Dom Henrique Golland Trindade: uma mão franciscana e amiga
foi estendida para mim...
“Vou lhes dar 3 diagnósticos para um mal que é típico da gente serraçuma:
1º ato – Cornélio Pires, no palco do Casino, fim dos anos 30: “é difícil entender este povo. Gosta das minhas piadas porque ri de estourar. Mas não move as mãos, não aplaude. É frio.”
2º ato – Um humilde botucatuense que nos anos 40 chegou a campeão brasileiro de um certo esporte: “o pessoal, lá na terra, parece que tem vergonha de me cumprimentar. É onde menos sou festejado!”
3º ato – D.Frei Henrique, anos 50, assistindo a um bem organizado desfile cívico-religioso, ali na Cel. Moura: “Aplaudam. Vamos aplaudir, ó povo frio. Não sabem o trabalho que dá?”
Hernâni Donato.
Dom
Henrique Golland Trindade, foi nosso 4º Bispo Diocesano, tomando posse em 1948
e, em 1958, tomou posse como nosso 1º Arcebispo até 1968: foram 20 anos de
pastoreio onde pode compreender o “espírito” dos botucatuenses como afirmou
Hernâni Donato no trecho de abertura.
Agora, está completando 40 anos de seu falecimento (06/11/1974).
Antônio Delmanto como presidente da Câmara Municipal recepcionou
Dom Henrique em sua chegada a Botucatu
Agora, está completando 40 anos de seu falecimento (06/11/1974).
Reformou
e modernizou a Catedral, construiu a Vila dos Meninos “Sagrada Família”, fundou
a Ordem das “Servas do Senhor” e comandou a Comissão de Botucatu Pró Faculdade
de Medicina. Foi de todos os bispos e arcebispos o que mais interagiu com a
comunidade botucatuense.
Vamos
mostrar, resumidamente, sua atuação na chegada a Botucatu: a construção da Vila
dos Meninos, a sua interação com a Maçonaria, o seu comando na conquista da
Faculdade de Medicina (Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu –
FCMBB) e a sua mão estendida a uma criança...
A CHEGADA A BOTUCATU DE SEU 4º BISPO DIOCESANO
A
posse de Dom Henrique ocorreu em 15 de agosto de 1948. A posse foi festiva. A
cidade se engalanou com autoridades estaduais e municipais, autoridades judiciárias,
militares e religiosas e com maciça presença da população. Com destaque para a
presença do Governador Adhemar Pereira de Barros e sua esposa Dona Leonor
Mendes de Barros. No jornal “DEMOCRACIA”, de 15/08/48, a notícia do grande
acontecimento:
“Às
15 horas, acompanhado do Sr. Governador do Estado e Exma. Esposa, dos
Secretários de Viação e Obras Públicas, da Justiça e do Interior, d. Frei
Henrique desembarcou no aeroporto local. Após cumprimentos S.Exa. Revma. Se dirigia
ao Paço Municipal acompanhado de um cortejo de mais de cem automóveis. Na
Prefeitura, d. Frei Trindade, foi saudado em nome do Prefeito, pelo prof.
Adolfo Pinheiro Machado que saudou, também, o Sr. Governador do Estado.”
“Desde
sua chegada a Botucatu, d. Henrique, Bispo Diocesano, fez uma promessa solene:
cuidar dos menores abandonados e construir um abrigo. Penso que de tudo o que
soube de nossa gente, foi induzido a estabelecer provisoriamente em sua
residência um reduto de meninos desfavorecidos de recursos.”(jornal “DEMOCRACIA”,
26/03/50)
Mais
tarde, com o prof. Vieira Novelli se dispôs a fundar uma “Vila”, destinada a
amparar meninos abandonados ou faltos de atendimento.
Então,
no dia 02/06/53, no Paço Episcopal formou uma comissão sob a sua orientação,
composta do Padre João Ramalho Dias, prof. Milton Mariano e das exmas. Senhoras
d. Eulalina Rodrigues Torres, Anita Fernandes, Fióca Delmanto e Olinda Thadei,
para angariar fundos. Por seu lado, a Mitra Diocesana doou um terreno no valor
de Cr$ 80.000,00. Das famílias visitadas, a Comissão arrecadou a importância de
Cr$ 192.000,00.
final da construção da "VILA DOS MENINOS"
Dom
Henrique designou a primeira Diretoria: Dr. Antonio de Araújo Azevedo –
Presidente (posteriormente substituÍdo por Luiz Baptistão); Fióca Delmanto –
Vice; Rosa Maria Peduti Nogueira e Jair Conti – 1ª e 2ª Secretarias; Ignácio de
Loyola Vieira Novelli e Antonio Melhado de Campos – 1º e 2º Tesoureiros. A mesma Diretoria continuou até a inauguração
da “Vila dos Meninos” em 1965.
A IGREJA E A MAÇONARIA
No
jornal “DEMOCRACIA”, de 11/08/48, encontramos o registro da visita do novo
Bispo à Misericórdia Botucatuense:
“Comovente
visita de D. Henrique à Misericórdia:
“S.Exa.Revma.
foi saudado pelo dr. Antonio Pires de Campos, que em brilhante improviso
exaltou a fé, a satisfação pela visita do Pastor e historiou a fundação,
enaltecendo o trabalho humanitário realizado pelo benemérito médico dr. Costa
Leite.
