Dr. Cardoso de Almeida
Quadro do Dr. José Cardoso de Almeida, 1925, óleo sobre tela de Oscar Pereira da Silva.
Podemos apontá-lo como o
filho mais prestimoso e ilustre de sua terra natal. O maior político de Botucatu na 1ª
República.
Longe de nós a
exaltação pura e simples do passado. Longe de nós a fuga poeirenta do
dia-a-dia.
Ao contrário, para
nós, o passado é o instrumental indispensável para que cheguemos, sem traumas e
excesso de erros, ao futuro. O que buscamos é o novo, a modernidade. No
entanto, é necessário que se mantenha o liame, é necessário que se mantenha a
unidade. A unidade histórica de uma cidade ou de sua comunidade. Passado, Presente e Futuro não são
estanques. Muito pelo contrário...
Na análise dos
grandes vultos do passado de determinada comunidade conseguimos reconstituir o
que essa comunidade foi no seu início e o papel de sua Elite no comando de seu processo evolutivo, a sua postura de liderança
em termos regionais e até estadual. Ora, a Botucatu desde o início do século XX tinha o seu Plano Diretor Municipal, tinha moderno
e avançado sistema de tratamento de esgoto (os nossos córregos não eram
poluídos!), tinha Usina Hidrelétrica
própria, tinha sólido parque industrial,
comércio forte, boas escolas, enfim, tinha liderança política !
Essa liderança - a maior de todos os tempos! -
representou uma fase áurea para
Botucatu. A liderança do Dr. José (Juca)
Cardoso de Almeida marcou época. Filho de tradicional família local,
formou-se em Direito pela Faculdade do
Largo de São Francisco e cedo revelou sua vocação de político e estadista.
No “Almanack de Botucatu de 1920”, o seu
perfil está traçado de forma clara:
“Podemos dizer; apontá-lo como o filho mais prestimoso e
ilustre de Botucatu, sua terra natal. Ainda nos bancos da Faculdade, já o
seu espírito buscava a direção que ia ter o regime monárquico, ao arrebol da
República, da qual foi ele moço entusiasta, propagandista entre seus
contemporâneos, que todos se sentiam levados pela corrente acalorada da
implantação do novo poder Formando-se, era inevitável que a política, a porta
fascinadora para os que almejam servir sua pátria, fascinasse-o também a si.
Entra por ela...
Vem daí - e não
correram muitos anos - a iniciação de seus serviços ao Estado de São Paulo, sob
não poucas feições, qual e de mais realce.
Como Secretário da Fazenda, não só valorizou
o café, conto também, com isso, ao mesmo tempo, prestava um grande concurso ao
governo estadual, um exemplo ao da União e prestígio aos créditos do próprio
país.
Botucatuense
legítimo, de puro sangue, grande foram os esforços que dispensou aos progressos
de sua terra.
Eis aí a Escola Normal, a que deu seu franco e
dilatado apoio; o Grupo: Escolar,
patrocinado pelo seu nome; a Casa de
Misericórdia; a Igreja de N.S. de
Lourdes, primor de arquitetura, cujas obras já se encontram em remate e
para as quais tem sido “o Dr. Cardoso de
Almeida a fonte de recursos particulares....”
ALMANAQUE CULTURAL DE BOTUCATU - 2000
No “Memórias de Botucatu”, de 1990, dávamos destaque para a família Cardoso de Almeida, sob o comando desse
político, no processo de implantação, da
energia elétrica em Botucatu e no Estado de S. Paulo:
“...Já em 1905, foi constituída a Empresa Força e Luz de Botucatu, tendo
a família Cardoso de Almeida posição
de acionista majoritária. A
inauguração festiva ocorreu em 1907 ”
E mais: “Essa iniciativa, desde o início, contou com a presença do Engº Manfredo Costa que, a convite dos Cardoso de Almeida, chegava a
Botucatu... Manfredo Costa obteria pleno
sucesso no empreendimento e estava
reservada a esse brilhante técnico projeção
de destaque na história da energia elétrica do Brasil. Fundador da CPFL - Cia
Paulista de Força e Luz sempre tendo o apoio financeiro e político da
família Cardoso de Almeida. A CPFL surgiu da Empresa de Força e Luz de Botucatu...”
