Academia Botucatuense de Letras:
um escriba panfletário na ACADEMIA...
No distante ano de 1983,
tive a grande honra de ingressar, por indicação do saudoso Acadêmico Dr.
Sebastião de Almeida Pinto, na ACADEMIA BOTUCATUENSE DE LETRAS – ABL.
“Llmos. Srs. Presidente e demais membros efetivos da Academia
Botucatuense de Letras.
Prezados confrades,
É com a maior satisfação, que tenho a honra de propor aos ilustres
membros desse Sodalício, para preenchimento de vagas existentes na quadro de
membros efetivos da Academia de Letras de Botucatu, o nome do doutor Armando
Moraes Delmanto, advogado residente nesta cidade.
O Dr. Armando Moraes Delmanto, bacharel em Direito, escritor com várias
obras publicadas, jornalista em franca atividade na imprensa paulistana e
local, beletrista apreciado, sentir-se-á muito honrado em pertencer à nossa
Academia, onde pretende preencher a vaga do saudoso Prof. Dr. Ignácio Loyola V.
Novelli, ocupando a cadeira que tem por patrono o inolvidável Paulo Setubal.
Antecipando os meus agradecimentos pela acolhida favorável a esta
indicação, apresento
Cordiais saudações,
SEBASTIÃO DE ALMEIDA PINTO
Botucatu – 5 de Agosto de 1978”.
E na Sessão Solene,
presidida pelo fundador da ABL e seu presidente, Acadêmico Dr. Antonio Gabriel
Marão, tendo sempre a presença competente da secretária e Acadêmica Elda
Moscogliato, apresentei a minha tese, com o traje oficial da ABL à época e
dando destaque para o medalhão acadêmico. Foi uma grande realização, com
certeza!
Já havia publicado os
livros “A JUVENTUDE: PARTICIPAÇÃO OU OMISSÃO”, em 1970 e “CRÔNICAS DA MINHA
CIDADE”, em 1976.
Mas a minha atuação principal havia sido nas lides
jornalísticas. Ao fundar o moderno e participativo jornal “VANGUARDA DE
BOTUCATU” (http://blogdodelmanto.blogspot.com.br/2016/06/jornalismo-de-vanguarda-em-botucatu_24.html),
procurava fazer um jornalismo moderno e
atuante, participativo no exercício da cidadania. Pois é negativo para as
cidades do interior o jornalismo travestido de independente a traçar os
acontecimentos ao bel prazer dos poderosos do momento...
O jornalismo ou a história, nas comunidades
interioranas, sempre sofreu com a imprensa “chapa
branca”, ou seja, a imprensa que “escreve”
a história como a veem os donos temporários do poder... Isso faz parte da
história mundial: os regimes totalitários SEMPRE
quiseram “escrever” a história
oficial, a história “chapa branca”...
Desde Stalin, Hitler, Fidel Castro e
Getúlio Vargas, só para citar alguns notórios ditadores que usaram e
abusaram dos “escribas de aluguel”...
Mas foi tudo em vão. O tempo sempre recompõe a história e traz a verdade dos
fatos ao conhecimento de todos.
Aqui em Botucatu, nos jornais em que
militamos, conseguimos trazer à tona a verdade sobre o 2º Bispado de Botucatu e a atuação de Dom Duarte Costa ao ser excomungado e ter fundado, ao depois, a Igreja Católica Brasileira. A
importância do Conde de Serra Negra,
a magnitude do Aquífero Guarani
(Aquífero Botucatu), o pioneirismo da Casa
de Saúde “Sul Paulista”, as Imigrações
Americanas, Belgas e Japonesa para Botucatu, etc. E, mais recentemente, a
luta através do Blog do Delmanto contra
a tentativa de levar o nosso curso de
medicina para Bauru, com a atuação omissa de autoridades locais e a atuação
perniciosa de alguns docentes da própria UNESP (http://blogdodelmanto.blogspot.com.br/2013/06/gambiarra-na-faculdade-de-medicina-de.html). Isso, acreditamos, foi jornalismo positivo e independente.
