janeiro 25, 2016

Vereador eleito, a Resistência Democrática & a Vitória da Oposição/82: 1976*40 ANOS* 2016

Vereador eleito, a Resistência Democrática & a Vitória da Oposição/82:

1976 * 2016
40 ANOS


Vereador eleito em 1976 - há 40 Anos! -, com a 3ª votação (815 votos), tendo seus candidatos a prefeito/vice, Meira e Pupo, conseguido o lugar (1º, Luiz Aparecido da Silveira/Eugênio Monteferrante Neto (ARENA); 2º Lair Chirinéia/Antonio Maria Roseiro (MDB); 3º Domingos Alves Meira/Álvaro Line Ceriliani (ARENA); 4º Agnelo Audi/Dagoberto Antunes da Rocha (ARENA); 5º Antonio Gabriel Marão/João Godoy Filho (MDB); 6º Jairo Luiz de Andrade/Antonio Andrade (MDB).

Já havia o clima de mudança no país. A extinção dos partidos  políticos e a criação dos novos partidos já era o prenuncio da mudança. O Regime Militar mostrava que estava em seu limite. Os exilados iniciavam a volta ao país. A oposição estava fortalecida, primeiro com o “Manda Brasa” (MDB) e, depois, com o PMDB.

NA PÁTRIA PEQUENA, O INÍCIO...

"A mãe-pátria é a nossa cidade, no sentido de que elas, as cidades, as vilas, as fazendas compõem o país. Quem ama o seu torrão natal é um grande patriota, que idolatra o seu berço para enaltecer a grandiosidade da nação... Antes de vivermos para nós mesmos é preciso que vivamos para a nossa Pátria e ela se chama Botucatu " 
Agostinho Minicucci

Assim como tivemos 3 candidaturas para Prefeito, a bancada da ARENA não era unida, muito pelo contrário. O MDB fizera apenas 4 vereadores e a ARENA, 11 vereadores.
O ano de 1976 representou o encerramento da carreira eleitoral de meu pai, Antônio Delmanto. Continuaria politicamente um militante mas não disputaria mais cargos públicos. Seria o que tem sido em toda a sua vida: um soldado raso a serviço da Democracia. A sua bandeira continuará desfraldada. Nada e ninguém apaga um ideal...



Em sua primeira eleição, em 1947, foi o vereador mais votado, com 945 votos (a maior votação proporcional da nossa história política - 11,54%) e em sua última eleição, em 1972, foi novamente o vereador mais votado, com 1.993 votos. A bandeira que ele desfraldou nestes últimos 30 anos continuará desfraldada. A esse respeito, as suas palavras: 

“ Encerro minha carreira pública na certeza de ter bem cumprido a minha missão. Eu nunca trai e nunca faltei com a minha palavra. Eu nunca me omiti quando foi necessário a minha presença em defesa da coletividade. Eu nunca fugi da luta. Mesmo quando a vitória era duvidosa e espinhoso o caminho a percorrer, eu disse presente e o percorri, pois a defesa dos postulados democráticos, de meu ideal e dos interesses do povo são sumamente mais importantes que qualquer vitória ou derrota episódica. Hoje, transfiro essa minha bandeira a alguém que há tempos vem me assessorando. Há tempos eu venho acompanhando o desenvolvimento global desse meu amigo e posso afirmar – com certeza – que ele reúne as condições de integridade, capacidade e idealismo para merecer a confiança que meus amigos e correligionários me tem distinguido. Ele é o meu filho Armando. Nesses anos todos, Armando tem demonstrado o seu ideal e interesse pelas coisas de nossa terra. Assim, ele conseguiu o que a meu ver foi a maior conquista depois da Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu – FCMBB: o COLÉGIO INDUSTRIAL. Mas não ficou nisso, dois Ginásios Estaduais conseguiu para a nossa cidade, recebendo respectivamente os nomes de “Prof. Pedro Torres” e “Prof. Pedretti Netto”. Isso, sem falar na ajuda às entidades assistenciais que o Armando obteve junto ao Governo do Estado. Além disso, por ser advogado e jornalista militante (com dois livros publicados) acredito firmemente que o Armando através de seu ideal, juventude e capacidade, poderá defender à altura os nossos ideais e as aspirações da cidade de Botucatu.”


