A PROFESSORA BONDADE E O RECANTO DA SAUDADE
Para homenagear as PROFESSORAS e os PROFESSORES pelo seu dia - 15 de outubro! - lembrei-me da visita
que a minha classe do Grupo Escolar “Dr. Cardoso de Almeida” fez,
no início dos anos 50, ao Asilo. Aquela visita
impressionou-me positivamente e, em 1976, inclui no meu segundo
livro, “Crônicas da Minha Cidade”, o artigo “Recanto da Saudade” que
havia escrito para o jornal “Vanguarda de Botucatu” de junho
de 1976.
E tudo aconteceu,
exatamente, pela ação cidadã da professora da escola - a Professora Bondade !
Abaixo, reproduzo
esse artigo:
RECANTO DA SAUDADE
Nós íamos em fila. Toda a classe
estava compenetrada de sua importância. Era bom sentirmo-nos úteis. Era bom,
muito bom aquele momento.
Não me recordo do que levava. Talvez
fosse um pacote de açúcar, ou de arroz? Talvez fosse queijo e goiabada... O
Certo é que todos, na medida de suas posses, levavam alguma coisa. O importante
era participar. Uma caixa de fósforo? Não faz mal... Uma caixa de fósforo nunca
é pouco quando se dá com amor e quando o que se dá é de grande importância para
nós.
A professora havia feito com a
antecedência devida uma visita àquele recanto da saudade e ficara sabendo das
coisas mais úteis que deveríamos levar. Depois, em classe, apresentou-nos uma
lista dos gêneros necessitados e colocou-nos à vontade para que pudéssemos
fazer a escolha. Foi uma verdadeira assembleia. Todos participaram. A
professora agia como uma mediadora, mas a decisão final era nossa.
Às vezes fico a pensar na importância
dessa professora. Fico a pensar e penitencio-me por não me recordar de seu
nome. Mas pelo que fez e pela lição de civismo e de amor ao próximo que nos
deu, ela bem que poderia chamar-se Professora Bondade. Sim, é isso, vamos chamá-la
de Professora Bondade.
São muitos os botucatuenses que
estudaram no Grupo Escolar “Dr. Cardoso de Almeida”. Dos nomes das
professoras de meu tempo alguns ainda permanecem em minha memória: Dª
Elvira, minha primeira professora, Dª Alice, Dª Olga e muitas
outras Fadas do Saber que exerciam com dedicação o seu
magistério no Grupo Escolar “Dr. Cardoso de Almeida”.
Mas, como dizia, a escolha do
presente que cada um iria dar foi disputadíssima. Por fim, após tudo acertado,
a Professora Bondade marcou a data em que a classe iria fazer a sua
visita e dar a sua colaboração e conhecer os velhinhos do Asilo Padre
Euclides. Mãos à obra. Tudo estava pronto.
Cada um com sua contribuição,
aguardávamos o grande momento. Fomos em fila e – pasmem! – fomos em ordem!
Naquele tempo ainda se tinha o bom costume de andar... Fomos do Grupo ao Asilo
e ninguém ficou cansado.
O primeiro contato foi emotivo.
O Asilo Padre Euclides é um recanto que nos transmite paz; é
um lugar convidativo à meditação. Os velhinhos que lá residem parecem
personagens celestiais. Essa foi a impressão que me causaram. Neles eu não vi,
e creio que não há, qualquer revolta por lá se encontrarem.
Passamos a manhã toda no Asilo. Lá
tomamos o nosso lanche e corremos por todo canto e convivemos com aqueles
nossos irmãos, ou melhor, com todos aqueles vovôs e com todas vovós de todos
nós.
Será
que hoje em dia ainda há o costume de programar visitas como essas?
Será que hoje as Professoras
Bondade estão preocupadas em auxiliar os nossos irmãos menos
favorecidos pela sorte ao mesmo tempo em que dão lição de civismo e de amor ao
próximo aos seus alunos?
Temos a certeza que sim.
Acreditamos firmemente que em
cada Grupo Escolar de nossa cidade existe uma Professora
Bondade que planeja visitas ao Asilo Padre Euclides; ou uma tarde
com as Meninas do Orfanato; ou um passeio à Vila dos
Meninos; ou uma coleta de gêneros alimentícios e roupas usadas para o Albergue;
ou uma visita para conhecer a obra magnífica que é a APAE.
Essas visitas são muito importantes.
Elas ensinam o que nunca mais se esquece. Elas ensinam a sentirmo-nos úteis.
Elas ensinam às crianças a importância da bondade, da solidariedade humana e da
produtividade de uma convergência de esforços para uma mesma finalidade.
Da caixa de fósforo de um, do pacote
de macarrão de outro, do queijo, da goiabada, do pacote de arroz, do quilo de
feijão, formou-se um estoque razoável que acredito tenha sido de muita
utilidade para o Asilo, pois para nós foi de grande e inesquecível
importância.
Nós
íamos em fila... Cada um levava o seu pequeno tesouro, a sua pequena oferenda.
A Professora Bondade nos liderava. Era bom sentirmo-nos úteis. Era
bom, muito bom aquele momento.
3 comentários:
Início dos anos 50...
Depois, em 1976, escrevi a crônica.
Hoje, fazendo a releitura e editando no blog, estou fazendo pela terceira vez essa visita. É inesquecível...
Já voltei, com a família, várias vezes ao Asilo levando doações. Mas nada se compara aos meus 7 ou 8 anos fazendo aquela visita... A classe animada e a PROFESSORA BONDADE a nos orientar... Foi bom, muito bom!
Na perspectiva do tempo é que vemos como somos pequenos diante das adversidades do mundo e do tão pouco que efetivamente podemos fazer para melhorar o “irmão” desprovido de qualidade de vida e de amor fraternal...
É isso.
Marcelo Delmanto disse...
Oi , tudo bem?
Gostei muito do último post e me lembro bem de ter lido a crônica no próprio livro, “Crônicas da Minha Cidade”, pois a alusão à professora "Bondade" ficou na minha lembrança. Ótimo post mesmo!!!
Um abraço,
Marcelo
Bela recordação, Armando!
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