Viveu (e Morreu) em Botucatu o Neto do Inconfidente-Poeta Alvarenga
Peixoto.
A matéria sobre a vida e morte do neto de Alvarenga Peixoto - O Inconfidente-Poeta - deverá polarizar as discussões da "intelligentzia" botucatuense Revista Peabiru
apresentou nessa matéria com muita pesquisa, mais um desafio à pesquisa: teria o neto de Alvarenga Peixoto vivido e
morrido na cidade de Botucatu ?!?
Em sua poesia nativista do “Canto Genetlíaco”, Alvarenga Peixoto, aludindo em determinado
trecho à sua “bárbara terra mas
abençoada”, dizia:
“Isto, que
Europa barbaria chama,
Do seio das
delicias tão diverso,
Quão
diferente é para quem ama
Os ternos
laços do seu pátrio berço”.
Herói da
Inconfidência Mineira. Juntamente com Cláudio
Manuel da Costa e Tomás Antonio Gonzaga, pertencente ao núcleo intelectual
do movimento pioneiro da libertação nacional. Poetas Inconfidentes...
Inácio José
de Alvarenga Peixoto, Juiz, fazendeiro, minerador, poeta, conspirador,
dispôs de duas portas para entrar na história: o renome poético e o martírio
patriótico. Serviu-se de ambas. Suas poesias: estão em todas as antologias como
expressões maiores de um tempo e uma escola. Seu nome, em primeira linha quando
se cogita da Inconfidência Mineira.
Ouviu, no cárcere a sentença de morte, o perdão
real, o mandado final de degredo para Angola
onde morreu, vítima de febre, não muito depois de chegado.
Deixara nas Minas
Gerais, além de fortuna avantajada, que o Estado reinol confiscou, a esposa
famosa então e ainda mais no futuro - Bárbara
Heliodora - e quatro filhos. Os cinco, marcados pelo terrível sêlo
desqualificante, parte da sentença condenatória: infames, por serem mulher
e filhos de
um tal réu. Vale dizer: exilados em
sua terra, invalidos para qualquer ação com o poder público, o que era,
então, imobilizador.
Dos filhos, a primogênita
faleceu em 1794. O moço João Damasceno parece não ter visto
filhos seus. Insistem os cronistas (ver Domingos
Carvalho da Silva). Outro rapaz, Tristão
Antônio morreu solteiro. Para manter a descendência restou José Eleutério que da espôsa, Mariana da Silva Lopes, recebeu cinco
filhos. O quarto filho foi batizado Tristão
Antônio em homenagem ao
tio.
Fosse por razões econômicas (já não havia ouro nas Gerais enquanto em São Paulo o café gerava fortunas) ou por outras, Tristão Antônio procurou outras cidades
para viver. Não fica mal o lembrar que embora o Brasil fosse independente, a
família reinante - Bragança - era a
mesma que cominara a pena de degredo e o ferrete de infâmia à família Alvarenga Peixoto. O assunto Inconfidência ainda não era tratável
( só o foi com a República) e a
infâmia não fora levantada.
Fato é que Tristão
Antônio escolheu Botucatu,
cidade entre as mais realizadas e promissoras. Não se conhece quando veio mas
sabe-se que foi Capitão da Guarda
Nacional e que aqui faleceu entre março de 1866 e junho de 1867.
E sabe-se por existir na biblioteca do poeta,
crítico, professor e acadêmico Domingos
Carvalho da Silva, exemplar do livro que terá sido especialmente prezado
pelos Alvarenga Peixoto
botucatuenses. Volume das “Obras
Completas ” do avô e bisavô, o poeta
inconfidente.. Na famosa edição de 1865,
preparada por Joaquim Norberto. Não
havendo livreiro em Botucatu (que se saiba), os Alvarenga Peixoto terão mandado buscar exemplar no Rio de Janeiro e o elevaram à condição
de ícone. No volume, a família quis
deixar bem claro - fazendo-o de Bíblia
para assentamentos - o quanto admiravam o ancestral e se orgulhavam do nome
Alvarenga Peixoto.
Do frontespício constam as assinaturas de Tristão Antônio de Alvarenga Peixoto Lopes
e de Guilhermina Carolina de Alvarenga
Peixoto. O marido, neto do condenado, uma geração em seguida ao degredo,
ostenta o nome da família materna. Sua esposa e todos os filhos orgulham-se com
o ser Alvarenga Peixoto e ostentam o
nome.