Antônio e Armando Delmanto.

Não seria fácil a minha campanha e nem leve a responsabilidade de sucedê-lo e honrar seus princípios e ideais de luta política. Optei pela candidatura do Dr. Domingos Alves Meira, ex-diretor da FCMBB que tinha demonstrado uma grande capacidade de gestão, consolidando e ampliando as nossas faculdades oficiais. E tendo como candidato a vice, o “Pupo” – Álvaro Line Ceriliani, empreendedor em nossa cidade, com a implantação do bairro Vila Sônia e Vale do Sol. Foi uma escolha certa. Fizemos uma campanha em alto nível, deixando claro a necessidade mudança, saindo da estreita opção política que havia. Era o começo da mudança política em nossa cidade.

VEREADOR ELEITO


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Eleito, já na primeira sessão da Câmara Municipal, apresentei 14 Indicações objetivando medidas urgentes a serem tomadas pela prefeitura. Além das reivindicações da população, apresentamos Requerimento visando Projeto de Lei para criação da 13ª Região Administrativa, tendo Botucatu como cidade sede o que viria, se aprovada, trazer inúmeros benefícios para o município e para a região. Aprovada na Câmara Municipal, por unanimidade, foi objeto de Projeto de Lei do Deputado Estadual Fernando Morais, infelizmente vetada pelo governador Maluf. 

Também apresentamos Requerimento propondo a criação da Universidade Estadual “Vital Brasil”, tendo como base os campi da antiga FCMBB. Foi uma tentativa de evitar a inclusão da FCMBB na recém criada UNESP, fruto da união de todos os Institutos Isolados de Ensino Superior do Estado espalhados por todo o interior. Aprovada a matéria na Câmara Municipal, foi objeto de trabalho do Deputado Estadual João Lázaro de Almeida Prado, de Jahú, com apoio do Deputado Estadual Sólon Borges dos Reis (Secretário da Educação no governo Carvalho Pinto, quando da criação da FCMBB). Infelizmente, essa solução ainda aguarda uma atuação política forte para que Botucatu tenha a sua Universidade  Estadual: pequena, moderna e ágil a serviço da população regional. Outra reivindicação para a nossa região, foi o da transferência da Capital Paulista para o interior do Estado. Aprovada pela Câmara a sugestão para que a futura capital fosse instalada no chamado “Planalto de Paula Souza”, entre Botucatu e Itatinga



Com o nome de PAULICÉIA, enviamos a sugestão para o governo do estado e para a assembleia legislativa. Como o governador Maluf estava usando a mudança da capital como meta política dele, a Assembléia Legislativa vetou a mudança. No entanto, a Constituição Estadual Constituinte, de 1989, expressamente prevê essa mudança, sendo uma esperança para a boa gestão administrativa a transferência que viria a acabar com o caos na mobilidade urbana da atual capital paulista.

EXPERIÊNCIA NA ADMINISTRAÇÃO

O final dos anos 70 e o começo dos anos 80, marcaram a minha vida profissional. Após 4 anos à frente do Jurídico da FRUTESP fui convidado, em 1979, para assumir a Vice-Presidência Executiva da CAIC – Cia Agrícola Imobiliária e Colonizadora (hoje, CODASP). A Diretoria era formada por dois Departamentos, o Jurídico e a Auditoria. E mais uma vez ficou comprovada a importância do acompanhamento jurídico, somado aos levantamentos feitos pela Auditoria, para que a gestão de uma empresa seja feita dentro das normas e da Lei. 

