fevereiro 16, 2013

Tuitar e pensar
ao mesmo tempo, não dá?!?

“As idéias ousadas estão praticamente fora de moda.”
Argumento Lógico. Não é segredo, especialmente nos Estados Unidos, que vivemos numa era pós-Iluminismo na qual racionalidade, ciência, argumento lógico e debate perderam a batalha em muitos setores e, talvez, até na sociedade em geral, para superstição, fé, opinião e ortodoxia. Embora continuemos fazendo avanços tecnológicos gigantescos, podemos estar na primeira geração que girou para trás o relógio da história – que retrocedeu intelectualmente de modos avançados de pensar para os velhos modos das crenças. Mas pós-Iluminismo e pós-idéia, embora relacionados, não são exatamente a mesma coisa.
Pós-Iluminismo refere-se a um estilo de pensar que já não mobiliza as técnicas de pensamento racional. Pós-idéia refere-se ao pensar que não é mais feito, independentemente do estilo.”

(NEAL GABLER/ THE NEW YORK TIMES/ ESTADÃO/ 21/08/2011)
 
Desde o início nos propusemos a fazer deste blog um FORUM CULTURAL, onde a intelligentzia brasileira pudesse levantar os seus problemas, realizar os grandes debates, caminhar em busca das informações para convertê-las em alguma coisa maior que meros fatos e transformá-las em idéias que explicassem essas mesmas informações...

No jornal “O Estado de S. Paulo”, o artigo “A enxurrada de enganosas grandes idéias”, de Neal Gabler do “The New York Times”, aborda esse tema controverso, mas indispensável para que não nos tornemos meras figuras repetitivas e vazias no “imenso universo informativo” que chegou via internet.

Explica o autor, que no passado, “buscávamos não só apreender o mundo, mas realmente conhecê-lo, que é a função primordial das idéias. Grandes idéias explicam o mundo e nos explicam uns aos outros.”

Assim, nesse caminhar da humanidade, vimos que “Karl Marx chamou a atenção para a relação entre os meios de produção e nossos sistemas sociais e políticos. Sigmund Freud nos ensinou a explorar nossas mentes como meio para compreender nossas emoções e comportamentos. Einstein reescreveu a física. Mais recentemente, Marshall McLuhan teorizou sobre a natureza da comunicação moderna e seu efeito na vida moderna. Essas idéias permitiram que nos desprendêssemos de nossa existência e tentássemos responder as grandes e atemorizantes questões de nossas vidas.”

E vejam o alerta que o autor faz de uma indiscutível verdade: “Mas se a informação foi um dia um alimento de idéias, na última década ela se tornou sua concorrente. Estamos como o agricultor que possui trigo demais para fabricar farinha. Somos inundados por tanta informação que não teríamos tempo para processá-la mesmo que quiséssemos, e a maioria de nós não quer.”
E o mundo vai se transformando rapidamente. A realidade midiática, através das redes sociais, principalmente, tem provocado verdadeiras revoluções comportamentais que os mais otimistas não esperavam nem para as próximas gerações. A Revolução da Informação, tem proporcionado as grandes rebeliões da Ásia e da África e a derrubada de Ditaduras cruéis e violentas; mas tem, também, proporcionado a Revolta dos Indignados da Europa que querem uma Democracia mais dinâmica e em consonância com os anseios da sociedade, com mais empregos e uma dinâmica maior no processo produtivo. E, para mais uma grande surpresa, também através das redes sociais, os Vândalos Londrinos chocaram o mundo ao explicitarem que a mobilização rápida e abrangente das pessoas pode ser tanto para o bem como para o malfeito.