É assim que se apresentam na página seguinte ao
frontespício, conforme uso do tempo entre gente que se preza e ir sua
ascendência: “Tristão Antônio de
Alvarenga Peixoto Lopes e seus filhos: José
Ignácio de Alvarenga Peixoto, Guilhermina C. de Alvarenga Peixoto, Marianna
Guilhermina D'Alvarenga Mello, Ana Augusta de Alvarenga Peixoto, Laura
Amélia(ou Amália) de Alvarenga Peixoto, Francisco Ignácio de Alvarenga
Peixoto, Jorge Frederico de Alvarenga
Peixoto, Affonso Henriques de Alvarenga Peixoto, Maria Efigênia de Alvarenga
Peixoto. Botucatu, Março de 1866”. A família como que se recenseou para que
melhor a conhecessemos.
A edição, carioca, é de 1865; o rol de assinaturas aposto de certo algum tempo depois dos
nomes grafados no frontespício (pai e mãe) é de março de 1866. Em junho de 1867 o
precioso volume foi remetido para São Paulo: “Os filhos do finado Tristão Antônio de Alvarenga Peixoto Lopes
offerecem este livro ao Ilmo. Sr. Dr. João Pinto de Castro. Botucatu, 20 de
junho de 1867”. O patriarca local se fora, era “finado”. A mãe, também, pela dedicatória e mesmo pela lista do ano
anterior.
Domingos
Carvalho da Silva identificou o destinatário do volume: formara-se em
direito naquele ano. Viria a ser genro do Barão
do Ramalho. Curiosamente, nos anos quarenta, Domingos Carvalho da Silva trabalhou na Fazenda Lageado, então federalizada. Procurou, sem resultados,
elementos maiores sobre os Alvarenga
Peixoto em Botucatu. Trata-se,
pois, de uma pesquisa a ser feita.
Como teriam os botucatuenses daqueles anos recebido e convivido com gente vinda
sob a legenda da conspiração, da
desgraça e da infamia ?!? Metade da população da pequena Botucatu de então era proveniente de Minas mas a totalidade
não falaria, com agrado, dos sucessos da
Inconfidência. Era a norma nacional...
Não fique sem enfase o ter sido Tristão neto de uma avó com lugar muito
especial na crônica das musas e mesmo, segundo alguns estudiosos da vivencia
poética, no tirocínio do poeta e que foi Bárbara
Heliodora.
Registro
Histórico 1 - Inconfidência Mineira: leitura dinâmica.
Foi o primeiro movimento que manifestou a intenção
de promover a separação de Portugal
- A exploração econômica portuguesa sobre o Brasil
foi a causa principal e atingiu o seu auge no final do século XVIII.
Era o colonialismo
predatório. As riquezas do Brasil estavam se esgotando, principalmente o
ouro. Portugal, no entanto, achava que os colonos fraudavam a Coroa. Não
acreditava que o ouro estivesse acabando. O Marquês de Pombal, em 1750,
estabeleceu a cota de 100 arrobas (1.500
Kg) como imposto anual a ser pago em ouro. A população não conseguia
atingir essa quantia. Então, foi implantada a derrama, em 1763, como
meio de obrigar a população a pagar o faltante através da expropriação de seus pertences, sem se levar em conta se
mineradores ou não.
O agravamento da crise com o consequente aumento do
sentimento de revolta ocorreu em 1785,
quando D. Maria I - a louca -, Rainha de Portugal, decretou alvará
proibindo as manufaturas no Brasil e
obrigando que as mesmas devessem ser importadas
de Portugal.
A Metrópole
asfixiava a incipiente economia brasileira. A revolta entre a classe dirigente da Colônia era geral.
A par da situação econômica, havia a influência do liberalismo e da independência americana. A Influência do liberalismo era sentida
com o retorno dos filhos das famílias ricas do Brasil
que estudavam na Europa. Os jovens
retornavam ao Brasil impregnados pelas
novas idéias, como o liberalismo,
do inglês John Locke e as idéias do iluminismo, pregadas pelos
franceses Montesquieu, Voltaire e Rousseau.
No entanto, o que mais influenciou, sem dúvida
alguma, foi a repercussão da Independência
dos Estados Unidos da América, ocorrida em 1781: era a prova provada de que a independência de uma colônia era possível de ser alcançada...
ALVARENGA PEIXOTO (Marcos Ricca) e TIRADENTES (Humberto Martins)
Líderes da
Inconfidência: A maioria era pertencente à elite econômica. Talvez só Tiradentes
fosse remediado. Os outros, se jovens estudantes, eram filhos de famílias
ricas, os demais ,eram abastados proprietários rurais e mineradores.