“JAMAIS PODERIA PACTUAR COM AS IRREGULARIDADES DENUNCIADAS QUER PELA MINHA FORMAÇÃO MORAL, QUER PELA MINHA FORMAÇÃO PROFISSIONAL...”
(Notícia publicada na primeira página do jornal “O ESTADO DE S. PAULO”, de 31/05/1980 - sobre a saída de Delmanto da CAIC))


É impossível não lembrar. É uma volta no tempo. O ano? Era 1980 e eu ocupava o cargo de Vice-Presidente Executivo da CAIC – Companhia Agrícola, Imobiliária e Colonizadora. Tinha dois departamentos: o Jurídico e a Auditoria. No primeiro, coloquei como Chefe do Jurídico, a Dra. Dione Prado Stamato,Procuradora do Estado e que já fora Chefe do Departamento Jurídico da CEAGESP e, no segundo, coloquei o Dr. Antonio Hermínio Delevedove, advogado tributarista.

Pois bem, o Departamento Jurídico (22/05) detectou uma falsificação grosseira em um contrato de fornecimento de peças para tratores (a CAIC – hoje, CODASP – prestava serviços pesados de terraplenagem, regularização de estradas rurais, construção de barreiras e tanques para os proprietários rurais e era ligada àSecretaria da Agricultura). O Contrato de 36 milhões de cruzeiros fora aprovado sem autorização da Diretoria e com falsificação. Tomando ciência da irregularidade, encaminhei relatório conclusivo (23/05) ao presidente da CAIC, David Mlynarz Neto, posteriormente entreguei o relatório pessoalmente(24/05) ao Chefe da Casa Civil, Calim Eid e, não obtendo da empresa e nem do governo o apoio para regularizar a situação, entreguei (28/05) ao Secretário da Agricultura, Guilherme Afif Domingos, a minha carta de demissão.


Pela gravidade da irregularidade cometida, através de amigos comuns, mantive contato (26/05) com o Senador Franco Montoro, então candidato ao Governo Estadual em 1982.Como se tratava do primeiro caso concreto de corrupção do governo de Paulo Maluf, Montoro encaminhou-me no mesmo dia para uma conversa com o Deputado Estadual José Yunes, que fora encarregado por Montoro de fazer a denúncia da tribuna da Assembléia Legislativa. No mesmo sentido, procurei (26/05) o Dr. Nelson Marcondes do Amaral, então presidente do Tribunal de Contas do Estado e com quem havia iniciado a minha vida profissional como seu secretário e tive uma orientação definitiva:“Delmanto, você é jovem e tem um nome a zelar, peça demissão imediatamente!” O deputado federal José Henrique Turner, me relatou que encontrara Maluf, tempos depois, e este lhe dissera: “O Delmanto quer ser o Vestal do Mundo!”

(jornal "Vanguarda de Botucatu", junho de 1980)

Resumindo:
 na seqüência, prestei um depoimento na Assembléia Legislativa (onde a maioria era de Maluf), o Governo do Estadosubstituiu toda a Diretoria da CAIC e nunca mais se ouviu falar no assunto... Abri meu escritório de advocacia e só voltei a trabalhar noGoverno do Estado, em 1983, como membro da equipe de Gestão Empresarial da Presidência da Energia de São Paulo (CESP, CPFL, Eletropaulo e Comgás), com o prof. José Goldemberg , no governo de Franco Montoro(1983/1986). 
 Tumultuada Sessão na Câmara – Defesa dos Estudantes

A cidade de Botucatu já estava vivendo o clima da redemocratização. O clima estava tão propício que na visita do governador Paulo Maluf à cidade, houve uma grande manifestação estudantil contra a sua presença e a favor da redemocratização do país.


Houve a agressão, por parte dos seguranças do governador, aos estudantes e o campus da UNESP foi invadido pela polícia. 


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Após o conflito houve tumultuada sessão na Câmara Municipal em defesa dos estudantes e eu, como vereador e advogado, e José Yunes, como deputado estadual e advogado, assumimos profissionalmente a defesa dos estudantes da UNESP no inquérito policial instaurado. Após a oitiva de mais de 20 universitários , o inquérito prosseguiu terminando como sempre termina os inquéritos para apurar os excessos cometidos por autoridades e/ou pela força policial É Registro Histórico.

