setembro 19, 2016

Asilo Padre Euclides de Botucatu – Registro Histórico.

Asilo Padre Euclides de Botucatu – Registro Histórico.

Padre Euclides em quadro à óleo, pintado por S, Carelli/1978

Hoje, o Lar Padre Euclides – o nosso ASILO PADRE EUCLIDES! – administrado desde seu início pela Casa Pia São Vicente de Paulo, é uma realidade modelar na assistência social de Botucatu. Orgulho dos botucatuenses.

FUNDADOR BENEMÉRITO

O Padre Euclides Gomes Carneiro, é mineiro de Itajubá. Veio para Botucatu a pedido de nosso primeiro Bispo, Dom Lúcio Antunes de Souza – nosso BISPO CABOCLO – também vindo das Minas Gerais. Aqui permaneceu até 1925.

O Padre Euclides já veio com um respeitável “curriculum vitae”: já havia fundado 2 ASILOS: o de Ribeirão Preto e o de São José do Rio Pardo. O de Ribeirão Preto: Asilo de Mendicidade de Ribeirão Preto, hoje é o modelar LAR PADRE EUCLIDES DE RIBEIRÃO PRETO. Fundado em 1909 e, hoje, importante presença na assistência social de Ribeirão e região. O Asilo de Inválidos de Padre Euclides Carneiro de São José do Rio Preto, foi fundado por esse religioso idealista e corajoso em 1916.

Vemos, portanto, que o nosso primeiro Bispo, Dom Lúcio Antunes de Souza, acertou ao buscar o Padre Euclides, um ousado empreendedor religioso, como ele. Assim, em 1920 aportava em Botucatu para ser o Cura da Catedral e, no ano de 1922, fundou a Casa Pia S. Vicente de Paulo e o Asilo de Mendicidade.

ASILO PADRE EUCLIDES

Fundada pelo Pe. Euclides Gomes Carneiro, a Casa Pia São Vicente de Paulo, dedicada aos velhos desamparados passou, tempos depois, a denominar-se “Asilo Padre Euclides”, em memória póstuma ao seu fundador.




A revista Peabiru, nº 14, de março/abril de 1999, publicou o artigo “Asilo “Pe. Euclides”, um Cantinho de Amor”, do professor José Celso Soares Vieira, à época presidente da Sociedade São Vicente de Paulo. 

Em seu artigo, o professor Celso destacava que “O Asilo “Pe. Euclides” não é “um depósito de pessoas que não tem para onde ir”, mas o reencontro de um perdido e, quiçá distante lar, onde os asilados voltam a se sentir gente que ama e ri, que canta e que conta suas histórias para pessoas solidárias dispostas a ouvi-las. Ali elas comem bem, passam diariamente pela higiene corporal, tem o respaldo médico e de enfermagem, veem televisão. Entretanto, falta-lhes um bate-papo amigo com outras pessoas que precisariam visita-los mais amiudamente. A solidão e a ausência dos parentes são uma constante tristeza no seio dessa gente idosa e, por isso, esquecida.”

“O “Asilo Pe. Euclides” está localizado na parte alta da cidade (proximidade da Vila Rodrigues) em terras doadas pelo então coronel João Leite, num total de 96 mil metros quadrados. Ali foram construídas várias casas que abrigam os asilados de ambos os sexos. Há perto de 74 velhos, carentes de afeto, de amor, de solidariendade, pois se trata de pessoas humanas, que apenas envelheceram na poeira do tempo!”



Asilo sempre foi mantido pelas doações do povo de Botucatu, tendo realizado ao longo do tempo convênios com os poderes públicos, sempre tendo à frente os Vicentinos (Sociedade São Vicente de Paulo). A visita, com pequenas doações de escolares, sempre foram importantes para essa instituição de caridade para a sua manutenção e, principalmente, para que a futuras gerações compreendam, vivenciando a cidadania, a importância do amparo aos mais velhos desamparados.