Por isso, busquei na minha atuação
jornalística o título da minha tese acadêmica:
“A bondosa indicação do Dr. Sebastião ou de como um escriba
panfletário chegou à Academia”.
Já em nossa posse na ABL, destacávamos em nosso discurso que:
Já em nossa posse na ABL, destacávamos em nosso discurso que:
"Título: A bondosa indicação do Dr. Sebastião ou de como um escriba panfletário chegou à Academia.
"Se me cortam um verso, escrevo outro;
Se me prendem vivo, escapo morto;
E, de repente, eis eu aí de novo,
Exigindo a paz e exigindo o troco".
As coisas em nossas vidas nunca acontecem por acaso. Fui indicado para a Academia Botucatuense de Letras pelo saudoso médico e professor Dr. Sebastião de Almeida Pinto. Indicado, fui aceito pela gentileza de seus membros para ocupar a cadeira que tem por Patrono o notável escritor Paulo Setúbal.
Mas a vida quis, o que muito me honra e sensibiliza, que houvesse um remanejamento, não muito normal em casos que tais, vindo eu a ocupar a cadeira que tem como Patrono o ilustre historiador e folclorista Alceu Maynard Araújo e, como antecessor, exatamente, aquele que me convidou e indicou para fazer parte deste seleto sodalício: o Dr. Sebastião de Almeida Pinto.
É uma dupla honra: suceder a tão ilustre botucatuense e ter como Patrono esse excelente folclorista.
O Dr. Sebastião foi professor de Alceu na sempre tradicional Escola Normal de Botucatu.
E o Dr. Alceu foi meu professor na Escola de Sociologia & Política de São Paulo.
Aqui, abro um parêntese.
A festa com que Alceu recebeu um “botucudo”, a atenção que me foi dispensada e os ensinamentos que desse Mestre aprendi, marcaram-me para sempre.
Fecho o parêntese.
Alceu e Tião sempre dedicados à história e à pesquisa. Ambos tendo por Botucatu um carinho e uma predileção marcantes. Nosso passado e nossas peculiaridades. Os desbravadores. Os nossos sonhos. As nossas decepções. As vitórias e derrotas da cidade e dos botucatuenses tiveram a atenção e o relato desses cultores da nossa história e do nosso folclore.
A eles, sucedo. Às suas qualidades, não tenho a pretensão.
"Se me cortam um verso, escrevo outro;
Se me prendem vivo, escapo morto;
E, de repente, eis eu aí de novo,
Exigindo a paz e exigindo o troco".
Novamente repito:
A bondosa indicação do Dr. Sebastião ou de como um escriba panfletário chegou à Academia.
Do Dr.
Alceu, em discurso histórico, o Dr.
Sebastião de Almeida Pinto traçou
o perfil. Foi esportista, professor, diretor, sociólogo, escritor, Patrono da cadeira nº 02, da Academia
Botucatuense de Letras e Membro da Academia Paulista de Letras, juntamente
com Hernâni Donato e Francisco
Marins.
Nascido em Piracicaba, Alceu, desde pequeno, foi criado em Botucatu, cidade que considerava como sua. Aqui fez suas amizades e estudos, culminando com sua diplomação pela Escola Normal de Botucatu. Formado Professor, Alceu foi lecionar em Pirambóia. Atento observador foi registrando os usos e costumes, as tradições, as crendices, as esperanças e os antepassados dessa gente boa do interior.
Transferindo-se para São Paulo, Alceu, que sempre foi conhecido como o "peito de ferro", por seu porte atlético, ingressou na Escola Superior de Educação Física da USP. Formado, lecionou em inúmeras escolas municipais. Na busca do saber, licenciou-se em Sociologia. Lecionou na Escola de Sociologia e Política, agregada à USP, onde tive o privilégio de ser seu aluno. Não satisfeito em sua busca do saber, bacharelou-se em Direito pela tradicional Faculdade de Direito do Largo de São Francisco - USP. Nesse tempo todo dedicava-se ao folclore: pesquisando, escrevendo artigos para jornais e revistas. Enfim, Alceu dedicou-se inteiramente à cultura, escrevendo, lecionando e dirigindo faculdades. Foi Vice-Diretor das Faculdades Metropolitanas Unidas -FMU, quando era Diretor da mesma, outro grande botucatuense, Mestre de todos nós, o Professor Agostinho Minicucci,
Participou da elaboração da Enciclopédia da Cultura e Folclore Nacional, autor de "Medicina Rústica" e"Pentateuco Nordestino", Alceu teve vida produtiva e granjeou o respeito e a admiração de seus pares.