A ligação de Cardoso de Almeida com a cidade de Campinas, principal base da CPFL, deveu-se à sua ligação, por
parentesco, com Ramos de Azevedo, arquiteto responsável pela nova arquitetura
da Capital, que tinha escritório de Engenharia
e Arquitetura em São Paulo em Campinas.
Arquiteto Ramos de Azevedo
Projeto de Ramos de Azevedo para o Forum de Botucatu.Hoje
com o novo prédio do Fórum, o projeto de Ramos de Azevedo será transformado na 1ª PINACOTECA DO INTERIOR DO ESTADO.
O famoso arquiteto Ramos de Azevedo tinha laços de
parentesco com a família CARDOSO DE ALMEIDA, de Botucatu. O Dr.
José Cardoso de Almeida, na parte política, e o arquiteto
Ramos de Azevedo, com seu Escritório de Arquitetura, mudaram o
visual da capital Paulista. Os principais edifícios públicos, saíram
da prancheta de Ramos de Azevedo: Teatro Municipal, Mercado Municipal,
Palácio da Justiça, Correios, Escola Normal e tantas outras obras que
marcaram a pujança e o desenvolvimento paulista. E Botucatu foi
privilegiada ao receber o projeto de seu Fórum do escritório de Ramos
de Azevedo.
O arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo foi a
maior expressão da arquitetura brasileira na 1ª. República. Atuou
também na área acadêmica, sendo professor e Diretor da Faculdade de
Engenharia, (Politécnica) da USP,
tendo atuação expressiva no comando da Maçonaria (G.O.). Era cunhado
do deputado Cardoso de Almeida, que era casado com sua irmã, Dona
Ismênia Ramos de Azevedo Cardoso de Almeida.
Nos anos 20, tínhamos o Dr. Cardoso de Almeida como principal
líder do PRP, Deputado Federal e
várias vezes Secretário de Estado,
além da presença de seu irmão Cel. Antonio
Cardoso do Amaral (Nenê Cardoso), como Intendente
Municipal (Prefeito) e Deputado
Estadual; tínhamos, também, o sucesso de Ramos de Azevedo, responsável pelas principais obras públicas da Capital e do interior (em Botucatu, o
prédio do Fórum); e tínhamos o destaque do Dr. Alcides de Almeida Ferrari,
primo de Cardoso de Almeida, que com
efetiva atuação como Juiz chegou,
anos depois, a Desembargador e
Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.”
Em 1993, no livro “Memórias de Botucatu 2”, novamente
focalizávamos a atuação de Cardoso de
Almeida:
“Com a Revolução de 30 e a tomada do Poder por Getúlio Vargas, toda a
situação política existente ruiu...Principalmente, o todo poderoso Deputado Federal, Dr. José (Juca) Cardoso
de Almeida, líder da Maioria e do Governo no Congresso nacional e dos mais
abalizados chefes políticos do PRP -
Partido Republicano Paulista. Revolução é revolução e na fritura geral, até
os bons vão junto.... Sebastião de Almeida Pinto
dizia que:
“O PERREPÊ, apesar dos
pesares, era uma forja de estadistas e
um celeiro de homens públicos...”
A verdade é que o nosso político de maior destaque em
todos os tempos acabou exilado em Paris, onde veio a falecer em 1931.
Botucatu prestou sua homenagem ao Dr. José Cardoso de Almeida inaugurando defronte à ESCOLA NORMAL, o busto do ilustre homenageado durante as comemorações do 1º CENTENÁRIO DE BOTUCATU.
Com a mudança
política, Botucatu perde a liderança
regional. O Dr. Cardoso de Almeida
representou, com sua liderança, um
período de ouro para Botucatu. Foi Secretário
da Justiça (Governo Campos Sales), Secretário
da Fazenda (Governo Rodrigues Alves), Secretário
da Agricultura (Governo Rodrigues Alves), Secretário da Justiça e do Interior (Governo Jorge Tibiriça), Chefe de Polícia (Governo Bernardino de
Campos), Secretário da Fazenda
(Governo Altino Arantes), Presidente do
Banco do Brasil (Governo Epitácio Pessoa)... ”
Dr. José Cardoso de Almeida
Sua atividade
legislativa como Deputado Federal
foi muito grande. Autor de várias leis com destaque para a que criou a Polícia de carreira, a que deu vitaliciedade aos
Escrivães, a que organizou a Força Pública, a que proibiu acumulações de cargos
remunerados, a que criou os Bancos populares, a que criou a Bolsa de Café e a
que fundou as Caixas Econômicas Estaduais, entre outras.