Principais
Líderes: Cláudio Manuel da Costa, poeta et rico minerador; Luíz Vieira da Silva, cônego; Alvarenga Peixoto, poeta, próspero minerador e fazendeiro; Tomás Antônio Gonzaga, poeta,
intelectual e Ouvidor de Vila Rica; Carlos Correia de Toledo e Melo, vigário de
São João Del Rei e próspero minerador; José
Alvares Maciel, estudante de Química e filho
do Capitão-Mor de Vila Rica; o estudante José Joaquim Maia que tentou conquistar o apoio do Presidente Americano, Thomas Jefferson para a causa da
Independência; Francisco de Paula Freire
de Andrade, tenente-coronel comandante do Regimento dos Dragões; os irmãos Francisco Antônio e José Lopes de Oliveira,
o primeiro militar e o segundo padre, ambos grandes proprietários rurais; Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, principal organizador e líder político da rebelião, era alferes,
posto da carreira militar logo acima de sargento.
Fim do
Sonho: Teve início a 15 de março
de 1789, quando o traidor Joaquim Silvério dos Reis, esperançoso de ter as dívidas perdoadas,
denunciou seus companheiros ao governador,
o Visconde de Barbacena. Presos, 11
inconfidentes foram condenados à
morte, sendo que D. Maria I estabeleceu
o degredo perpétuo para 10 desses
inconfidentes, sendo só Tiradentes o
bode expiatório: seria enforcado (21/04/1792), sendo sua cabeça cortada e levada a Vila Rica, onde seria pregada em alto
poste, em lugar público movimentado, sendo que seu corpo seria dividido em
quatro quartos e pregado em postes nos sítios de maiores povoações.
Tiradentes é declarado réu infame, e seus filhos e
netos. Seus bens são confiscados. A casa em que vivia em Vila Rica seria
arrasada e o solo salgado...
O SONHO:
Com a independência, a Nova República
teria São João Del Rei como Capital. A criação de uma Universidade,
a Abolição da Escravatura, o incentivo a industrialização eram metas do
inconfidentes... (AMD)
Registro
Histórico 2: ALVARENGA PEIXOTO
Inácio José
de Alvarenga Peixoto - 1744/93 - nasceu no Rio de Janeiro. Estudou no Colégio
dos Jesuítas, em Braga, Portugal. Formou-se (1768) advogado pela Universidade de Coimbra.
Ocupou o cargo de Juiz de Fora da Vila de Sintra e, em 1775, foi nomeado Ouvidor do
Rio das Mortes (MG).
Em 1781,
casou-se com Bárbara Heliodora,
poetisa, descendente de ilustre família paulista.
Deixando a Magistratura,
permaneceu em Minas Gerais,
ocupando-se da lavoura e da mineração. Em companhia de seu parente, Tomás Antônio Gonzaga, foi implicado na
Inconfidência Mineira.
Após ter a sua sentença de morte declarada, teve a
pena comutada para degredo em Angola. Condenado ao desterro, foi conduzido primeiramente ao presídio da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro indo, posteriormente,
para o presídio em Ambaca (África),
onde faleceu pouco tempo depois de chegado.
Alvarenga
Peixoto embora fosse grande proprietário de escravos, defendia a abolição,
sempre argumentando que a abolição faria dos negros, agradecidos, adeptos da
revolução.
A bandeira que seria adotada pela Nova República teve duas sugestões: a
de Tiradentes era um símbolo triangular, representativo da Santíssima Trindade e a de Alvarenga Peixoto que era a figura de um índio rompendo as correntes,
com a inscrição do início de um verso do
poeta latim Virgílio: “Libertas quae
sera tamen” (a Liberdade ainda que tardia...) Portanto, a bandeira dos inconfidentes ficou com o
símbolo triangular proposto por Tiradentes e a frase proposta por Alvarenga
Peixoto...
(AMD)
Registro
Histórico 3:
A D. Bárbara
Heliodora
(remetida do
cárcere na Ilha das Cobras)
Bárbara
bela,
Do Norte
estrela,
Que o meu
destino
Sabes Guiar,
De ti
ausente,
Triste
somente
As horas
passo
A suspirar.
Isto é
castigo
que Amor me
dá.
Por entre as
penhas
De incultas.
brenhas
Cansa-me a
vista
De te
Buscar;
Porém não
vejo
Mais que
desejo,
Sem
esperança
De te
encontrar.
Isso é
castigo
que Amor me
dá.
Eu bem
queria
A noite e o
dia
Sempre
contigo
Pode passar;
Mas
orgulhosa
Sorte
invejosa
Desta
fortuna
Me quer
privar.
Isso é
castigo
que Amor me
dá.
Tu, entre os
braços,
Ternos
abraços
Da filha
amada
Podes gozar.
De ti e
dela,
Busca dois
modos
De me matar.
Isso é
castigo
que Amor me
dá.
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