Não tendo nascido em Botucatu, orgulhava-se de ser considerado autêntico “botucudo”.
Sendo o primeiro botucatuense a entrar para a Academia Paulista de Letras, logo foi seguido por Francisco Marins e Hernâni Donato.
O Prof.
Alceu Maynard Araújo, Patrono da cadeira n° 02 de nossa Academia. enriqueceu a cultura
botucatuense e tornou-se modelo exemplar para a nossa juventude.
Na verdade, Alceu
Maynard Araújo representou,
com dignidade e brilho, a cultura nacional. Entre os inúmeros cargos de
destaque que ocupou, ressalte-se o de Grande
Secretário de Cultura do Grande Oriente de São Paulo.
Na segunda metade dos anos setenta, eu residia na Rua
Velho Cardoso, quase esquina com a Cardoso
de Almeida. Aos domingos pela manhã, participava do papo matinal defronte à
casa do professor Prado e um dos
participantes era o saudoso Dr.
Sebastião de Almeida Pinto. Belos papos. Neles, só aprendi. A história de
Botucatu “corria solta” na informalidade da conversa.
Um dia, o Dr. Sebastião pediu que eu fosse à sua casa. Naquela época já
andava doente. O assunto se resumia a um pedido: que eu aceitasse a minha
indicação para a Academia Botucatuense
de Letras. A humildade daquele Mestre
me comoveu e eu lhe disse que não me considerava credenciado a ser seu par
na Academia, embora honrado pelo
convite. O Dr. Sebastião contra argumentou
com sua bondade costumeira. Resultado:
aqui estou por indicação desse ilustre botucatuense.
Gostaria de abordar várias facetas desse
exemplar cidadão botucatuense.
De início, no entanto, quero destacar uma
característica rara do Dr. Sebastião de
Almeida Pinto e, aqui, permitam-me a falta de modéstia, dele e de meu pai, Antônio Delmanto. Ambos farmacêuticos. Ambos médicos-missionários, médicos sacerdotes.
Não fizeram fortuna. Não enriqueceram com a profissão, dignificaram a profissão
médica. Ambos fizeram de suas profissões um meio para minorar os males e proteger
os pequeninos da sorte. Meu pai, por 15
anos, foi Diretor Clínico da
Misericórdia que naquele tempo ainda era chamada de Santa Casa, e o Dr.
Sebastião por muitos anos chefiou a Clínica
Médica da Misericórdia. Em “Estórias
da Santa Casa”, sob o título de “De
Costa Leite ao Dr. Antoninho”, o Dr.
Sebastião relata:
“Em São
Paulo foi Adjunto da Santa Casa
(terceira cirurgia de mulheres). Fez o curso de aperfeiçoamento de clínica
cirúrgica da Faculdade de Medicina de S.
Paulo. Frequentou cursos de cirurgia, ginecologia e obstetrícia da Associação Paulista de Medicina,
convivendo com mestres notáveis. Quando aqui chegou estava apto para praticar
com brilho a ciência e a arte de Hipócrates.
Entrou logo para a Misericórdia,
onde foi cirurgião, chefe de clínica e
Diretor Clínico, mostrando dinamismo, competência, dedicação e espírito
humanitário. Foi pelas suas mãos que reingressei no Corpo Clínico da velha Santa Casa de onde me despedira alguns anos
antes por motivo...(mas isto já é outra estória).”
Com referência à sua experiência na Misericórdia, o Dr. Sebastião retrata bem, em artigo de 1968, o que era a pratica da medicina naquele tempo e como era
difícil praticá-la e quanta dedicação e espírito humanitário eram precisos para
exerce-la:
“Nesses trinta e dois anos de clínica, nas
minhas observações diuturnas na velha Santa
Casa, tenho visto coisas extraordinárias. Doentes de enfermaria,
indigentes, foram curados espetacularmente de moléstias gravíssimas.