CONSTITUINTE





E em março de 1981, no lançamento do meu livro “CONSTITUINTE – O que todo brasileiro deve saber sobre a Assembléia Nacional Constituinte”, Edições Populares”, 1981, a palavra amiga e incentivadora do deputado estadual e escritor Fernando Morais, verdadeiro incentivo para novos embates na luta pela democratização do país:
“Em meio à peregrinação que venho fazendo por incontáveis cidades do interior do Estado de São Paulo em defesa da convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte, recebo como um prêmio – e como um estímulo – este convite do companheiro Armando Delmanto para prefaciar seu livro sobre o tema. O livro, estou certo, pode ser entendido desde já como mais uma poderosa contribuição à cruzada que os democratas brasileiros vêm sustentando em prol não de uma Constituinte, mas da Assembléia Nacional Constituinte, soberana e livremente eleita pelo povo. A obra se reveste de valor especial quando se sabe de que lavra vem, Armando Delmanto é um combativo político de Botucatu, em São Paulo, um jovem que publicamente se recusou a compactuar com a corrupção que corrói as tripas deste país...”
São palavras de um companheiro que soube lutar o bom combate pela redemocratização do país e com o qual eu tive a oportunidade de participar de suas conferências pelo circuito universitário paulista. 


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O livro representa, sem dúvida, um importante esforço para divulgar, de maneira acessível e didática, sem os rebuscos elitistas da retórica, uma concepção coerente, democrática e popular de como reorganizar o Poder em nosso País, de modo a que este seja conduzido por seu legítimo soberano, o povo brasileiro...”

No livro, Delmanto incorporou o texto da “Carta aos Brasileiros” para uma maior divulgação dos postulados do Estado de Direito. Da mesma forma e com o objetivo de ampliar os valores defendidos pela Constituinte, o autor também reproduziu, na íntegra, aDeclaração Universal dos Direitos do Homem, importantíssimo documento elaborado pelos representantes das Nações Democráticas, assinado em Paris em 10.12.1948. 


Algumas opiniões sobre o livro “Constituinte”:

1-
 Crítica feita no jornal Folha de São Paulo , de 03/05/81, sob o título “A Constituinte ao Alcance de Todos”, de autoria do jornalista e escritor Ricardo Kotscho:
“Constituinte”, de Armando Moraes Delmanto (Edições Populares), mostra a necessidade da convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte, livre e soberana, como única forma (pelo menos agora) de sepultar o regime autoritário implantado no Brasil há17 anos. O principal objetivo do livro é apresentar a questão de forma simples e didática para que todo brasileiro possa discutir “essa tal de constituinte” de que tanto se fala. Delmanto não coloca a Constituinte como a solução para todos os problemas brasileiros , mas dá ênfase à prioridade da sua convocação como instrumento para ampliar a liberdade de organização em todos os níveis. Mostra, também, como seria um poder legitimamente constituído.R.K.”
2-“Cumprimentos sua lúcida e erudita obra “Constituinte”. Li atentamente com real proveito. Do admirador reconhecido pelas palavras de estímulo. Deputado Ulisses Guimarães em 29/05/81 (Presidente Nacional do PMDB e, posteriormente, presidente da Assembléia Nacional Constituinte/88).

3-
 Por iniciativa do Deputado José Yunes, do PMDB, a Assembléia Legislativa de São Paulo aprovou, por unanimidade, um requerimento de saudação à Armando Moraes Delmanto. Referindo-se à obra, em certa parte o requerimento destaca: “Com rara felicidade, aponta o autor o contraste existente em nossa sociedade através do distanciamento econômico-social enorme que há entre seus membros, distanciamento este, aliás, que começa a ganhar proporções alarmantes. Apregoa por fim, o diligente vereador de Botucatu, a necessidade da convocação de uma Constituinte para, através da manifestação do Poder Soberano, ser reformulada aOrdem Jurídica, Econômica e Social Brasileira...”

