“dos tapetes vermelhos do Poder, conheço cada dobra...
1967 – 2017
50 Anos de minha iniciação política
No Editorial da PEABIRU nº 01:
“Não faz mal que amanheça devagar,
as flores não tem pressa, nem os frutos,
porque sabem que a vagareza dos minutos,
adoça mais o outono por chegar.
Portanto, não faz mal que devagar
o dia vença a noite em seus redutos
de leste – o que nos cabe é ter enxutos
os olhos e a intenção de madrugar.”
No Editorial da PEABIRU nº 01:
“Não faz mal que amanheça devagar,
as flores não tem pressa, nem os frutos,
porque sabem que a vagareza dos minutos,
adoça mais o outono por chegar.
Portanto, não faz mal que devagar
o dia vença a noite em seus redutos
de leste – o que nos cabe é ter enxutos
os olhos e a intenção de madrugar.”
A CAMINHO DA CAPITAL
O ano de 1965 marca o início de minha caminhada na política paulista, com minha ida para a capital paulista. A militância, em1966, já na ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA, com o lançamento do jornal “A Realidade”, as passeatas contra a Ditadura Militar e o apoio à dissidência política brasileira que, através da FRENTE AMPLA, propunha a volta do país à Democracia. Formada por JUSCELINO KUBISCHEK, CARLOS LACERDA e JOÃO GOULART.
A LIÇÃO DE CASA
É exatamente isso. Hoje, essa é a sensação que tenho. A lição de casa foi feita. Fiz a parte que acreditava ser a minha obrigação cívica.
Sim, o Brasil tem solução. Deixando de lado o comodismo que anestesia e enfraquece os mais positivos sonhos de cidadania, é preciso fazer a sua parte, é preciso que façamos a nossa parte.
É isso o que tenho procurado fazer durante toda a minha vida. Confesso que sem o desempenho contínuo que a cobrança paterna me teria feito... Mas tenho procurado fazê-lo. Este artigo faz parte desse esforço.
Em 1966, portanto há mais de 50 anos, é o roteiro de minha crença política que tem marcado minha caminhada nesta vida. Claro que há tanto tempo por vir e ainda cursando a universidade, o roteiro ainda não estava completo em sua indispensável pesquisa e estudo necessários. Mas é, em sua essência, o mesmo. Naquele ano, militante na Sociologia e Política, mantinha contatos políticos com Carlos Lacerda, já então ferrenho adversário do Regime Militar e idealizador da Frente Ampla, com Jango e Juscelino, pela volta do país à Democracia. Em 1966, participei do lançamento do livro “Crítica & Autocrítica”, de Carlos Lacerda: um desafio à censura da ditadura que procurava calar a nossa cidadania.
Já cursando as faculdades de Sociologia & Política e de Direito (USP), conheci e fiquei amigo do Arruda Camargo, respeitado jornalista que fazia excelentes editoriais para os melhores jornais paulistas.
Arruda Camargo foi quem abriu as primeiras portas para mim: eu tinha coluna diária no “DCI-Diário do Comércio & Industria”, além de colunas nos semanários “Shopping News” e “City News”, da capital paulista. Dessa atuação jornalística resultou o livro "A Juventude: Participação ou Omissão", em 1970.
Com Arruda Camargo tive uma experiência que foi marcante. Ainda calouro da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (USP), fui com ele a uma reunião na casa do poeta Paulo Bomfim, quando fui apresentado por ele à “verdadeira instituição cultural” que era Aureliano Leite e para a “lenda viva”, o “Tribuno da Revolução Constitucionalista”, Ibrahim Nobre. Dá para imaginar o que isso significou para um jovem estudante “botucudo” que chegava à capital cheio de sonhos e encontrava, de uma só vez, os referenciais maiores da alma paulista?!?
Essa atuação nos jornais amenizou a frustração de não ter podido trabalhar no “Estadão”: no ano de 1967, já havia sido bem sucedido em entrevista para começar como revisor no jornal, através de seu então redator-chefe, jornalista Flávio Galvão, quando recebi pedido irrecusável de meu pai para fazer um trabalho político junto ao novo governador. MUDANÇA RADICAL no rumo de meus projetos...
MUDANÇA RADICAL
Essa mudança em meus planos e objetivos políticos, de forma radical, passando de militante contestador para ser o mais jovem membro da equipe do 1º governador eleito pela Assembléia Legislativa, Roberto Costa de Abreu Sodré.