D.
Henrique agradecendo, pronunciou uma verdadeira peça oratória, sempre se
referindo aos pobres, aos que sofrem, ao significado do hábito de se beijar o
anel episcopal, tão condenado por alguns, e, finalizando, pediu permissão ao
venerando dr. Costa Leite em beijar-lhe as mãos, aquelas mãos caridosas que
tanto haviam feito pela pobreza e que, beijando-as expressava a gratidão dos
pobres.
O
dr. Costa Leite, bastante comovido, olhos cheios de lágrimas, retribuiu
beijando o anel de Dom Henrique...”
Que
bonita cena.Que bela simbiose entre integrantes de uma mesma comunidade. O
Pastor beijando as mãos do médico humanitário e venerável maçon e este, por sua
vez, beijando o anel do Bispo em sinal de respeitoà autoridade religiosa.”
NO COMANDO DA COMISSÃO PRÓ FACULDADE
DE MEDICINA
Botucatu
estava fragmentada, como sempre, pelas divisões na política. Pois o Governador
Jânio Quadros, admirador de Dom Henrique viu como uma solução a unificação política
na Comissão Pró Faculdade de Medicina sob o comando absolutamente neutro de
nosso Pastor.
A”FOLHA
DE BOTUCATU” trouxe o manifesto de Dom Henrique sobre o movimento pró-Faculdade
de Medicina:
“ESTEJAMOS
UNIDOS PARA SERMOS FORTES”
“Importante
manifestação pública do Bispo Diocesano sobre a criação da Faculdade de
Medicina. A CAUSA É DE BOTUCATU INTEIRA.
“Vimos
acompanhando com interesse e atenção o trabalho que se desenvolve em favor da
Faculdade de Medicina de Botucatu. Estamos compartilhando, de coração, dessa
esperança justíssima baseada em opiniões valiosas, com que nosso povo aguarda
palavra definitiva sobre tão importante assunto. Entendemos que a causa é de
Botucatu, de Botucatu inteira, de Botucatu intelectual, Botucatu operária,
Botucatu abastada, Botucatu pobre. E, por assim entendermos, julgamos também
que é dever de todos e, por isso mesmo nosso, de trabalhar para que essa
esperança se torne realidade o mais breve possível.
E
nesta hora achamos que é missão do Bispo apelar ao povo de Botucatu, a seus
filhos mais ilustres, às suas autoridades, aos seus dirigentes políticos, aos
seus homens do comércio, da indústria e da lavoura para que se unam, num esforço
comum, em pról de uma causa comum.
O
Bispo, que tanto ama esta terra, e da qual se considera filho, sentir-se-á
feliz,sumamente feliz, se puder contribuir para a união de todos e, através
dessa união, conseguir, com a graça de de Deus, a Faculdade de Medicina de
Botucatu.
Em
12 de maio de 1958.
D.
Henrique G. Trindade.
Bispo
Diocesano.”
A
mesma “FOLHA”, DE 11/06/58, TRAZ A MANCHETE: “MOVIMENTA-SE A COMISSÃO
PRÓ-FACULDADE DE MEDICINA.”, completando: “EMBAIXADA BOTUCATUENSE, CHEFIADA
PELO BISPO, conferenciará com o GOVERNADOR.”
RESUMO:
O Governador Jânio Quadros criou a Faculdade de Medicina de Botucatu em 1958.
Em 1962, o Governador Carvalho Pinto, ampliando sua concepção, criou a FACULDADE
DE CIÊNCIAS MÉDICAS E BIOLÓGICAS DE BOTUCATU – FCMBB, devidamente instalada em
1963. É REGISTRO HISTÓRICO!
MÃO FRANCISCANA E AMIGA...
Botucatu
tem prestado suas homenagens à memória de Dom Henrique. Através de livros e da
imprensa, suas obras estão sendo lembradas. No livro “Memórias de Botucatu 2”, de
1993, no capítulo “Dom Henrique – O Semeador!”, prestamos a nossa homenagem
historiando sua trajetória como Bispo e Arcebispo de Botucatu. E no jornal “Vanguarda
de Botucatu”, de agosto de 1973, fizemos um artigo sobre a sua obra VILA DOS
MENINOS DA “SAGRADA FAMÍLIA”.
Mas
é importante registrar uma passagem da qual fomos participantes e pudemos
sentir a presença paterna e solidária de Dom Henrique.
Em
casa tínhamos sua foto ao lado da foto do Papa Pio XII. A foto foi dedicada ao meu pai e à família. Uma seta mostra o seu retrato na parede, é a foto da abertura deste post.
Na
minha formatura no Ginásio Arquidiocesano La Salle, em 1962, acompanhado de
minha mãe recebi o abraço amigo de Dom Henrique. E o registro da “mão
franciscana e amiga estendida para um menino":
“Uma pequena estória envolve o escriba
e esse franciscano culto e simpático que foi Dom Henrique.