4-
 “Li, com crescente entusiasmo, a sua obra “Constituinte”, que recebi com sua atenciosa dedicatória.
Não posso, por um dever de justiça, deixar de apresentar-lhe meus cumprimentos pelo excelente trabalho, didático, enxuto, mas que traz espelhado o brilho de sua cultura e o vigor de seu idealismo em defesa da causa de toda a Nação Brasileira, que clama pelo restabelecimento pleno de seus direitos e de suas garantias sociais através de uma Assembléia Nacional Constituinte.
Esse é o caminho que todos nós buscamos e o seu trabalho representa uma valiosa e patriótica contribuição para a conscientização popular. Parabéns! Deputado Luiz Máximo- líder da Bancada do PMDB na Assembléia Legislativa. S.P. 29/04/81.( ao depois , no PSDB ,elegeu-se presidente da Assembléia Legislativa Paulista).”
5- “Recebi seu excelente e significativo trabalho sobre Constituinte. Louvo obra e agradeço sua amável dedicatória cumprimentando bravo, coerente e consciente estudioso. Abraços. Senador Pedro Simon- PMDB (posteriormente, governador do Rio Grande do Sul).”

6-
 “Agradeço prezado companheiro envio excelente livro “Constituinte”. Muito didático e, creio, contribuirá para a cruzada daConstituinte. Saudações. Deputado Alceu Collares, líder do PDT.(ao depois, prefeito de Porto Alegre).”
7- “Ao prezado amigo e colega Dr. Armando Delmanto, acusando o recebimento de seu trabalho intitulado “Constituinte”, agradeço essa lembrança amável, bem como a gentil dedicatória, felicitando por mais esta publicação, prova incontestável da sua inteligência fértil e capaz. Com um abraço do Manoel Pedro Pimentel – Professor Catedrático da Faculdade de Direito da USP (ex-Secretário da Justiça e da Segurança Pública do Estado)”

8- “Armando
. Li, de um só fôlego, o seu “Constituinte”. A identidade de idéias é tal, que me parecia tê-lo escrito. Não sei o que Deus me reserva, mas se chegar ao Governo, irei buscá-lo, sem escusas. No opúsculo está tudo. Síntese magnífica! Disse-lhe - lembra-se ? – que há pouco sobre a matéria. É uma espécie de “O Capital”, do qual todos falam, mas...poucos leram... Assim, é a Constituinte!Parabéns. Você tem em mim um admirador incondicional. Do Jânio Quadros – 08.VI.1981.”

“Armando
. Nossas idéias se casam, e são fundamentais. E a Constituinte, por exemplo. Você não poderia mandar-me o opúsculo? A sugestão do “jornal” está aceita. Com o seguimento natural da nossa e da política externa. Eloá e eu mandamos um abraço, extensivo à família. Do Jânio Quadros.




FUNDADO O PMDB EM BOTUCATU

Em Botucatu, após a extinção dos partidos políticos existentes (ARENA e MDB), a ARENA foi sucedida pelo PDS e o MDB pelo PMDB, foi quando se criou o PT e tivemos a volta do PTB.

O PMDB de Botucatu conseguiu reunir as mais expressivas lideranças políticas, passando a ser a grande promessa para as elições majoritárias estaduais e municipais de 1982, quando pela primeira vez desde 1964, os Governos Estaduais seriam eleitos DIRETAMENTE pelo povo. Professores universitários, lideranças sindiciais, advogados e políticos botucatuenses uniram-se nesse esforço a favor da volta da plena democracia em nosso país. Eu estava sem partido quando da extinção dos dois partidos existentes e ingressei no PMDB a convite do antigo presidente do MDB, vereador Progresso Garcia, passando a fazer parte do primeiro Diretório Municipal do partido. Tendo o engº Antonio Jamil Cury como seu pré-candidato a Prefeito Municipal, o PMDB assumia a postura de principal trincheira em defesa do Estado de Direito.

