra Diria mais: era uma personalidade sinalizadora. De uma personalidade sinalizadora de um tempo, postura correta, respeito às tradições, cultivo de amizades, respeito à família, ética política e, sobretudo, coerência, fidelidade e honra. Personalidade sjnalizadora a caracterizar o protótipo do amigo ideal. Alguns amigos como esse e a vida seria melhor e a sociedade seria melhor. Alguns amigos como esse e muitas caminhadas não seriam interrompidas e tantos ideais, com certeza, seriam alcançados.
Professor Luiz Gonzaga Prado.
Professor Prado, como era conhecido.
Em seus 88 anos de existência deixou registrada a sua passagem e gravado em pedra o seu perfil de homem, de cidadão e de pai de família exemplar.
Sua amizade recebi de herança e a consolidei pelo código de honra de uma pleiade de homens que pouco e pouco vão se tornando raros neste mundo carente de tantos valores.
Professor, Diretor de Escola, Educador que dedicou o melhor de si à juventude de seu estado e de sua cidade. De uma época em que se conheciam os alunos, e estes, por sua vez conheciam e admiravam os professores. E buscavam orientação pessoal além dos ensinamentos educacionais. Hoje, a educação está beirando o fundo do poço...
São outros os tempos e o País está doente e a Sociedade está doente e os Homens estão doentes. Exatamente nesse quadro de carências é que perdemos um homem da estirpe do Professor Prado.
E por estarmos em uma época de carências é que precisamos nos apegar com todas as forças a exemplos como o desse amigo que nos deixa. E com seu exemplo gritarmos a todo pulmão para que todos ouçam, principalmente a juventude, que nem tudo está perdido, que vale a pena ser um cidadão correto, que vale a pena ser um homem de bem e que a esperteza, a mesquinharia e a mediocridade não levam a lugar nenhum...
E nos orgulhamos por termos sido seus amigos e repetir sempre: "Eu o conheci e fui seu amigo".
Com certeza, Dona Isabel, sua esposa, a filha Neusa, o genro Ademir, seus netos, suas irmãs, a comunidade da Igreja Protestante e os amigos tiveram esse sentimento quando foram levar a sua última homenagem ao Professor Prado. Com certeza.
ARMANDO DELMANTO
(J.B. - 02/10/91).

