maio 25, 2011

ENSINAR ERRADO É CERTO?



Este blog se propôs, desde o início, a ser um FORUM CULTURAL para que os temas importantes para a nossa cidadania pudessem ser discutidos e aprimorados pela “intelligentzia brasileira”. Única forma de ajudarmos na contrução da nacionalidade. Assim, não poderíamos deixar de divulgar importante pronunciamento do escritor Francisco Marins, que dirigiu por 2 vezes a Academia Paulista de Letras e é, hoje, seu Presidente Emérito.
Por oportuno, deixamos registrados os dois trabalhos que fizemos sobre a Educação:


Educação: choque de gestão!/leia aqui

Educação: “apartheid” cultural ! / leia aqui


ENSINAR ERRADO É CERTO?

Sobre a pedagogia da ignorância em livro didático.

Francisco Marins


Uma das maiores celeumas que ocorrem no país, nestes últimos dias, refere-se a certa infeliz publicação, feita pelo Ministério de Educação e Cultura MEC e destinada a estudantes do ensino médio. Foram 485 mil volumes, impressos com dinheiro público e remetidos às escolas.

O malfadado livro “Por uma Vida Melhor” (preferimos dizer – por um estudante pior), da coleção “Viver, Aprender”, Editora Global, expressa tese esdrúxula e anti-pedagógica, de vez que jamais se deve ensinar errado a qualquer pretexto. Assim, ao invés de tomar como prioridade o ensino da língua escrita, aquela que é a “oficial”, com base no modelo gramatical, aconselha que estudantes brasileiros escrevam, sem nenhum “castigo”, mesmo em provas escolares, palavras e expressões da linguagem oral, chula, como estas: “os menino pega peixes” ou “nois vai, nois vem, nois fica”.

Infelizmente o Ministro da Educação Fernando Hadad, que deveria submeter a uma assessoria competente, antes de imprimir, material pedagógico, destinado a distribuição gratuita, chamado às falas, por grita geral em todo país, esquivou-se, como “peixe ensaboado” com esta frase que, por si só deveria condená-lo à cassação da pasta mais importante do atual governo: “Não posso interferir no conteúdo dos livros adquiridos pelo Programa Nacional do Livro Didático, nem julgar o que é certo ou errado em matéria do português cabendo-me apenas decidir sobre o adequado em política pedagógica”. (sic)
É espantoso que desconheça e não queira interferir em setor dos mais importantes do Ministério – que é o da feitura e aprovação prévia de livros, por Conselho competente.

O que está se tentando fazer com o português – diz o Presidente Marcos Vilaça da Academia Brasileira de Letras é, como se ensinar tabuada: “quatro vezes três é dez e não é doze”.

Em pronunciamento, de quem escreve estas notas, dirigido à Academia Paulista de Letras, da qual é presidente emérito e diretor do Departamento de Filologia, - solicitou-se à Diretoria da mais importante instituição cultural das letras:

“Esta Academia, que delegou-me a missão de ir à Lisboa e à Academia Brasileira de Letras para colaborar no Acordo Ortográfico de 1990, para a língua que tem hoje 250 milhões de falantes e é a quinta do mundo, a terceira do ocidente, ramificada em todo o universo, não pode ficar alheia à investida de banalizá-la e colocá-la contra os acordos internacionais da lusofonia.

Lembro-me que em uma das reuniões a que estive presente em Lisboa, junto com o professor Soares Amora e Antonio Houaiss, ouvi deste último, então o maior filólogo vivo do Brasil, a repetição de uma frase de Rui Barbosa: “a decadência de um país começa quando degenera sua língua”.

Estatística recente revela séria distorção: alunos que terminaram o segundo ciclo não conseguem interpretar, adequadamente, uma página de Machado de Assis ou Eça de Queiroz. Outros nunca leram todo um livro de escritor brasileiro e, assim, são analfabetos de leituras.
A Câmara Brasileira do Livro da qual fui Presidente por duas gestões, registra, em pesquisa recente, que cada vez mais as crianças, estão viciadas em vídeo games, e que adultos não adquiriram o hábito de ler. E, ainda, o país está em 65.º lugar no mundo entre os que publicam livros literários, em Buenos Aires existem mais livrarias do que em todo o Estado de São Paulo. Botucatu, há setenta anos passados com 20 mil habitantes possuía duas livrarias. Quantas têm hoje aos 130.000?

Em minha função como Diretor de Filologia, escrevi ao Presidente da APL Antonio Penteado Mendonça:

“A Academia que, em seu Estatuto, prioriza o cultivo do português e da literatura em proveito da unidade linguística, pois o idioma é o maior patrimônio do país, talvez mais importante que o território e a própria religião cristã, não ficará à margem dos que profligam e exigem a retirada dos volumes, em poder das escolas, a reposição aos cofres dos dinheiros rasgados e a produção de novos volumes, escritos por quem entenda do ensino e preservação do idioma paterno.