A situação política local estava temerosa com o crescimento do PMDB em nossa cidade e, mesmo contando com a candidatura do ex-prefeito Plínio Paganini, resolveu lançar em sublegenda o empresário Mário Sartor. O PMDB, para evitar imprevisto, eis que Plínio Paganini era considerado um político populista e bom de voto e com a soma dos votos da candidatura do empresário Mário Sartor, para vice, o vereador e ex-presidente do Legislativo, João Carlos Moreira, resolveu lançar também uma sublegenda. Como eu era o vereador mais votado do PMDB, fui convocado para assumir a sublegenda. Para a vice, foi convidado o médico Roberto Sogayar, da primeira turma da FCMBB, muito bem relacionado, como liderança no movimento estudantil e atuação cultural na cidade.




Peça teatral: Marcão, Marlene Caminhoto, Sogayar sentado, Maria Eneida Marcondes Aiello e Thaca.

O PMDB de Botucatu estava em situação privilegiada. A chapa Jamil Cury/Joel Spadaro trabalharia com o candidato Severo Gomes ao Senado e a chapa Armando Delmanto/Roberto Sogayar trabalharia com o candidato Almino Affonso ao Senado





Para a deputança estadual, o PMDB local trabalhou com as candidaturas de Agostinho Torres que mesmo não sendo eleito obteve boa votação e com as candidaturas do escritor Fernando Morais que já vinha ajudando a cidade como deputado e a candidatura de Paulo Sogayar, irmão do candidato a vice-prefeito, Roberto Sogayar, ambos foram eleitos com grande votação.

COMÍCIO DA VITÓRIA



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Em Botucatu, a chapa Jamil Cury/Joel Spadaro saiu vitoriosa. O fenômeno da VIRADA DEMOCRÁTICA, em nossa região, conseguiu o que parecia impossível: eleger o Prefeito de São Manoel. Temeroso pelo fato do candidato do PDS a prefeito ser Geraldo de Barros primo do candidato a governador Reynaldo de Barros e com grande tradição política na cidade, o PMDB não conseguiu a candidatura de seu candidato natural. Assim, juntamente com o deputado Fernando Morais fomos àquela cidade e conseguimos com que um jovem militante do partido, Milton Casquel Monti, saísse candidato ao “sacrifício”. Eis que aconteceu o inesperado: a caminho do grande encerramento da campanha, quando passaria por Botucatu, Montoro resolveu fazer comício em São Manoel e enfrentar os adversários em casa... O comício foi um estrondoso sucesso. Pois bem, Milton Monti ganhou as eleições e passou a ser o mais jovem prefeito municipal eleito em 1982.

Na perspectiva do tempo e da história, a campanha eleitoral de 1982, em Botucatu, só restou em seus aspectos positivos e com a vitória da redemocratização. Os votos da legenda e da sublegenda se somaram. A destacar como positivas e partes do processo político as candidatura de Lair Quirinéia a prefeito pelo PT e de Wanderly Pizzigati, pelo PTB. Botucatu soube levar a bom termo a sua participação nesse importante momento da vida política nacional.

Com a vitória de Montoro e tantos outros peemedebistas em outros estados, a luta pelas “DIRESTA JÁ” tomou corpo e conquistou o país, culminando com a eleição (ainda indireta) de Tancredo Neves à Presidência do Brasil.