Intervenções cirúrgicas, de prognóstico sombrio, terminaram magnificamente.
Recuperações impressionantes fazem lembrar a PROVIDÊNCIA. Lembram a figura de JESUS, o protetor dos humildes e pequeninos, a passear pelas
enfermarias”.
Assim era o Dr. Sebastião de Almeida Pinto: médico-missionário. Não enriqueceu
na profissão mas deixou seu nome gravado em ouro na história de Botucatu.
Humilde, alegre e dedicado. Animava todas as rodas e a todos tinha uma palavra
amiga. Assim era o velho Mestre Tião.
Descendente do Capitão José Paes de Almeida, chefe político de Botucatu, que
juntamente com o general Ataliba Leonel,
de Piraju e Antonio Evangelista (Tonico Lista) de Santa Cruz do Rio Pardo
faziam o tripé do poderoso PRP na região. E é de lembrar que
àquela época esta região era uma das principais senão a principal do Estado.
Seu pai, Sebastião
Pinto Conceição era o administrador da Fazenda
Aratu, de propriedade da Condessa de
Serra Negra, de onde o menino Tião e
o mano Jayme vinham à pé para a
escola.
Depois, seu pai veio a ser o Tabelião do 1º Tabelionato. Era músico
(flautista), tendo ensinado piano à menina Eunice.
Com ele Tião pegou gosto pela
música. Tião tocava flauta e saxofone,
tendo deixado sua marca na época, quer em serenatas quer animando bailes no
então importante “Lampião Vermelho”.
Como esportista, Tião deixou a sua participação como capitão do “Arranca-Toco” que sempre combatia o “Flamengo” onde hoje está situada a Associação Atlética Botucatuense.
Tião não era menino quieto e nem, ao depois,
rapaz acomodado. Era briguento e aprontador de “surpresas”. Maneco Paes de Almeida, mais jovem do
que ele mas seu tio, contou-me as suas
peripécias. Do “Arranca-Toco” ao “Lampião Vermelho”, Tião marcou sua
presença em Botucatu como um jovem bem relacionado, de muito bom humor, grande
contador de piadas e “causos”.
Após a sua formatura na Escola Normal, Tião estudou farmácia
em Pindamonhangaba onde era conhecido por “Mato Grosso” por retratar o tipo caboclo e brincalhão.
Formado, comprou a farmácia São José (localizada na antiga rua Riachuelo, hoje rua
Amando) de seu tio Alfredo Pinto.
Não foi bem. Não cobrava dos humildes e não cobrava bem dos que podiam pagar.
O “Pai
Cidade”, como era conhecido o Capitão
Zé Paes, chefe do PRP, conseguiu a nomeação do Tião como Secretário da
Escola Normal. Posteriormente, Tião
veio a ser Vice-Diretor e Diretor,
além de lecionar várias matérias, quer como titular da cadeira quer como
substituto.
Formou-se médico pela Faculdade Fluminense de Medicina, tendo exercido a
medicina como verdadeiro sacerdote, destaque que demos linhas atrás.
Falamos do esportista, do músico, do
farmacêutico, do professor e do médico. Mas existem outras facetas na vida de Sebastião Pinto. O jornalista e o escritor.
A figura hoje lendária do Capitão Zé Paes, o “pai cidade”, marcou a infância e juventude do menino Tião que era o preferido de seus netos.
Novamente o “Pai Cidade” entra na vida de Tião.
O conhecido botucatuense, líder político de então, Nenê Cardoso, tinha um material gráfico parado. Tião e Maneco Paes queriam montar um
jornal. O “pai cidade” falou com o Nenê Cardoso e este, atendendo ao
pedido do Capitão Zé Paes (que era
sempre irrecusável), entregou a Tião o
maquinário.
Naquela época, Tião, Maneco e Romeu Levy, entre outros, lançaram o jornal “O Momento”. Com Tião na direção ele chegou a bi-semanário.
Ao depois, passou a tri-semanário.
Naquela época Botucatu era uma cidade líder na região.