No ano de 1995, a cidade de Botucatu comemorou o 1º Centenário do Grupo Escolar “Dr. Cardoso
de Almeida”. É uma vida... É a
presença positiva do passado. É o passado se fazendo presente e sinalizando o
amanhã...
Essa luz de nosso passado é que faz com que
visualizemos, para o futuro, uma posição de destaque para Botucatu. Com
a nossa Elite retomando em suas mãos
os destinos da cidade, propiciando o
surgimento de novos e valorosos Cardosos de Almeida neste final de século e
quase início do terceiro milênio.
Nota: A foto da placa e busto do Dr. Cardoso de Almeida é uma homenagem dos
Frades Capuchinhos ao seu grande Benfeitor. Na entrada principal do Santuário Nossa
Senhora de Lourdes, à direita de quem entra, a homenagem ao ilustre
botucatuense.
Inauguração do Santuário de Nossa Senhora de Lourdes e da Gruta, em 08/09/1918, com a presença do Dr, José Cardoso de Almeida (Benfeitor da obra religiosa), Frei Modesto, Monsenhor Paschoal Ferrari e Frei Luiz Maria de Sant'Ana, orador oficial e futuro Bispo de Botucatu. A Gruta foi cópia da Gruta de Lourdes, na França.
HOMENS QUE FIZERAM BOTUCATU
Tudo começou com o jornal “FOLHA DE BOTUCATU” que, a partir
de 1988, iniciou uma série de publicações buscando resgatar a memória de
Botucatu, através do registro dos grandes vultos do passado e do presente,
verdadeira GALERIA DAS GERAÇÕES BOTUCATUENSES.
Essas publicações foram publicadas, como anexo, no livro “Memórias
de Botucatu” que lançamos em 1990. E a abertura era com o perfil do
Dr. José Cardoso de
Almeida.
As crônicas antigas do cerimonial conta-nos da piedade e
unção do povo de Deus destas bandas comandadas por Monsenhor Ferrari, zeloso
sacerdote da época.
Os atos religiosos que marcavam o calendário santo tinham
toda a grandeza e a pompa da Literatura de então. As várias cerimônias da
Semana Santa contavam sempre com a presença fiel das autoridades enfarpeladas
em seus trajes a rigor.
A grande procissão de Corpus Christi saia, regularmente, ao
meio-dia, num longo trajeto. O pálio do Santíssimo, carregado pelas autoridades,
tinha sempre ao seu lado um ilustre botucatuense vindo, onde quer que
estivesse, para o ato religioso. Com respeito humano, na pública confissão de
fé religiosa, fazia a guarda do Santíssimo Sacramento e após, segurando uma das
hastes do pálio, percorria as ruas vermelhas e esburacadas em demanda da
Matriz.
Esse era o então político Dr. José Cardoso de Almeida.
Católico praticante, piedoso e contrito, cuja presença
assegurava à Igreja sua fidelidade e ao povo seu grande e sério apoio.
Foi então que Botucatu cresceu.
O Dr. Cardoso de Almeida demorava-se entre os seus por alguns
dias. Visitava a Santa Casa de Misericórdia do Dr. Costa Leite e o Santuário do
Convento Franciscano de Lourdes de que se fizera grande benfeitor.
Na roda de amigos ouvia os justos anseios políticos locais.
Seu apoio era inestimável. Graças a ele e aos seus trabalhos
como Deputado Federal, tivemos para nós, botucatuenses, a instalação da Escola
Normal Oficial, do Bispado Diocesano, o serviço de águas e esgoto, a energia
elétrica e a ereção do Santuário de Lourdes de que foi o grande benfeitor que
trabalhou para que Botucatu se classificasse entre outras, como um grande
núcleo educacional.
