“De todos nós (poetas),Vinicius foi o único que viveu poeticamente”
CARLOS DRUMOND DE ANDRADEVinicius de Moraes e sua musa inspiradora: Helô Pinheiro.
Vinicius de Moraes foi o meu primeiro contato com a poesia do amor juvenil e com a música do amor verdadeiro. Adolescente, interno em São Paulo, eu me descobri na música “Chega de Saudade”, na voz de João Gilberto. Num ritmo diferente, gostoso, num tom envolvente e com uma letra apaixonante... Era letra de Vinicius e melodia de Tom Jobim. Foi o primeiro LP de João Gilberto com a música que marcava o surgimento da Bossa Nova.
Era o ano de 1959, o mundo e o Brasil estavam experimentando uma série de novidades... O rock estava surgindo e abalava as estruturas conservadoras da sociedade, com mudança de costumes, principalmente entre a juventude. No Brasil, até a música tradicional – o samba! – sofria uma mudança significativa, uma batida diferente. Parecia jazz ou blues... Era a Bossa Nova. E a sua chancela era a música “Chega de Saudade”...
No ano seguinte, 1960, eu devorava o livro “Antologia Poética de Vinicius de Moraes”, editado pela Editora do Autor, uma nova opção idealizada e comandada por Rubem Braga e Fernando Sabino.. “Percebe-se quando alguém começa a sentir os comichões literários que coçam mais que varíola agonizante”, foi o que disse, à época, meu professor de português, o sempre Mestre Agostinho Minicucci. Eu tinha as minhas preferências: “Sonêto de Intimidade”, “Sonêto de Fidelidade”, “Sonêto do Amor Maior”, “Sonêto da Separação”, “O Assassino” e “Poema Enjoadinho”.
O sucesso internacional da peça teatral “Orfeu da Conceição” (1956), escrita por Vinicius e musicada por Tom Jobim e com cenários de Oscar Niemeyer, deu origem ao grande sucesso do cinema brasileiro com “Orfeu Negro” (1959), co-produção franco-brasileira, mostrando ao mundo a genialidade poética de Vinicius de Moraes com a inspiração musical de Tom Jobim... E essa dupla não parou mais. Novas músicas da dupla, como “Garota de Ipanema”, que comemorou 50 anos em 2012 e é a música mais tocada em todo o mundo graças à gravação, em 1967, na consagrada voz de Frank Sinatra.
Vinicius foi abundante em suas parcerias: Baden Powel, Carlos Lyra, Dorival Caymmi, Toquinho e muitos outros. Parcerias intensas, com músicas inesquecíveis. Cada fase de Vinicius teve uma criatividade poética diferente. Particularmente, sempre preferi a da primeira fase, com Tom Jobim e Carlos Lyra. Mas gosto de todo o seu repertório.
Chamado carinhosamente de “poetinha”, por sua própria maneira de tratar seus parceiros: Tomzinho e Carlinhos... Na verdade, era um senhor poeta. Com vários livros de poesia, “com períodos distintos de sua poesia, como a fase transcendental , freqüentemente mística, resultante de sua fase cristã (1936) e, ao depois, a sua fase em oposição ao transcendentalismo, com trabalhos nitidamente marcados pela aproximação do mundo material, com a difícil mas consistente repulsa ao idealismo dos primeiros anos. De permeio, foram colocadas as Cinco Elegias (1943), como representativas do período de transição. Entre aquelas duas tendências contraditórias.”
(Apresentação do livro “Antologia Poética de Vinicius de Moraes).
E teve seus período de diplomata de carreira, ao depois, cassado pelo Regime Militar e, com a democratização do país, foi reintegrado ao Itamaraty e aposentado como Embaixador. Ao longo de sua atividade artístico-cultural, colecionou amizades dos expoentes da “intelligentzia brasileira”
Fiel ao amor maior, que ele imortalizou na frase:
“Que não seja imortal, posto que é chama,
Mas que seja infinito enquanto dure.”
E, assim, Vinicius teve 9 casamentos oficiais, fora o intermezzo recheado de doces ilusões vividas intensamente...
Nos links abaixo, importantes registros históricos de Vinicius, especialmente o programa especial Arquivo N, apresentado pela Globo News em homenagem ao seu Centenário (1913 – 2013). E duas músicas: “Chega de Saudade”, com João Gilberto e “Garota de Ipanema” com Frank Sinatra e Tom Jobim. Abaixo, um resumo da vida do poeta feito pelo seu Memorial:
Cem anos de Vinícius de Moraes
Nascido em 19 de outubro de 1913, no Rio de Janeiro, Vinícius de Moraes foi músico, compositor, jornalista, dramaturgo, diplomata, escritor e poeta.
O “poetinha”, como foi apelidado por Tom Jobim, escreveu seus primeiros versos enquanto ainda estava na escola. Também durante o período letivo, fez parte do coral do Colégio Santo Inácio e montou pequenas peças teatrais.
