Guido Bissacot:
Violão e Magia!
Guido Bissacot, nos seus 30 anos, sentado no jardim ao lado de seu cunhado Olavo Carneiro Giraldes (de chapéu) - Acervo do Centro Cultural de Botucatu.
Na revista PEBIRU nº 10, de julho/agosto de 1998, publiquei artigo em homenagem ao grande músico Guido Bissacot, de autoria do Professor e Acadêmico, JOSÉ CELSO SOARES VIEIRA – Presidente Emérito da ABL – Academia Botucatuense de Letras. Com o título de “VIOLÃO E MAGIA”, foi feito o resgate histórico desse excepcional músico e compositor botucatuense.
Agora, recebo do CARLOS ANTONIO BARROS DE MOURA – Diretor da Associação Comercial de São Paulo - amigo e experiente profissional na área de Seguros e cronista atemporal com suas publicações sempre oportunas em “A VOZ DE PINDORAMA”, o e-mail intitulado “Coisas de Botucatu”:
“Armando,
Tudo bem?
Veja o link abaixo é sobre meu tio-avô GUIDO BISSACOT.
Um grande abraço,
CARLOS.”
De autoria de ALCIDES BARROS, de São José dos Campos é digna de ser ouvida e irá, com certeza, enriquecer o acervo cultural de nossa cidade:
NOITES SEVILHANAS
José Celso Soares Vieira
Violão e Magia
José Celso Soares Vieira
Naquela noite, enfeitiçadas pelos sons provindos de um além - para muito longe deste mundo -, as cordas do violão eram cúmplices daqueles enormes e finos dedos que as envolviam com toques mágicos e sensuais. A música brotava da alma de Guido Bissacot que, em “Noites Sevilhanas”- composição inspirada no fraseado do notável violinista espanhol Andrés Segóvia -, nos transportava da mesa simples do bar Santana, em Botucatu, para uma taverna em Sevilha, onde uma bela cigana andaluz dançava ao som do violão, tocando as castanholas por entre os dedos ágeis, acompanhadas pelo sapateado que davam ritmo ao corpo esbelto, ziguezagueante de sensualidade e graça. Todos parece que pactuávamos da mesma religiosidade mística, do mesmo silêncio compromissado, do mesmo encanto, do sonho fantástico dos acordes musicais. Quando Bissacot dedilhava a última nota, emoldurada de harmonização perfeita, éramos acordados para o presente e, então, percebíamos que tínhamos sido encantados.
Mas a noite continuava e, embora embalado pelos vários goles de cachaça - só tomava cachaça -, atendendo a pedidos, corria os dedos pelas cordas e nos dava “Torre de Vitoriana”, uma das muitas composições de sua autoria. Ouviam-se os sinos da matriz do pequeno distrito soando para anunciar aos moradores a missa que se aproximava. Nessa música, Bissacot vestia a perdida e longínqua infância, passada em Vitoriana. De seus olhos, saía um angustiante apelo à volta aos tempos queridos, aos pais já em glória, à família enorme quase desaparecida, às caminhadas pelos verdejantes cafezais, à felicidade de ter ouvido Guiomar Novaes ao piano na fazenda do Conde de Serra Negra, à encantadora flauta, seu primeiro instrumento com que, aos 6 anos, tocava na banda local. Os sinos eram um réquiem a acompanhar-lhe as lágrimas, furtivas pérolas de sua sensibilidade musical.
A noite, finalmente, se encerrava com a tão esperada “Marlene”, valsa de sua lavra, dedicada `a amada, que morrera jovem. A letra era do grande poeta prof. Genaro Lobo. Os acordes iniciais, propositalmente, como que a sinalizar os desconforto causado pela ausência da amada. Na 2ª parte, os acordes sonantes voltam, transportando-o, talvez, para o mundo dos sonhos, onde os amantes se reencontram e se amam para sempre. A magia dessa composição envolvia todos os presentes, constristados com o desenlance doloroso do seu autor, mas ninguém se lamentava, porque o encanto da valsa era um mistério comum aos circunstantes. Bissacot afrouxava as cordas do violão “Di Giorgio”, - presente autografado do famoso fabricante -, quem sabe para sempre.