ÂNGELO MARTIN



ACORDA BOTUCATU

Reverencia teu Pioneiro Industrial.
No dia 28 de abril de 1989, faleceu na Misericórdia Botucatuense, Ângelo Martin, conhecido como o "Barbeta". Afinal, quem foi esse "Barbeta"? Será que os botucatuenses saberiam dizer alguma coisa sobre esse homem tão injustiçado, juntamente com toda a família Martin, pela política salarial de 1964? Esse homem que, ao lado de tantos outros brasileiros e italianos, engrandeceu Botucatu? Esse homem que recebia para almoço íntimo o então governador Adhemar de Barros, Carvalho Sobrinho e outros políticos importantes? Esse homem que não vacilava em prestar auxílio aos doentes? Esse homem dinâmico que soube ser útil e capaz de formar um imenso patrimônio, e que de repente, vê sua vida limitada a observar o movimento da cidade através de uma janela na sua residência da Av. Floriano Peixoto? Esse homem que terminou sua vida numa U.T.I., com a parte inferior da perna esquerda amputada?
João e Carolina Pavan Martin (os pais de Ângelo) vieram ao Brasil, pela primeira vez, antes de 1900. Aqui se conheceram, namoraram e casaram. Nascem os dois primeiros filhos - Luis e Angelo -brasileiros e botucatuenses, portanto. Em 1904, retornam à Itália. Angelo estava com dois anos. Lá nascem os outros filhos:
Maria, José Fortunato, Arnabili, Luiza, Silvio, Guerina e Amélia.
O tempo passa. Explode a Primeira Guerra Mundial. Em Pramaggiore, Angelo serve o Exército Italiano incorporado ao 54º. Regimento de Infantaria, alcançado o grau de Terceiro Sargento. Participa da famosa "Marcha sobre Roma", em 1922. A família Martin retorna ao Brasil em 1923, pois sua pátria se achava em péssimas condições de vivência. Angelo fica na Itália terminando sua obrigação militar, somente chegando ao Brasil um ano depois, usando uma longa barba, que lhe causou o apelido de "Barbeta", apelido este que depois estendeu aos irmãos.
Vive com a família na Fazenda "Boa Esperança", onde trabalham como colonos. Depois, em 1925, a mudança para a Fazenda "São Bento", como meeiros de café. Ângelo, sempre um inconformado com a passividade na aceitação dos fatos, espirito ativo, motiva a família para outras atividades familiares paralelas: vender ovos, frangos, queijo. Todos juntos, pais, irmãos, genros, noras e netos. Nunca esqueceria o trabalho silencioso e fecundo de suas irmãs, unidos na busca de uma vida melhor.
Compraram a Fazenda "Água do Cigano", em Vitoriana, onde vivem um longo tempo.
Depois de um ano, Ângelo e Silvio, seu irmão mais novo, vem para a cidade, quando compram uma fábrica de farinha. A família é trazida para a vida urbana.
Em 1930, formam a firma Ângelo Martins & Irmãos, destinada à fabricação de balas, refrigerantes, bebidas alcoólicas, vinagre, bolachas, caramelos, a famosa Groselha Martin, e o não menos famoso Licor de Cacau, construindo para tanto os prédios da Rua Newton Prado.
Não deixam de lado as atividades agropecuárias, que são estendidas com sucesso a outros municípios como Quatá, Rancharia, Macarai e Paraguassu Paulista.
Angelo casa-se em 30 de novembro de 1938 com Olga Delamano, com quem tem os filhos: "Jólio, Sueli, Norberto e Gilberto (gêmeos), Roberto e Roseli.
Seu espirito inquieto agora cavalga muito mais longe, construiu uma nova fábrica de bolachas, bem mais moderna, que competisse com as de São Paulo. Surge então a CATU, elevando o nome de Botucatu uma vez mais. Infelizmente, a CATU pede concordata. A situação econômica de 1964 era das piores! O Brasil se quebrava e com ele muitos brasileiros e estrangeiros perderam o que tinham construído. Cisão de bens. Fábrica vendida, terras vendidas para pagamento das dívidas. Cada um para um canto e, desde então, Ângelo se esfacelou, viu-se a morrer lentamente...dia a dia...barbas longas novamente, no silêncio de seu quarto...Ele, que soube ver além de seu tempo, antecipou a descentralização das indústrias com a construção da "Sua Catu", embrião de ampla área industrial...Ele que sonhara alto para Botucatu, nada recebera de apoio de Botucatu.
Hoje está morto. Um brasileiro-italiano a mais que se foi. Muitos nem souberam de seu passamento. Afinal, o "Barbeta", o tenente comandante das tropas TENÓRIO, na Seção de Metralhadoras, da Revolução Constitucionalista de 1932, que lutou lado a lado de tantos outros botucatuenses ilustres, passou...
"Enfrentou e deteve o inimigo nos lugares denominados BURI, PONTE DA CAMPININHA e PERIGO, nos terríveis dias 15 e 16 de agosto de 1932, epopéia que ficará como um padrão de glória para meus comandados...apoiados em homens de sua têmpera, São Paulo e o Brasil tudo podem esperar", escreveram os Coronéis Cristiano Klingelhoefer e Tenório de Brito sobre Ângelo Martin.
Caminha agora em outras praias, em direção a outras fábricas, que o acolham sem juros exagerados e sem altas taxas de "over".
Navega... Seu barco é pequeno e o mar é grande ainda! Em seus pés há um brilho muito forte: o brilho dos que souberam pisar a terra botucatuense, dos que cresceram da terra e fizeram tudo crescer ao redor da terra, e hoje se imortalizam na terral.
Botucatu acorda!
Reverencia teus heróis anônimos!
Reverencia quem te fez crescer!
Reverencia teu PIONEIRO INDUSTRIAL!
Maio de 1989.
CARMEM SILVIA MARTIN GUIMARÃES
(J.B. - 31/os/89)


