abril 07, 2017

Professor Cantídio de Moura Campos: Primeiro Botucatuense Médico!

Professor Cantídio de Moura Campos
Quadro do Museu Histórico da Faculdade de Medicina (USP)

O primeiro botucatuense formado em Medicina. Professor da Faculdade de Medicina da USP, onde viria a ser Diretor. Foi Vice-Reitor da USP e Reitor da UNICAMP. Secretário Estadual da Educação e da Saúde. Ajudou a criar a Universidade de São Paulo – USP. A Escola Profissional, depois denominada de Escola Industrial de Botucatu, foi criada por ele a pedido do deputado Dante Delmanto. Cantídio de Moura Campos , como Secretário da Educação e Dante Delmanto, como deputado, fizeram a “dobradinha de Botucatu” no governo de Armando de Salles Oliveira que implantou a Escolas Profissionais e fundou a USP.

A “Folha de Botucatu” tem feito reiteradas publicações referentes aos grandes vultos do passado botucatuense. Não é mera louvação. Nem é saudosismo. Com a visão posta no futuro estamos, tão somente, mostrando que os ciclos positivos de um povo, de uma comunidade, são coincidentes com a presença de seus filhos na liderança das conquistas para a cidade, trazendo o desenvolvimento e progresso.

As conquistas de Botucatu estão ligadas às épocas em que a nossa cidade contou com lideranças políticas de expressão. Assim foi com as presenças de Cardoso de Almeida e de Amando de Barros (Escola Normal, Bispado, Misericórdia, etc). Assim foi com Cantídio de Moura Campos.

Raphael Augusto de Moura Campos

Cantídio era filho do Coronel Raphael Augusto de Moura Campos, chefe político de grande prestígio em toda a região de Botucatu. Conseguiu o privilégio de ser o primeiro botucatuense formado em Medicina. O primeiro médico botucatuense. Foi um acontecimento festejado em toda a cidade. Mas, para esse Moura Campos, estava destinado um futuro brilhante.

Recém formado, Cantídio integrou-se à equipe de jovens médicos escolhidos pelo legendário Arnaldo Vieira de Carvalho para a constituição do Corpo Docente da Faculdade de Medicina. Faziam parte da equipe, os médicos Benedito Montenegro e João de Aguiar Pupo, destinados também a um lugar de destaque na história do ensino médico em São Paulo. Cantídio cresceu com a Faculdade de Medicina: começou como instrutor até chegar a Professor Catedrático e, posteriormente, Diretor da Faculdade de Medicina.

O destino, porém, reservava glória maior a esse botucatuense. No Governo Democrático de Armando de Salles Oliveira, o prof. Cantídio de Moura Campos viria a ser indicado para a Secretaria da Educação e Saúde do Estado. Era uma das maiores Pastas do Governo, eis que englobava a Educação e a Saúde.

Nessa época, Botucatu viveu um de seus períodos aúreos. Nós tínhamos deputado federal e deputado estadual. Como Deputado Federal, o Dr. Antonio Carlos de Abreu Sodré (Promotor Público e ex-vereador de Botucatu) e como Deputado Estadual, o Dr. Dante Delmanto (destacado advogado criminalista eleito com a maior votação do Estado, sendo o mais jovem deputado eleito). Para se ter uma base de como a nossa região tinha representatividade, basta citar que juntamente com Dante Delmanto era eleito, para seu primeiro cargo público, como Deputado Estadual, o jovem médico Adhemar Pereira de Barros, representando Piracicaba e São Manuel.

O chamado “trio de ouro” era a garantia de que Botucatu teria destaque perante as demais cidades do interior. Assim, veio a Escola Profissional (Industrial), a Fazenda Lageado (desapropriada), as Regionais do Estado, etc. O “trio de ouro”: Cantídio Moura Campos, Abreu Sodré e Dante Delmanto. Botucatu, graças à presença política de seus filhos na liderança regional, conseguiu passar incólume pelos difíceis anos 30.

