PEDUTI & DELMANTO
Tanto Antônio Delmanto como Emílio Peduti participaram e tiveram papel de destaque na 2ª. Fase da Misericórdia Botucatuense. Convocado, Antônio Delmanto assumia, no segundo semestre de 1937, a Direção Clínica do Hospital. A situação era grave. Os médicos haviam se afastado do hospital. Urgia uma solução. Delmanto, retornando a Botucatu após seu curso de Medicina no Rio de Janeiro e estágio de 2 anos na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, aceitou o desafio. Montou um excelente Corpo Clínico e remodelou e modernizou a infra-estrutura hospitalar.
Da mesma forma, Emílio Peduti, empresário bem sucedido, é convocado para gerir a Diretoria Administrativa da Misericórdia. A grave situação econômico-financeira precisava de uma estabilidade urgente. A escolha para essa empreitada não poderia ter sido melhor: Pedutão sabia administrar e sabia manter o comando. Antônio Delmanto permaneceu como Diretor Clínico de 1937 a 1951. Emílio Peduti permaneceu como Presidente ou Provedor de 1937 a 1963, quando faleceu.
Pois bem, Emílio Peduti já tivera, em 1936, uma experiência política quando fora candidato a Vereador e conseguira obter suplência (Jayme de Almeida Pinto, ainda solicitador de Direito, conseguira eleger-se Vereador e tirava licença para propiciar a que Peduti assumisse a vereança por breves períodos). No ano de 1947, Peduti novamente se candidata a vereador (PSD) e obtém sucesso com 276 votos. Antônio Delmanto, após seu regresso a Botucatu tenta pela primeira vez um cargo eletivo nas eleições municipais de 1947, candidata-se a Vereador (UDN) e é eleito com 945 votos. Para a época - mais de 50 anos atrás! - a votação recebida representou o recorde individual de votos até hoje não suplantado (proporcionalmente ao número de eleitores do município) Com a votação de Delmanto, a UDN fez a maior bancada da Câmara Municipal.
Com essa votação do udenista, o então Governador Adhemar de Barros, sempre pretendente à Presidência da República, que estava "armando" a sua base política no interior de São Paulo, procura manter contato. O encontro é realizado na fazenda do irmão do governador, Sr. Geraldo de Barros, tendo como intermediário o Sr. Joaquim Amaral Amando de Barros. Na fazenda de São Manoel, Antônio Delmanto recebe a proposta: apoio decisivo do "esquema ademarista" para sua eleição a Prefeito Municipal em 1951, em troca de apoio político futuro a Adhemar de Barros. Esse apoio de Delmanto seria "sacramentado" por uma carta hipotecando apoio futuro à possível candidatura de Adhemar. Nada feito. Delmanto alegou que seu partido (UDN) teria seus próprios candidatos às próximas eleições e que tinha fechado questão no sentido de combater Adhemar à nível estadual.
O Pedutão aceitou e fechou com Adhemar. Não se sabe se houve carta assinada e não consta apoio de Peduti a Adhemar nas eleições seguintes. Peduti ganhou a eleição para a Prefeitura. Hoje, com a concordata e desaparecimento da empresa Teatral & Peduti na segunda metade dos anos 80, fica difícil imaginar a grandiosidade e poderio da empresa no início dos anos 50. Emílio Peduti não só era o maior capitalista da cidade como a sua empresa "dominava" grande parte do interior paulista com sua rede de cinemas e sua distribuidora de filmes. É registro histórico.
Após a campanha municipal de 1951 e antes da divulgação do resultado, Peduti e Delmanto realizaram memorável churrasco de confraternização. Eram outros os tempos e outros os homens.
Depois da "quarentena" eleitoral que sempre serve para serenar os ânimos, principalmente dos simpatizantes que se situam na periferia das grandes lideranças, Peduti e Delmanto reataram o relacionamento. Por decisão de Pedutão, a Comissão encarregada do 1º Centenário de Botucatu acatou e implantou a sugestão de Delmanto para que os grandes vultos de nossa história local fossem homenageados (Costa Leite, defronte a Misericórdia; Cel. Amando de Barros, na Praça do Bosque; Comendador Virgínio Lunardi, na praça principal da Vila dos Lavradores e o Dr. Cardoso de Almeida, defronte a Escola Normal), com a colocação de busto em praça pública.