SEBASTIÃO DA ROCHA LIMA



Sebastião da Rocha Lima era filho de José e Escolástica Rocha Lima. Foi casado com a Profa. Evan Rodrigues Alves, da tradição de nossa cidade. Iniciou seus estudos no Grupo Escolar "Dr. Cardoso de Almeida" e prosseguiu-os nas Escolas reunidas de Pirambóia. Tornou-se na juventude um autodidata autêntico, o que lhe valeu para os anos em fora, a grande e profunda cultura humanística que lhe aureolou o título de intelectual. Era funcionário aposentado da Estrada de Ferro Sorocabana.
Colaborou com grandes revistas e jomais, quer do interior, da Capital, do Rio de Janeiro e do exterior. De São Paulo, colaborou com o "Expoente", "Unitas", "Gazeta do Braz"; "Gazeta Magazine", de Santos; "Correio de Portugal", "Revista de Guimarães", "O Mundo Literário", de Portugal; revista "A Carioca", do Rio de Janeiro.'
Escreveu o ensaio "Influências Bíblicas em Camões" que obteve grande repercussão. Foi membro efetivo da Academia Botucatuense de Letras, onde ocupou a Cadeira No. 14, cujo Patrono é Manoel Bandeira.
Abaixo, reproduzimos artigo de autoria do Presidente do Centro Cultural de Botucatu:
O FILÓLOGO ROCHA LIMA
No Brasil são poucos os que se dedicam à Linguística. Mesmos nos dias que correm, contam - se a dedo os estudiosos que se entregam a essa espécie de atividade intelectual, que requer conhecimentos muito especializados. Se podemos mencionar, sem dificuldade, o nome de alguns professores, cuja reputação, para honra da cultura botucatuense, já transpôs as fronteiras do estado, quiça do pais, o...mesmo já não podemos dizer dos linguistas.
Quando, no entanto, se escrever a história das atividades dessa natureza, entre nós, e se proceder ao levantamento dos nomes - bem poucos - dos que a elas se dedicaram, um nome há que será de inteira justiça lembrar: o de Sebastião da Rocha Lima. O esquecimento com a sua túnica de indiferença, vai envolvendo aos poucos a memória do autor da "Fabulosissíma Língua Brasileira". Um outro estudioso do nosso passado, terá lido alguma página escrita pelo infatigável filólogo. A geração atual talvez só vagamente tenha ouvido falar no "solitário do Centro Cultural". Muitos dos seus trabalhos jazem esparsos por jornais da terra, como a "Gazeta de Botucatu", "A Folha" do velho Pedro Chiaradia, e muitos outros de além - mar, nos quais se reflete cristalinamente o fulgor de sua inteligência e o brilho de sua cultura.
Sebastião da Rocha Lima, não obstante a sua intensa participação na vida cultural da cidade, dedicava-se também ao estudo da linguística, tendo escrito trabalhos excelentes, que revelam a sua vasta erudição. A ocasião é oportuna para informar aos que porventura não o saibam que foi Rocha Lima o idealizador da Biblioteca do Centro Cultural pois a entidade, quando fundada, não possuía esse benefício cultural.
Conhecedor profundo dos clássicos, tinha verdadeira adoração por Eça de Queiroz. Essas obras, Rocha Lima, leu-as vagarosamente, estudou-as, interpretou-as, para assimilar a essência do seu conteúdo. Com as suas crônicas semanais e na revista "Nossa Estrada" o autor abriu o ciclo do amor à terra botucatuense. Há nelas muita coisa útil que revela não somente a sólida formação intelectual do seu autor, senão ainda brilhante inteligência, graças às quais pode realizar uma obra digna da nossa admiração e do nosso reconhecimento.
OLAVO PINHEIRO GODOY
(J.B. 10/06/90) S