Através do contato com os irmãos Haroldo e Paulo Tapajós, começou sua carreira de compositor, em meados dos anos 1920. Em 1929, ingressou na Faculdade de Direito do Catete, aonde conheceu o romancista Otavio Farias, que o incentivou à produção literária. Até o dia de sua morte, em oito de julho de 1980, foram registrados 18 livros e mais de 450 poesias sob a autoria de Vinícius.
Como músico, escreveu mais de 300 canções, entre composições próprias e parcerias com grandes nomes da música popular brasileira, como Tom Jobim (com quem escreveu “Garota de Ipanema”, “Eu sei que vou te amar”, “Chega de Saudade”, entre outras), Toquinho, Baden Powell, João Gilberto, Chico Buarque, Dorival Caymmi,Carlos Lyra, entre outros.
Além disso, trabalhou como jornalista, tornando-se crítico de cinema do jornal “A Manhã” e colaborando para a revista “Clima”, em 1941, e idealizando a revista “Filme”, lançada em 1947, em sociedade com o crítico e cineasta, Alex Vianny. Vinícius também atuou como diplomata por alguns anos. Em sua segunda tentativa, foi aprovado no concurso para o Ministério das Relações Exteriores, em 1943, mudando-se primeiramente para Los Angeles (EUA) e depois para Paris (França) e Roma (Itália).
Como dramaturgo, Vinícius escreveu as peças “As Feras”, “Cordélia e o Peregrino”, “Orfeu da Conceição” e “Procura-se uma Rosa”, inspirada em uma notícia veiculada na imprensa carioca, que abordava a história de uma mulher que se perdeu do marido em uma estação de trem e nunca mais voltou.
Mas foi para a música que Vinícius viveu os últimos tempos de sua vida, excursionando pelo mundo todo ao lado de seus companheiros e de sua garrafa preferida de whisky. Suas canções foram traduzidas para diversos idiomas e são tocadas até hoje no Brasil e em vários outros países.
Tudo que se escrever sobre Vinícius de Moraes parece pouco e defini-lo beira o impossível. Manuel Bandeira disse que ele “tem o fôlego dos românticos, a espiritualidade dos simbolistas, a perícia dos parnasianos (sem refugar, como estes, as sutilezas barrocas) e, finalmente, homem bem do seu tempo, a liberdade, a licença, o esplêndido cinismo dos modernos” (citado por Flávio Pinheiro, no site oficial do poeta, www.viniciusdemoraes.com.br). A perplexidade poética expressa em seu poema “Fim” permanece viva e é a de todos nós:
Será que cheguei ao fim de todos os caminhos
E só resta a possibilidade de permanecer?
Será a Verdade apenas um incentivo à caminhada
Ou será ela a própria caminhada?
Terão mentido os que surgiram da treva e gritaram – Espírito!
E gritaram – Coragem!
Rasgarei as mãos nas pedras da enorme muralha
Que fecha tudo à libertação?
Lançarei meu corpo à vala comum dos falidos
Ou cairei lutando contra o impossível que antolha-me os passos
Apenas pela glória de tombar lutando?
Será que eu cheguei ao fim de todos os caminhos…
Ao fim de todos os caminhos?
(Fundação Memorial
- Arquivo N/ Globo News/ Homenagem ao Centenário de Vinicius de Moraes/ Histórico/ veja aqui
- Cronologia da Vida e da Obra de Vinicius de Moraes/leia aqui
- Vinícius 100 Anos: O Branco mais Preto do Brasil/ leia aqui
- Chega de Saudade/Obra prima de Vinicius e Tom na voz de João Gilberto/ ouça aqui
- Garota de Ipanema com Frank Sinatra eTom Jobim/ ouça aqui
11 comentários:
Esse foi o Vinicius de Moraes que conheci desde sempre. Na minha adolescência e na minha maturidade. A sua música “O Rancho das Namoradas” foi um marco nas minhas “viagens” sentimentais... O “Sonêto de Fidelidade”, mostra bem esse Vinicius transbordando de amor:
Soneto de fidelidade
Vinicius de Moraes
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure
É isso.É único.
No seu Centenário de Nascimento as homenagens dos brasileiros. A minha e a de todos que sonharam, que viveram, que vivem as suas poesias musicadas...
Que belo post, Armando. Amei... Dê uma olhada na letra da música “Rancho das Namoradas”, é genial...é o amor em sua plenitude! Valeu!
Rancho Das Namoradas
Vinicius de Moraes
Já vem raiando a madrugada
Acorda, que lindo
Mesmo a tristeza está sorrindo
Entre as flores da manhã se abrindo nas flores do céu
O véu das nuvens que esvoaçam
Que passam pela estrela a morrer
Parecem nos dizer que não existe beleza maior do que o amanhecer
E no entanto maior, bem maior do que o céu
Bem maior do que o mar, maior que toda natureza
É a beleza que tem a mulher namorada
Seu corpo é assim como aurora ardente
Sua alma é uma estrela inocente, seu corpo uma rosa fechada
Em seus seios pudores renascem das dores
De antigos amores que vieram mas não era
Um amor que se espera, o amor primavera
São tantos os encantos que para os comparar
Nem mesmo a beleza que tem as auroras do mar
(carla.bueno2011@bol.com.br)
• Eunice Lima (Facebook): compartilhou sua foto.