Assim, com toda a facilidade que a internet nos trouxe, “preferimos conhecer a pensar porque o conhecer tem mais valor imediato. Ele nos mantém “por dentro”, nos mantém conectados com nossos amigos e nossa tribo.” E o autor nos alerta: Não é por acaso, com certeza, que o mundo pós-idéia brotou com o mundo das redes de relacionamento social. Apesar de haver sites e blogs dedicados a idéias, Twitter, Facebook, Myspace, etc., os sites mais populares na web, são basicamente bolsas de informações destinadas a alimentar a fome insaciável de informação, embora essa dificilmente seja do tipo de informação que gera idéias. Ela é, em grande parte, inútil exceto na medida em que faz o possuidor da informação se sentir, bem...informado.
E a nossa realidade na comunicação virtual, via internet, está cada vez mais assumindo um aspecto de padronização negativa. Vamos ao que diz o autor: “...os sites de relacionamento social são a principal forma de comunicação entre jovens, e estão suplantando os meios impressos, que é onde as idéias eram tipicamente gestadas. Depois, os sites de relacionamento social criam hábitos mentais que são inimigos do tipo de discurso deliberado que dá origem a idéias. Em lugar de teorias, hipóteses e argumentos importantes, obtemos tuíters instantâneos de 140 caracteres sobre comer um sanduíche ou assistir um programa de TV.

Assim, a facilidade das redes sociais tendem a “encolher o universo da pessoa a ela mesma e seus amigos, enquanto pensamentos organizados em palavras, seja online seja na página impressa, alargam o foco pessoal”.



Tuitar e pensar ao mesmo tempo, não dá...

“...não se pode pensar e tuitar ao mesmo tempo, não por ser impossível fazer tarefas múltiplas, mas porque tuitar – que é, em grande parte, um jorro, ou de opiniões breves sem sustentação, ou de descrições breves das próprias atividades prosaicas – é uma forma de distração e anti-pensamento.”

E para a nossa sociedade , diria até mais, para a própria humanidade que não pensa grande, os resultados serão pífios para as próximas gerações. Mesmo porque as idéias não são meros brinquedos intelectuais, trazendo – com certeza – conseqüências práticas imprevisíveis.

E o autor conclui seu pensamento com um desafio para que tenhamos idéias ousadas mas, principalmente, que pensemos, pensemos muito!

Nós nos tornamos narcisistas da informação, tão desinteressados por qualquer coisa fora de nós e de nossos círculos de amizade ou por petisco que não possamos partilhar com esses amigos que se um Marx ou um Nietzsche surgisse subitamente trombeteando suas idéias, ninguém lhes daria a menor atenção, certamente não a mídia em geral, que aprendeu a servir ao nosso narcisismo. O que o futuro pressagia é cada vez mais informação. Não haverá nada que não conheçamos. Mas não haverá ninguém pensando nisso. Pense nisso.”

6 comentários:

Anônimo disse...

requeri disse...
a questão principal, é que as pessoas, as novas pessoas estão com falta de estímulo. na minha escola, fazia-se pesquisa na biblioteca. cada trabalho gerava, no mínimo, 3 ou 4 dias de trampo pesado. eu passava a tarde na biblioteca municipal, ou na biblioteca de uma faculdade na maria antonia, do lado de cá, não na usp, acho que era a sedes sapientiae. era ralação pura: sair da escola, comer rapidinho e, de uniforme mesmo, partir com o material da escola, pra biblioteca, de busão, pesquisar a tarde ou a manhã toda, copiar, juntar os tópicos, depois passar á limpo, ou encontrar alguém que datilografasse.
lia-se. lia-se muito.
o trabalho da escola era suado, feito na raça.
hoje não se lê mais livros, a web/internet tornou tudo mais fácil. copiar/colar não dá ao aluno a chance sem preço de montar o texto de próprio punho, lendo, escrevendo, apagando, refazendo, estudando.

mas, o melhor estímulo, e o menos usado hj, é a leitura.
quem sabe dizer quem é marx, ou o meu xodó, o nietzsche, ou albert camus???

dá, sim, pra pensar e twitar ao mesmo tempo, eu faço isso. o que precisa é ler, ler muito pra poder fazer essas duas coisas ao mesmo tempo com prazer, responsabilidade e competência.
a intelectualidade das gerações pós web/internet, está banalizada. conheço poucos caras dessa geração nos quais valha a pena apostar. o imediatismo tomou conta da intelectualidade, essa é a verdade.
antes a preguiça física era maior que a intelectual. não tinhamos tempo de pensar em parar de pensar. hj a preguiça - atrofia - intelectual suplanta qualquer outra.