Biografia sumária
Guido Bissacot (1903 - 1971)
Entre o nascer e o morrer, Guido Bissacot, filho de imigrantes italianos localizados em Vitória - a atual Vitoriana - foi um predestinado precoce para a arte musical. Dotado de ouvido absoluto, seu primeiro instrumento foi a flauta, com a qual, aos 6 anos de idade, tocava na Banda de Vitoriana. Já moço, forçado a deixar de tocar flauta, por motivo de saúde, estudou violão clássico. Foi com este instrumento que conseguiu as maiores glórias musicais, dando concertos e recitais pelo Brasil afora. A respeito de um concerto de Bissacot, no antigo Teatro República, em São Paulo, um crítico musical do extinto Diário da Noite, em 1934, escreveu que o concertista extasiou os ouvintes, mas que tinha um grande defeito: demasiada modéstia. O famoso fabricante de violões Di Giorgio, em homenagem ao compositor deu-lhe dois violões autografados. Um deles acompanhou Bissacot até a morte, desaparecendo com este, e o outro está em poder da família do falecido Gastão Dal Farra, que o comprou do músico.
Bissacot, infelizmente, por excentricidade, deixou poucas composições nas pautas, trabalho maior que foi realizado por dois discípulos seus: Dr. José Carlos Taborda e Janjão. Assim temos partituras como valsas populares: Marlene, Marilene, Norma, Marisa, Marilu; choros: Choro em Lá, Choro em Ré, Parafusando, Gemido de Violão; marchas: Marcha, Variação sobre a Marcha Triunfal Brasileira; clássicos: Noites Sevilhanas, Noturno op. 1, Prelúdio nº 1 e Torre de Vitoriana.
11 comentários:
Eu conheci Guido Bissacot e o vi tocar. Soberbo. Posteriormente, fiquei muito amigo de seu irmão, Tonico Bissacot, casado com a Esther Rodrigues Bissacot, prima da Beth, minha esposa. O Tonico e a Esther foram nossos padrinhos de casamento.
Importantíssimo esse resgate cultural que se faz do músico e compositor que soube captar a “alma” de Botucatu em suas composições. Dizem que viveu um grande e inesquecível amor. Amor que o inspirou, sempre.
É Registro Histórico!
Carlos Barros de Moura (Facebook):
Grato pela divulgação e um forte abraço
Paulo Henrique Bissacot (Facebook):
Obrigado em nome da família ,pela homenagem a nosso tio.
Salve, Paulo. Homenagem merecida, valor cultural de Botucatu!
Edna Maria Bissacot Bechelli (Facebook):
Linda homenagem grande violinista saudades
Rene Alves de Almeida (fACEBOOK):
Conheci-o pessoalmente , nas noites quando sentado no banco do Grupo Pinheiros solava o seu violão ... o JANJÃO MENDES começou a tocar violão com ele .... havia uma musica OS SINOS DA MATRIZ DE VITORIANA , parece me que tinha esse nome e ele gostava de tocar para a molecada que vivia a noite nos jardins da escola ..... Depois , surgiu o OG GLAUCO SOARES ....... recordo me dele sempre fumando, com um cigarro nas mãos e executando aquele som para todos ......
Paulo Henrique Bissacot (fACEBOOK):
Nesta foto ele deveria ter uns 15 anos mais ou menos.
Edna Maria Bissacot Bechelli (Facebook):
Essas músicas estão com alguém
Maria Eneida Marcondes Aiello (Facebook):
publicou uma foto na linha do tempo de Wilson Marcondes.
Veja isso ,Wilson
Edna Maria Bissacot Bechelli (Facebook) compartilhou sua foto.
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Família Bissacot leiam nosso Tio Guido
Amigo Armando,
Excelente oportunidade para relembrar o grande Guido Bissacot. Músico nascido no Distrito de Vitoriana e, excelente violonista. Botucatu teve três musicos virtuoses do plangente violão: Guido Bissacot, Og Soares e Paulo Barreiros. Dignos representantes da terra dos bons ares, que enalteceram, além fronteiras, a nossa arte!
Olavo Pinheiro Godoy - Academia Botucatuense de Letras
Ao meu professor e melhor violonista desse mundo, Og glauco Soares, Muitas saudades, com todo carinho especial.
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