Eu cursava, no período da tarde, o
preparatório para o exame de admissão no Ginásio Arquidiocesano “Nossa Senhora
de Lourdes”. Ainda não tinham vindo os Irmãos Lassalistas. Era época do Padre
Claudino.
Eis que numa tarde, durante a aula, um
colega de classe traz a notícia que estourou como uma “bomba” em minha cabeça.
Era problema de família e atingiu-me em cheio. Nunca mais tive uma reação como
aquela, não tive controle. A chorar, deixei a sala de aula e o ginásio correndo
e, sem rumo, fui me sentar na calçada, encostado na parede de fundo da
Catedral.
Provavelmente, acionado pelo Diretor,
pouco tempo depois surge Dom Henrique. Desce do carro e se dirige a mim:
“- Como é Armandinho, já terminaram as aulas?” Arrematando em seguida e sem chance para qualquer raciocínio:
“- Venha comigo, vamos tomar um lanche no Palácio.”
“- Como é Armandinho, já terminaram as aulas?” Arrematando em seguida e sem chance para qualquer raciocínio:
“- Venha comigo, vamos tomar um lanche no Palácio.”
E lá fomos no carro de Dom Henrique. A
mesa já estava posta e era farta e atraente, com bolo, pão, bolacha, geleia e
frutas. Fiquei deslumbrado.
Dom Henrique sabia prender a atenção e
encantar com sua simpatia e cultura. Falou de tudo, menos de meu problema.
Levou-me a passear pelos belos jardins do Palácio Episcopal. Depois, o carro
levou-me para casa onde minha mãe já me esperava. O problema continuava, mas
aquela atitude de Dom Henrique valera por mil consolos e chegara na hora exata
em que era necessária. Não falou sobre o assunto e nem era necessário. O que
houve foi apenas o apoio amigo, a presença amiga e o carinho amigo.
Não era preciso mais nada. Nem
palavras e nem sermões...
Isso me fez bem, muito bem. Aquela
companhia tão importante e imponente a tratar com tanta atenção um garoto...Eu
estava carente e naquele momento uma mão amiga foi estendida para mim...
Esse foi o Pastor que conheci.
Esse foi Dom Henrique, o nosso 1º Arcebispo.”
(artigo publicado
no livro “Memórias de Botucatu 2”, de 1993, págs. 109/110)
Essa
a minha homenagem a Dom Henrique Golland Trindade. Amigo de minha família e
padrinho de Crisma de meu irmão Décio...
No
ano de 1970, quando lancei meu primeiro livro, “Juventude: Participação ou
Omissão”, ele enviou-me uma mensagem inesquecível. Já era Arcebispo
Resignatário e morava no Convento das Irmãs “Servas do Senhor” que ele fundou,
com toda a humildade. Seu quarto tinha apenas uma cama e um criado mudo.
A
mensagem:
“A Juventude:
participação ou omissão. Querido Armando – Obrigado. Parabéns. – Parece um
sonho. mas é uma realidade. O menino de ontem, o jovem de hoje, o homem de
amanhã!
Parabéns!
Continue. Gratíssimo. O Senhor o ilumine e lhe dê coragem sempre.
Seu velho amigo
arcebispo. Frei Henrique. Btu 29/09/70.”
6 comentários:
Dom Henrique veio da Bahia, onde ra Bispo, para Botucatu. Mas era gaucho e foi ele quem trouxe os Irmãos Lassalistas para o Ginásio Arquidiocesano que passou a ser Colégio La Salle. Era muito amigo dos irmãos João Carlos Martins e Eduardo Martins que sempre vinham dar concertos no Santa Marcelina para as obras de Dom Henrique. É isso. Um franciscano que estaria em sintonia, hoje, com a NOVA Igreja do Papa Francisco.
Sydney José Castro (Facebook):
Cem anos do La Sallle
Seu blog , como havia declinado, eh o veiculo mundial de comunicacao social, cultura, conhecimento sao seus pilares mestres
Folgo muito em te lo como meu amigo, parabens a cidade de Borucatu, que tem um filho dessas proporcoes
Receba um abraço Pernambucano nesta bela manha de quarta feira
Post scriptum abriste o bau ,soltaste tudo o que nele tinha, as pesras ali existentes formaram um grande edificio
Sydney José Castro (facebook):
Dom henrique golland trindade e dom jose melhado campos , nas decadas ahi como pastores de Cristo na terra , edificaram nao somente a Domis que se iniciou com DLuis maria de santana mas abriram suas portas para receber aos novos adeptos a nossa religiao
Parabens pelo sua grande e feliz lembrança
Salve, Ney. Dom Henrique e Dom Melhado exaltaram a nossa terra e deixaram bons exemplos. No link abaixo a matéria sobre a formatura do Ginasial de 1962 do La Salle
Ana Coneglian Leccioli (Facebook):
Como foi bom para nós termos ele como nosso Arcebispo na nossa época! Maravilhoso!
Aloysio De Araujo Junior (Facebook):
Fui batizado por ele e depois fui coroinha na Catedral..
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