CAPELA DO ASILO 

A construção da CAPELA do Asilo Padre Euclides foi construída graças à ajuda da Sociedade Italiana de Botucatu, segundo relatou seu presidente, Domingos Scarpelini, na revista Peabiru citada. A Diretoria da Sociedade Italiana, atendendo pedido da Casa Pia São Vicente de Paulo, por unanimidade, efetuou a doação de Cr$ 10.000,00 (dez mil cruzeiros), em 19/08/1958.




A VISTA DOS ESCOTEIROS AO ASILO


No ano de 2004, os escoteiros do “Grupo de Escoteiros Padre Anchieta”, de Botucatu, fizeram uma visita ao Asilo “Pe. Euclides”. Sairam da sua sede, na Vila dos Médicos, passando a tarde visitando os velhinhos e levando, cada um, uma pequena doação útil à sua manutenção.







Grupo Escoteiro Padre Anchieta, já está há mais de 60 anos exercendo as suas atividades em Botucatu. Exemplar escola de cidadania, vem cumprindo suas “tarefas cívicas” de modo exemplar. Em atuação com os poderes constituídos, sempre comparecem às comemorações cívicas e aos eventos beneméritos.


Essa visita programada dos escoteiros ao Asilo lembrou-me da visita que a minha classe do Grupo Escolar “Dr. Cardoso de Almeida” fez, no início dos anos 50,  ao Asilo. Aquela visita impressionou-me positivamente e, em 1976, inclui no meu segundo livro, “Crônicas da Minha Cidade”, o artigo “Recanto da Saudade” que havia escrito para o jornal “Vanguarda de Botucatu” de junho de 1976. Abaixo, reproduzo essa crônica. 


RECANTO DA SAUDADE


Nós íamos em fila. Toda a classe estava compenetrada de sua importância. Era bom sentirmo-nos úteis. Era bom, muito bom aquele momento.

Não me recordo do que levava. Talvez fosse um pacote de açúcar, ou de arroz? Talvez fosse queijo e goiabada... O Certo é que todos, na medida de suas posses, levavam alguma coisa. O importante era participar. Uma caixa de fósforo? Não faz mal... Uma caixa de fósforo nunca é pouco quando se dá com amor e quando o que se dá é de grande importância para nós.

A professora havia feito com a antecedência devida uma visita àquele recanto da saudade e ficara sabendo das coisas mais úteis que deveríamos levar. Depois, em classe, apresentou-nos uma lista dos gêneros necessitados e colocou-nos à vontade para que pudéssemos fazer a escolha. Foi uma verdadeira assembleia. Todos participaram. A professora agia como uma mediadora, mas a decisão final era nossa.

Às vezes fico a pensar na importância dessa professora. Fico a pensar e penitencio-me por não me recordar de seu nome. Mas pelo que fez e pela lição de civismo e de amor ao próximo que nos deu, ela bem que poderia chamar-se Professora Bondade. Sim, é isso, chama-la-emos de Professora Bondade.

São muitos os botucatuenses que estudaram no Grupo Escolar “Dr. Cardoso de Almeida”. Dos nomes das professoras de meu tempo alguns ainda permanecem em minha memória: Dª Elvira, minha primeira professora, Dª Alice, Dª Olga e muitas outras Fadas do Saber que exerciam com dedicação o seu magistério no Grupo Escolar “Dr. Cardoso de Almeida”.

Mas, como dizia, a escolha do presente que cada um iria dar foi disputadíssima. Por fim, após tudo acertado, a Professora Bondade marcou a data em que a classe iria fazer a sua visita e dar a sua colaboração e conhecer os velhinhos do Asilo Padre Euclides. Mãos à obra. Tudo estava pronto.

Cada um com sua contribuição, aguardávamos o grande momento. Fomos em fila e – pasmem! – fomos em ordem! Naquele tempo ainda se tinha o bom costume de andar... Fomos do Grupo ao Asilo e ninguém ficou cansado.

O primeiro contato foi emotivo. O Asilo Padre Euclides é um recanto que nos transmite paz; é um lugar convidativo à meditação. Os velhinhos que lá residem parecem personagens celestiais. Essa foi a impressão que me causaram. Neles eu não vi, e creio que não há, qualquer revolta por lá se encontrarem.