Pedutão consolidou a sua imagem de administrador seguro. Voltou a ser reeleito Prefeito Municipal de Botucatu no ano de 1959, com o apoio de Antônio Delmanto e da UDN. Aqui é importante destacar que em sua primeira eleição (1951), Peduti recebera apoio total de Adhemar, então Governador, e dos ademaristas locais, que representavam respeitável força política, contando ainda com o apoio do Prefeito de Botucatu, Sr. Renato de Barros, primo do governador.
Na ocasião, através de seu irmão, Sr Geraldo de Barros (São Manoel), o então governador investira "pesado" em Botucatu: adquirira a nossa única rádio (PRF-8), reforçou o jornal local (Correio de Botucatu) e desapropriou a Casa de Saúde (Sul Paulista e depois Nossa Senhora Menina) para a instalação imediata do Hospital Regional da Sorocabana (os ferroviários sempre representaram expressiva força política em Botucatu) Pois bem, Emílio Peduti vencera as eleições e não dera o esperado apoio a Adhemar nas campanhas políticas que se seguiram e, a nível local, deixara os adhemaristas falando sozinhos... Elegera como seu sucessor, João Queiroz Reis, derrotando exatamente o Sr Renato de Barros, primo do ex-governador...
Os ademaristas estavam há tempos tentando chegar ao acerto de contas... Na eleição de João Reis, os ademaristas perderam e não conseguiram dar o troco... Na sucessão de João Reis, o candidato oficial foi novamente Emílio Peduti (1959). Os ademaristas lançaram o candidato a vice-prefeito, o vereador Plínio Paganini, com José da Silva Coelho para Prefeito. Quase chegaram lá. Mesmo com o apoio da UDN, que lançara o candidato a vice-prefeito (Abílio Dorini), a eleição de Peduti corria sério risco.
A campanha foi violenta. Coelho estava no auge de sua carreira e as forças ademaristas, como sempre, representavam expressivo número de votos. Dizem que Coelho perdeu a eleição uma semana antes do pleito. Em seu famoso comício no Paratodos, Coelho lotou a praça, indo a multidão até defronte o Botucatu Hotel. Pois esse foi o motivo de sua derrota... Alertados pela derrota que se aproximava, o esquema de campanha de Peduti realizou a operação "pente-fino", com argumentos "persuasivos" nos principais bairros da cidade. E, como jogada final, Peduti trouxe para animar seu último comício, simplesmente o maior ídolo do cinema nacional: Mazzaropi! Peduti ganhou e a oposição elegera o vice-prefeito, Plínio Paganini.
No início de 1962, a oposição a Peduti se ampliava na mesma proporção em que se desenhava a volta do "velho" Adhemar e com a derrota de seus aliados a nível estadual, Peduti já começara a sentir um recrudescimento, no final de 1962, da oposição que lhe era crescente. O recrudescimento poderia ser classificado como feroz pelo observador mais otimista, mas realmente era desumano e assustador. As perspectivas não eram boas. O acerto de contas estava começando... Em 04/03/63, Pedutão faleceu..."
("in" Memórias de Botucatu 2, edição 1993)
Delmanto firmou posição como parlamentar combativo, sendo reiteradamente o vereador mais votado da cidade. Em sua última eleição, em 1972, elegia-se com novo recorde de votos: 1993.
Quando do segundo mandato de Pedutão como Prefeito, as coisas não andavam bem... Pedutão, já adoentado, enfrentava feroz oposição. Alguns vereadores situacionistas ("cupinchas" , mesmo) já começavam a formar o Bloco Independente.. Peduti começava a ficar só... Era pouco o apoio político de que dispunha. Um desses apoios e que permaneceu até 1963, quando Peduti faleceu no exercício do cargo e sob violenta oposição, foi o de Antônio Delmanto.
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