ALCIDES DE ALMEIDA FERRARI


A família Ferrari marcou presença em Botucatu. No primeiro volume do "MEMÓRIAS", prestamos a nossa homenagem ao Monsenhor Paschoal Ferrari, valoroso batalhador por nossa Diocese. Neste volume, o homenageado é o Desembargador Alcides de Almeida Ferrari - o primeiro botucatuense formado em Direito -, que galgou todos os cargos da Magistratura, terminando como Desembargador e Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo.
Glória alcançada por poucos...
O Dr. Alcides Ferrari era sobrinho do Monsenhor Paschoal Ferrari. A família descende do imigrante Luiz Ferrari, italiano de Massa Carrara (Toscana). São seus filhos Elias, Estevan, João, Benjamim, Camila, Tereza e Paschoal Ferrari. Estevan, pai do Dr. Alcides, casou-se com Dna. Alcinda Cardoso de Almeida, irmã de Antonio Joaquim Cardoso de Almeida ( "o velho Cardoso"). A ligação da família Ferrari com a família Cardoso de Almeida não parou por ai: João Ferrari, tio do Dr. Alcides, casou a filha Fortunata com o Sr. Luiz Cardoso, filho do Cel. Antonio Cardoso do Amaral ( o "Nenê"Cardoso, o único Cardoso de Almeida que assinava Cardoso do Amaral), que foi Deputado Estadual, Chefe Politico do 5o. Distrito e Intendente (Prefeito) Municipal. O "Nenê" Cardoso era primo do Dr. Alcides Ferrari.
Pois bem, o Dr. Alcides formou-se em Direito, elegeu-se Vereador em Botucatu, foi nomeado Promotor Público da Comarca e, por concurso, ingressou na Magistradura. Fez carreira bonita. É dos poucos' homenageados, em vida, por Botucatu. Quando atingia o posto máximo da magistratura, como Presidente do Tribunal de Justiça -, o Dr. Alcides foi alvo de significativa homenagem de Botucatu.
O jornal "DEMOCRACIA", de 02/04/50 registra o fato em manchete: "Alcançaram extraordinário brilho as homenagens prestadas ao Desembargador Ferrari (...) pela sua honrosa investidura no cargo de Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo"
"Às 15 horas de sábado, no Fórum da Comarca, foram realizadas as solenidades de recepção oficial ao Desembargador Alcides de A. Ferrari, tendo comparecido grande número de pessoas de nossa sociedade. À mesa sentaram-se: o Desembargador Ferrari, o dr. Adolfo Pires Galvão, Juiz de Direito da Comarca, Dr. Luiz de Miranda Leite, Juiz Substituto, dr. Antonio Carlos do Amaral, promotor público da Comarca, Pe. Silvio Dario, representante do Bispo Diocesano, Dr. Antonio Delmanto, Presidente da Câmara Municipal e o Sr. Renato de Barros, Prefeito Municipal..."
No fórum, falou o Sr. José da Rocha Torres, amigo de infância do homenageado e o Dr. Rivaldo de Assis Cintra, pela secção local da OAB, que pronunciou belíssima oração.
Em seguida, na Câmara Municipal, o Dr. Alcides foi saudado pelo Dr. Delmanto e pelo Vereador José da Silva Coelho que, em magnífico discurso, relembrou a presença do homenageado como Vereador de Botucatu. Em ambas as oportunidades, o Desembargador Ferrari, agradecendo, mostrou seus dotes de erudição e oratória.
Finalizando, a reportagem do jornal nos dá ideia do banquete oferecido ao Dr. Ferrari no Hotel Paulista para mais de 200 pessoas de Botucatu, cidades vizinhas e da Capital:
. "...À champanhe falou o Dr. Mario Rodrigues Tôrres, decano dos advogados de Botucatu, em nome da Comissão Promotora da homenagem. A seguir, em brilhante improviso, falou o Deputado Cunha Bueno, em nome de seus companheiros da Assembléia Legislativa; pela Associação Rural de Botucatu, falou o seu Presidente Sr. Silvio Galvão (...) Agradecendo as homenagens que recebera, dr. Alcides de Almeida Ferrari tomou a palavra para acentuar a satisfação com que recebia dos conterrâneos aquelas provas sinceras das amizades que possuía nesta cidade..."
É digno de registro histórico. A cidade homenageando seu filho que galvava o topo da sua carreira. Abaixo, a pena mágica do Dr. Sebastião de Almeida Pinto, retratando o homenageado:

ALCIDES FERRARI .

Alcides de Almeida Ferrari, o dr. Alcides que os botucatuenses tanto queriam e admiravam, foi um dos mais notáveis expoentes da velha Botucatu. Na minha modesta opinião, foi tão grande como seu primo dr. José Cardoso de Almeida (o Juca Cardoso).
Em 1895, quando se criou o grupo escolar "Dr. Cardoso de Almeida", pela ordem alfabética Alcides foi o aluno número um. Diplomado, foi para São Paulo onde fez curso de humanidades, matriculando-se na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Muito inteligente, fez brilhante curso. Formou-se bacharel em Direito, no ano de 1909. E logo se pôs a advogar em Botucatu. Bom orador. Espirituoso. Um camaradão. Tornou-se logo, figura popular. Meteu-se em política. E foi eleito vereador.
Em 1914 foi nomeado promotor público da comarca de Botucatu, cargo que exerceu com correção durante largos anos.. Quando, numa reforma judiciária, foi estabelecido concurso para ingresso na magistratura, Alcides Ferran se inscreveu na primeira turma. E foi aprovado. Foi nomeado Juiz de Direito substituto. Findo o estágio probatório foi nomeado Juiz de Itaporanga, primeira entrância. Por merecimento foi sendo promovido para Capivari (2a. entrância), Itapetininga (3 a. entrância) e finalmente São Paulo, entrância especial.
Atingira o máximo na primeira instancia. Suas sentenças e despachos, sua correção e honestidade na judicatura, sua personalidade marcante, levaram-no ao Tribunal de Justiça. Desembargador, durante muitos anos. Brilhando nas Câmaras Criminais e Cíveis. Atingiu o ponto máximo da carreira: Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Ilustrou e honrou a magistratura. E somente se aposentou, compulsoriamente quando atingiu a idade limite.
O dr. Alcides de Almeida Ferran foi casado com d. Laura Conceição Ferrari, filha dos falecidos dr. Antomo Augusto Conceição e d. Laura Correia Conceição. Desse matrimonio nasceram os filhos: Alcinda, Lurdes, Léa, Stela, Norma, Laura e Luiz Geraldo da Conceição Ferrari. Este, é advogado na Capital, onde goza de renome como causídico e líder da classe, pois é presidente do Instituto de Advogados de São Paulo. Dr. Alcides faleceu aos 81 anos de idade, e hoje, seu nome é patrono do Fórum local: Fórum Dr. Alcides de Almeida Ferrari. Isto, por determinação do Tribunal de Justiça de São Paulo.
SEBASTIÃO A. PINTO
("CORREIO" - 21/03/71).