Entre os oficiais militares, da esquerda para a direita: Chefe Manolo, Laudo Brancato, Hélio Mota Filho, Marco Antonio Castelo Branco, Armando Moraes Delmanto e Roberto Vieira Wolf.
Meu pai, Antônio Delmanto, acreditava que tinha uma amizade sincera com ele. Tanto é assim que, após sua posse, a maioria dos botucatuenses esperavam que o governador eleito chamaria o “irmão” para ser Secretário da Saúde do Estado. O governador iniciara sua carreira política como deputado estadual, na redemocratização do país, após a Ditadura de Getúlio Vargas.
Da última eleição democrática com constituinte, todos lembravam de 1934, quando o jovem advogado botucatuense Dante Delmanto (advogava no escritório de Marrey Jr e era presidente do Palestra/Palmeiras e havia conseguido o Tri-Campeonato Paulista em 1932/33/34) foi eleito para deputado estadual constituinte e Antonio Carlos de Abreu Sodré, vereador e promotor público em Botucatu, foi eleito deputado federal constituinte. Ambos com a maior votação do Estado de São Paulo.
A convocação não aconteceu. Por iniciativa dos políticos botucatuenses, tendo à frente o prefeito Amaral Amando de Barros, começou um movimento para que Botucatu tivesse um representante no Gabinete do Governador para defender e batalhar pelas causas do município. Era lembrada a participação de Roberto Abreu Sodré que votava sempre em Botucatu (naquela época era permitido que o candidato votasse fora de seu domicílio eleitoral), quando passeava com Antônio Delmanto e os udenistas locais pelas movimentadas ruas no dia da eleição... Eleito, Abreu Sodré ampliou sua base política, elegendo-se 3 vezes Presidente da Assembléia Legislativa.
De fato, nos anos 50, Antônio Delmanto pertencia aos Diretórios Nacional e Estadual da UDN, exercendo efetiva liderança em nossa região. Grandes amigos e candidatos à Deputado Federal, Antonio de Souza Noschese (cujo pai residia em Botucatu) era vice-presidente da FIESP e Herbert Levy que era presidente do Banco da América, convocaram Antônio Delmanto para que representasse Botucatu e região como deputado estadual pela UDN.
Convocado pelos companheiros de partido e pelos correligionários da cidade, Antônio Delmanto decidiu-se pela aceitação de sua candidatura. No entanto, visita de Roberto de Abreu Sodré alterou sua decisão. Em nome dos velhos tempos, Abreu Sodré pedia a Antônio Delmanto que saísse candidato a Deputado Federal para que ele pudesse contar com os votos de Botucatu e região. E foi o que ocorreu.
O PREÇO DA AMIZADE
Antônio Delmanto não foi convocado e encontrou, na política botucatuense, revezes e obstáculos intransponíveis. No campo político, a amizade entre Antônio Delmanto e Abreu Sodré, haveria de custar ao primeiro a eleição municipal.
À partir da esquerda: Alfredo Chaguri (Bofete), Nelson Gasparini (Botucatu, Governador Abreu Sodré, prefeito Wadi Helou (Anhembi), Antônio Delmanto (Botucatu) e prefeito Amaral de Barros.
À partir da esquerda: Salvador Fernandes - presidente da FEPASA, prefeito de Botucatu - Amaral de Barros, Vereador Alberto Laurindo, governador Abreu Sodré, Hélio Mota - Sub-Chefe da Casa Civil, Antônio Delmanto - presidente da Câmara Municipal e Deputado Federal Braz de Assis Nogueira.
Em 1968, a cidade de Botucatu vivia um período singular. Em plena Ditadura Militar, Botucatu tinha uma greve de estudantes, a 1ª greve de padres (rebelião) católicos do país, e se não bastasse, seriam realizadas eleições municipais. Não é preciso dizer que a oposição ganhou (MDB). A ARENA ganhou em quase todo Estado, em Botucatu, não.
O governador Abreu Sodré após a sua posse, em março de 1967, realizou a primeira visita ao interior do Estado vindo para Botucatu. Aqui recebeu o seu primeiro título de “Cidadão” como governador (durante o aniversário da cidade – 14.04.1967). Mas era ano eleitoral e a atuação do governo estadual para Botucatu foi muito negativa.