Nas oficinas de “O Momento”, foi impresso o primeiro livro de Tião, “Impressões de Viagem”,
que retratava as suas observações em viagem feita ao interior do Estado e a
cidades de outros Estados. Posteriormente, em 1957, amigos mandaram imprimir “Botucatuenses
no Setor Sul”, em comemoração ao 25º aniversário da Revolução
Constitucionalista. Tião participou como Tenente-Médico do Batalhão Universitário “Fernão Salles”, que
operava no setor sul. Nesse trabalho, Tião
escreve:
“Integrado na Revolução, também me apresentei como voluntário. Com meus irmãos,
meus parentes, meus companheiros de trabalho, com meus amigos e muitos
desconhecidos, todos irmanados no ideal de paulistanismo e brasilidade,
abandonamos interesses, família, comodidade, atiramo-nos à luta. Do quartelzinho na casa do Silvio Galvão, eu me lembro, partiram José do Amaral Wagner, Luiz Pinho de
Carvalho, Jayme de Almeida Pinto, Américo de Souza e Silva, Brasílio Damato,
Oscarlino Martins, Jorge Barbosa de Barros, Orlando Pinheiro Machado, Lucídio
Paes de Almeida, Germinal Serrador, Maneco Paes, Sinésio de Oliveira, Julião
Pires de Campos Filho, Antonio Piccinin, Antonio Augusto Pedro (Guarantã),
Silvio Galvão, Olavo Ponciano, Edward Paes de Camargo, Salvador Assunção e
inúmeros outros, cujos nomes infelizmente me escapam.
O Exército
Constitucionalista integrado por centenas de milhares de homens, vibrantes
de entusiasmo e patriotismo, não tinha armas e nem munições suficientes. Mas,
tinha patriotismo, civismo e ideal, para dar e sobrar”.
Publicou, ainda, “A Tuberculose nos meios escolares”; “Escolas especializadas para
crianças hospitalizadas” e “No Velho Botucatu”.
Deixa para publicação três livros: “No Cinquentenário da Escola Normal”;
“Estórias da Santa Casa” e “Tempo de Dante, Gente de Hoje”.
Na política, Tião também marcou a sua presença. Tendo o saudoso Dr. Jayme de Almeida Pinto como Deputado Estadual e, depois, Secretário de Estado da Agricultura,
havia a necessidade de a família ser representada a nível municipal. Sairam candidatos a vereador o Tião e o Maneco.
Maneco e o Dr. Jayme obrigaram o Tião
a sair candidato. Tião foi o
vereador mais votado. Foi presidente da
Câmara Municipal, mas nunca gostou de política, ou melhor, nunca gostou de
ser político.
Finalmente, Tião como exemplar pai de família. Ele e sua companheira e esposa
fiel, Dª Lali, educaram
democraticamente a grande prole. A liberdade imperava nas decisões familiares.
Belo exemplo de homem íntegro e de pai de família estimado.
Essa é uma visão rápida da vida de Sebastião de Almeida Pinto.
Do saudoso Dr. Sebastião. Do saudoso Tião.
Hoje, esposa, filhos, filhas, noras, genros,
netos e netas continuam a levar por todos os cantos um pouco do Tião.
Eu o substituo nesta Academia, sem o seu mérito e sem o seu brilho.
Novamente repito na dúvida:
A bondosa indicação do Dr. Sebastião ou de como um escriba
panfletário chegou à Academia.
No entanto, deixo uma certeza a honrar meu
patrono e meu antecessor:
“Se me cortam um verso, escrevo outro;
Se me prendem vivo, escapo morto;
E, de repente, eis eu aí de novo,
Exigindo a paz e exigindo o troco”.
No tradicional jornal “A GAZETA DE BOTUCATU”, de 26 de agosto de 1983,
a acadêmica Elda Moscogliato – a maior cronista de Botucatu! – descrevia o
evento lítero-musical com o seu proverbial estilo:
Crônica
Elda
Mosgogliato
“O Dr. Armando
Moraes Delmanto defendeu em 20 de agosto último, sua tese acadêmica, perante
uma estrita e qualitativamente seleta assistência, aquela que já se tornou
parte integrante da ABL.