FRANCISCO GUEDELHA



O Jornal "GAZETA DE BOTUCATU", de 20/09/91, noticiou o passamento do Reverendo Guedelha:
"Faleceu na manhã de 4a. feira, na Misericórdia Botucatuense, o Reverendo Francisco Guedelha, Pastor Presbiteriano e colaborador deste jornal.
Francisco Guedelha nasceu em Agudos em 3/1/1916 e teve sua Ordenação Sacerdotal em Assis no dia 30/1/ 1944. Assumiu o pastorado da Igreja Presbiteriana Independente de Botucatu no dia 13/2/1944 permanecendo até 1980. Foi professor efetivo de Português da EE de 1º. e 2º. Grau Dr.Cardoso de Almeida. Recebeu o Título de Cidadão Botucatuense e era membro da Academia Botucatuense de Letras. Foi rotariano tendo entrado no Rotary Club de Botucatu, dia 29/l/1970. No dia 12 de abril de 1981, recebeu o título de Pastor Emérito da Igreja Presbiteriana.
Era casado com dona Julieta Furnier Guedelha e deixa uma filha Márcia Furnier Guedelha Blasi.
Francisco Guedelha foi uma pessoa estimada por todos os botucatuenses por seu caráter, seu respeito ao ser humano, pelas atitudes que tomava em prol de Botucatu".
Mas o ilustre Pastor teria a homenagem merecida, através dos artigos de seus colegas Acadêmicos, Dom Vicente Marchetti Zioni, Arcebispo Emérito de Botucatu e da Profa. Elda Moscogliato, Secretária da Academia Botucatuense de Letras:

CRÔNICA - Elda Moscogliato

Nênia para um Amigo,
Quando forem escritas as memórias de nossa Academia Botucatuense de Letras que já caminha para os seus vinte anos de existência, ele propiciará por certo, à rotina do memoralista, a imagem perfeita do homem bom, lhano, amigo, ministro, íntegro, cavalheiro atencioso, culto, conversador brilhante, sem ofuscar contudo, seu caráter alegre, bem humorado, extrovertido.
Em todos os encontros acadêmicos sua presença era a nota irradiante do companherismo jovial, descontraído e envolvente.
Sua bonomia contagiante quebrava o rígido protocolo das reuniões ou assembléias, fazendo se ouvir no muito à vontade de seu aparte sempre oportuno e bem humorado espalhando a satisfação descontraída e risonha de seus companheiros e amigos.
Alma cristalina de simplicidade e modéstia, sempre apto às designações de discursos ou palestras, assumia a tribuna com uma invejável naturalidade como se sempre afeito aos auditórios atentos que conquistava pela sabedoria de seus conceitos, pela eloquência de seus enunciados, pelo domínio seguro de seus conhecimentos.
Oratória simples de missionário, desataviada e fluente, era sempre um mestre que ensinava, não um discursador empolgante. Sua sabedoria no entanto, tinha raízes profundas sustentadas pelo estudo constante, pela meditação vivenciada no dia a dia do apostolado a que se entregara por vocação.
Todos nós os membros fundadores, temos bem viva ainda, a sua participação entusiasta nos dias trabalhosos, discutidos, quando da elaboração cuidadosa dos Estatutos que orientariam de forma objetiva e regimental a então nova Entidade.
Ali estava ele, sempre presente, atento às leituras, alerta às minudências da matéria, observante na disposição dos artigos, pronto a acrescentar, a sintetizar e esclarecer os dispositivos diversos, a fim de que nada ensejasse interpretações ambíguas.
Seu curriculum foi a confirmação de suas virtudes incontestes de cidadão perfeito, de homem evangélico, de catedrático respeitável, de bacharel em Teologia e Direito, latinista e poliglota estudioso.
Nascido em Agudos, para cá veio em 1944 no cumprimento de uma determinação de sua Igreja assumindo o Presbiterianismo Independente de onde veio a aposentar-se há uns poucos anos. Aqui casou-se, aqui nasceu-lhe a filha única, aqui radicou-se numa afetiva doação à terra que lhe deu, com justa honra, o título de cidadão botucatuense.
Espírito ecumênico, fazia de todos o seu mundo amigável, compreensivo e bom. Tinha sempre uma palavra otimista aos que lhe rogavam o alívio das grandes aflições. A alma humana não lhe tinha segredos. Sua filosofia de vida consistia em compreender e desculpar..."
(A GAZETA DE BOTUCATU - 27/09/91).