IMPORTANTE DEPOIMENTO:


Importante o depoimento do Promotor Público, à época da invasão e agressão ocorrida em Botucatu. Era o Dr. Hugo Nigro Mazzili, um dos mais destacados membros do Ministério Público:


“Em torno de 1981, plena Ditadura, eu era Promotor de Justiça de Botucatu. Paulo Maluf era Governador do Estado, nomeado pela Ditadura. Ele tinha ido à cidade numa tarde, para inaugurar equipamentos da UNESP – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Era, talvez, uma quinta-feira, dia de trabalho normal no Fórum, de maneira que nós, os Promotores e os Juízes da Comarca não fomos à inauguração, embora convidados. No dia seguinte, quando abro o jornal O Estado de S. Paulo, havia uma reporta- 19 gem, com fotos, noticiando luta e lesões corporais entre policiais da segurança pessoal do Governador e estudantes. Tomei o telefone e liguei para o Delegado de Polícia da Comarca, Feiz Zacharias, e eu lhe perguntei o que tinha acontecido na véspera. Ele me disse, secamente: é o que você leu no jornal. Ele era um homem de poucas palavras, firme, corajoso. Eu perguntei: tem gente ferida? Tem, disse ele. Eu indaguei se tinham passado no Instituto Médico Legal, e ele confirmou. Eu perguntei se ele tinha aberto inquérito policial. Ele disse: não, nem vou abrir. Eu disse: vai sim, vou requisitar. E ele: você sabe bem o que está fazendo?… Eu afirmei: não posso deixar de fazer isso, vou requisitar. Ele me disse: só por escrito. Lógico, foi a minha resposta final. Ora, o que tinha acontecido era o seguinte: enquanto o Maluf estava no anfiteatro, fazendo a inauguração, a estudantada do lado de fora, gritava “um dois três, Maluf no xadrez”, “quatro cinco mil, Maluf…” eu esqueci o resto da rima. Aí a segurança do Governador deu um esparrama na estudantada, cassetete de um lado, pauladas e pedradas de outro, e havia gente ferida, sem gravidade, de ambos os lados — mas, naquela época, lesões corporais eram crime de ação pública incondicionada. Tomei minha máquina de escrever e fiz duas requisições: uma, assinada só por mim, Promotor Público, citando o art. 5º, inc. II, do Cód. de Processo Penal; outra, idêntica requisição, mas esta a ser assinada por mim e pelo outro Promotor da Comarca — naquela época, a Comarca só tinha dois Promotores. Aí eu procurei o colega Eduardo Vasconcellos de Matos já no dia seguinte, sexta-feira, e perguntei se ele tinha visto o jornal referente aos fatos da véspera na Comarca. Ele respondeu secamente: Vi. Eu disse: acho que temos de fazer alguma coisa… eu vou requisitar inquérito policial. Eu quero saber se você está comigo nisso ou se estou sozinho… Aí mostrei para ele as duas requisições e disse: aí há duas requisições; aquela que eu faço sozinho já está assinada; ela vai hoje; a outra é se você quiser assinar comigo. Ele leu, leu, olhou… e disse: nunca vi uma requisição de inquérito policial assinada por dois Promotores! Eu disse: eu também não; eu só quero saber se estou sozinho ou se você está comigo; se é o Hugo requisitando o inquérito, ou se é o Ministério Público da Comarca; mas que vai, vai. Ele ficou mais algum tempo olhando o papel… pegou a caneta e assinou! Chamei um funcionário e disse-lhe que entregasse, sob protocolo, a requisição dirigida ao Delegado de Polícia, que foi o que ele fez. E passei o fim de semana cuidando das minhas atividades. Ao chegar ao Fórum, no começo da tarde da segunda-feira, o telefone tocando e todos me procurando desesperadamente. Telefonema da Procuradoria-Geral de Justiça, tentando me localizar. Cheguei à sala do Eduardo, ele estava com o Jordão no telefone; Jordão era assessor do Procurador-Geral, o Peres, naquela época. O Eduardo falava: pois é, Jordão, eu falei isso para o Hugo, mas você sabe, Jordão… Eu falei: Eduardo, me dá o telefone aqui. O Jordão me fala: Hugo, o que é isso, você tem janela, o Governador ligou para o Procurador-Geral, é a segurança pessoal do Governador, onde já se viu isso e tal… Eu disse: calma, calma, você está mal informado; vou te falar o que aconteceu; houve uma briga na rua, tem gente ferida, isso é crime, e você passe bem! E pá… desliguei o telefone! Se eu estou recebendo pressão, imaginei o que estava acontecendo. Fui imediatamente à Delegacia. Já tinham tirado o Delegado de Polícia do caso; mandaram de São Paulo um Delegado do DOPS — Delegacia da Ordem Pública e Social, que avocou a presidência 20 do inquérito, era Sílvio não sei de que Machado, irmão de um Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo. O Delegado era um indivíduo bem mais velho que eu, experiente, vivo… chegou para mim e disse: doutor, tudo o que o senhor fizer aqui é por escrito. Eu falei: é lógico! Eu sou técnico. Mandei acarear, mandei proceder a reconhecimento pessoal os integrantes da segurança pessoal do Governador, tudo na minha frente. Algum tempo depois, o inquérito policial foi distribuído para outra Promotoria que não a minha, e um Promotor de outra Comarca foi designado, e não fui eu quem funcionou no arquivamento… Esse é o sistema do Promotor designado. Já o sistema do promotor natural é o de quem tem atribuições
(por participação do Dr. Hugo Nigro Mazzilli na série Ditadura, Democracia e Memória, promovida pela Escola Superior do Ministério Público de São Paulo, em 11 de junho de 2014, na sua sede.)”