***
Presente,
uma representação oficial que sempre nos orgulha: S.Exa. Revma. Acadêmico D.
Vicente Marchetti Zioni, dd. Arcebispo Metropolitano; Vereador Progresso
Garcia, dd. Presidente da Câmara Municipal; Capitão José Darcy Andreuzza, dd.
Delegado da 12ª Delegacia de Serviço Militar; Dr. Francisco Marins, que traz
com sua pessoa amiga, a representação altamente honrosa da Academia Paulista de
Letras; Mário José Romagnoli, Membro da Academia de Letras de Londrina; Dr.
José Antonio Pinheiro Aranha, que retorna a Botucatu depois de enaltece-lo em
muito, na Capital; Dr. Minoru Satake eSr. José Toyaki Tamura, da Sociedade
Brasileira de Cultura Japonesa e Prof. Vereador Antonio Carlos Cesário.
Honrosas
presenças.
***
O novo acadêmico discorreu sobre os dois
vultos que enriqueceram a Cadeira nº 2 de que é o novo e mais jovem ocupante: Alceu Maunard de Araújo e Sebastião de Almeida Pinto, o sempre
querido Tião. O primeiro, seu antigo mestre na Escola de Sociologia e Política
da USP e o grande pioneiro do folclorismo
nacional. O segundo, de cultura polimorfa. O orador foi muito feliz. Pode
condensar nos previstos minutos de um discurso acadêmico, a complexa
personalidade de Tião: enraizado numa família histórica, não se esqueceu do Dr.
Jayme, que ocupou no Governo do Estado, a Pasta da Agricultura, vulto que a
desmemória botucatuense nunca jamais premiou. Mestre de uma geração sem fim de
alunos, jornalista, turista inveterado por estes Brasis a fora; combatente
heroico de 1932; político e homem público em várias vereanças, presidente da
Câmara Municipal; escritor, conferencista.
***
Mas
sobretudo, o vulto humanitário, exemplo admirável de nobreza, de compromisso
leal a Hipócrates, de dedicação extremada à Medicina e à causa da saúde
pública. Organizador de campanhas meritórias, incentivador do mais alto e
dignificante civismo, o Dr. Sebastião foi uma das colunas mestras da
Misericórdia Botucatuense.
***
Antes
de mais nada, o memorialista. Abeberou-se ainda jovem, da memória dos velhos
pais e assim sedimentado, tornou-se uma autoridade na história e na crônica
botucatuense. Amou esta terra como poucos. E sua gente. Que o diga “No Velho Botucatu”; “Gente d’antanho, gente
de sempre”. E outras mais, inéditas, que enriqueceram suas memoráveis
conferências.
O
querido Tião amigo de todos, o De La Cierva humorista, o companheirismo, a
fidalguia, a nobreza feita gente.
Que
saudade!
***
Sessão
lítero-musical. E por isso, a presença do Coral da Sociedade Botucatuense de
Cultura Japonesa, sob a competente direção da maestrina Yoshiko Yanagizawa.
Cerca
de trinta vozes cristalinas, neste mês de agosto – do folclore e das tradições
nacionais, com toda a graciosa tradição do Oriente. “A rãzinha”, música imitativa cheia de colorido; “Sob a laranjeira” evocação romântica e
sentimental; “Esperança” meditação
profunda e bela mensagem e por fim, “O
Ursinho”, história patética de um ursinho galanteador.
Com
a presença amiga da colônia japonesa botucatuense, toda a milenária tradição do
País do Sol Nascente.
***
Mas
toda sessão acadêmica finaliza transformando-se numa agradabilíssima tertúlia.
Progresso Garcia recordou a influência italiana na vida citadina. O Dr.
Francisco Marins que sempre nos obsequia com sua palavra, corroborando o
acadêmico Armando que pediu, dos poderes municipais, a edição das muitas obras
botucatuenses à espera do prelo.
***
Mas,
surpresa maior e agradabilíssima, a palavra do poeta de Londrina, acadêmico Mario
José Romagnoli, recitando-nos, de sua lavra, o poema clássico: “Penso em Deus”.