EM 1967 - OPERAÇÃO ANDARILHO
1 ANO DEPOIS...
Em 1968, consegui a charge do Otávio, consagrado chargista da "Folha de S. Paulo"
Com a eclosão da crise na Faculdade de Medicina, motivada pela falta de verbas oficiais e recursos (por falta de previsão orçamentária) e com a oposição política local atuando com os “inimigos” de peso do esquema estadual e federal, Abreu Sodré começa a manter Botucatu sob reserva. Em 1968, já no início da campanha eleitoral, vem à cidade quando ocorre o famoso atrito com os estudantes. Hernâni Donato, em seu “Achegas”, fez um relato isento do acontecido.
Com a eleição da oposição, o novo prefeito municipal, Luiz Aparecido da Silveira (Lico), do MDB, tomou posse em março e, já em abril, ingressava na ARENA pelas mãos do então todo poderoso Ministro da Justiça e autor do AI-5, Antonio da Gama e Silva (http://www.armandomoraesdelmanto.com.br/?area=artigos&id=53&pagina=3).
Do MDB (mandabrasa) para a ARENA apadrinhado pelo autor do AI-5 e Ministro da Justiça do Regime Militar, Gama e Silva, o prefeito eleito, Lico Silveira (eleito em março) muda para a ARENA, em abril. À partir da esquerda: Vereador Oswaldo Minicucci, prefeito Lico Silveira, Ministro Gama e Silva, Deputado Arnaldo Cerdeira, presidente da ARENA/SP, deputado Vasco Bassoi e Emílio Peduti Filho, presidente da ARENA/Botucatu.
Após 1 mês das eleições, o prefeito eleito, Lico Silveira muda para a ARENA, partido do governo militar. Da esquerda para a direita: Dep. Arnaldo Cerdeira, presidente estadual da ARENA, Ministro e Autor do AI-5, Gama e Silva, Oswaldo Minicucci, presidente da Câmara Municipal, Luiz Aparecido da Silveira (Lico) e Dom Vicente Marchetti Zioni.
Com apenas 2 meses de governo, Abreu Sodré já enfrentava a grave crise da falta de verbas e de condições mínimas para o funcionamento da FCMBB. Crise grave e que retratava com justiça as precárias condições de nossas faculdade oficiais. A situação era gravíssima e JUSTA foi a movimentação estudantil, redundando na histórica Operação Andarilho.
Mesmo estando no governo, pude colaborar com os estudantes de Botucatu para encontrar solução para a crise universitária. Somente à partir do movimento de 1967/68 é que a FCMBB passou a contar com progressiva melhoria de sua realidade material e funcional. A cada ano ela se consolidava e ampliava seu complexo médico-hospitalar.
Tenho orgulho de ter podido ajudar Botucatu em suas conquistas, especialmente na instalação do Colégio Industrial, complementando o Ginásio Industrial que havia sido criado em 1936, numa iniciativa do então deputado estadual Dante Delmanto (http://blogdodelmanto.blogspot.com.br/2016/01/escola-industrial-80-anos-de-sucesso.html).
Em 1971, participei do último ato oficial do governador Abreu Sodré: a inauguração da Rodovia dos Imigrantes (trecho do planalto), juntamente com o prof. Américo Campiglia, presidente do DERSA.
Inauguração da Rodovia dos Imigrantes: à partir da esquerda, prof. Américo Oswaldo Campiglia, presidente do DERSA, governador Abreu Sodré, Armando Moraes Delmanto e Tharsício de Souza Campos (1971)
OS TAPETES VERMELHOS...
Nos anos em que trabalhei no Palácio dos Bandeirantes (4 anos em 1967/71) e novamente no Governo Montoro, em 1984/85 e 4 anos na assessoria do vice-governador Almino Affonso nos anos de 1987 a 1991.
Foram 10 Anos que propiciaram a que eu conhecesse os meandros e os atalhos da política paulista. Da mesma forma, a minha atuação como advogado e assessor no DERSA, na COPEME, na FRUTESP, na CAIC e no ANHEMBI (hoje Turismo São Paulo).
50 Anos depois – 1967/2017 – relato esse histórico para que se tenha, sempre, condições de preparar e cuidar do futuro de Botucatu. Com menos riscos e com mais apoio no seu desenvolvimento político e social.
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