É REGISTRO HISTÓRICO!

8 comentários:

Delmanto disse...

É um depoimento que procura registrar a grande transformação pela qual passou o país e, de modo especial, a nossa Botucatu. Aqui estão registrados, em sequência, os acontecimentos políticos que marcaram a minha experiência política como parlamentar. A redemocratização do Brasil viria com uma força incontrolável... Dela viria as DIRESTAS JÁ! O Brasil teria a sua CONSTITUINTE em 1988, com toda a modernidade jurídica para assegurar a Democracia e o Pleno Estado de Direito.

Anônimo disse...

Sonia Mereu (Facebook):
Eu me lembro ,muito o que aconteceu .Correria total para a Comitiva do Dr. Maluf sair do Campus da UNESP .

Anônimo disse...

Ilza Maria Nicoletti Souza (Facebook):
Não consigo fazer um comentário à altura deste post . A única coisa que posso dizer é : "IMPRESSIONANTE " !! Seus filhos devem ter de você , o mesmo orgulho que você tem de seu pai .

Delmanto disse...

Composição da Câmara Municipal de Botucatu no período 1977/1982:
Presidentes: Mário Pascucci (1977-78); João Carlos Moreira (1979-80); Ageo Maurício de Oliveira (1981-82).
Vereadores: Antonio Benedito Aria, Mário Pascucci, Armando Moraes Delmanto, Walter Paschoalick Catherino, Salim Raphael Abud, Oswaldo Moreira Pagani, João Carlos Moreira, Ageo Maurício de Oliveira, Elias Francisco Ferreira, Álvaro Picado Gonçalves, José Luiz Amat, Progresso Garcia, José Ramos, Hernâni dos Reis e Jorge Thiago da Silva.

Anônimo disse...

Sonia Mereu (Facebook):
Eu entrei em 1976 na Prefeitura e lembro de todos da Câmara Municipal .

Anônimo disse...

Rene Alves de Almeida (Facebook):
MALUF chegou ao aeroporto e ficou debaixo da asa do avião esperando pelo piloto e eu me aproximei dele com um gravador , tempo de F-8 e ficamos conversando , lamentando o ocorrido e quando os politicios viram ele conversando comigo, chegaram Ageu , Osvaldo e mais um time para que ele abonasse fichas de inscrição ......

Delmanto disse...

Importante o depoimento do Promotor Público, à época da invasão e agressão ocorrida em Botucatu. Era o Dr. Hugo Nigro Mazzili, um dos mais destacados membros do Ministério Público (haroldo.leao@hotmail.com):

Anônimo disse...

Maria Thereza Cunha Delgallo (Facebook):
Muito bom recordar esse pedaço da nossa história...

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