outubro 13, 2017

A PROFESSORA BONDADE E O RECANTO DA SAUDADE

A PROFESSORA BONDADE E O RECANTO DA SAUDADE



Para homenagear as PROFESSORAS e os PROFESSORES pelo seu dia - 15 de outubro! - lembrei-me da visita que a minha classe do Grupo Escolar “Dr. Cardoso de Almeida” fez, no início dos anos 50, ao Asilo. Aquela visita impressionou-me positivamente e, em 1976, inclui no meu segundo livro, “Crônicas da Minha Cidade”, o artigo “Recanto da Saudade” que havia escrito para o jornal “Vanguarda de Botucatu” de junho de 1976. 


E tudo aconteceu, exatamente, pela ação cidadã da professora da escola - a Professora Bondade !
Abaixo, reproduzo esse artigo: 

RECANTO DA SAUDADE



Nós íamos em fila. Toda a classe estava compenetrada de sua importância. Era bom sentirmo-nos úteis. Era bom, muito bom aquele momento.
Não me recordo do que levava. Talvez fosse um pacote de açúcar, ou de arroz? Talvez fosse queijo e goiabada... O Certo é que todos, na medida de suas posses, levavam alguma coisa. O importante era participar. Uma caixa de fósforo? Não faz mal... Uma caixa de fósforo nunca é pouco quando se dá com amor e quando o que se dá é de grande importância para nós.
A professora havia feito com a antecedência devida uma visita àquele recanto da saudade e ficara sabendo das coisas mais úteis que deveríamos levar. Depois, em classe, apresentou-nos uma lista dos gêneros necessitados e colocou-nos à vontade para que pudéssemos fazer a escolha. Foi uma verdadeira assembleia. Todos participaram. A professora agia como uma mediadora, mas a decisão final era nossa.
Às vezes fico a pensar na importância dessa professora. Fico a pensar e penitencio-me por não me recordar de seu nome. Mas pelo que fez e pela lição de civismo e de amor ao próximo que nos deu, ela bem que poderia chamar-se Professora Bondade. Sim, é isso, vamos chamá-la de Professora Bondade.
São muitos os botucatuenses que estudaram no Grupo Escolar “Dr. Cardoso de Almeida”. Dos nomes das professoras de meu tempo alguns ainda permanecem em minha memória: Dª Elvira, minha primeira professora, Dª Alice, Dª Olga e muitas outras Fadas do Saber que exerciam com dedicação o seu magistério no Grupo Escolar “Dr. Cardoso de Almeida”.
Mas, como dizia, a escolha do presente que cada um iria dar foi disputadíssima. Por fim, após tudo acertado, a Professora Bondade marcou a data em que a classe iria fazer a sua visita e dar a sua colaboração e conhecer os velhinhos do Asilo Padre Euclides. Mãos à obra. Tudo estava pronto.
Cada um com sua contribuição, aguardávamos o grande momento. Fomos em fila e – pasmem! – fomos em ordem! Naquele tempo ainda se tinha o bom costume de andar... Fomos do Grupo ao Asilo e ninguém ficou cansado.
O primeiro contato foi emotivo. O Asilo Padre Euclides é um recanto que nos transmite paz; é um lugar convidativo à meditação. Os velhinhos que lá residem parecem personagens celestiais. Essa foi a impressão que me causaram. Neles eu não vi, e creio que não há, qualquer revolta por lá se encontrarem.
Passamos a manhã toda no Asilo. Lá tomamos o nosso lanche e corremos por todo canto e convivemos com aqueles nossos irmãos, ou melhor, com todos aqueles vovôs e com todas vovós de todos nós.
Será que hoje em dia ainda há o costume de programar visitas como essas?
Será que hoje as Professoras Bondade estão preocupadas em auxiliar os nossos irmãos menos favorecidos pela sorte ao mesmo tempo em que dão lição de civismo e de amor ao próximo aos seus alunos?
Temos a certeza que sim.
Acreditamos firmemente que em cada Grupo Escolar de nossa cidade existe uma Professora Bondade que planeja visitas ao Asilo Padre Euclides; ou uma tarde com as Meninas do Orfanato; ou um passeio à Vila dos Meninos; ou uma coleta de gêneros alimentícios e roupas usadas para o Albergue; ou uma visita para conhecer a obra magnífica que é a APAE.
Essas visitas são muito importantes. Elas ensinam o que nunca mais se esquece. Elas ensinam a sentirmo-nos úteis. Elas ensinam às crianças a importância da bondade, da solidariedade humana e da produtividade de uma convergência de esforços para uma mesma finalidade.

Da caixa de fósforo de um, do pacote de macarrão de outro, do queijo, da goiabada, do pacote de arroz, do quilo de feijão, formou-se um estoque razoável que acredito tenha sido de muita utilidade para o Asilo, pois para nós foi de grande e inesquecível importância.
Nós íamos em fila... Cada um levava o seu pequeno tesouro, a sua pequena oferenda. A Professora Bondade nos liderava. Era bom sentirmo-nos úteis. Era bom, muito bom aquele momento.


3 comentários:

Delmanto disse...

Início dos anos 50...

Depois, em 1976, escrevi a crônica.

Hoje, fazendo a releitura e editando no blog, estou fazendo pela terceira vez essa visita. É inesquecível...
Já voltei, com a família, várias vezes ao Asilo levando doações. Mas nada se compara aos meus 7 ou 8 anos fazendo aquela visita... A classe animada e a PROFESSORA BONDADE a nos orientar... Foi bom, muito bom!
Na perspectiva do tempo é que vemos como somos pequenos diante das adversidades do mundo e do tão pouco que efetivamente podemos fazer para melhorar o “irmão” desprovido de qualidade de vida e de amor fraternal...
É isso.

Anônimo disse...

Marcelo Delmanto disse...
Oi , tudo bem?
Gostei muito do último post e me lembro bem de ter lido a crônica no próprio livro, “Crônicas da Minha Cidade”, pois a alusão à professora "Bondade" ficou na minha lembrança. Ótimo post mesmo!!!
Um abraço,
Marcelo

Bahige disse...

Bela recordação, Armando!

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