"LEMBRANDO O AMIGO"
Deixou-nos um Concidadão, não porém o Amigo. .
Sim. Amigo da primeira hora. Amigo de convivência.
Amigo de todas as horas, vale dizer: Amigo sempre. Assim foi, para mim, o Pastor e Professor Francisco Guedelha.
Amigo da 1ª hora.
Lembro-me como se fora hoje.
Não nos conhecíamos ainda. Encontramo-nos primeira vez em Medellin, por ocasião da celebre conferência do Conselho Episcopal Latino Americano (Celam).
Com uma carta de apresentação nas mãos. Ele me procurava entre tantos Bispos. A um dado momento, no pátio do grande Seminário, abordou-me perguntando: O Senhor conhece este Bispo? Mostrou-me a carta.
Com a normal euforia de quem, longe da Pátria encontra alguém falando a mesma língua, respondi gracejando: "Eis o jeitão dele".
A partir de então começou e cresceu nossa amizade.
Amigo de convivência.
Alguns detalhes íntimos.
Certa vez convidado a benzer o Almoxarifado da Sorocabana, convidei-o a compartilhar comigo. E ambos abençoamos as instalações!
Ao celebrar a "Missa do Cadáver", na Faculdade de Medicina de Rubião, por alguns daqueles cujos corpos que eram dissecados para estudo, assisti sua pregação e em seguida ele fez o mesmo, depois de me ajudar a preparar o altar para a Missa.
Por ocasião do Natal ele costumava percorrer a cidade com o seu Coral, em peregrinação cantante e piedosa. Pois bem. Todos os anos entrava silenciosamente nos jardins da Residência Episcopal para cantando, desejar ao amigo as Boas Festas. E eu, acostumado a essa gentileza que tanto sensibilizava, aguardava-o ansioso para abraçá-lo como irmão, cumprimentando-o à luz das estrelas! .
Quantas vezes, na Catedral o vi - honrosa presença -,homenageando-me nas minhas grandes datas. Conservo a obra de Manson "O Ensino de Jesus" com que me presenteou no meu primeiro lustro em Botucatu, enriquecida com expressiva dedicatória de próprio punho,
Amigo sempre.
Quando de uma enfermidade visitei-o em sua casa, trocamos ideias em termos bíblicos, e - quase sem melhor advertir, citei em latim a grande frase da amizade "Quam bonum et jucumdum habitare frates in unum"(Salmo 133,1) mas sabendo que ele, com a Bíblia nas mãos acenava o mesmo trecho "Vede como é bom e agradável habitar todos juntos como irmãos",
Não seria esta coincidência de identidade, um sinal de que o bom Deus fecundava nossa amizade para o bem?
Este foi o Prof. Guedelha! Que digo? Este é o Prof. Guedelha, pois Amigo lembrado é amigo sempre presente!
DOM VICENTE MARQUETTI ZIONI
Arcebispo Emérito de Botucatu
("JORNAL DE BOTUCATU" - 02/10/91)


Um comentário:

Delmanto disse...

Parece que foi ontem... Mas já se vão 25 anos...Parte do livro “Memórias de Botucatu” e “Memórias de Botucatu 2”, publicados em 1990 e 1993, respectivamente, na verdade, podem ser considerados um pequeno livro digital: “HOMENS QUE FIZERAM BOTUCATU”!
Trabalho artesanal de pesquisa e de composição. São crônicas dando o perfil e retratando a época. É material precioso. É REGISTRO HISTÓRICO. Valeu!

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