é isso. por enquanto.

Delmanto disse...

Muito bem focado, requeri. É isso mesmo. E é grave a realidade, porque os jovens usam a “cola” fácil da internet (Google) como se fosse a coisa mais natural...e não è! Exatamente isso: a atrofia-intelectual é o maior perigo. Fora a linguagem da preguiça, porque também é muito fácil abreviar drasticamente as palavras e, num primeiro momento, até engenhoso e “bonitinho”, mas não tem retorno. Sem retorno na progressão da gramática e da literatura. E isso vai levar, inexoravelmente, à dificuldade de arrumar um bom emprego e, se tiver QI e arrumar emprego, a dificuldade em se relacionar com o mundo real no dia a dia, com os problemas que surgem e que terão que ser resolvidos por eles mesmos.
Cabe à nossa geração, aos pais dos adolescentes e, muito principalmente, aos professores uma orientação positiva e inteligente na indicação de boas leituras, o que nem sempre acontece. A hora que o jovem descobre o prazer de ler um bom livro, ele saberá conviver muito bem com o mundo virtual e com a construção de sonhos que os livros nos dão.
O artigo deixa clara uma advertência:
“...não se pode pensar e tuitar ao mesmo tempo, não por ser impossível fazer tarefas múltiplas, mas porque tuitar – que é, em grande parte, um jorro, ou de opiniões breves sem sustentação, ou de descrições breves das próprias atividades prosaicas – é uma forma de distração e anti-pensamento.”
Ora, quer dizer que NÃO é impossível “fazer múltiplas tarefas”, mas há que se ter o discernimento do que se faz, sob pena de se ficar, sim, apenas no “jorro de opiniões breves sem sustentação”...
É caso para se pensar e, talvez e por quê não, depois surgir uma idéia ousada que modifique positivamente a sociedade, o inter-relacionamento dos jovens, enfim, uma potente luz radiante a inundar o fim do túnel! Vamos pensar!!!

Anônimo disse...

requeri disse...
mas se houvesse leitura, hábito que minha mãe passou pra mim e que eu incentivei no meu porrinha, nada disso aconteceria. quem conhece a gramática, quem lê, quem se habituou a isso, sabe escrever abreviaturas virtuais e não deixar que essa prática invada sua vida.
eu abrevio e consigo travar conversação com esse povo, numa boa, mas tb sei levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima.

é isso.

Anônimo disse...

A web é a terra de ninguém, onde o quase anonimato e a linguagem básica usada (e põe básico nisso...) facilita pra todo mundo. E não é nem “jorro” é “avalanche” de miudezas, que no twittar mostra quem é quem, ou melhor que quem não é de nada...Eu gosto de navegar num bom papo, mas sempre tem os primatas azucrinando. Quantas palavras diferentes estou usando, heim? É isso aí. Abraço, ops, abs e tbm um fds zing!
(carla.bueno2011@bol.com.br)

Anônimo disse...

Dr Armando, boa noite!
Li seu blog hj e lembrei-me desta charge.
Abraço
Carmem Lúcia (ABL)

Delmanto disse...
Muito bom, mesmo, Carmem Lúcia. Serviu como uma luva. Nada como ser professora e vivenciar essa realidade que está transformando culturalmente a nossa juventude.Já está no post. Valeu. Obrigadão e grande abraço.
Delmanto

regina claudia/requeri disse...

... antes de pensar em twittar ou praticar qq ação na rede seria necessário ter o hábito da leitura, ação pouco usual entre mocinhos e mocinhas destes tempos ...

por outro lado, fazer algumas coisas ao mesmo tempo, inclusive pensar, não é prerrogativa do sexo masculino ... isto é comprovado ...

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