A Academia Paulista de Letras, reagiu veementemente contra a adoção, pelo MEC, do livro “Por uma vida melhor”. E disse: língua portuguesa tem regras internacionalmente discutidas e aprovadas em um acordo do qual o Brasil é signatário. Pretender, em nome de uma hipotética adequação do uso da língua, ensiná-la de forma contrária às regras gramaticais e é desrespeitar uma convenção aceita pelo país e mais que isto, condenar os alunos brasileiros a continuarem a ser mal avaliados em todos os exames de aferição de ensino e aprendizado. É também condená-los a não entenderem o que leem, inclusive em outras matérias. Ou seja é condená-los a permanecerem despreparados e a não serem profissionalmente competitivos. A Academia Paulista de Letras solicita das autoridades competentes a imediata proibição do uso deste livro na rede de ensino nacional.
O Jornal “O Estado” publicou na edição de 18 de maio: Ao impor a pedagogia da ignorância a pretexto de defender a linguagem popular, as autoridades educacionais prejudicam a formação das novas gerações. É por isso que um grupo de membros do Ministério Público, liderado pela procuradora Janice Ascari, anunciou que processará o MEC por “crime contra a educação”.

Que assim se faça.

Lembro-me de que em certa ocasião o MEC cometeu grave erro ao imprimir uma Cartilha na qual, entre outras sandices, aparecia esta lição:
“O menino atira a casca de banana na cabeça do vovô”. Os exemplares foram recolhidos e a professora exorcismada.

Espantoso o que ocorreu nesta semana – também com a atuação desastrosa e criminosa do MEC “Et caterva” – imprimi-se e distribui-se com dinheiro nosso – um “Kit gay”.
Movimentos de academias de letras, sociedades de escritores, institutos de educação, de professores e alunos, enfim dos que desejam preservar a língua e ainda agora a moralidade e os bons costumes, fazem-se necessários e urgentes.
A língua portuguesa é um esplendor pelos escritos de grandes de seus cultores!

Olavo Bilac:
Última flor do Lácio inculta e bela

Antonio Ferreira: Floresça, fale, cante ouça-se e Viva
A portuguesa língua!

Recordemos: Fernando Pessoa:
O português é a minha pátria.

Valeu a pena?
— Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

O acadêmico Antonio Carlos Secchin da Academia Brasileira de Letras em debates sobre o Acordo Ortográfico, no CIEE de que participamos, também com a presença de Arnaldo Niskier, disse apropriadamente:

... quando Bilac referiu-se, em seu célebre soneto, ao português como “esplendor e sepultura” estava a prever, quanto a esta última palavra, o de utilização bastarda ou impura do idioma.

Fiquemos com os bons escritores e condenemos o MEC.

24/05/2011.

2 comentários:

Anônimo disse...

Aos poucos a verdade vai sendo restabelecida neste país. A presidenta Dilma acaba de vetar o “kit anti-homofobia” ou “kit gay” como ficou conhecido. Após pressão de religiosos, a presidenta teria assistido aos vídeos do “kit gay” e não gostou. Está vetado. Vitória dos que estão batalhando por uma boa educação para a juventude brasileira. O pronunciamento do escritor Francisco Marins vem aumentar o coro das mais expressivas vozes da sociedade brasileira contra essa verdadeira “molecagem” que foi a adoção, pelo MEC, de um livro que faz a apologia dos erros de português. Vou divulgar esse pronunciamento. Toda a sociedade tem que protestar para que a presidenta Dilma suspenda a divulgação desse livro. (mariceiaoliveira@yahoo.com.br)

Anônimo disse...

Expressivas instituições republicanas já se manisfestaram à respeito do absurdo pedagógico e cultural que é o posicionamento omisso e comprometedor do MEC, É preciso que a presidenta Dilma, os líderes políticos do Congresso Nacional tomem uma posição a favor da sociedade brasileira. A presidenta Dilma já mandou recolher o chamado “kit gay”, mas não sintoma de boa gestão a própria autoridade maior ter que intevir em uma área que, pelo menos oficialmente, tem um titular. O mesmo ocorre com os “livro dos erros de português”, será que a presidenta Dilma terá que atuar também nesse caso vergonhoso, prova indiscutível de má gestão do Ministro da Educação? Não bastam os exames “mal preparados e mal geridos” do ENEM? Vamos esperar que medidas sejam tomadas com urgência e que o Ministro da Educação peça a sua demissão como ato mínimo de probidade moral e de cidadania.
carla.bueno2011@bol.com.br)

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