Grande Vinícius...
Joana Sant'Iago (Facebook): compartilhou sua foto.
2 feira - fevereiro - sem sol, mas sem chuva.
Ontem eu vi o Especial Vinicius de Moraes e adorei.
Ana Maria Nogueira Pinto Quintanilha (Facebook): Armandinho, ontem tive uma grata surpresa, ao ver que o Lucas Paes, meu sobrinho, filho do Paes, postou uma poesia do Vinícius! Pensei que os jovens de hoje nem sabiam quem era esse grande poeta!
Armando Moraes Delmanto: Essa é a prova provada de que poesia é atemporal. E a poesia do amor então... Legal!
Grande abraço.
“Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente, eu sei que vou te amar
E cada verso meu será
Prá te dizer que eu sei que vou te amar
Por toda minha vida
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida”
Quem cria uma poesia como essa é imortal!
Sou fã declarado do Vinicius de Moraes. E no seu Centenário presto a minha humilde homenagem: Valeu poetinha maior!!!
(pinto.rodolfo28@yahoo.com.br)
Vinicius não foi só o poeta maior, foi quem mostrou a beleza deste povo cuja miscigenação é sua principal marca. Com Baden Powel, Vinicius compôs os afro-sambas que são um marco da cultura brasileira. E deixou claro: “Eu, por exemplo, o capitão do mato Vinicius de Moraes , Poeta e diplomata. O branco mais presto do Brasil...” Vamos lembrar um trecho do “Samba da Bênção”, dele e de Baden Powel:
“Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração
Falado
Eu, por exemplo, o capitão do mato
Vinicius de Moraes
Poeta e diplomata
O branco mais preto do Brasil
Na linha direta de Xangô, saravá!
A bênção, Senhora
A maior ialorixá da Bahia
Terra de Caymmi e João Gilberto
A bênção, Pixinguinha
Tu que choraste na flauta
Todas as minhas mágoas de amor
A bênção, Sinhô, a benção, Cartola
A bênção, Ismael Silva
Sua bênção, Heitor dos Prazeres
A bênção, Nelson Cavaquinho
A bênção, Geraldo Pereira
A bênção, meu bom Cyro Monteiro
Você, sobrinho de Nonô
A bênção, Noel, sua bênção, Ary
A bênção, todos os grandes
Sambistas do Brasil
Branco, preto, mulato
Lindo como a pele macia de Oxum
A bênção, maestro Antonio Carlos Jobim
Parceiro e amigo querido
Que já viajaste tantas canções comigo
E ainda há tantas por viajar
A bênção, Carlinhos Lyra
Parceiro cem por cento
Você que une a ação ao sentimento
E ao pensamento
A bênção, a bênção, Baden Powell
Amigo novo, parceiro novo
Que fizeste este samba comigo
A bênção, amigo
A bênção, maestro Moacir Santos
Não és um só, és tantos como
O meu Brasil de todos os santos
Inclusive meu São Sebastião
Saravá! A bênção, que eu vou partir
Eu vou ter que dizer adeus”
(luisroberto-souza@yahoo.com.br)
Delmanto, veja como é certa a afirmação de Carlos Drumond de Andrade de que Vinicius foi o único dos poetas brasileiros que viveu poeticamente... Vamos pegar o próprio Carlos Drumond de Andrade como exemplo. Quem pode imaginar que ele, com aquela figura de funcionário burocrático, poderia produzir poesias como ele produziu! Na verdade, Carlos Drumond trazia escondido dentro de si o poeta que ele era... A maioria é assim, poucos viajam nos sonhos como Vinicius.
Diziam que ele era infeliz e vivia em busca da felicidade...em vão... Pode ser. Mas sempre buscou, buscou...perdeu...voltou a buscar...sempre!
Esse foi Vinicius de Moraes!
(danilo-gomes40@live.com)
Grace Maria Mattos( Facebook): ....por certo Armando hoje vi a Garota de Ipanema dançando na avenida .. Está mais linda que nunca . Viva o Brasil com tanto gênio e belezas Abrazo , e ,feliz Festa de Momo para você .
Eunice Lima (Facebook):
Ontem assisti uma entrevista com Vinícius, Tom e Toquinho. Emocionante! Composições maravilhosas, que sinalizaram toda minha vida. Abraços
Antonina Mendonça (Facebook): Igual a Vinicius está para nascer! Você não acha?
Armando Moraes Delmanto: De pleno acordo, Antonina. É o nosso grande poeta...
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