Passamos a manhã toda no Asilo. Lá tomamos o nosso lanche e corremos por todo canto e convivemos com aqueles nossos irmãos, ou melhor, com todos aqueles vovôs e com todas vovós de todos nós.

Será que hoje em dia ainda há o costume de programar visitas como essas?
Será que hoje as Professoras Bondade estão preocupadas em auxiliar os nossos irmãos menos favorecidos pela sorte ao mesmo tempo em que dão lição de civismo e de amor ao próximo aos seus alunos?

Temos a certeza que sim.

Acreditamos firmemente que em cada Grupo Escolar de nossa cidade existe uma Professora Bondade que planeja visitas ao Asilo Padre Euclides; ou uma tarde com as Meninas do Orfanato; ou um passeio à Vila dos Meninos; ou uma coleta de gêneros alimentícios e roupas usadas para o Albergue; ou uma visita para conhecer a obra magnífica que é a APAE.

Essas visitas são muito importantes. Elas ensinam o que nunca mais se esquece. Elas ensinam a sentirmo-nos úteis. Elas ensinam às crianças a importância da bondade, da solidariedade humana e da produtividade de uma convergência de esforços para uma mesma finalidade.

Da caixa de fósforo de um, do pacote de macarrão de outro, do queijo, da goiabada, do pacote de arroz, do quilo de feijão, formou-se um estoque razoável que acredito tenha sido de muita utilidade para o Asilo, pois para nós foi de grande e inesquecível importância.

Nós íamos em fila... Cada um levava o seu pequeno tesouro, a sua pequena oferenda. A Professora Bondade nos liderava. Era bom sentirmo-nos úteis. Era bom, muito bom aquele momento.



4 comentários:

Unknown disse...



Oi , tudo bem?
Gostei muito do último post e me lembro bem de ter lido a crônica no próprio livro, em papel, pois a alusão à professora "Bondade" ficou na minha lembrança. ótimo post mesmo!!!
Um abraço,
Marcelo (adv.marcelo.delmanto@gmail.com)
23 de junho de 2014 10:10
23 de junho de 2014 11:45

Delmanto disse...

Início dos anos 50...
Depois, em 1976, escrevi a crônica.
Hoje, fazendo a releitura e editando no blog, estou fazendo pela terceira vez essa visita. É inesquecível...
Já voltei, com a família, várias vezes ao Asilo levando doações. Mas nada se compara aos meus 7 ou 8 anos fazendo aquela visita...
Na perspectiva do tempo é que vemos como somos pequenos diante das adversidades do mundo e do tão pouco que efetivamente pudemos fazer para melhorar o “irmão” desprovido de qualidade de vida e de amor fraternal...
É isso.

Anônimo disse...

Maria De Lourdes Losi (Facebook):
Parabéns Armando pela reportagem falando da origem dessa casa tão importante para nossa comunidade . O Asilo de Botucatu tem lutado contra dificuldades e sempre é socorrido pelo coração generoso da nossa população que tem um carinho especial pelos seus assistidos!

Anônimo disse...

Estimado amigo Armando,

Fiquei feliz pela sua relembrança do Asilo Padre Euclides. Esse estabelecimento de auxilio aos idosos carentes é, sobremaneira, um ícone de Botucatu. Marco histórico de nossa cidade, várias vezes cantado em prosa e verso pelo Hernâni Donato, Francisco Marins, Elda Moscogliato, Ibiapaba Martins, Armando Moraes Delmanto e muitos outros cronistas que respeitam a historia botucuda. Lembro-me muito bem, que era comum, nas tardes de domingo, uma visita ao Asilo. Minha inesquecível mãe,preparava pratos de guloseimas, e lá íamos nós,pela tradicional rua Curuzu, visitar os velhinhos. Corria e brincava pelas alamedas ladeadas de árvores frutíferas. Naquele recanto, guardado por Deus, que preserva a caridade, saboreava deliciosas jabuticabas! Tudo isso faz bem ao coração e eleva a alma!

Olavo Pinheiro Godoy (ABL - Academia Botucatuense de Letras)

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