Foi
a nota máxima, da noite acadêmica.”
Quando eu
ingressei na Academia Botucatuense
de Letras, na Cadeira nº 02, cujo Patrono é exatamente Alceu Maynard Araújo e tendo como Fundador o Dr. Sebastião de Almeida
Pinto, no distante ano de 1983,
recebi de meu sempre Mestre,
o Professor Agostinho
Minicucci, correspondência à respeito de minha posse e de meu Patrono. Por oportuno,
transcrevo seu inteiro teor:
"São Paulo, 12/08/83.
"São Paulo, 12/08/83.
Prezado Armando:
Acabo de receber a faustosa notícia de que você se torna imortal em a nossa Academia.
Quem o conhece desde estudante, quem tem acompanhado os seus sucessos, a sua ânsia de vencer, a sua determinação por acompanhar a via clara e prestigiosa dos Delmantos, o seu acendrado amor pela terra-mãe...pode avaliar inteiramente a sua escolha como acadêmico. Parabéns.
Nós acompanhamos Maynard em São Paulo durante largos anos, quando fomos Diretor da Metropolitanas (FMU) e ele foi nosso Vice e nas Faculdades de Guarulhos, quando ele foi Diretor e nós fomos Professor.
Há muitas facetas de rara riqueza na personalidade desse educador-escritor que só quem conviveu com ele, teve a felicidade de sentir.
Quando tanto se fala em folclore, é necessário reviver a obra de Maynard, divulgá-la nas escolas, nas academias, na imprensa.
Tenho a certeza de que você irá fazer isso.
Estou vibrando por isso tudo. Abraços”.
Prof. Agostinho Minicucci."
18 comentários:
Mas nem tudo são flores no jornalismo no interior, especialmente se você faz oposição aos ocupantes temporários do poder público (prefeitura municipal). Botucatu é uma cidade de porte médio, mas dos anos 60 aos anos 80, os jornais eram feitos no tipo. E a maioria das cidades, do mesmo porte, já tinham a sua linotipo.
Pois bem, o “Vanguarda” no seu início era feito na Gráfica Amaral e conseguia sair em duas cores: preto e vermelho e azul e laranja. Mas devido às perseguições políticas , ele teve que mudar 3 a 4 vezes de gráfica. Era um jornal agressivo, panfletário e fazia oposição “como gente grande”...rsrsrs Como eu trabalhava durante a semana em São Paulo, não foi difícil descobrir boas gráficas. Então, o “Vanguarda” era o jornal com a melhor apresentação gráfica, porque era feito em boas gráficas linotipadoras. E tinha a maior tiragem da cidade.
Havendo pressão dos Prefeitos em cima da gráfica, não sei se oferecendo vantagens, ou dando serviços, só sei que eles paravam de imprimir o jornal e geralmente acabavam dando os motivos. No final de 1974, eu já estava imprimindo o “Vanguarda” numa gráfica pequena, mas muito boa, no Belenzinho. E, de repente, o dono me deixou na mão e nem deu satisfação. Tudo bem, mudei de gráfica, novamente.
Aí é que vem a história.
Anos depois, creio que em 1984, quando eu voltava de uma viagem e desci no aeroporto de Congonhas, peguei um táxi. E tive esse diálogo:
“Oh, Delmanto, não tá lembrado de mim? Sou o Clodoaldo, dono da gráfica lá no Belenzinho...(...)”Clodoaldo, você me largou na mão, heim?”
Aconteceu o seguinte, ele foi procurado, lhe ofereceram dinheiro e um emprego na Staroup, em Botucatu, que era uma das maiores fábricas de jeans. Ele muito esperto, vendeu a gráfica e com o dinheiro da venda mais o dinheiro do “acerto”, foi para o interior trabalhar na fábrica. Depois, não aguentou viver longe da capital e voltou e foi ser motorista de praça...
Que coincidência, heim?