No último 27 de setembro de 1989, o Centenário de Nascimento do Prof. Cantídio de Moura Campos foi comemorado pela Faculdade de Medicina da USP. Falecido em 1972, Cantídio de Moura Campos deixou marcada a sua passagem pelo ensino superior de São Paulo e pela Administração Pública Paulista.

No Governo de Armando de Salles Oliveira, o prof. Cantídio de Moura Campos ocupou com competência a Secretaria da Educação e Saúde. Coube-lhe a incumbência de tornar realidade o sonho do grande Estadista que foi Armando de Salles Oliveira: a criação da Universidade de São Paulo. Juntamente com Benedito Montenegro, Júlio de Mesquita Filho, Cristiano Altenfelder e Silva, Reynaldo Porchat e Teodoro Ramos, Cantídio participou de forma expressiva na criação da USP. Posteriormente, foi o primeiro Reitor da Unicamp (Universidade de Campinas).

Na homenagem que lhe foi prestada pela Faculdade de Medicina, dois professores discursaram em sua homenagem: Mário Ramos de Oliveira e Marcello de Moura Campos. O prof. Mário Ramos de Oliveira em seu discurso destacou: “...Entrou (na faculdade) como preparador em 1915, quando de volta da Europa. Tinha se formado em 1912, na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e ido para a França onde fez-se fisiologista. 

Na Alemanha Imperial prolongou o seu estágio; depois esteve na Inglaterra. Nos dois primeiros aprendeu as bases das ciências e, na última, encontrou o espírito das liberdades respeitáveis e o apuro de sua personalidade de gentleman. Entretanto, como preparador de fisiologia coube-lhe a princípio plasmar as normas do Departamento de Fisiologia desde ensinar os técnicos, ele próprio preparando animais, tratando deles, e fazendo funções subalternas no velho tempo da Faculdade da Rua Brigadeiro Tobias. Foi lá que, com seus companheiros de época, desenvolveu um regime de trabalho, que podemos chamar de superintegral. Era a época em que os idealistas de ARNALDO cuidavam dos alunos eles próprios, preparavam as aulas quando voltavam à noite ao laboratório para que, como agora o curso da nossa faculdade fosse o melhor. Quando em janeiro de 1919 coube-lhe a chefia do Departamento de Fisiologia, como professor catedrático, e onde durante dez anos seguidos foi incansável no seu labor, demonstrou nesse fecundo período de sua atividade professoral, o seu carinho para com esse departamento, organizado sob bases seguras uma escola de experimentação que durante muito tempo o considerou como seu mentor e guia principal. Fixou diretrizes no ensino da fisiologia aplicada, realizou interessantes experiências e, finalmente, sempre atendeu com solicitude e carinho a todos os que buscaram o seu apoio , os seus conselhos e a sua orientação na feitura de trabalhos científicos.”

Politicamente, Cantídio de Moura Campos atuou no Partido Democrático e, posteriormente, no Partido Constitucionalista (que absorveu o PD), chegando a ocupar a Secretaria da Educação e Saúde do Estado de São Paulo (1935/1937)

Profissionalmente fez toda a sua carreira na Faculdade de Medicina, onde começou como professor-instrutor e chegou a Diretor. Foi professor catedrático de Fisiologia (1919/1929) e professor catedrático de Terapêutica Clínica (1929/1959). Foi Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Vice-Reitor e o primeiro Reitor da Unicamp – Universidade de Campinas.

Botucatu une sua voz a tantos quantos estejam relembrando a trajetória brilhante desse grande botucatuense. Hoje, Botucatu tem o Hospital Psiquiátrico “Prof. Cantídio de Moura Campos”, que está comemorando 20 anos de existência. Hoje, sobretudo, Botucatu tem o exemplo desse filho dileto que soube cumprir o seu compromisso com a sua geração e soube levar a todos os cargos e a todos as funções exercidas o traço do caráter firme, do idealismo sempre constante e do patriotismo marcante dos filhos de Botucatu. (F.B. 23/10/1989).




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