Pertencente ao antigo Partido Republicano Paulista (PRP), foi
membro ativo dos governos Estadual e Federal. Foi Secretário da Justiça
(Governo Campos Sales); Chefe de Polícia (Governo Bernardino de Campos);
Secretário do Interior e Justiça (Governo Jorge Tibiriça); Secretário da
Fazenda e Interino da Agricultura (Governo Rodrigues Alves); Secretário da
Fazenda (Governo Altino Arantes); Presidente do Banco do Brasil (Governo
Epitácio Pessoa). Foi ainda representante do Estado de São Paulo, como Deputado
Federal e mais tarde, líder da maioria no Governo Washington Luiz, e três vezes
relator da Receita e líder da maioria na Câmara Federal.
Sua intensa atividade política fê-lo autor de muitas leis,
entre elas: a que criou a Polícia de Carreira; a que deu vitaliciedade aos
escrivães; a que reorganizou a Força Pública do Estado de São Paulo; a que
criou a Caixa Beneficiente para Oficiais da Corporação; a que criou o Instituto
Disciplinar. Graças a seu dinamismo, houve em seu tempo, por autoria sua, a
reorganização do Ensino Primário. Foi ele que instituiu a Exposição Nacional de
1908; que proibiu as acumulações de cargos remunerados; que concedeu privilégio
aos assalariados rurais; que reduziu as taxas de capatazias na Alfândega de
Santos; que ofereceu garantias à Estrada de Ferro Sorocabana para o
prolongamento da linha Salto Grande a Porto Tibiriça; que fundou as Caixas
Econômicas Estaduais; que instituiu os impostos do Comércio e das Casas de
Diversões; que criou os Bancos Populares; a Lei da Instalação da Bolsa do Café;
Lei de Defesa do Café.
A MANSÃO NA AVENIDA PAULISTA
O Dr. Cardoso de Almeida teve vida intensa e destacada na Capital Paulista. Sua mansão construída na Avenida Paulista, esquina com a rua Hadock Lobo era ponto de encontro da sociedade paulistana. Exatamente na esquina foi construída uma varanda elevada para assistir aos eventos públicos na avenida, principalmente ao Carnaval. Local para se ver e ser visto. Como mostra a foto, durante um carnaval, com a presença do governador (presidente do estado) Rodrigues Alves e família, recepcionado por Dr. Cardoso de Almeida e família, além de inúmeros convidados.
Com destaque a foto do conhecido e pioneiro GRUPO ESCOLAR DR. CARDOSO DE ALMEIDA , com a presença do prefeito NENÊ CARDOSO, do arquiteto DUBUGRAS e do empreiteiro FRANCISCO ANTUNES DE ALMEIDA.
(do site SERIE AVENIDA PAULISTA.COM.BR com informações do sr. Claudio Cardoso).
Na foto acima, vemos ao centro o
Coronel Nenê Cardoso, irmão de José, tendo a sua esquerda o arquiteto
Dubugras e à direita, o empreiteiro Francisco Antunes de Almeida,
na época da construção da escola.
Com a vitória da Revolução de 1930, ele foi exilado e morreu,
um ano depois, a 6 de outubro de 1931, em Paris.
O Dr. José Cardoso de Almeida foi o maior botucatuense de
todos os tempos.
Folha de Botucatu
25/02/1989.
Um comentário:
Pertencente ao 5º Distrito Eleitoral, o município de Botucatu e região representavam, durante a Primeira República, importante base política para o PRP – Partido Republicano Paulista. Os senhores da plutocracia rural levavam com pulso firme a política estadual sob as normas rígidas do “Barão do Café”.
É importante que destaque a efetiva liderança política de Botucatu em toda a região. No ano de 1926, a cidade de Botucatu possuía 33.393 habitantes, sendo que a cidade de Bauru possuía 24.369 habitantes. Em 2010, Botucatu possuía cerca de 140 mil habitantes, enquanto Bauru já passava de 350 mil habitantes. Isso nos dá o quadro de quanto Botucatu perdeu com a Ditadura de Getúlio Vargas que procurou “desmontar” Botucatu politicamente e investir em Bauru como polo de desenvolvimento.
Nas proximidades do aniversário de Botucatu, em 14 de Abril, nada melhor do resgatarmos, após muitas pesquisas e estudo, o perfil do maior político botucatuense de todos os tempos.
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