Mas você vê, no interior tem muito disso: perseguição política. Mas como há males que vem para o bem, por ter que trocar tanto de gráficas, acabei numa gráfica pequena, mas muito boa em Bauru. O dono, que era o linotipista, Ariosto Campitelli, após imprimir o “Vanguarda” por um bom tempo, aceitou fazer sociedade e trazer todo o maquinário pesado para Botucatu e trouxe também o impressor, o Dalvo Davanço. Eu havia resolvido transformar o “Vanguarda”, jornal político, num jornal apolítico, mas com uma linha forte de defesa dos interesses da comunidade. Foi uma mudança difícil, com aquele maquinário todo. Tivemos que abrir uma parede para colocar principalmente a impressora. Os dois mudaram com as famílias para Botucatu e lançamos, em outubro de 1980, o “JORNAL DE BOTUCATU”, um bi-semanário, com a melhor impressão da cidade e que passou a ser até o final dos anos 90, o melhor jornal da cidade. Jornalzão bacana, bonitão, muito bem feito. Tinha a linha de defesa da sociedade.
Essa é uma boa história. É registro histórico!
Ilza Maria Nicoletti Souza (Facebook):
Põe boa história nisso !!!
Maria De Lourdes Losi (Facebook):
Parabéns por ser guardião da nossa história e lutar para que a verdade prevaleça!
Shen Nogueira Pinto (Facebook):
Fiquei emocionada!!! Abraços!!!!!
Maria Thereza Cunha Delgallo (Facebook):
Muito bom ler (e aprender) com os seus artigos!
Nelson Gasparini Junior (Facebook):
Não consigo entender como um governador mentecapto como o nosso permitiu alguém pensar em tamanha aberração,e ainda ser reeleito. São Paulo está 20 anos atrasado com a omissão desse miserável e incompetente.
A memória começa a reviver. Morei em Bauru,1 ano- 1974, quando meu primo Edson Gasparini era prefeito e nunca ouvi comentário algum sobre o interesse de transferir a FCMBB da época. Se não me engano o governador era o Quércia. Não podemos negligenciar . Força conterrâneo.
Manfredo Costa Neto (Facebook):
Linda história de superação. Parabéns Armando! Grande abraço.
Maria Aparecida Marins Butignoli (Facebook):
parabens ilustre Botucatuense temos a honra de te-lo na Academia
Lurdinha Senna (Facebook):
Parabéns !!
Tenho orgulho de minha caminhada. Valeu.Obrigado. Hoje continuo no jornalismo, através do Blog do Delmanto, e nas atividades acadêmicas, sempre promovendo a ABL e a Cultura de Botucatu
Carmem Lúcia da Silva (Facebook):
Parabéns Dr Armando Moraes Delmanto. Sua luz é sempre holofote para os confrades e confreiras da ABL.
O Acadêmico Armando Moraes Delmanto registra a História da Academia Botucatuense de Letras em seu Blog e nos convida a aprendermos com suas fantásticas matérias.
Parabéns sempre!
É grande honra sermos contemporâneos do senhor.
Luciano Lunardi Ragazzi (Facebook):
Guerreiro da terra... Botucatu , orgulha de ter um filho como Vossa pessoa. Abraço Delmanto.
Osvaldo Paes de Almeida (Facebook):
Parabéns, uma caminhada de valor que merece toda revelação no face.
Sonia Mereu (Facebook):
Gosto muito de seus artigos ! Aprendendo sempre .Abraço.fraternal.
Jo Sant'Iago (Facebook):
Parabéns, vc merece.O seu trabalho de divulgação da sua Cidade é espetacular! Não vou enumerar os outros,pq não caberia aqui rs.Abraço.
Pida Pardini (Facebook):
Parabéns, Armando!
Ilza Maria Nicoletti Souza (Facebook):
Agora sim acabei de ler seu post !!! Que maravilha !! Você tem q se orgulhar muito , não só da sua trajetória na ABL , mas de tudo o que realizou e ainda realiza . Até o fim dos tempos seu nome será lembrado como o homem que perpetuou a nossa história . Não tem como conter meu "entusiasmo"
Rsrsrsrs . Que vc continue sempre nos fazendo orgulhosos de sermos Botucatuenses!!
Kimberlly Della'Rosa (Facebook):
Até hj existem pessoa que lutam pra uma Botucatu cada vez melhor ...
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